Freud se demite. Acusador fica em silêncio
O ministro disse ainda que não há "ninguém acima da lei" e que o ex-assessor "vai ser investigado, vai ser indiciado ou vai ser inocentado".
Freud Godoy, assessor especial da Secretaria Particular do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pediu afastamento de seu cargo nesta segunda-feira. à tarde, ele esteve na Polícia Federal e negou qualquer participação na compra de um dossiê que ligaria os candidatos tucanos ao governo de São Paulo, José Serra, e à Presidência, Geraldo Alckmin, à máfia dos sanguessugas - esquema de comra superfaturada de ambulâncias com verbas federais. Ele foi acusado pelo advogado Gedimar Pereira Passos preso pela PFna sexta-feira, portando 1,7 milhão de reais que seriam usados para a compra. Com ele, estava Paulo Valdebran Padilha da Silva, filiado ao PT.
Em acareação na tarde desta segunda-feira, segundo o advogado Augusto Arruda Botelho, responsável pela defesa de Freud, Gedimar não confirmou as acusações que fez. "Gedimar ficou em silêncio, usando o direito de permanecer calado durante a acareação, alegando que os advogados dele não tiveram acesso, até o momento, ao inquérito instalado pela PF em Cuiabá", declarou Botelho.
Segundo ele, a acareação durou cerca de cinco minutos e Freud reiterou não ter nenhuma relação com os fatos e tampouco ter mantido contado com Gedimar para tratar desse assunto. "Foi uma acusação inverídica, absurda e fantasiosa (feita contra Freud) por uma pessoa desesperada e que está presa", declarou Botelho.
"Indignado" - O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não acredita no envolvimento de Freud com compra de dossiê. A declaração de Lula teria sido dada antes do presidente embarcar Nova York. Segundo Bastos, o presidente ficou "indignado" e não "compactua com essa história de dossiê".
O ministro disse ainda que não há "ninguém acima da lei" e que o ex-assessor "vai ser investigado, vai ser indiciado ou vai ser inocentado".
CPI - O presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), disse que irá a Brasília ainda nesta semana para tomar providências que assegurem o acesso da comissão ao material apreendido na semana passada pela PF, que mostraria o envolvimento de integrantes do PSDB com a máfia das ambulâncias. Segundo a Agência Câmara, Biscaia afirmou que a CPI poderá votar requerimento para que o ex-ministro da Saúde José Serra preste depoimento na comissão.
O deputado Raul Jungmann (PPS-PE), vice-presidente da CPI, defendeu a convocação dos envolvidos na elaboração e na compra do dossiê. Jungmann prometeu apresentar à CPI nesta terça-feira requerimento pedindo a convocação de Gedimar Pereira Passos e Valdebran Padilha da Silva, presos na sexta-feira com o dinheiro que seria usado na compra do dossiê. O deputado também quer convocar Luiz Antonio Vedoin e seu tio, Paulo Roberto Trevisan, apontados como responsáveis pela elaboração do dossiê, e Freud. "Estamos diante de um esquema muito mais amplo. Há conexão entre a máfia dos sanguessugas e esse dossiê. É preciso tirar a limpo da conexão desses recursos", afirmou.
No início do dia, Freud relatou ter recebido uma ligação do presidente Lula, pedindo esclarecimentos sobre o caso. "Ele falou em quebra de confiança, disse que estava preocupado e que não estava entendendo e perguntou o que havia de verdade", contou Godoy. "Eu disse: ?se o problema do senhor de governo e campanha é esse, o senhor pode pôr a cabeça no travesseiro e dormir tranqüilo, porque eu tenho como provar que não tenho nada a ver com isso."
Origem do caso ? O caso do dossiê Vedoin teve início na sexta-feira, quando a PFprendeu em São Paulo Valdebran Padilha da Silva e Gedimar Pereira Passos. Simultaneamente, a PF prendeu em Cuiabá Luiz Antônio Vedoin ? sócio da Planam, empresa acusada de chefiar a "máfia dos sanguessugas" ? e seu tio, Paulo Roberto Trevisan. A pedido de Vedoin, Trevisan trocaria o dossiê contra Serra pelo dinheiro.
Em depoimento à PF, Gedimar disse que o dinheiro veio do PT. Em seguida, informou que seu contato no PT era alguém chamado "Freud".