Estado e a Pátria do Lucro
Por Gisele Leite.
O ex-lema integralista
"Estado, Pátria e Família" traduz-se de forma vil e fraudulento e as
investigações confirmam apropriação de presentes e venda de valiosos bens. Os
militares envolvidos com todo esse imbróglio poderão sofrer duras punições, que
podem variar de expulsão como até mesmo cancelamento de recebimento de
aposentadoria dos militares reformados.
Toda a organização que
gerenciou as transações ilegais está na iminência de pactuar colaboração
premiada a fim de abrandar e minimizar futuras prováveis punições, mas, sem
dúvida, irá desmitificar o famoso mito da extrema direita e expor ainda mais o
significado que fora o governo passado.
Aliás, Mauro Cid ganhou o
apelido de "camelô fardado" por tantas vezes intermediar negociações
ilegais nos EUA referente aos presentes recebido pelo então Chefe do Estado, em
suas viagens às monarquias do Golfo Pérsico e que deveriam ser incorporados ao
patrimônio da Presidência da República. As transações incluem joias, relógios,
pulseiras, canetas, abotoaduras, canetas e outros mimos como diamantes, pedras
preciosas e obras de arte.
Existe relatório elaborado
pelo Conselho de Controle Atividades financeiras (COAF) identificou que Mauro
Cid movimentou trinta e dois milhões entre junho de 2022 e janeiro de 2023. E,
o relatório foi elaborado a pedido da Polícia Federal (PF). Do total
movimentado aproximadamente cerca de R$ 1,8 milhão foram créditos e 1,4 milhão
foram débitos. O COAF identificou também algumas remessas de dinheiro para o
exterior.
Em tempo, o Tribunal de Contas
da União (TCU) determinou à Secretaria de Administração da Presidência da
República e ao Gabinete Pessoal do Presidente da República que incorporem ao
patrimônio da União todos os documentos e presentes recebidos, pelos
Presidentes da República, a partir da publicação do Decreto 4.344/2002,
excluindo apenas os itens de natureza personalíssima ou de consumo próprio.
A propósito, o Decreto
4.344/2002 afirma que são considerados da União "os documentos bibliográficos
e museológicos recebidos em cerimônias de troca de presentes, nas audiências
com chefes de Estado e de Governo por ocasião das visitas oficiais ou viagens
de Estado do Presidente da República ao exterior ou de Chefes de Estado e de
Governo estrangeiros ao Brasil.
A interpretação vigente era
que os bens recebidos fora da cerimônia de troca de presentes eram do acervo
pessoal. Mas, em 2016, o TCU reformou a norma e determinou que todo presente
recebido por outros chefes de Estado é da União, com exceção de itens de
natureza personalíssima ou de consumo direto.
Mauro Cid está preso desde
três de maio do corrente ano e tem sido o alvo preferido da Operação Venire que investiga fraudes em cartões
de vacinação que beneficiaram Bolsonaro e familiares além de outras pessoas
próximas.
O atual advogado de Mauro Cid
é especialista em colaboração premiada, tendo inclusive escrito um excelente
livro sobre o tema, além de ser mestre em Direito Penal Econômico pelo
Instituto Brasiliense de Direito Público. De fato, o ex-ajudante de ordens da
Presidência da República corre o risco de ser expulso do Exército por causa dos
crimes ainda em investigação.
No total, são oito processos
em andamento contra ele. A possível expulsão das Forças Armadas se confirmaria
mediante eventual condenação na Justiça Comum. E, se essa condenação for
inferior a dois anos, será aberto um processo chamado Conselho de Justificação
onde haverá defesa e será julgado se o oficial é digno ou não para ser mantido
no cargo. Se a condenação for superior a um biênio, o processo terá que ser
encaminhado diretamente ao Superior Tribunal Militar (STM).
A Declaração de Indignidade
para o Oficialato acontece quando um oficial é condenado à pena privativa de
liberdade por um período superior a dois anos. Nesses casos, ele é submetido a
uma representação proposta pelo Ministério Público Militar (MPM) e julgada no
Superior Tribunal Militar (STM).
Há quem cogite que a expulsão
de Mauro Cid dependerá do andamento do inquérito contra ele no STF. Afirmam os
boatos da cúpula do Exército que a permanência de Cid se mostra insustentável
e, que a possível e bem provável condenação do tenente-coronel no STF dará azo
para sua expulsão por desonra.
Outros comentam que a
influência poderosa do pai de Mauro Cid seria hábil para livrá-lo da expulsão.
Mas, a decisão final será mesmo do Superior Tribunal Militar. Mauro Cid
igualmente fora convocado para prestar depoimento na CPI do oito de janeiro e
prestar esclarecimentos sobre mensagens e documentos encontrados em seu
aparelho celular.
Mauro Cid, igualmente, fora
convocado para prestar depoimento na CPI do oito de janeiro e prestar
esclarecimentos sobre mensagens e documentos encontrados em seu aparelho
celular. Entre tais documentos, há um suposto roteiro para um golpe militar que
evitaria a posse do Presidente eleito Lula.
Amparado por um habeas corpus concedido pela Ministra
Carmén Lúcia, o tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens
do ex-presidente Jair Bolsonaro, decidiu não responder aos questionamentos dos
membros da CPMI do 8 de janeiro.(In: no https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=6668421;
HC 229323, a defesa do tenente-coronel alegava que, embora a CPMI o tenha
convocado na condição de testemunha, as justificativas para a convocação “não
deixam nenhuma dúvida sobre sua condição de investigado”. Segundo os
defensores, há “receio plausível e justo” da prática de atos ilegais e constrangedores
durante seu depoimento.).
Não obstante, o silêncio do
tenente-coronel Mauro Cid em 11.07.2023, a CPMI decidiu acionar a décima Vara
da Justiça Federal de Brasília contra o ex-ajudante de ordens da Presidência,
apontando que o referido militar abusou do direito ao silêncio, e, portanto,
teria cometido o delito de calar a verdade como testemunha.
Em tempo, cumpre aludir que
com o artigo 4º, II, da Lei 1.579/52, constitui crime fazer afirmação falsa, ou
negar ou calar a verdade como testemunha, perito, tradutor ou intérprete,
perante a Comissão Parlamentar de Inquérito. Uma cópia do documento foi enviada
ao Supremo Tribunal Federal (STF), com um pedido de adoção de providências
adicionais à Corte. (Fonte: Agência Senado).
O Alto Comando do Exército
brasileiro tem pressionado o Ministro Alexandre de Moraes, presidente do
Tribunal Superior Eleitoral para que solte Mauro Cid, preso há mais de noventa
dias e suspeito de ter cometido um conjunto de crimes, dentre estes, o de tentar
derrubar o Estado Democrático de Direito.
É bom relatar que Mauro Cid
está alojado numa confortável dependência do Quartel General do Exército, em
Brasília e vem recebendo visitas diárias, além de circular à vontade por onde
pode, sendo saudado pelos amigos e demais militares. Aliás, seu pai, general da
reserva e amigo do ex-Presidente incita os demais colegas de farda a
libertá-lo.
Na prisão especial (condição
permitida a Cid), as visitas acontecem em local reservado, às terças-feiras,
quintas-feiras e domingo, e devem ser feitas sob agendamento prévio. Em
apenas 68 (sessenta e oito) dias preso, o militar recebeu 73 (setenta e três)
pessoas.
O Ministro Alexandre de
Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), limitou as visitas do
tenente-coronel e determinou que apenas familiares e advogados poderiam
visitá-lo.
No entanto, o Ministro
Alexandre de Moraes resiste a pressão e continua a manter as investigações
apontando ser imprópria a sua soltura, para prisão domiciliar com tornozeleira
eletrônica. Mas, à guisa do que foi feito com ex-ministro da Justiça Anderson
Torres, é bem possível que isto se concretize.
A carreira militar do
ex-Presidente da República ad memoriam
se encerrou em 1986 quando deixou o Exército mediante acordo em face de
acusação de conduta antiética por ter planejados ataques e atentados
terroristas contra os quartéis. E, galgou a patente de capitão para sair num
silêncio estratégico.
Aliás, resumidamente, a
carreira militar do ex-Presidente da República consta que foi Integrante da Turma
Tiradentes, o cadete nº 531 ficou conhecido entre os colegas pelo apelido “Cavalão”,
graças à disposição física que demonstrou durante o curso. Bolsonaro cumpriu o
curso básico de paraquedismo do Exército em julho de 1977.
Em 1986, em um artigo
publicado na revista Veja intitulado “o salário está baixo”, o capitão Jair
Bolsonaro cobrou abertamente o comando militar do país em relação aos soldos
pagos a soldados e oficiais de baixas patentes. “Como capitão do Exército brasileiro,
da ativa, sou obrigado pela minha consciência a confessar que a tropa vive uma
situação crítica no que se refere a vencimentos”, ele escreveu. Por causa da
publicação, Bolsonaro ficou 15 (quinze) dias preso em um quartel.
Ainda em 1993, em entrevista a
pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o ex-ditador Ernesto Geisel —
que compareceu à formatura da turma de Bolsonaro na Aman — classificou o então
deputado federal como um “mau militar”. Apesar disso, foi o Comandante Supremo
das Forças Armadas. Segundo afirmou
Geisel, “militares devem ficar fora da política partidária, mas não da política
geral”.
A Polícia Federal (PF) cumpriu
em 11.8.2023 mandados de busca e apreensão contra o general Mauro Lourena Cid,
pai do ex-ajudante de ordens de ex-presidente da República e uma das fotografias
utilizada para negociar a venda de joias recebidas como presente oficial pelo
governo federal revela o rosto do general pai do ex-ajudante de ordens, no
reflexo da caixa.
Na troca de mensagens Mauro
Cid Filho informa dois endereços para o pai e que foram identificados como
lojas, que aparentemente, comercializam os objetos de ouro e outros metais
preciosos.
A conclusão da Polícia Federal
é de que há indícios de que as esculturas possam ter sido desviadas do patrimônio
público, sem sequer terem sido submetidas ao Gabinete Adjunto de Documentação
Histórica (GADH) para avaliação de decisão a quanto a sua destinação.