O Direito a ter Direitos e o resultado das eleições do Brasil
Por Paulo Schwartzman.
Olá leitores, tudo bem? Nessa
semana caótica que sucede a eleição presidencial mais apertada da história
brasileira, na qual o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva venceu o
atual presidente Bolsonaro pelo placar de 50,9% dos votos a 49,1% (totalizando
em números absolutos uma diferença de pouco mais de dois milhões de cidadãos),
sombras nefastas rondaram o país pedindo por um golpe à democracia. Sim, ainda
existem pessoas que acreditam que apenas a sua opinião pode ser a certa.
Nessa breve coluna, que
seguirá um pouco o modo reflexivo daquela “Mundo
sem Direito”[1], tentaremos provocar
justamente essa ponderação acerca do que realmente significa a democracia,
amparada essa na cidadania, que tem como o voto um de seus mais fundamentais
firmamentos. Com efeito, é difícil cogitar-se em um cidadão que não possua o
direito de votar, de influir na vida política por meio de seu livre pensar.
Segundo Hannah Arendt, a
cidadania seria justamente esse Direito a ter Direitos. É possível efetivamente
falar que existem cidadãos no Brasil quando quase metade da população não
aceita o resultado licitamente obtido nas urnas?
Há mesmo democracia em um país
que apenas o “meu” entender é o que deve prevalecer? Em que a “outra” metade do
país está errada?
Inclusive, essa ideia de usar
de mecanismos constitucionais (ainda que de forma mal interpretada – como o
extremamente incompreendido art. 142 da Constituição da República [que
possivelmente será objeto de um texto aprofundando só essa norma]) para fins
golpistas e antiestatais não seriam exatamente uma demonstração do libertarianismo
à brasileira[2] a que
me referi em um texto não tão longínquo? É realmente uma possibilidade.
Parece-me que a nossa jovem
democracia, obtida a duras penas após anos de um regime militar sanguinário,
escorado no crime e no segredo, ainda não conseguiu fazer uma catarse.
Definitivamente um país como o nosso não pode calcar-se em um modelo
paradigmático (desculpem o pleonasmo – é mero reforço argumentativo) como
Bolsonaro. Pregar a desconfiança nas urnas, a injustiça do processo eleitoral é
simplesmente um jogo tão sujo que deveria ter recebido uma resposta mais dura
das ditas instituições democráticas.
Que isso seja um alerta: as
nossas instituições estão, talvez, deitadas eternamente naquele berço
esplêndido que o hino positivista nos brindou. Quiçá justamente essa cama de
regalias nas quais nossos magistrados e procuradores se refestelam possa ser a
causa de uma “elite” pública covarde no cumprimento de seus reais deveres, mas
implacável com aqueles a quem deveria proteger.
Escrevo esta coluna no Dia de
Finados, mas infelizmente os mortos da Ditadura parecem não ser muito levados a
sério no Brasil. Talvez o dia dos mortos seja propício, pois, no caminhar
atual, a democracia brasileira é quase zumbi.
Notas:
[1]
Conteúdo disponível em:< https://www.jornaljurid.com.br/colunas/direito-com-paulo/mundo-sem-direito>.
Acesso em: 02/11/2022
[2]
Conteúdo disponível em: <https://brasildebate.com.br/o-libertarianismo-a-brasileira/>.
Acesso em: 02/11/2022