A política internacional e o Brasil

O papel do Brasil na política internacional a partir da fundação da ONU e mudanças na estrutura internacional. Há grandes questões atuais que agitam a multipolaridade que existe. A OMS e sua papel em face da pandemia da Covid-19 e o fim da pandemia e, o retorno as atividades presenciais.

Fonte: Gisele Leite

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O papel do Brasil no cenário político internacional, em particular, na ONU ante a tantas mudanças na estrutura internacional. Trazem à baila grandes questões contemporâneas, tais como a mudança do clima, desigualdades sociais, ameaças à saúde global e, ainda a enxurrada de transformações geopolíticas.

A importância de uma ordem multipolar e o papel de nosso país no mundo e na América Latina. Lembremos que essencialmente a política internacional é um processo extremamente dinâmico e reflete as mudanças de poder entre os Estados-Nação.

A guisa de exemplo para ilustrar essa acepção mutante da política internacional é a atenção dada à ameaça do aquecimento global e, á muitas outras questões, que, inerentemente de referências ocasionais, não tinham menor relevância e ganharam holofotes na história a humanidade.  Então, certos valores foram se consolidando, é o caso, por exemplo, do desenvolvimento sustentável.

É o caso dos direitos humanos, de um modo geral, da questão racial, da equidade de gênero. É também o caso dos temas relacionados com a saúde, cuja centralidade foi trazida à tona, de forma dramática, com a pandemia da Covid-19, mas que já se anunciava com o Ebola, o Zika, a Gripe Aviária etc.

Já assistimos o término da bipolaridade característica da Guerra Fria, juntamente com o desmoronamento da União Soviética (URSS), de modo que nem mesmo os mais otimistas dos capitalistas poderiam sonhar.

Cogita-se que foi o fim do comunismo ou do socialismo real[1], mas o fim de um Estado plurinacional que algo que se poderia qualificar como hegemonia consentida, em que a predominância dos EUA, foi a única superpotência remanescente...

A comunidade internacional também se revelou tolerante ante a invocação ao direito à legítima defesa em relação aos ataques proferidos pela Al Qaeda. E, nesse caso pode-se afirmar que a tolerância com a intervenção norte-americana

foi até bem maior, permitindo assim que a ocupação militar passasse a abrange o presumido objetivo de construção de nação ou nation building no Afeganistão.

No plano econômico-comercial, prevalece a doutrina capitalista mundial, especialmente a do Consenso de Washington que fora imposta de forma quase universal, em parte pela persuasão que contou com o apoio, entre outros, dos meios de comunicação de vários países, em parte por algum nível de coerção sobre os países recalcitrantes.

Seja por meio de retaliações comerciais, ou por colocação de obstáculos de acesso às fontes de crédito, controladas pelas instituições financeiras internacionais.

Já no campo do comércio internacional, se procurou revestir essa imposição de um certo manto multilateral, por meio das rodadas de negociação comercial, especialmente a Rodada Uruguai, e de certa legitimidade internacional, com a criação da OMC. Mesmo aí, a inclusão de temas não estritamente comerciais, como propriedade intelectual, serviços e investimentos, só foi obtida mediante grande pressão política sobre os países em desenvolvimento.

Assim, de algum modo, o sistema estabelecido pela OMC revelava no campo econômico-comercial, o multilateralismo assertivo o que caracterizou o domínio americano nas deliberações do Conselho de Segurança, especialmente, na derradeira década do século XX.

Paralelamente, as burocracias das instituições financeiras internacionais tratavam de garantir, mediante uma política de empréstimos, inspirada naquele consenso onde a tríade liberalização, privatização e desregulamentação passasse a constituir um tipo de regra de ouro para os projetos de desenvolvimento a serem financiados.

Ao restringir a presença do Estado em tais projetos passou a ser uma prioridade refletida no conceito, altamente discutível, de crowding out, segundo o qual a participação do Estado afugentaria o investimento privado.

Basta verificar o crescimento chinês, largamente baseado na cooperação entre o Estado e empresas privadas, para constatar quão falacioso era esse conceito.

Aliás, para os teóricos da época, inclusive os de vocação mais filosófica como Fukuyama (1992) que proclamou o fim da história, pois uma certa utopia havia sido alcançada, com fulcro no capitalismo de produção e nos preceitos da democracia liberal, pouco seguidos, ou seguidos de forma mui seletiva na prática.

Logo no nascer do novo milênio, tais verdades foram abaladas e, antes de haver o espetacular crescimento da China o que nos fez lembrar o espectro da Armadilha de Tucídides[2] a tolerância com a dominação norte-americana foi abalada pelo abuso de ações unilaterais por parte de Washington em seu confronto com o regime de Saddam Hussein.

Bem antes do ataque às torres gêmeas, que serviu de pano de fundo para a ação militar contra o Iraque, a dureza com que os Estados Unidos, sempre apoiados pelo Reino Unido, aplicavam o regime de sanções ao governo de Bagdá, imposto na sequência da invasão do Kuwait, era motivo de incômodo para muitas capitais europeias, especialmente Paris e Berlim, sem falar naturalmente em Beijing e Moscou.

Ainda no mundo árabe, que inicialmente fora estava, com exceções, era favorável à punição do Iraque, o sofrimento das pessoas comuns naquele país será motivo de preocupação.

E, o sistema de inspeções em relação ao regime de Bagdá era visto por muitos como desnecessariamente agressivo e, mesmo, atentatório à soberania iraquiana que as resoluções aprovadas pelo Conselho proclamavam respeitar.

Enfim, os dados sobre o poder da economia e ainda a força das armas, a hegemonia norte-americana continuou a existir, mas de modo cada vez menos consensual.

As resistências aos excessos praticados pela potência hegemônica se acentuaram de modo notável quando da segunda guerra do Golfo. Diferentemente do que ocorrera em relação à primeira ação militar contra o Iraque, o Conselho de Segurança não autorizou a invasão daquele país em 2003.

A oposição de três dos membros permanentes (Rússia, China e França), além de países com forte influência regional e global, como Alemanha, impediu que o almejado consenso fosse alcançado. Os Estados Unidos recorreram à ação unilateral, tendo o Reino Unido como único apoio significativo.

Na Cúpula dos Açores, realizada em 15 de março daquele ano, que iniciou a contagem regressiva para a invasão do Iraque e a derrubada de Saddam Hussein, além desses dois países, apenas a Espanha e o anfitrião, Portugal, se fizeram representar por seus governantes.

O grande símbolo a evidenciar o dissenso existente entre os membros permanentes, além das previsíveis objeções da Rússia e China, tenha sido o impactante discurso condenatório da ação armada por parte do então ministro do Exterior da França, Dominique de Villepin.

Aliás, entre as grandes potências, ainda que não seja membro permanente do Conselho de segurança, a Alemanha, à época governada por Gerhard Schroeder, à frente de uma coligação entre Social-Democratas e Verdes, manifestou sua oposição ao uso da força, assim como vários outros países, entre os quais o Brasil.

Aliás, o conceito de mundo multipolar ou multipolaridade[3] é atribuído, geralmente, a Yevgeni Primakov, sucessivamente ministro do Exterior e primeiro-ministro russo no final dos anos noventa.

E, tinha em mente a articulação do seu país com a Índia e China para enfrentar a hegemonia norte-americana. E, o termo fora finalmente abraçado por outros governos, em especial o da França, muito crítico a respeito à hegemonia a hiperpotência.

E, países como o nosso e a Índia valorizaram veementemente a ideia de multipolaridade e buscaram contribuir para sua realização prática, com a inclusão de nações em desenvolvimento no jogo política global.

A prevalência da multipolaridade nunca esteve assegurada, embora, em determinado momento, para desconsolo de pensadores mais conservadores de seu país, o Presidente Barack Obama a tenha reconhecido como uma realidade.

Ao longo de seus mandatos, Obama passou a pregar uma liderança compartilhada, porém com os Estados Unidos sempre em posição dominante.

No caso da intervenção militar na Líbia, motivada por supostas preocupações humanitárias e inspirada no conceito de “responsabilidade de proteger”.

Washington chegou a sugerir, em curiosa formulação, que exerceria sua liderança “a partir da retaguarda” (leading from behind). Isso significava, em essência, deixar o trabalho pesado do campo de batalha para os próprios líbios e, em certa medida, para os europeus e outros aliados, como a Turquia, concentrando o seu próprio esforço de guerra em bombardeios aéreos.

De forma irônica, mas também trágica, o embaixador norte-americano estabelecido em Behngazi seria a vítima fatal do ataque terrorista em 2012, para “comemorar” o 11 de setembro, de uma das facções em luta pelo poder, após a morte do líder/ditador Muammar Gaddafi.

O centro das análises sobre política internacional é a possibilidade de uma nova Guerra Fria, tendo como protagonistas Washington e Beijing. Em um dos textos mais conhecidos a esse respeito, Graham Allison alude à quase inevitabilidade de um conflito entre ambos, evocando, a propósito, a “armadilha de Tucídides[4]”.

 Em outros textos, tenho procurado mostrar, sem que isso signifique desconhecer a importância da rivalidade econômica e estratégica entre os dois gigantes, que outros atores da cena internacional têm peso político e econômico considerável e não podem ser desconhecidos ou menosprezados.

Não resta evidente, nesse momento, se teremos uma bipolaridade com traços multipolares, ou se, o que não é tão diferente, mas não deia de ter sua singularidade, o mundo será mais multipolar, ainda que haja uma dominância bipolar. Afinal, não existe determinismo na História e, não sabemos a inteireza da evolução dos fatos e o comportamento dos principais atores envolvidos no cenário.

Somente em 31 de agosto de 2021 as tropas americanas deixaram o Afeganistão, e o governo dos EUA correu contra o tempo para concluir a retirada de diplomatas, militares, aliados e colaborados até a data limite de 31 de agosto.

Teve fim a ocupação mais longa da história americana. O Presidente Joe Biden, revelou em comunicado que a missão de retirada encerrou duas décadas de presença militar dos EUA no Afeganistão e também realizou uma homenagem aos treze soldados em um atentado terrorista no aeroporto de Cabul.

Além do prazo estabelecido e afirmou que a comunidade internacional espera que o Talibã cumpra com o compromisso de permitir a saída daqueles que queiram deixar o país.

O Talibã[5], que voltou ao poder em 15 de agosto, tomou o controle do aeroporto, que estava sob comando dos EUA desde a queda do governo afegão para os extremistas. Em uma rede social, um porta-voz do grupo anunciou o fim da ocupação e celebrou o que chamou de "independência".

Segundo o Pentágono, mais de 120 mil americanos foram retirados do Afeganistão nas últimas duas semanas.  Cerca de 500 (quinhentos) cidadãos teriam optado por se manter no país. Blinken estima que seriam menos, de 150 a 200, mas diz que é difícil precisar o número, por haver muitas pessoas com dupla cidadania.

Em um quadro marcado por incertezas, pode-se afirmar, com razoável segurança, que o mundo não voltará à “unipolaridade consentida” do período pós-Guerra Fria, embora a ascensão formidável do Império do Meio possa suscitar dúvidas de que outra hegemonia possa estar despontando no horizonte.

As questões ligadas à Paz e à Segurança[6], nos remetem à construção de uma ordem internacional mais cooperativa, sujeita a normas pactuadas entre os Estados, com a coerção reduzida a um mínimo.

Em outras palavras, o que está em jogo é o futuro do “multilateralismo”, um conceito valorativo, que não deve ser confundido com o de multipolaridade, de essência descritiva. Os dois se condicionam mutuamente, mas não são a mesma coisa.

Até mesmo a igualdade entre os sexos, ardorosamente defendida por nossa compatriota Bertha Lutz, embora pouco praticada na época, estava ali. Mas é evidente que o programa ia muito além do que os Estados estavam dispostos a cumprir.

Dois eventos são elucidativos. A derrocada norte-americana no Afeganistão e a sequência de desastres humanos e naturais no Haiti atestam, de modos diversos, a impotência do organismo internacional em enfrentar questões cruciais que afligem boa parte da Humanidade. Catástrofes naturais ou causadas pela mão humana (ou ainda uma mistura das duas coisas) não são objeto de tratamento eficiente ou adequado pela comunidade internacional.

No caso do Afeganistão, o papel da ONU foi pura e deliberadamente acessório. Mal se ouve falar da UNAMA, missão criada pelo Conselho de Segurança, na esteira da intervenção militar norte-americana naquele país.

Toda a operação, inclusive a fracassada intenção de “construção de nação”, foi comandada pelos Estados Unidos, com o eventual concurso de alguns sócios da OTAN. A princípio, como se percebe, Washington justificou os bombardeios do território afegão com base no princípio da legítima defesa, nos termos do Artigo 51 da Carta da ONU, em face dos ataques terroristas de 11 de setembro.

Logo, os estrategistas norte-americanos descobriram – se é que já não tinham percebido antes – as vantagens de uma presença prolongada no Afeganistão, a meio caminho entre o Oriente Médio, inclusive o Irã, com o qual o país faz fronteira, e a Ásia Central e do Sul, chegando, no extremo leste, a confrontar-se com a China.

Passagem de vários exércitos, desde os tempos de Alexandre, o Afeganistão nunca foi, a rigor, conquistado. Mesmo o domínio britânico, obtido com alto custo humano, na segunda metade do século XIX, foi em realidade limitado ao controle da política externa e de defesa, para fazer frente ao império czarista, na disputa pelas rotas que conduziam à Índia, a “joia da coroa” da Inglaterra vitoriana.

A rigor, nesse caso, não se pode sequer dizer que a ONU falhou, uma vez que sua presença foi marginal e instrumentalizada pela potência intervencionista.

No Haiti, assistimos a uma situação diferente. Sem entrar na discussão dos erros e acertos da Missão de Estabilização da ONU, a MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti) foi uma presença multilateral importante, com influência real e que chegou a propiciar, de forma indireta, ações voltadas para o desenvolvimento social, da pequena agricultura ao meio ambiente.

Em um momento crucial da evolução política do país, quando da primeira eleição após a queda/derrubada de Aristide, a orientação de países como Brasil e Chile, além do próprio Conselho Eleitoral Haitiano, no sentido de confirmar a vitória do Presidente Préval acabou sendo adotada em detrimento da tentativa de impor um segundo turno, duvidoso e altamente impopular, favorecida pelos Estados Unidos, entre outros atores presentes no cenário haitiano.

No Haiti, a principal falha da ONU foi não ter assumido de forma mais decisiva a tarefa de “construção da paz pós-conflito” (post-conflict peace building), objeto de uma comissão criada no bojo das reformas promovidas pelo então Secretário-Geral Kofi Annan, limitando praticamente sua ação ao aspecto da segurança e deixando a cargo de cada país (e a um sem-número de ONGs) a iniciativa de projetos em favor da população.

Verifica-se que as próprias regras do Conselho de Segurança tolhiam uma ação mais construtiva. Para citar um exemplo:  conseguir que os recursos da MINUSTAH pudessem ser empregados na desobstrução de uma via, após algum deslizamento, exigia complexas gestões diplomáticas e enfrentava resistências com base no pressuposto de que a missão de paz da ONU deveria restringir-se à manutenção da ordem.

Hoje, questões como desigualdade, mudança climática e saúde global nos impelem a acelerar e formalizar o processo de reformas. Temas como esses, centrais para a sobrevivência da Humanidade, não podem ser tratados por órgãos burocráticos, cujas decisões não são devidamente levadas em conta pelos Estados-membros.

As complexidades de uma reforma do Conselho de Segurança, com que a ONU lida há décadas, sem encontrar solução.

Quanto às questões socioambientais, ouso pensar que o G-20, tomando na prática o lugar do G-7 (ou do G-8[7]), foi um significativo progresso, apesar de seu caráter informal e do excessivo peso de alguns países e a quase ausência de outros (os africanos, por exemplo, com a única exceção da África do Sul). O importante neste momento não é apresentar soluções prontas.

Essas, na verdade, só podem nascer do debate, tão democrático quanto possível, no seio da comunidade internacional. A pandemia e o aquecimento global ( agravados pelas enormes desigualdades entre os Estados e no interior deles) são razão suficiente para convocar-se uma grande conferência, como foram Versailles, Bretton Woods e São Francisco.

Poderia juntar a esses temas a permanente ameaça colocada pela existência de imensos estoques de armas nucleares, constantemente expandidos e modernizados.

Em um mundo multipolar complexo, tingido por certa tendência à bipolaridade, o Brasil, como grande país que é, tem que tratar de defender seus interesses ao mesmo tempo que contribui para a construção de uma ordem internacional justa e pacífica, com respeito aos direitos humanos e à natureza.

Essa, porém, é uma complexa e exaustiva tarefa. Para levá-la a cabo não basta apenas diplomacia[8] baseada em critérios racionais e pragmáticos e fiel a valores essenciais, definidos na Constituição Federal vigente.

A importância da OMS

O principal objetivo é implementar o conceito de saúde que abrange um estado de bem-estar físico, mental e social e não meramente a falta de doença e enfermidade.

A atual conjuntura suscitou um amplo debate acerca da responsabilidade de governos e agências internacionais no combate à disseminação da Covid-19.

Sob a perspectiva da Diplomacia da Saúde Global é importante analisar como os mecanismos de accountability da OMS influenciam o comportamento político dos Estados-Membros. Notadamente quanto aos princípios de responsabilidade mútua, transparência e informação compartilhada.

A questão diz respeito ao tempo decorrido para o anúncio do fenômeno da pandemia. A declaração foi divulgada em 11/03/2020, cerca de três meses após o primeiro caso na China. A metodologia se baseia no número de países afetados.

Segundo Celso Amorim, neste dia havia cerca de 120 mil pessoas infectadas em 113 países (Fonte: WHO, 2020). Considerando a burocracia dos parlamentos e do executivo para formular novos programas de proteção à saúde pública, a antecipação ao efeito spread é um fator dos mais relevantes. Em contexto de crise, o compartilhamento de informações permite a uniformidade de estratégias e de avaliação ex ante que tendem a minorar o impacto da infecção. Empiricamente se observa situação oposta.

Em âmbito nacional, por exemplo, Itália, Espanha, França, Alemanha e Inglaterra introduziram regras distintas para regulamentar a atividade econômica e o isolamento social.

Nos Estados Unidos, observa-se significativa divisão ideológica entre democratas e republicanos, onde os primeiros aprovaram mais rapidamente leis locais como o shelter-in-place enquanto os últimos demonstraram resistência ao alegarem suposto cerceamento dos direitos civis e da liberdade individual.

A implementação de diferentes paradigmas de tratamento é a prova de que a compreensão dos postulados pregados pela OMS requer mais tempo e disciplina para serem incorporados.

Em 30 de janeiro de 2020, a OMS decretou a COVID-19 como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), o mais alto nível de alerta da Organização, conforme previsto no Regulamento Sanitário Internacional.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta sexta-feira (5/05/2023), em Genebra, na Suíça, o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) referente à COVID-19.

A decisão foi tomada pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, após receber a recomendação do Comitê de Emergência encarregado de analisar periodicamente o cenário da doença.

Significando que está na hora de os países fazerem a transição do modo de emergência para o de manejo da COVID-19 juntamente com outras doenças infecciosas”, destacou Tedros Adhanom.

A Organização Mundial da Saúde, criada em 1946, pela Conferência Internacional de Saúde de Nova York é atualmente composta por 194 Estados membros do sistema da Organização das Nações Unidas (ONU). Possui seis escritórios: África, Américas, Ásia do Sudeste, Europa, Mediterrâneo Oriental e Pacífico Ocidental, e tem como missão trabalhar em todo o mundo para promover a saúde, manter o mundo seguro e servir os vulneráveis. (OMS, 2020).

Os efeitos da Pandemia da Covid-19 se alastram por todo o mundo e os reflexos são sentidos, tanto em âmbito dos mercados interno e internacional. Internamente, verifica-se a queda nas vendas, oscilações das bolsas de valores e das próprias comodities, como o petróleo. No cenário internacional constata-se uma queda na balança comercial dos Países, pois passam a exportar menos.

Todos os fatores, acima destacados, nos leva a uma recessão global sem precedentes e a recuperação da economia se dará de forma lenta e gradual, uma vez que a humanidade vença os desafios da Pandemia.

Reparem que os dilemas bioéticos existentes entre o individual e coletivo não devem ser antagônicos quando depende de salvar vidas, eis que consta da Declaração universal sobre Bioética e Direitos humanos conforme os artigos 3 e 4, os princípios em prol do respeito à dignidade humana, os direitos humanos e, as liberdades individuais (UNESCO, 2020), portanto, o cuidar em saúde deverá atender a tais princípios em todos os eus momentos.

Outro destaque refere-se às diferenças políticas entre os Estados-membros que compõem a OMS e que trouxeram sinceros prejuízos no combate à pandemia, pois deu-se um distanciamento da ação coordenada da OMS, causando disputa por insumos, com disseminação de falsas soluções para o efetivo combate a Covid-19, dificultando e, até impedindo a colaboração internacional.

Enfim, nos setenta e sete anos de criação da OMS ainda se depara com novos desafios que, com certeza, serão superados pela humanidade. Mas, provendo uma sobrevivência com dignidade.

Referências

ALLISON, Graham. A Caminho da Guerra: Os Estados Unidos e a China conseguiram escapar da Armadilha de Tucídides? 1ª edição. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020.

ALVES, Vágner C.; FREIXO, Adriano; PEDONE, Luiz. (Org.). A Política Externa Brasileira na Era Lula: um Balanço. [ebook]. Rio de Janeiro: Apicuri, 2011.

AMORIM, Celso. Política Internacional e o Brasil no Mundo: da unipolaridade consentida à multipolaridade possível.  Disponível em: https://cebri.org/revista/br/artigo/11/politica-internacional-e-o-brasil-no-mundo-da-unipolaridade-consentida-a-multipolaridade-possivel  Acesso em 23.9.2023.

__________. “Reflexões sobre a geopolítica depois da pandemia”. Carta Capital, 15 de junho de 2020. https://www.cartacapital.com.br/opiniao/reflexoes-sobre-a-geopolitica-depois-da-pandemia/.Acesso em 23.9.2023.

BORELLI, Patrícia Capelini. Política Externa Brasileira: princípios. Disponível em: https://www.politize.com.br/politica-externa-brasileira-principios-historia/ Acesso em 23.9.2021.

FONSECA, Fernanda.  Talibã completa 2 anos no poder do Afeganistão. Disponível em: (https://www.poder360.com.br/internacional/taliba-completa-2-anos-no-poder-do-afeganistao/) Acesso em 23.9.2023.

FUKUYAMA, Francis. O fim da história e o último homem. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.

LAFER, Celso. Relações Internacionais, Política Externa e Diplomacia Brasileira. Volume 2. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2018.

PATRIOTA, Antonio. 2020. “The United Nations at 75: Multilateralism at a Crossroads”. The Cairo Review of Global Affairs. Outono de 2020. https://www.thecairoreview.com/the-un-at-75/the-united-nations-at-75-multilateralism-at-a-crossroads/.  Acesso em 23.9.2023.

PINHEIRO, Letícia. Política Externa Brasileira (1889-2002). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

Notas:

[1] Hoje, praticamente não existem países essencialmente socialistas, salvo Cuba. São ainda considerados socialistas: China, Vietnã e Coréia do Norte. Aos poucos essas nações dão sinais de declínio quanto ao sistema de governo, promovendo gradativamente abertura política e econômica. Diante dos problemas apresentados, a população soviética ficava cada vez mais descontente com o sistema socialista. A insatisfação popular reforçava o anseio de surgir uma abertura política e econômica no país para buscar melhorias sociais. O desejo de implantar um governo democrático na União Soviética consolidou a queda do socialismo no país. Fato que ligeiramente atingiu o Leste Europeu, que buscou se integrar ao mundo capitalista.

[2] Armadilha de Tucídides é um conceito das relações internacionais, popularizado pelo cientista político norte americano Graham T. Allison, que descreve a aparente tendência inexorável à guerra quando uma potência emergente ameaça substituir uma grande potência, já consolidada como hegemônica, no sistema internacional.

[3] A presença de vários polos de poder no mundo caracteriza a multipolaridade. O mundo multipolar é um aspecto da Nova Ordem Mundial caracterizado pela presença de vários polos de poder em nível mundial. Essa concepção predomina desde o término da Guerra Fria até a atualidade. Um mundo multipolar é caracterizado pela presença de várias potências globais que compartilham o poder e a influência no sistema internacional. Nesse arranjo, várias nações ou regiões têm um nível significativo de poder econômico, militar e político, e não há uma única superpotência dominante.

[4] Tucídides estava convencido de que a História não deveria ser uma narrativa de fábulas e anedotas, mas um estudo documentado e compreensível do passado. Tucídides (460-395 a. C.) foi um historiador da Grécia Antiga. Escreveu a "História da Guerra do Peloponeso", onde registrou a luta que ocorreu entre Esparta e Atenas, no séc. a. C. Durante as lutas entre Esparta e Atenas, Tucídides, o general, era visto nos campos de batalha, acompanhando de perto o desenrolar dos combates. Foi encarregado de defender a costa da Trácia. Em dezembro de 424 a.C. os espartanos tomaram o porto de Íon, na cidade de Anfípole, e Tucídides apesar de ter feito o possível não conseguiu derrotar os invasores. Os atenienses não lhe perdoaram. Sua carreira militar estava comprometida, foi considerado traidor, o que lhe valeu um longo exílio de vinte anos na Trácia. Só no fim da guerra, em 404, voltou para a Atenas vencida.

[5] Surgido em 1994 depois do fim da invasão soviética no Afeganistão, o “talibã”, que no idioma pachto significa “aluno”, era inicialmente formado por estudantes de escolas religiosas afegãs e paquistanesas onde se pregava uma forma do islã sunita. Em 15 de agosto de 2021, quando o Talibã ocupou a capital do Afeganistão, Cabul, e se instalou no palácio presidencial, o país mais uma vez voltou para o domínio do grupo. Dois anos depois, os afegãos enfrentam o agravamento das ameaças aos direitos humanos na região, principalmente para mulheres, além de uma severa crise humanitária....

[6] Inclui esforços de alto impacto destinados a proteger as pessoas contra o perigo, ajudando as vítimas a tornarem-se autónomas e ativas nas suas comunidades. A Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada com o propósito de manter a paz e a segurança internacional em substituição à extinta Liga das Nações. Dentro de sua estrutura organizacional, ficou a cargo do Conselho de Segurança a responsabilidade pela direção e aprimoramento do sistema de segurança coletiva.

[7] O grupo é formado por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá. O G7 foi brevemente substituído pelo G8, com a entrada da Rússia. Esse arranjo se desfez a partir da invasão e anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, quando o G7 voltou à composição original.

[8] Os padrões de conduta da diplomacia brasileira exercem pelo menos duas funções: dão previsibilidade à ação externa e moldam as políticas exteriores dos governos, impondo-se à sua sucessão e mesmo à mudança de regime político. O Brasil se engaja na diplomacia multilateral por meio da Organização dos Estados Americanos (OEA) e das Nações Unidas, e tem aumentado seus laços com os países em desenvolvimento da África e da Ásia. O país foi líder de uma força multinacional de estabilização da ONU no Haiti, a MINUSTAH.


Gisele Leite

Gisele Leite

Professora Universitária. Pedagoga e advogada. Mestre em Direito. Mestre em Filosofia. Doutora em Direito. Conselheira do INPJ. Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Consultora Jurídica.


Palavras-chave: Geopolítica Multilateralismo Multipolaridade Política Internacional

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