Pastoral carcerária

João Baptista Herkenhoff é Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br Homepage: www.joaobaptista.com

Fonte: João Baptista Herkenhoff

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João Baptista Herkenhoff ( * )

No Sermão da Montanha, uma das bem-aventuranças é prometida aos que se solidarizam com os encarcerados.

Jesus Cristo disse que seriam bem-aventurados os que o visitaram, quando ele esteve preso.

Indagaram perplexos os que o ouviam: "Senhor, quando estivestes preso?".

A resposta do Cristo veio fulminante. Ele estivera preso e fora visitado na pessoa de todos aqueles que, encarcerados, receberam o consolo da visita.

A Pastoral Carcerária, independente de serem católicos, evangélicos ou espíritas os que a promovem, segue à risca o ensinamento de Jesus.

Muitos não entendem que, em nome de Jesus Cristo, possa alguém solidarizar-se com aqueles que, em tese, cometeram crimes. Esquecem-se de que o primeiro ser humano proclamado santo foi Dimas, o bom ladrão:

"Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso".

Choca-se às vezes a Pastoral Carcerária com a Polícia? Sim, choca-se com a Polícia toda vez que contra presos são praticados abusos.

Choca-se às vezes com a Justiça e com o Governo? Sim, choca-se com a Justiça quando esta é surda e com o Governo quando este é omisso.

A obrigação da Pastoral Carcerária não é ser fiel à Polícia, à Justiça ou ao Governo. A missão da Pastoral Carcerária é ser solidária para com os presos, defendendo seus direitos constitucionais, denunciando as desumanidades do sistema carcerário, vigilando dia e noite para que os presos sejam respeitados como seres humanos porque não são coisa, não são lixo.

Acompanhei por mais de vinte anos a dedicação heróica de Isabel Aparecida Borges da Silva à causa dos presos. Nunca vi qualquer desvio ético na maneira como Isabel dedicou sua vida, sua juventude, sua saúde à Pastoral Carcerária da Arquidiocese de Vitória.

Se hoje estamos assistindo, lamentavelmente, a rebeliões nos presídios, à atuação do crime organizado fora dos presídios, ao espetáculo macabro da insegurança geral, creio que isto se deve, em grande parte, à omissão, ao silêncio e ao desinteresse de grande parte da sociedade em face da questão prisional.

Infelizmente, muitos raciocinam assim: "Não sou eu que estou preso, não é parente meu, não é ninguém de minha classe ou morador de meu bairro, não pertence a meu clube. Posso ficar tranqüilo."

Se as Pastorais Carcerárias contassem com maior número de militantes, apoiadores e simpatizantes, a situação não seria esta.

Se houvesse maior número de pessoas que, como a nonagenária Laurita Calmon Dessaune, debruçassem sobre o preso o sorriso e o carinho, não haveria rebeliões.

Embora com decênios de atraso, ainda é possível agir e fazer alguma coisa para melhorar a situação.

A Pastoral Carcerária é um excelente espaço para o diálogo inter-religioso e para o avanço do Ecumenismo. Mesmo quem não professa, explicitamente, uma Fé pode incorporar-se a esse movimento. Quem ama o próximo tem implícito o sentimento de Fé, ainda que suponha ser ateu.


Notas:

* João Baptista Herkenhoff é Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br Homepage: www.joaobaptista.com [ Voltar ]

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