Tirolesa monumental
Por Gisele Leite.
O Pão de Açúcar está sendo
escavado sem prévia autorização do Iphan, para a instalação de uma tirolesa.
Trata-se de ameaça ao patrimônio mundial concedido ao Rio de Janeiro. Já perdeu
cerca de 50 m3.
O caso acarretou uma
investigação do Ministério Público Federal que, a seu turno, resultou em
decisão liminar, expedida recentemente, ordenando a imediata interrupção da
obra.
Afinal, não é plausível
incrementar o turismo colocando em risco a higidez do monumento natural,
conforme consta na decisão judicial da vigésima vara federal do Rio de Janeiro.
A instalação da tirolesa é
algo grave principalmente pela expansão da área construída em cerca de
cinquenta por cento, tanto no Pão de Açúcar como no Morro da Urca, quanto na
Praia Vermelha, de onde parte o bonde.
Aliás, o bonde foi inaugurado
em 1912 e sempre fora administrado pela Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar,
primeiro através de uma licença concedida em 1909 e pela prefeitura, e depois
de licitação em 1969 que é vigente até os presentes dias. São reiterados os
embates havidos entre a Companhia Caminho Aéreo com a sociedade civil.
Primeiramente, foi em 1973
quando propôs a construção de edifício espelhado de três andares no alto do Pão
de Açúcar, para abrigar restaurante. Na
ocasião, fora criticado pelo poeta Carlos Drummond de Andrade e a pintora
Djanira e o escritor Fernando Sabino, o que resultou numa carta ao Iphan
requerendo o tombamento da área.
E, o pedido contou com endosso
do paisagista Roberto Burle Marx. Já 1991, a dita empresa pretendia desmatar a
vegetação existente entre os morros para construção de anfiteatro para cursos
de educação ambiental. Se não fosse o paradoxo eu acreditaria que era um chiste
cômico.
De novo, a obra foi vetada
pela prefeitura, o que resultou na transformação de toda a área em unidade de
conservação ambiental que só ocorreu em 2006, com a criação do Monumento
natural dos Morros da Urca e do Pão de Açúcar. E, finalmente, em 2012 todo o
conjunto foi declarado em patrimônio mundial pela UNESCO.
Mesmo assim, a companhia
anunciou novo projeto que seria a construção de duas linhas de bonde conectando
o Pão de Açúcar ao bairro do Leme, através dos morros do Leme ou da Babilônica.
O que gerou uma lei municipal
mui específica proibindo a expansão do teleférico do Pão de Açúcar ou
equipamento similar com destinação específica, nas áreas das APAS (Áreas de
Proteção Ambiental) do Leme e da Babilônia e São João e em qualquer local do
bairro Leme.
Novamente, veio a companhia a
protocolar reforma simplificada para a dita instalação de tirolesas. A ideia é
que o usuário pudesse voar por quarenta
segundos, preso apenas por um
cabo, em velocidade de até cem quilômetros por hora. Aliás, o referido projeto
não mencionava a escavação e retirada de rochas, a ser vindicada por um outro
projeto, chamado de executivo para servir de base para aprovação ou não de toda
obra.
Mesmo com o flagrante de irregularidades pelo
fiscal técnico, tudo continuou. E, foi alegado que houve mero esquecimento dos
trâmites burocráticos para fazer obra em bem tombado.
Apesar de todas as
irregularidades, a empresa não foi multada e, assim, apesar de vários esforços
foi necessária a intervenção do MP Federal para investigar o caso.
Um novo projeto foi protocolado
e cogita em requalificação arquitetônica e urbanística de toda área para fins
de turismo sustentável.