Hitler, um bufão de sucesso. Coincidências não existem
O suicídio de Hitler em 30 de abril de 1945 enquanto estava confinado no bunker da Chancelaria de Berlim, significou o fim do Terceiro Reich e, permitiu o encerramento do mais impactante conflito bélico no mundo. O texto vasculha apesar de superficialmente os motivos que elegeram Hitler e, sua estratégia de poder.
As
consequências da Primeira Guerra Mundial impuseram o pagamento de reparações
onerosas aos perdedores exatamente num
período de maior inflação em toda Europa na década de 1920.
A
guerra catastrófica provocara uma hiperinflação da moeda alemã, o Reichsmark, pelos idos de 1923
que juntamente com os efeitos da Grande Depressão que fora iniciada em 1920
impactou severamente a estabilidade econômica da Alemanha, gerando desemprego em
massa.
A
Alemanha vencida na Primeira Guerra Mundial, em 1919 acenou acordo notabilizado
como "Tratado de Versalhes" firmado com os países vencedores como os
EUA, a Grã-Bretanha, a França e demais países aliados, quando foi exigido o
pagamento de reparações econômicas, militares e territoriais aos países
atacados pelos alemães. A região industrial de Sarre fora mantida sob a administração
da Liga das Nações por quinze anos.
A
Dinamarca recebeu a região norte de Schleswig. Por fim, a Renânia foi desmilitarizada, ou seja, não ficou nenhum
soldado ou instalação militar na região.
A leste, a Polônia recebeu partes da Prússia Ocidental e da Silésia.
A
Tchecoslováquia recebeu o distrito de Hultschin. A grande cidade alemã de
Danzig passou a ser uma cidade livre, sob a proteção da Liga das Nações. Memel,
uma pequena faixa territorial na Prússia Oriental, às margens do Mar Báltico,
foi entregue ao controle lituano. Fora da Europa, a Alemanha perdeu todas as
suas colônias (na África e no Pacífico).
No
total, a Alemanha perdeu 13 por cento do seu território em solo europeu, correspondente
a aproximadamente 70.000 quilômetros quadrados, e um décimo de sua população (entre 6.5 a 7 milhões de habitantes). Muitos
alemães pareciam haver se esquecido de que havia, eles mesmos, elogiado a queda
do Kaiser [Imperador], aprovado a reforma parlamentar democrática e
comemorado o armistício.
Eles
faziam questão de apenas se lembrar de que a esquerda alemã – os socialistas,
comunistas e, no imaginário popular também os judeus, pois havia entregado a
honra alemã em um tratado de paz
vergonhoso, mesmo que nenhum exército estrangeiro houvesse pisado em solo
alemão.
O mito
da Dolchstosslegende (punhalada nas costas) foi criado e difundido por
já aposentados líderes militares alemães da época da Guerra que, já em 1918
sabendo que a Alemanha não mais tinha condições de manter a guerra, haviam
aconselhado o Kaiser a pedir a paz.
A
lenda criada ajudou a desacreditar ainda mais os círculos socialistas e
liberais alemães, que eram os que mais
se dedicavam a manter a frágil experiência democrática alemã.
Analisando
a história da humanidade[1], muitos questionamentos
angustiantes nos constrange. Por que um país como a Alemanha que possui um dos
melhores sistemas de ensino e educação pública, e ainda, tem a maior
concentração de doutores no mundo elegeu Hitler?
Na
década de 1920, Adolf Hitler era pouco mais do que ex-militar bizarro e de
baixo escalão. E, poucas pessoas o notaram. Seus discursos eram conhecidos por
ser contra minorias de políticos de esquerda, pacifistas, feministas,
homossexuais, elites progressistas das Nações Unidas. Já em 1932 cerca de trinta
e sete por cento dos eleitores alemães votaram no partido de Hitler, então a
nova força política prevalente na Alemanha.
Em
1933, Hitler tornou-se chefe do governo alemão. Como um povo tão instruído elegeram
um político que arrastou o país para o abismo? Um dos principais motivos é o
fato de que o povo alemão perdeu a fé no sistema político vigente naquela
época. Afinal, a jovem democracia alemã não rendeu os benefícios tão almejados.
Havia também um ressentimento contra as elites tradicionais cujas políticas amalgamaram
a pior crise econômica da história da Alemanha.
Enfim,
o povo buscava um “novo político” e que prometesse mudanças autênticas. Em
verdade, muitos eleitores estavam incomodados pelo radicalismo de Hitler,
porém, os partidos políticos estabelecidos naquele contexto não ofereciam
melhores soluções.
Ademais,
Hitler era hábil no uso da mídia para atingir seus propósitos. E, contrastava com
o típico discurso burocrático que era praticado pela maioria dos políticos
alemães.
Hitler
utilizou-se de linguagem acessível e espalhava falsas notícias[2], mesmo que os jornais
afirmassem que o dito era absurdo. Mas, seu discurso era um espetáculo e empolgava
multidões. Aliás, em sua obra "Minha Luta" afirmou que toda
propaganda deverá ser apresentada de forma popular (...).
Ademais,
muitos alemães ressentiam-se da crise moral vigente e, Hitler acenava com uma
restauração e, líderes religiosos ficavam horrorizados com a arte moderna bem
como os costumes culturais progressistas que surgiram por volta de 1920. Nessa
mesma ocasião as mulheres se tornavam mais independentes e a comunidade LGBT já
começava a ter alguma visibilidade.
O que
fez com que os homens brancos e heterossexuais inseguros temiam perder sua
masculinidade diante dos progressos das feministas. Nesse momento, Hitler
declarava que judeus e gays deveriam ser sumariamente executados e, mesmo os
eleitores acreditavam que ele jamais cumpriria tais promessas.
Afinal,
acreditava-se que Hitler seria orientado e controlado por conselheiros mais
experientes e, rapidamente deixaria a política, quando os tradicionais partidos
políticos voltariam a governar o país.
Lembremos
que Hitler acenava com simplistas soluções que faziam sentidos para todos. E, o
problema do crime poderia ser solucionado com a aplicação da pena de morte com
maior frequência e majorando as sentenças condenatórias de prisão. Aliás,
acusava que os problemas econômicos vivenciados eram causados por sujeitos
externos e conspiradores comunistas.
Os
autênticos alemães não deveriam sentir culpa por nada e, havia slogans
contagiantes como “Alemanha acima de tudo”[3]. “Renascimento da Alemanha”.
“Um povo, uma nação, um líder”.
As
elites alemãs em seguida aderiram a Hitler pois prometera e implementara um
sedutor regime de clientelismo, cleptocrata e que atendia os interesses
especiais. As indústrias, por exemplo, galgavam contratos lucrativos que os
fizeram então ignorar as fortes tendências fascistas e totalitárias de Hitler.
Os
jovens rebeldes e agressivos que tanto apoiavam a Hitler ameaçavam os
oponentes, limitando-se, inicialmente, ao ataque verbal, depois passando para a
contundente violência física. E, mesmo os alemães que não os apoiavam,
preferiam o silêncio para evitar sérios problemas com os nazistas.
Um
pouco mais uma década depois, com o registro de seis milhões de judeus
exterminados e mais de cinquenta milhões de óbitos na Segunda Guerra Mundial,
muitos eleitores de Hitler afirmavam que não tinham ideia de que ele traria
tanta miséria e iniquidade.
Porém,
Hitler publicamente afirmou seus intentos criminosos mesmo durante campanha
eleitoral. Alguns, o tinham como mero mentiroso e trapaceiro. Apesar de algum
dissenso, Hitler não era um gênio e, sim, um charlatão oportunista e que soube
explorar a insegurança da sociedade alemã da época. Ele não chegou ao poder porque todos fosse nazistas ou antissemitas,
mas porque as pessoas razoáveis fizeram vista
grossa. Então o mal se fixou no cotidiano e, não havia reconhecimento ou
denúncia.
A
Alemanha era formada, principalmente, por católicos e protestantes na década de
1930. Adolf Hitler e Joseph Goebbels, um dos principais responsáveis pelo
extermínio de judeus, eram católicos, porém, já haviam abandonado suas
congregações antes da ascensão ao poder em 1933. Eles não haviam negado a
Igreja e nem deixaram de cumprir suas obrigações como fieis, mas passaram a
conceder especial atenção ao projeto nacional-socialista[4].
É
difícil definir a posição que as igrejas protestantes assumiram em relação ao nazismo
porque elas são muito mais livres em relação à Igreja Católica. Cada
congregação tem liberdade para escolher suas posições. Sabe-se, contudo, que
grande parte das congregações era contrária ao nazismo. De modo que sempre
havia tensão para com alguns grupos religiosos.
A
relação com a Igreja Católica, na verdade, não era muito diferente. Ela variava
entre tolerância e agressão, apesar das origens católicas de Hitler e Goebbels.
Grande parte dos nazistas tinha aversão ao clero em suas vidas pública e
privada e a situação ficava ainda mais intensa pelo próprio fato da simbologia
Nazista fazer tanta referência ao paganismo.
Por derradeiro,
tanto Hitler como Mussolini eram contrários ao clero, todavia sabiam que um
choque afetaria seus planos ideológicos, retardando-os. A Igreja Católica, por
sua vez, era declaradamente contrária a ideologia nazista antes desta chegar ao
poder.
Porém,
a partir de 1933, a associação deixou de ser proibida e buscaram-se meios para
trabalhar em parceria. Em 1937, o Papa Pio IX condenou expressamente a ideologia
nazista e o totalitarismo, dando início a uma caçada aos dissidentes políticos
na Alemanha. Padres foram perseguidos, presos e enviados a campos de
concentração.
Corroborando,
noutra declaração nitidamente inconstitucional, temos: “Nós somos um país cristão!
Deus acima de tudo. Essa historinha de Estado Laico, não! É Estado cristão! E
as minorias que se curvem!”[5]. Será apenas coincidência?
Até
quando o gigantismo cruel da máquina fascista que dizimou tantas vidas, muitos
quando perceberam, finalmente, simplesmente, era tarde demais.
Os
historiadores contemporâneos rejeitam os relatos sobre a morte do líder nazista
como sendo fruto de propaganda soviética. A notícia do suicídio de Hitler fora
anunciada à Alemanha em primeiro de maio de 1945, exatamente, um dia após a
ocorrência. E, por razões política insondáveis, a URSS apresentou diversas
versões diferentes sobre o destino de Hitler e seus adeptos no bunker. Por
muito tempo, os soviéticos afirmaram que não estaria morto e, sim protegido por
antigos aliados ocidentais.
O
bufão de sucesso[6]
provocou um abalo colossal na Europa e, particularmente, na Alemanha que seguiu
dividida até 1989, quando da queda do muro de Berlim. Segundo pesquisadores, o
líder nazista fora um dos mais ricos homens da Europa, com fortuna estimada
entre 1,34 bilhão a 43 bilhões de euros.
No
documento ditado e assinado em Berlim, 29 de abril de 1945, às 4h em ponto, o líder nazista determinou: "o que
possuo, pertence — se tiver algum valor
— ao Partido, se este já não existe, ao
Estado, se o Estado também for destruído, nenhuma outra decisão minha é necessária”. No
dia seguinte, com testamento já
assinado, suicidou-se.
A
guerra não é apenas uma calamidade em si mesmo. Traz vestígios e heranças
horrendas. Se a Primeira Grande Guerra Mundial acarretou uma militarização sem precedentes, a devoção à
violência e o culto à morte que durou
bem mais que a guerra propriamente dita, e ainda, preparou terreno para as
catástrofes políticas que se seguiram. Durante e depois da Segunda Guerra Mundial,
passando por
Hitler
até Stálin que viveram não somente a ocupação, exploração, degradação e até a
corrosão fatal das leis e das normas da sociedade civil. As mais comezinhas
estruturas da vida civilizada desapareceram e assumiram um sinistro signo que
muito longe de garantia a segurança, o próprio Estado se transformara em maior
fonte de insegurança e miséria.
Não basta derrubar e vencer o Império do Mal, temos que nos manter diligentes para que a crise da democracia, não resulte em totalitarismo, mortes e tragédias.
Referências
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Acesso em 12.10.2022.
Notas:
[1]
A reeleição do atual Presidente da República é uma reprise de uma trágica
história que ocorreu na Alemanha na década de 1930, culminando com a ascensão
de Hitler ao poder. O atual Presidente apesar de desprovido de uma ideologia
sofisticada serve de incentivo a evolução de muitos traços típicos do nazismo.
A prática das hordas bolsonaristas nas redes sociais disseminam o ódio e que
não se restringe apenas aos novos, velhos, pobres ou ricos, ou a certos nichos
de mercado. Trata-se de um ódio abrangente e pulverizado. Seus seguidores e
ministros seguem a mesma senda, crianças com necessidades especiais são
discriminadas conforme o fez o ex-Ministro da Educação que não as quer
estudando juntamente de crianças consideradas normais. Sem contar os
reincidentes ataques aos negros pelo então Presidente da Fundação Palmares.
[2]
Declarações como: "Caso eu fosse
presidente da República, eu convidaria para o MEC (Ministério da Educação) um
general que tivesse comandado um colégio militar pelo Brasil". "A
imprensa tenta a todo custo comprar a corda que irá enforcá-la". O
candidato à reeleição presidencial costuma deslegitimar o trabalho da imprensa
e sua campanha é baseada na disseminação
de notícias falsas. No último dia 10, em reunião com correligionários,
Bolsonaro afirmou que é preciso “tomar cuidado com a mídia”, porque a intenção
da imprensa é “atacar” e “desgastar” sua campanha.
[3] “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. O slogan patriota da campanha de Bolsonaro (que é também o nome de sua coligação) tem inspiração em uma frase bastante conhecida entre os nazistas. Na Alemanha de Adolf Hitler, um dos lemas mais repetidos era “Deutschland über alles”, que significa, em português: “Alemanha acima de tudo”. "Conosco não haverá essa politicagem de direitos humanos. Essa bandidada vai morrer porque não enviaremos recursos da União para eles". Em 23 de agosto, durante ato de campanha na cidade de Araçatuba, no interior paulista, Bolsonaro discursou em cima de um carro de som, condenando organizações que defendem direitos humanos. Segundo o candidato, esses movimentos prestam um “desserviço para o Brasil” e, por isso, não merecem repasse de dinheiro do governo. “Vamos unir o Brasil pela vontade de nos afastarmos de vez do socialismo, do comunismo, nos vermos livres desse fantasma do que acontece na Venezuela”.
[4]
Enquanto a Alemanha Nazista expandia sua ideologia totalitarista e, como tal,
pretendia superar e controlar questões religiosas. Católicos e protestantes
tiveram relacionamento tenso com os nazistas, mas, devido ao fato de a grande
maioria da população ser adepta dessas duas vertentes religiosas, o embate
direto não foi tão explícito, embora Hitler não simpatizasse com nenhuma das
duas. Entretanto, um grupo religioso em específico, além dos judeus, estava
entre os principais perseguidos pelo governo nazista, as Testemunhas de Jeová.
Seus adeptos somavam cerca de vinte e cinco mil fieis na Alemanha. Quando
presos, recebiam um triangulo roxo para identificação. Eles receberam o
desgosto dos nazistas pela recusa de servir ao exército alemão e ao governo.
Mas eram dos poucos prisioneiros que podiam deixar os campos de concentração com
vida. Bastava assinar um documento renunciando a sua religião que eles estavam
aptos a voltar a ser cidadãos alemães.
[5] Toda a linguagem utilizada no Terceiro Reich, que Klemperer (2009) denomina de LTI (Linguagem do Terceiro Reich) ou, a língua dos vencedores, era articulada de acordo com esse ideal. A imagem de Hitler como Führer do povo era a imagem idealizada de um novo cristo venerado e respeitado pela massa como se este de fato fosse o redentor não apenas da Alemanha e de seu povo, mas de toda a humanidade. Para os alemães, naquele momento de violenta depressão, Hitler representava o messias enviado dos céus para libertar a Alemanha de todo o sofrimento. Klemperer (2009) afirma que a massa acreditava em Hitler, acreditava em suas palavras, em seu poder e em sua missão divina. Essa ideia foi pelo autor comprovada em diversos momentos, inclusive, quando os soldados derrotados e combalidos retornavam da guerra ante um país destruído em todos os sentidos; muitos ainda acreditavam, confiavam em Hitler.
[6]
As motociatas reproduzem a estética fascista. Porém, a lógica informa que uma
motocicleta ocupa maior espaço físico do que um militante bolsonarista, o que
gera a ilusão de que o candidato conta com o apoio das massas. As motocicletas
ainda hoje são majoritariamente utilizadas por homens, o principal público do
atual governo brasileiro. Erroneamente nos remete a noção de rebeldia, força e
até virilidade. Ademais durante a motociata é desnecessária a exposição de
ideias, discursos ou qualquer coisa mais elaborada, o facilita a vida do
candidato que possui nítidas restrições cognitivas e culturais.