Trabalho é indispensável para ressocialização

Oferta de trabalho e educação nas cadeias do país é fundamental para ressocialização de presos e elevação dos índices de reinserção social

Fonte: TJMT

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Melhorar a gestão para implantar e ampliar boas práticas no Sistema Penitenciário de Mato Grosso foi o foco da palestra do juiz da Terceira Vara de Bayeux (Paraíba), Euler Paulo de Moura Jansen, na manhã de hoje (27 de agosto) durante o Fórum Mato-grossense para Modernização e Humanização do Sistema Penitenciário. O encontro é realizado no Cenarium Rural com a participação de magistrados, profissionais da Secretaria de Estado de Justiça Direitos Humanos (Sejudh) e reeducandos. No local estão em exposição trabalhos realizados por presos de unidades de Cuiabá e interior.

 
Na avaliação de Jansen, a oferta de trabalho e educação nas cadeias do país é fundamental para ressocialização de presos e elevação dos índices de reinserção social. Aponta que estimativa nacional demonstra que 89% dos presos reincidem no crime. A média de Mato Grosso é de 78%. Embora esteja superior aos dados do país, o número é preocupante e demonstra que precisam ser adotadas medidas para garantir melhor qualidade de vida e recuperação dos apenados.

 
“Existe lógica em colocar alguém que cometeu um crime em uma caixa, cercado de pessoas iguais ou piores que ela, e esperar que saia melhor depois de 10 anos? É impossível. Precisamos apostar na oferta de conceitos morais, intelectuais, religiosos e filosofia do trabalho. A família e a vontade do preso também têm papel fundamental nesse processo”.

 
Conforme Jansen, o Estado conta com projetos relevantes, como a Fundação Nova Chance, que precisam ser ampliados para o interior. “É preciso criar mecanismos para que este preso volte a produzir e sem gestão isso não é possível”.

 
Responsável pelo setor de produção do Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC), o agente prisional Wanderson dos Santos aponta que dentro da unidade cerca de 160 homens atuam em alguma atividade voltada para trabalho e ocupação. No local o reeducando pode ajudar em atividades como limpeza, cozinha, manutenção ou nas oficinas de marcenaria, serralheria, talha, pintura, refrigeração, eletrônica e de polimentos. Parte da produção dos presos foi exposta no saguão do evento.

 
“Existe uma diferença de comportamento muito grande dos reeducandos que trabalham e dos que não desenvolvem nenhuma atividade. Percebemos o resgate da auto-estima, melhoria na conduta e comportamento. Hoje, a nossa principal dificuldade é a aquisição de materiais para que eles façam os trabalhos”.

 
Preso há 6 anos por tráfico de drogas, quatro deles cumpridos no CRC, o reeducando R. A. F., 37, destaca que a possibilidade de desenvolver uma atividade faz toda diferença para o aprendizado e ressocialização. “Além da remição da pena, ocupamos a cabeça e não temos tempo para pensar em bobagens”.

 
R. afirma que hoje tem uma vida muito mais tranqüila e harmônica com a esposa e três filhos. Perto de ganhar a liberdade, ele planeja terminar os estudos e fazer faculdade de Teologia. “Encontrei no trabalho uma ocupação e consegui perceber que a vida que tinha antes não vale a pena. Nada do que ganhei existe, restou apenas a minha família”.

 
Também cumprindo pena no CRC, F. D., 36, aproveita o dom da pintura para criar quadros, ensinar técnicas, decorar vidro e desenhar retratos. Comenta que aprendeu tudo o que sabe sozinho e a arte faz parte da sua realidade desde a infância. Agora, cumprindo pena extra-muro é responsável pela pintura da Fundação Nova Chance. Ele participa do evento e pinta quadros para demonstrar aos visitantes.

 
Interior – A experiência do juiz Jorge Alexandre Martins Ferreira demonstra que a ocupação é a melhor forma de prevenir a reincidência. Ele atuou por 8 anos em Araputanga (345km a oeste de Cuiabá), onde desenvolveu projeto para aproveitar a mão-de-obra dos detentos para cuidar de espaços públicos da cidade. “Dos 150 participantes, nenhum reincidiu. Isso demonstra a importância de se oferecer uma oportunidade a quem errou”.

 
Atualmente, o magistrado atua em Cáceres (225km a oeste da Capital) e levou o projeto para a comarca. Por meio de parceria com o Sindicato Rural, homens e mulheres que ocupam o sistema prisional são qualificados. As detentas participaram de curso de pintura em tecido e os reeducandos foram capacitados em jardinagem e revitalização. Para o próximo mês estão agendados treinamentos de duas novas turmas masculinas. “Teremos 50 presos capacitados para trabalhar em limpeza e pintura de praças, revitalização de cemitérios, entre outros cuidados com espaços públicos”.

 
O juiz destaca que a sociedade ganha com essa prática, uma vez que passa a ter uma visão diferenciada do reeducando e conta com o serviço deles. O preso recobra a auto-estima, tem o direito à remição de pena e ocupa o tempo. O magistrado lembra que cada preso recuperado representa menos violência e ganho social.

 
Fórum – O evento teve início na tarde de ontem e prossegue até esta quarta-feira (28) com objetivo de levantar a temática no Estado. O Fórum é promovido pela Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça de Mato Grosso.

Palavras-chave: Trabalho Indispensável Ressocialização Detentos

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