Juízes pedem anulação de Resolução do CNJ que dispõe sobre suspeição por foro íntimo

Três entidades nacionais de juízes impetraram, no Supremo Tribunal Federal, o Mandado de Segurança contra a íntegra da Resolução nº 82/09 do Conselho Nacional de Justiça.

Fonte: STF

Comentários: (1)




Três entidades nacionais de juízes impetraram, no Supremo Tribunal Federal (STF), o Mandado de Segurança (MS) 28215 contra a íntegra da Resolução nº 82/09 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que regulamenta as declarações de suspeição por foro íntimo dos juízes, tornando obrigatória a exposição de seus motivos a órgão correcional a que o magistrado esteja vinculado ou a outro órgão designado pelo tribunal.

No MS, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) e a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) pedem a suspensão liminar da resolução e, no mérito, a sua anulação, alegando que ela ?viola direitos líquidos e certos dos magistrados?.

Antes de impetrar o MS, as entidades representativas dos juízes ajuizaram, também, a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4260 contra a Resolução CNJ nº 82/09. A ADI foi distribuída para a ministra Ellen Gracie, que decidiu não julgar o pedido de liminar formulado na ação, preferindo afetar o assunto diretamente ao Plenário da Suprema Corte. Assim, inviabilizou a possibilidade de suspensão imediata da resolução que, alegam, impõe-lhes ?grave constrangimento ilegal?.

Razões

Os magistrados sustentam que o ato normativo impugnado padece de inconstitucionalidade formal, já que a matéria nele tratada não se encontra dentre as competências constitucionais do CNJ. Segundo eles, trata-se ou de matéria de competência privativa da União para legislar sobre direito processual por meio de lei ordinária (Constituição Federal ? CF, artigo 22, inciso I), ou de matéria a ser disposta no Estatuto da Magistratura, por meio de lei complementar da iniciativa do STF (CF, artigo 93, caput).

Alegam, também, que a resolução impugnada ofende várias das garantias constitucionais dos juízes, ?uma vez que impõe aos magistrados de primeira e segunda instâncias espécie de ?confessionário? dos motivos de foro íntimo que os levam, eventualmente, a declarar suspeição para julgar determinados feitos?.

Entre tais garantias estão, segundo as entidades signatárias do MS, as da imparcialidade; da independência do juiz e do devido processo legal, tanto sob a ótica do magistrado, que deseja bem realizar o seu ofício, como sob a ótica do jurisdicionado, que tem o direito de não ter sua causa julgada por magistrado que se considere suspeito para fazê-lo; o direito à privacidade e intimidade do magistrado e, ainda, a isonomia de tratamento entre os magistrados, porque a resolução retrataria discriminação injustificada entre magistrados de primeiro e segundo graus em comparação com os magistrados dos tribunais superiores, os quais não estão submetidos às mesmas obrigações.

Violação do CPC

Os magistrados sustentam que só o cotejo do artigo 135 do Código de Processo Civil (CPC) com a Resolução 82 ?já seria suficiente para o fim de se concluir que as normas veiculadas neste último estão inovando no mundo jurídico e não simplesmente disciplinando a aplicação da norma processual no âmbito da competência correcional?.

O artigo mencionado artigo 135, em seu parágrafo único, reserva ao juiz a possibilidade de declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, dispensando-o de declinar os motivos.

Lembram que o Código de Processo Civil de 1939 continha a regra inscrita na Resolução 82, mas ela foi extirpada no CPC de 1973, deliberadamente, graças a uma emenda do então deputado Dias Menezes.

Citam, nesse contexto, jurisprudência do STF (HC/82798) que estendeu a regra da não obrigatoriedade de declinar os motivos da suspeição também ao processo penal, por analogia.

Intimidade e isonomia

Ao alegar violação do direito à intimidade, prevista no artigo 5º, inciso X, da CF, e do princípio da isonomia, os juízes afirmam que ?não se pode exigir a explicação do motivo íntimo da declaração de suspeição apenas de parte dos magistrados?. Isto porque ?ou a exigência vale para todos, ou é nula?.

Ainda segundo eles, a resolução viola, também, os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, porque, se for válida para os magistrados de primeiro e segundo graus, será inválida por não alcançar os demais magistrados (dos tribunais superiores e até do STF).

O ministro Carlos Ayres Britto é o relator do MS 28215.

Processo relacionado: MS 28215

Palavras-chave: foro íntimo

Deixe o seu comentário. Participe!

noticias/juizes-pedem-anulacao-resolucao-cnj-que-dispoe-sobre-suspeicao-por-foro-intimo

1 Comentários

almir Estudante de Direito09/09/2009 9:11 Responder

Eu já fui vítima de uma juíza aqui no interior do RN, que se declarou suspeita em julgar vários processos, coincidentemente contra a empresa que era pólo passivo na lide em que eu figurava como autor no JEC. Resultado, apesar de o processo tramitar no Juízado Especial, tinha que dispor de 5% do valor da causa para preparar o recurso contra sentença desfavorável a mim e em favor da dita empresa, onde a magistrada inúmeras vezes alegou suspeição. Como não dispunha do valor, tive que ver meu bom direito ir pelo ralo. Informei o caso a ouvidoria do TJRN e simplesmente não fizeram nada, numa flagrante demonstração de corporativismo, optaram pelo mais fácil, disseram que deixei expirar o prazo do recurso, quando na minha opinião, o mais elegante, seria pelo menos indagar da Excelentíssima o motivo de não ter arguído suspeição como fizera em todos os outros processos em que tal empresa era parte. Daí eu pergunto a quem poderemos recorrer para sanar tamanha injustiça? o fator mais sagrado num julgamento foi simplesmente atropelado, a imparcialidade. Sem tal "ingrediente" não há que se falar em Justiça.

Conheça os produtos da Jurid