Lobo do próprio homem

Por Gisele Leite

Fonte: Gisele Leite

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Homo homini lupus é uma frase que originalmente pertence ao dramaturgo romano Plautus (254-184 a.C.) que fora divulgada por Thomas Hobbes, autor de "Leviatã" que divulgou a célebre frase: "O homem é o lobo do homem". A metáfora expõe que o homem é animal que ameaça a sua própria espécie.

Ressaltando-se sua capacidade destruidora, de explorar os mais fracos e, por instinto e impulso tende a usurpar o outro, colocando-se acima dos demais, focando no bem-estar individual ao invés do coletivo. O homem é o seu próprio inimigo pois provoca lutas sangrentas, batalhas cruéis e, mata seus semelhantes.

Hobbes que era um filósofo inglês fora adepto do absolutismo e entendia que a massa de pessoas deveria ser regida por um rei para não correr o risco de deixar a natureza animal do homem viesse à tona e prevalecesse. Portanto, só haveria a paz coletiva, se os homens se deixassem comandar por um soberano.

O primeiro autor da frase foi o dramaturgo romano Titus Maccius Plautus e, a frase completa era: “Lupus est homo homini, não homo, quom qualis sit non novit". Traduzindo: Um homem para outro é coo um lobo e não um homem, quando ele não sabe de que tipo ele é".

A peça era  "A comédia dos burros" ou "Comédia do Asno".  Uma história de costumes onde entram esposas enganadas, cortesãs astutas, amores frágeis e relações sociais numa sociedade escravagista ,como era a dessa época. Tem tudo para uma boa hora e meia de divertimento cultural: sexo, mentiras e luta de classes.

Plautus supostamente teria usurpado praticamente todos os seus enredos de dramaturgos gregos do final do século IV e do início do século III a.C., seus autores prediletos eram Menandro e Philemon. Apesar da autoria ter sido atribuída à Plautus ou Plauto, o verdadeiro responsável pela divulgação da sentença foi Thomas Hobbes.

Segundo Hobbes, essencialmente o "homem é o lobo do próprio homem", ou seja, ele é capaz de colocar em risco a sua própria espécie. Por instintos de autopreservação e egoísmo, o ser humano tenderia a entrar em conflitos e guerras que ameaçariam os seus próprios irmãos. Esta frase expressa o conflito entre os homens, indicando que de todas as ameaças que um ser humano pode enfrentar, a maior delas é o confronto com outras pessoas.

Sem a presença forte e nítida da lei, sem haver confiança nas instituições, o tecido social padece e se rompe. Hobbes em sua vida, já com oitenta anos, diante do ocorrido

em 1666 quando o Parlamento inglês votou lei contra o ateísmo e, tal fato, pôs em perigo alguns pensamentos do filósofo que então queimou os papéis que poderiam incriminá-lo.

Posteriormente, a lei contra o ateísmo fora desfeita pelo mesmo Parlamento inglês, mesmo assim Hobbes não obteve permissão para publicar nada que fosse relacionado à conduta humana, era uma condição imposta pelo rei.

Thomas Hobbes faleceu em Hardwick Hall, Inglaterra, no dia 4 de dezembro de 1679, com 91 anos. Em seus últimos anos de vida, deixou como legado a tradução da Ilíada e da Odisseia para a língua inglesa.

A explicação da frase na obra de Hobbes demonstra que há uma tendência geral de todos os homens, um perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder, que cessa somente com a morte. E, essa sede de poder é para garantir sua sobrevivência no estado de natureza. Não é uma natureza inata e, sim, a lógica da anarquia que prevalece no estado de natureza.

Outra explicação que justifica a guerra de todos contra todos é a lógica do ataque preventivo. Por essa razão, se faz necessário atribuir a uma pessoa o direito ao uso legítimo da força e renúncia ao nosso direito natural de autoproteção. Precisa-se de um governo que acabe com a lógica da anarquia.

Como contraponto, Séneca escreveu em sua obra Epistulae morales ad Lucilium (especificamente, Epistola XCV, parágrafo 33), "homō, sacra rēs hominī", que foi traduzida como "homem, objeto de reverência aos olhos do homem".

Contemporaneamente, talvez mais do que em qualquer outra época, há muitas razões para ter Sêneca na mesa de cabeceira. Tanto Cartas de um Estoico quanto As Cartas a Lucílio, por exemplo, são manuais sobre a arte de viver.

Lúcio Aneu Sêneca viveu em tempos difíceis. No primeiro século da nossa era, Roma era um palco instável e violento. O filósofo teve de lidar com pessoas caprichosas e poderosas, enfrentou o exílio, a doença e, por fim, a condenação à morte.

"A única alegria do rebanho é quando o lobo come a ovelha do lado..." (Arthur Schopenhauer). Porém, nos escapa que o risco é iminente, e a consciência deve urgentemente entender o contexto e, lutar para não ser nem a vítima, nem o algoz.

Referências

HOBBES, T. Leviatã, ou Matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. Tradução de Rosina Angina. São Paulo: Martin Claret, 2014.

PLAUTO. A Comédia dos Burros. In: PLAUTO. Comédias I. [Introdução geral de Aires  Pereira do Couto. Introdução tradução do latim e notas de Carlos Alberto Louro Fonseca,  Aires Pereira do Couto, Walter de Medeiros, Cláudia Teixeira e Helena Costa Toipa. Lisboa:  Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006.

RÚRION, Soares Melo. Manual de Filosofia Política. São Paulo: Saraiva, 2018.

SCHOPENHAUER, Arthur. As Dores do Mundo: O amor. A morte. A arte. A moral. A religião. A política. O homem e a sociedade. Tradução de José Souza de Oliveira. São Paulo: Edipro,2018.


Gisele Leite

Gisele Leite

Professora Universitária. Pedagoga e advogada. Mestre em Direito. Mestre em Filosofia. Doutora em Direito. Conselheira do INPJ. Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Consultora Jurídica.


Palavras-chave: Evolução Raça Humana Lobo Homem

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