A multiplicidade e o sujeito contemporâneo

Como entender a formação do sujeito contemporâneo afetado por uma enxurrada de transformações que ocorrem numa dinâmica irascível? Eis que a sociedade contemporânea nos premia com o mal-estar na civilização[1], e traz riscos de todos os tipos pessoal, coletivo, social, profissional e até familiar. O tempo inexorável e impiedoso que quando não nos envelhece, nos mata ou extirpar as dimensões antes conhecidas para nos arremessar no desafio diário e constante da sobrevivência com alguma dignidade.

Fonte: Gisele Leite

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Há uma multiplicidade de fatores que permitiram a estruturação do sujeito contemporâneo e sua realidade psíquica começa desde os primeiros balbuciar das palavras, a necessidade de crença e variadas interações que são inseridas pela cultura e pela vivência social, além de haver peso no aspecto biológico. Afinal, o suporte corporal é que sofre as pulsões e perfaz da estória emocional e psicológica.

Observa-se que a cultura na qual a criança nasce, carrega toda uma história e desenha as formas de pertencimento que se particularizam na família, trazendo traços identificatórios, valores, normas que servem de balizas para a construção tanto da subjetividade como da realidade psíquica.

É verdade que a sociedade produz padrões que são aceitos e valorados e que restam encarnados nas instituições tais como o Estado, a família e a escola. No século XX, há inúmeras mudanças que acarretaram a desintegração, inicialmente lenta, não apenas dos valores vigentes da família, da moral e da sociedade, mas também ocorreu radical transformação nos meios de comunicação, sendo relevante introdução na cultura de massa e globalização do mercado.

De fato, o espaço do mundo sofreu um encolhimento proveniente da compressão do espaço-tempo, ou seja, da aniquilação do espaço pelo tempo resultantes do tremendo desenvolvimento das indústrias de transportes, comunicação e informática.

A história do capitalismo[2] tem sido caracterizada pela frenética aceleração do ritmo de vida, ao mesmo tempo que por uma superação de barreiras espaciais, de tal modo que o mundo parece mesmo estar implodindo sobre nós.

Então, os fatores velocidade e simultaneidade são as bases estruturais para a criação do mundo contemporâneo pois ambos concorreram decisivamente para o seu encolhimento e aumento da percepção fragmentada do mundo ao colocarem à disposição do habitante da sociedade de massas[3] numa inusitada quantidade de estímulos e informações.

Já os aparelhos de simultaneidade, como o satélite, a televisão, o celular, o computador e o faz contribuíram sobremaneira na criação de realidades que, não sendo nossas, são vivenciadas como tais. E, na virtualidade se energiza a mistura hipercomplexa de pessoas, capital e informações, provocando dessa maneira uma profusão, uma exuberância, de informações que os habitantes da nossa sociedade têm que processar.

Enfim, para realmente decifrar tamanha quantidade de informações, o homem atual teve que adotar uma linguagem única, globalizada, gerando como efeito uma perda de sua identidade cultural, dos regionalismos, das particularidades que o diferenciavam do outro. Há então, uma uniformização que leva a uma alienação não apenas do discurso do sujeito, mas também uma desreificação da realidade.

De forma que o virtual torna tudo possível, há o primado do imaginário onde quanto mais o sujeito contempla, menos vive, e quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos se compreende sua própria existência e seu próprio desejo.

Na obra intitulada "A sociedade do espetáculo", Debord ilustrou a vida das sociedades como simples condições de produção vigente, apresentando imensa acumulação de espetáculo. O que era vivido diretamente, agora é considerado como representação.

E, a realidade é considerada parcialmente porque é tomada de imagens que se destacam da vida e forma um pseudomundo à parte, objeto de contemplação. O espetáculo não é um conjunto d imagens, mas uma relação social entre as pessoas, mediadas por imagens, apresentando-se como sendo a própria sociedade, como instrumento de unificação.

Há um weltanshauung, ou seja, visão de mundo[4], que viabiliza desde o projeto até a produção de mercadorias. Assim, o produto é criado mesmo antes de sua necessidade, sua demanda é feita a posteriori, ao consumidor resta apenas consumir.

Concluímos que o espetáculo é resultante do projeto do modo de produção existente, constituindo o âmago do irrealismo que vivemos. Assim, consumimos informação, publicidade, educação e diversão.

Tal modelo é dominante na vida atual de nossa sociedade, gerenciado pela economia multinacionalizada, desmaterializado pelos meios de comunicação e que induz a pessoa consumir muito mais do que necessita através do marketing que faz o consumidor acreditar que certo produto é feito para ele e que irá minorar qualquer desconforto ou sofrimento.

O espetáculo, ao separar o mundo em representações, produz sua unificação através das imagens que ele mesmo constrói, levando à alienação tal qual a pensamos em psicanálise.

O espetáculo seria como a produção da imagem narcísica na fase do espelho: ao mesmo tempo que a criança se identifica com aquele que o nomeia, se aliena na imagem do Outro e, por se alienar no Outro, ela cada vez mais se identifica. “O que o espetáculo exige é a aceitação passiva, sem réplica por seu monopólio da aparência.” (Debord,2000)

Aceitação passiva, passividade frente a demanda do Outro, produz laço social, onde o outro na posição de terceiro o reconhece como sujeito, mas não sujeito dividido, pensante e falante; e sim sujeito narcísico, preso nas teias mercadológicas onde ele se acha aonde não é, e se perde aonde poderia ser.

É nessa brecha do engano ou logro que a publicidade se apoia, acenando com objetos de satisfação e felicidade que completariam o sujeito e o realizariam.

A dominação da economia sobre a vida social acarretou a degradação do ser para ter e agora do ter para parecer. E, a consequência dessa degradação é a prevalência da tendência em fazer ver o mundo, de forma que não podemos tocá-lo diretamente, a visão é seu sentido privilegiado.

Segundo o sociólogo Paulo Jorge dos Santos Fleury (graduado em História, doutorado em Ciências Sociais e pós-graduado em Sociologia Política) essa dominação da economia sobre a vida social pode ser repensada, talvez, a temática do espetáculo esteja subsumindo às questões da economia.  A própria estrutura produtiva e a organização das finanças estão a depender cada vez mais da sociedade do espetáculo. Em verdade, ela gera e é gerada por crenças e percepções. Citou o saudoso Delfim Neto a economia traz questões relacionadas sobretudo com a confiança, ou seja, fidúcia. E, confiança é crença. E, o espetáculo produz a crença, é a projeção de si mesmo no outro. É a maneira pela qual se constrói e reconstrói a subjetividade.

A mídia, com ênfase na televisão (e, particularmente, as redes sociais) recria o mundo por meio do simulacro que é a reprodução técnica da realidade, distribuindo e vendendo ilusões e sentido à vida de milhares de telespectadores, moldando assim, seus pensamentos e atos. As redes sociais na dicção do sociólogo e doutor Fleury se apropriaram da televisão, e sua fluidez e velocidade mal é acompanhada pela televisão... Portanto, a televisão, perdeu seu protagonismo nessas derradeiras décadas.

O sujeito cada vez mais perde sua singularidade (a referida singularidade tem sido permanentemente reformatada na dicção do sociólogo e doutor Fleury) em face de imagens e mensagens impostas por meios de comunicação. O que importa, não é o que se pensa, acredita ou que se diz, mas sim, o que se pode consumir.

É através do consumo, da imagem que se passa aos outros, que é reconhecido enquanto homem. Sempre se faz necessário o olhar do outro, testemunha silenciosa, para que haja a confirmação de que se é.   A singularidade coletiva contemporaneamente ganha significância em grupos.

O sujeito vive, permanentemente, em um registro espetacular, imaginário, onde o Outro não barrado é o próprio mercado, a sede da alienação. O mercado já se mostra resultante dessa alienação que está no registro do que seja espetacular. Nem sempre a questão seja ganhar dinheiro, mas sim, projeção através de representações.

Só existem as regras do mercado, por isso, o olhar do outro é importante para a confirmação de sua existência. Daí a difusa proliferação de selfies.

Lembremos que o espetáculo traduz o apagamento dos limites do eu e do mundo pelo esmagamento do eu que a presença-ausência do mundo assedia, significa também a supressão dos limites existentes do verdadeiro e do falso, diante da presença real da falsidade garantida pela organização da aparência.

Quem sofre passivo seu destino cotidiano é levado à loucura que reage de forma ilusória, pelo recurso às técnicas de mágicas ou crenças redentoras.

O espetáculo[5] suscita a questão da angústia que mais parece ser a defesa em relação ao desamparo, numa tentativa de recobrir para o sujeito a falta de objeto que causa o seu desejo, quando ele se encontra no estado de esmagamento e, revive a posição de objeto diante do Outro. Na opinião de Dr. Fleury, existe objeto que deixou de ser concreto e, passou a ser fluído que é a fama, receber likes além do estímulo de produzir mais conteúdos que chamem a atenção da grande gama de leitores e até seguidores.

A alienação máxima[6] ocorre quando o sujeito assim capturado transita entre o ser e o sentido. E, então pode escolher entre uma identificação fixada por significante ou fixada pelo sentido. Quando se tem um ele entre os significantes, tem-se o sentido.

Se os laços afetivos precisam gerar o prazer pronto e imediato em face a demanda incessante por felicidade aqui e agora, a lógica do gozo a qualquer preço. Então, a felicidade torna-se euforia, excluindo os outros afetos humanos.

Não é à toa que o uso de antidepressivos, ansiolíticos e hipnóticos[7] têm sido cada vez maiores e utilizados em nossa sociedade. Tudo para conter e eliminar as angústias e sofrimentos e, continuar a se exibir no belo mundo do espetáculo.

A liberdade tida como cura universal para todos os males presentes e futuros sendo vista como ideologia da elite global emergente. E, numa sociedade consumista, a liberdade está relacionada à perfeição, que por sua vez, está vinculada à uma qualidade coletiva da massa e a multiplicidade de objetos e desejos.

Assim, a sociedade de consumo[8] não é nada além de uma sociedade de excesso e de fartura. Esse excesso gera o vazio existencial[9], aumenta as incertezas pela liberdade de escolhas, e não reconhecemos nunca o excessivo.

A globalização[10] é um processo ainda em construção, com dimensões que se expandem muito além da esfera econômica, e o mercado mundial é o meio básico onde nasce, desenvolve-se e se reproduz o capitalismo.

O interessante, segundo Dr. Fleury, o que define a produção é a lógica do espetáculo e não mais o marketing. Primeiro, se constrói o desejo e, depois, é pura reificação que não mais obedece a uma física estática e, sim, dinâmica. O que de certa forma justifica a relevância assumida no mundo da ciência da física quântica.

E, as subjetividades humanas estão sendo construídas pela imprecisão quântica. O próprio capitalismo contemporâneo vem se redefinindo em razão dessa imprecisão e do espetáculo, que é capaz de cativar corações e mentes e, por sua vez, reproduzem tais desejos.

Assim, as novas formas do social produzidas pelo processo de globalização apresentam múltiplas dimensões, as quais podem ser assim sintetizadas:

• Foram geradas, além das classes sociais, outras direções na produção da organização social;

• Multiplicaram-se as formas de organização dos grupos sociais, para além dos interesses socioprofissionais;

• Surgem diferentes formas de representação e mediação política, aquém e além dos partidos;

• O Estado cede espaço à sociedade, tanto em nível macro – pelas formas supraestatais – como em nível micro, pelo exercício de diversas redes de poder entre os agentes sociais;

• A crise do Estado[11] desencadeia processos de formação e consolidação do tecido social, por grupos que organizam, de maneira conflituosa, seus interesses particulares e se articulam em variados contratos de sociabilidade.

Precisamos construir o prazer sem as amarras sociais, longe das instabilidades dos humores e nos outros, fugindo da compulsividade do consumo e da necessidade de agradar aos outros para sermos finalmente aprovados. Não podemos pensar apenas como produto de consumo. Precisamos recuperar as habilidades criativas e espontâneas da humanidade e, reafirmar que o homem está no que faz e, não no que oculta.

A relação entre o sujeito pós-moderno e a crescente demanda direcionada ao Poder Judiciário, que surge de motivos, necessidades de tantos e tão diferentes encaminhamentos desse sujeito à Justiça. Há a desconstrução das referências e vige a premência de obtenção da mais plena satisfação, a constante evocação dos chamados direitos individuais, dos direitos fundamentais e ainda

o superficial conhecimento a respeito de como obtê-los, são os fatores que propiciam a aprovação de novas leis e, ipso facto, das inúmeras demandas dirigidas à Justiça.

Cogita-se da pós-modernidade seja responsável pela constituição de um novo sujeito, distinto daquele da modernidade, portanto, sofrendo o processo de dessimbolização do mundo, o neoliberalismo que busca edificar a reestruturação de mentes e a lógica das mercadorias.

Há, outros estudiosos que preferem empregar termos distintos para definir esse mesmo período histórico. Para Lipovetsy não vivemos tempos pós-modernos, mas sim, hipermodernos, pois não se estaria em época que apenas sucede a modernidade, mas, uma segunda modernidade, que deve ser compreendida em sa complexidade e dotada de paradoxos que duelam diante de todos.

A época atual, se valoriza o prefixo hiper, a saber: hipermercado, hiperendividamento, hiperdesconto, hipercenter, hipersentido. Por outro viés, outros estudos fazem referência a sujeito moderno, enquanto Giddens utiliza a expressão modernidade tarde.

Inexoravelmente, cada época cria seus objetos e, novamente nos remete a pertinência de uma análise sócio-histórica e, as ciências humanas, as ciências sociais aplicadas tais como o Direito, há uma grande ênfase, principalmente a partir dos anos oitenta, para o exame de questões sociais e de ações governamentais, como por exemplo, a população de rua, os meninos abandonados na miséria, invisíveis e que continuam em penúria, e que já não causam comoção social.

No âmbito das relações interpessoais, a chamada síndrome de alienação parental, a violência contra crianças e adolescentes, o abandono afetivo, o bullying e o assédio moral, dentre outras mazelas vem a integram o vasto rol de novas demandas encaminhadas à Justiça. E, já são acompanhadas de argumentos e apontam a necessidade de novos procedimentos jurídicos, novas soluções e celeridade tão valorizados no contexto pós-modernos, ou ainda, na denominada modernidade líquida como foi denominada por Zygmunt Bauman.

Ao examinarmos as transformações sociais que se presencia na atualidade, além da compulsão ao consumo, a regra passa ser a pressa, o imediatismo, o descarte e inexistência de avaliação sobre a utilidade das coisas. E, esse consumismo impacta o modo de agir e de pensar.

Dentro do contexto contemporâneo há desdobramentos múltiplos da globalização sob a influência da ideologia neoliberal e não afetam somente a dimensão econômica, mas, estendem-se às dimensões culturais, psicológicas e subjetivas. De fato, o capitalismo consumo não o homem, não apenas seus corpos, que, como objetos, serão valorizados e usados, em suas mentes.

A escassez de tempo nos afeta e, reduz-se, então a faculdade de julgar e a de analisar. Sendo de extrema importância atribuída às mercadorias, que são mais que seu valor financeiro, mas, evidenciam igualmente a mutação nos laços sociais e o imperativo de uma felicidade pessoal.

Na economia neoliberal há objetos que são tratados como descartáveis, dotados de prazos de validade, e tal percepção que se estende às relações interpessoais, como sustentou Bauman, há um amor líquido eivado de fragilidade e transitoriedade dos afetos e relacionamentos contemporâneos.

Os papéis sociais também sofrem constantes alterações quando as posições fixas e estáveis passam a ser desprezadas, tendo-se como regra a descartabilidade. O que novo, mutável, célere, recente, flexível e instantâneo passou a ter extremo valor e o mercado também passa a influenciar também o sentido das palavras.

O século XX assistiu há desconstrução maciça das tradições e valores e a grande ascensão potencial do individualismo e, onde a autonomia tornou-se sinônimo de autossatisfação em detrimento do outro, do próximo, da família e da sociedade, o que contribui para que o sujeito clame progressivamente por seus direitos individuais e por leis e decisões judicias que atendam aos seus anseios.

Hoje não se cogitar mais de satisfação a ser obtida, mas de sua desmedida ou exagero, ou excesso na dicção de Lipovetsy. A cultura líquida tão peculiar aos presentes dias marca-se por sua extrema fluidez, a busca da satisfação desponta como objetivo supremo a ser galgado, praticamente, uma obrigação do homem, sendo que qualquer obstáculo é percebido como injustiça.

Enfim, a regra de atrasar a satisfação não parece mais um conselho sensato tido pela época por Max Weber. Para se atingir as metas, não se aceitam mais prorrogações ou adiamentos, havendo quase uma tirania do imediato para se conseguir e, se obter os objetos vistos como vantajosos e, pelos quais se anseia m contexto onde a condição provisória de objetos e situações é uma realidade.

A felicidade cresce na medida que aumenta o consumo, como, por vezes, a propaganda faz crer. Desde o fim do século XX, a tão decantada felicidade desponta como o alfa e o ômega da existência humana, o afã de consumir advém de uma sensação de carência, de insatisfação com que se tem, quando comparado com que se almeja atingir. O consumidor ideal é aquele que potencializa suas compras em menor intervalo de tempo possível, gerando o chamado hiperconsumo.

A mutação na condição humana faz com que se não houver contentamento, recorre-se à Justiça, se houver algum dano ou frustração, recorre-se na busca de ressarcimento.  Todos aqueles que não galgaram a suposta felicidade, passaram se sentirem como vítimas de injustiça social.

Surgem então, as soluções pragmáticas que atendem aos pequenos grupos, que ao invés de privilegiar o debate sobre o bem como, apenas centra-se na satisfação individual.

Enfim, as relações fluídas e descartáveis e a incessante busca de satisfação contribuem para a formação de novo modo de pensar, de julgar, de relacionar-se com a família, com a pátria, com o trabalho e, assim, diante do desmonte progressivo das referências que eram balizas para nortear as decisões dos sujeitos, acentua-se em muito o apelo ao Judiciário.

Seguindo as águas da modernidade de Bauman, nossas subjetividades tão se tornaram fluídas e são remodeladas constantemente para que a adaptação os permita melhor sobrevivência.

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Vida Líquida[12]. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

_______________. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

__________ Modernidade líquida. (P. Dentzien, trad.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

__________ Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. (C. A. Medeiros, trad.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

__________ Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. (C. A. Medeiros, trad.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

BIRMAN, J. Muitas felicidades?! O imperativo de ser feliz na contemporaneidade. In: J. Freire Filho (Org.), Ser feliz hoje (pp. 27-48). Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010.

COLOMBO, Maristela. Modernidade: a construção do sujeito contemporâneo e a sociedade de consumo. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-53932012000100004Acesso em 7.10.2023.

DUFOUR, D. R. A arte de reduzir as mentes. (I. Poleti, trad.). In: Le Monde Diplomatique. Disponível em: http://diplomatique.uol.com.br/acervo.php?id=944&tipo=acervo

DEBORD, Guy. A sociedade do Espetáculo. Tradução de Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000.

GIDDENS, A. Modernidade e identidade. (P. Dentzien, trad.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

FREUD, S. O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1997.

LAENDER, Nadja R. A construção do sujeito contemporâneo. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-94792004000100019 Acesso em 7.10.2023.

LEITE, Gisele. A crise do Estado contemporâneo. Disponível em: https://www.jornaljurid.com.br/colunas/gisele-leite/a-crise-do-estado-contemporaneo Acesso em 7.10.2023.

LIPOVETSKY, G. Futuro da autonomia e sociedade do indivíduo. In: I. Neutzling, M. C. Bingemer & E. Yunes (Orgs.). Futuro da autonomia: uma sociedade de indivíduos? (pp.59- 72). Rio de Janeiro: PUC Rio; São Leopoldo, RS: Ed. Unisinos, 2009.

ROJAS, Enrique. O Homem Moderno. Tradução de Waldir Dupont. São Paulo: Mandarim, 1999.

ZALUAR, A. A Globalização do crime e os limites da exclusão local. IN: SANTOS, José Vicente Tavares dos. (Org.)  Violência em tempo de globalização. São Paulo: Editora Hucitac, 1999.

Observação: Meus sinceros agradecimentos ao Doutor Paulo Jorge dos Santos Fleury pela sua atenção e seus esclarecimentos. (grifo meu)

Notas:


[1] Assim, “O Mal-Estar na Civilização” explora a origem do sofrimento humano. Freud acreditava que o mal-estar é resultado da repressão social. Isso pode ser tanto social quanto ter origem familiar, por exemplo com um superego muito rígido imposto pelos pais. Os mal-estares da modernidade provinham de uma espécie de segurança que tolerava uma liberdade pequena demais na busca da felicidade individual. Os mal-estares da pós-modernidade provêm de uma espécie de liberdade de procura do prazer que tolera uma segurança individual pequena demais.

[2] A origem do capitalismo está atrelada à decadência do feudalismo e, consequentemente, à ascensão de um modelo econômico baseado no acúmulo de capital privado. Nesse contexto, tornou-se fundamental o surgimento da burguesia, classe econômica formada por detentores de capital, como os comerciantes. Pesquisas históricas apontam que o termo "capitalismo" foi utilizado pela primeira vez por um escritor chamado William Makepeace Thackeray, no trabalho denominado de The Newcomes, em 1845. Com base nesse escritor, a palavra significa "ter a posse do capital". Karl Marx, um dos filósofos mais críticos a esse sistema usou a palavra no trabalho intitulado como "O manifesto comunista", em 1848. O capitalismo possui características próprias. Uma que pode ser citada é a divisão de classe, ou seja, o estabelecimento entre a elite que compõe a classe empregadora e os trabalhadores que formam o setor operário. Outro aspecto desse sistema é o trabalho assalariado, o qual diz respeito a força do trabalho em troca do pagamento em dinheiro. Uma das características mais comuns do capitalismo está no acúmulo de bens, pois o desejo de quem adere a esse modo econômico é obter maiores riquezas possíveis. O capitalismo é estabelecido na história em três fases, chamadas de comercial, industrial e financeiro. O capitalismo comercial é também conhecido como pré-capitalismo ou de mercantilismo. Esse momento começou após o sistema feudal chegar ao fim e compreende do século XVI ao XVIII. A Expansão Marítima e a Expansão Comercial foram fatores nos quais contribuíram para a transferência do feudalismo para o capitalismo.  A Expansão Marítima, por exemplo, foi marcada pelo descobrimento de novas rotas marítimas para oriente e também marcou a conquista da América. Com isso, os burgueses expandiram o comércio do Mediterrâneo ao Atlântico e os locais recém-encontrados foram explorados com finalidade comercial.  Nesses locais, as nações como: França, Holanda, Inglaterra, Portugal e Espanha conseguiram lucros através do comércio de metais preciosos, recursos agrícolas, comercialização de escravos. Tudo isso, desencadeou o surgimento da primeira fase do capitalismo.  Capitalismo Industrial: Depois da primeira fase do capitalismo sucede-se o segundo momento que foi marcado pela Revolução Industrial. Esse período é caracterizado como a fase de concretização do capitalismo.  A Revolução Industrial teve como principal característica a fase de transição da produção manual para a industrial através do advento das máquinas. A industrialização também teve como característica o advento da classe operária, em que os trabalhadores recebiam dinheiro em troca dos serviços prestados. A primeira fase da Revolução Industrial abrange o período de 1760 a 1860. A Inglaterra foi a nação destaque dessa fase porque detinha propriedades as quais a favoreceram, como: o crescimento populacional e o acúmulo de capitais.  O Capitalismo Financeiro denominado também de monopolista compreende a terceira fase desse sistema econômico. Esse momento teve início no século XX e está fundamentado na ligação entre os bancos e o setor industrial. Muitos acontecimentos históricos estão ligados a essa fase econômica: Segunda Revolução Industrial, a Crise de 1929 e a criação da União Soviética.

[3] Trata-se de sociedades em que a grande maioria da população se encontra inserida em um processo de produção e consumo em larga escala de bens de consumo e serviços, além de estar em conformidade com determinado modelo de comportamento generalizado. Uma das consequências da cultura de massa é a homogeneização cultural, que considera estranha qualquer manifestação cultural que não incentive o consumo exacerbado de bens e serviços. O próprio termo sociedade de massa já faz referência a uma sociedade massificada, isto é, uma sociedade em que os indivíduos agem de forma semelhante com gostos e interesses praticamente padronizados. Hannah Arendt aponta que no século XX um novo tipo de homem pode ser identificado: homens que são moldados ideologicamente para agir de forma massificada, isto é, da forma como querem que aja.

[4] O termo “visão de mundo” (Weltanschauung) tem sua origem no interior da filosofia alemã, mais especificamente na Crítica da faculdade de julgar (1790) de Kant (1724-1804), sendo decisivo para a consolidação do “idealismo alemão”. Martin Heidegger (1889-1976) faz uma apropriação desse termo.

Tal apropriação, porém, acontece mediante a refundação do sentido próprio de “visão de mundo”. Disso decorre o seguinte: há, por um lado, uma continuidade terminológica – Heidegger ainda utiliza o termo “visão de mundo” –, o que não acontece no modo de proceder, ou seja, por outro lado, há uma mudança metodológica e esta é decisiva para a apropriação do termo, bem como para a sua fundamentação e significação. Esse movimento de apropriação pode ser visto a partir de três preleções: A ideia da filosofia e o problema da visão de mundo (1919), os problemas fundamentais da fenomenologia (1927) e Introdução à filosofia (1928-1929). O objetivo do presente artigo, então: investigar algumas indicações percebidas nos textos de Heidegger que conduzem esse movimento de apropriação, de modo a elucidar qual seja o caráter peculiar de sua apropriação. Realizando uma hermenêutica textual há de se perceber, por fim, que Heidegger retorna à tradição filosófica – à metafísica – com o propósito de dela se distanciar, mostrando que esse movimento de apropriação em relação ao termo “visão de mundo” permite também a colocação pela pergunta do sentido de ser.

[5] A sociedade do espetáculo corresponde a uma fase específica da sociedade capitalista, quando há uma interdependência entre o processo de acúmulo de capital e o processo de acúmulo de imagens. O ponto central de sua teoria é que a alienação é mais do que uma descrição de emoções ou um aspecto psicológico individual. É a consequência do modo capitalista de organização social que assume novas formas e conteúdo em seu processo dialética de separação e reificação da vida humana. Para Debord (1997) vivemos em uma “sociedade do espetáculo”, onde a mercadoria e a aparência se tornaram mais valorizadas no contexto das relações sociais, tornando-se uma forma de relação social em que o ter e o aparentar ser suprem momentaneamente o viver, objetificando e artificializando as experiências, que deixam de ser vividas em sua essência. A imagem que o indivíduo tenta transmitir de si mesmo ou do modo de vida que vive ultrapassa a realidade e torna a imagem, a representação, uma nova realidade ficcional, ou seja, uma realidade construída por ficções. Debord (1997, p. 8) diz que “o espetáculo, compreendido na sua totalidade, é ao mesmo tempo o resultado e o projeto do modo de produção existente”. O espetáculo não é apenas um conjunto de imagens postadas ou compartilhadas nas plataformas de mídias sociais, ele está inserido no contexto das relações sociais contemporâneas, mediando as relações entre as pessoas por imagens, narrativas e enquadramentos. E esse espetáculo, essa atuação social, contribui para a criação da realidade coletiva nos dias atuais.

[6] A partir das contribuições de Marx e outros autores, a alienação é compreendida como sendo fundamentalmente uma relação social de heterogestão, ou seja, ela remete a uma situação de controle por outro. A alienação, por sua vez, gera o alheamento, que é a perda da posse ou propriedade, e o fetichismo (ou estranhamento). O consumo alienado, dentro das sociedades capitalistas da atualidade, os indivíduos são saturados por propagandas nos meios de comunicação, onde a liberdade passa a ser determinada por padrões de consumo. Assim, o indivíduo alienado relaciona sua essência com um padrão de consumo. Marx definiu quatro formas de alienação do trabalhador na sociedade burguesa: (1) pelo produto de seu trabalho, que se torna um objeto estranho que exerce poder sobre ele; (2) em sua atividade de trabalho, que ele percebe como dirigida contra si mesmo e como se não lhe pertencesse; (3) pela “essência genérica” do homem ...

[7] Identificou-se que como esperado, houve o aumento do uso dos ansiolíticos e antidepressivos durante a pandemia da COVID-19, como também o aumento pela busca solitária do autodiagnóstico, o despreparo das equipes que atendem os pacientes em tratamentos de quadros ansiosos e depressivos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), e ainda ressalta a importância de se manter o acompanhamento médico tal como o acompanhamento psicológico dos sujeitos acometidos por esses transtornos e assim garantir que o uso de medicamentos controlados seja acompanhado mais de perto e que não ultrapasse o tempo extremamente necessário.

[8] Sociedade de Consumo é um termo utilizado em economia e sociologia para designar o tipo de sociedade que se encontra em uma avançada etapa de desenvolvimento industrial capitalista e que se caracteriza pelo consumo massivo de bens e serviços, disponíveis graças a elevada produção dos mesmos. Entende-se por sociedade de consumo a era contemporânea do capitalismo em que o crescimento econômico e a geração de lucro e riqueza encontram-se predominantemente pautados no crescimento da atividade comercial e, consequentemente, do consumo. O conceito de sociedade de consumo está ligado a economia de mercado, a qual encontra o equilíbrio entre oferta e demanda, através da livre circulação de capital, produtos e pessoas, sem intervenção estatal. Também está fortemente ligado ao conceito de capitalismo. Do ponto de vista antropológico, entende-se que esses exageros característicos das sociedades de consumo são provenientes de fatores sociais e culturais. Contudo, fatores históricos não podem ser descartados, uma vez que mudanças nos modos de produção a partir de uma revolução industrial aumentaram os níveis de produção, somando-se aos fatores sociais.

[9] O vácuo ou vazio existencial se caracteriza pela ausência de consciência de um sentido de vida, de um propósito ou ideal que valha a pena viver. Como diria Nietzsche (2005), é a ausência de um “porquê” para viver. É nesse momento que surge o vazio existencial, aquela sensação de que nada mais faz sentido e que viver já não tem mais graça. Percebe o perigo desse tipo de pensamento? Quando ele dura muito tempo, pode ser fator de desenvolvimento de vários outros transtornos, como ansiedade e depressão. Os principais sinais do vazio existencial são: Sentir-se só, mesmo quando está na presença de outras pessoas; não encontrar motivos para comemorar nada; vivenciar uma intensa falta de disposição, ânimo e automotivação; achar que tudo é trabalhoso demais; ver apenas o lado negativo das coisas.

[10] Globalização é o fenômeno de integração econômica, social e cultural do espaço geográfico em escala mundial. É caracterizada pela intensificação dos fluxos de capitais, mercadorias, pessoas e informações, proporcionada pelo avanço técnico na comunicação e nos transportes. Globalização é um processo de integração política, econômica e cultural mundial, marcado pelos avanços nos meios de transporte e comunicação. O processo de globalização, em seus moldes atuais, vem sendo duramente criticado por alguns intelectuais e grupos sociais organizados. Quais são os 4 tipos de globalização? Quais os TIPOS de Globalização?  Tipos de Globalização:1 – Globalização Econômica; 2 – Globalização Cultural; 3 – Globalização da Informação; Vantagens da globalização: intercâmbio cultural; Desvantagens da globalização: Desigualdade social.

[11] As alterações de paradigmas provocadas pela globalização econômica, responsável pela crise do Estado contemporâneo, e que guardam relação com o processo de criação do Estado moderno ocidental. Para tanto, traçou-se um apanhado sobre a origem e o desenvolvimento das formas estatais, a partir da modernidade, seguidas da análise da função do Estado contemporâneo e dos desafios diante do novo cenário mundial, que tornaram insuficientes, os modelos criados no passado e que estão a exigir a construção de uma nova realidade política, social e econômica capaz de democratizar o capitalismo e ajustá-lo a padrões mais humanitários.

[12] Bauman argumenta que os indivíduos, na sociedade líquida, tendem a considerar que a atitude mais racional é a de não se comprometer com o que seja. Assim, quando uma nova oportunidade ou ideia aparecem, este indivíduo se engaja sem maiores dramas. A “Vida Líquida” é uma vida de consumo: o mundo e seus fragmentos são tratados como objetos de consumo, que perdem a utilidade e o valor quando são usados, e então, são simplesmente descartados. O conceito de modernidade líquida foi desenvolvido pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman e diz respeito a uma nova época em que as relações sociais, econômicas e de produção são frágeis, fugazes e maleáveis, como os líquidos.


Gisele Leite

Gisele Leite

Professora Universitária. Pedagoga e advogada. Mestre em Direito. Mestre em Filosofia. Doutora em Direito. Conselheira do INPJ. Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Consultora Jurídica.


Palavras-chave: Modernidade Pós-modernidade Sujeito Contemporâneo Sujeito de Consumo Alienação

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