A tradição de eleger filhos de políticos já consagrados nas urnas se repetiu nas eleições deste ano. Em Alagoas, o filho do senador Renan Calheiros, Renan Filho (PMDB), chega ao primeiro mandato como deputado federal mais votado, com mais de 140 mil votos. Em Sergipe, o filho do senador Antônio Carlos Valadares, Valadares Filho (PSB), também foi o mais votado, conquistando uma vaga na Câmara pela segunda vez.

Na Bahia, Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), pela terceira vez, é o deputado mais votado em seu estado. Em Pernambuco, a campeã de votos é a deputada Ana Arraes (PSB), filha do ex-governador Miguel Arraes e mãe do atual governador Eduardo Campos.

No Ceará, Domingos Gomes de Aguiar (PSB) foi o deputado federal mais votado. Aguiar é filho do atual presidente da Assembleia Legislativa do Ceará e vice-governador eleito, Domingos Filho, e da secretária de Turismo de Fortaleza e ex-prefeita de Tauá, Patrícia Aguiar.

Capital político

Professor da Universidade de Brasília, o cientista político Otaciano Nogueira explica que o sobrenome representa um capital político importante. "Na política, um sobrenome bem conhecido e avaliado é o maior patrimônio que um candidato pode desejar. Se ele é filho de alguém que deu alguma grande contribuição, sempre será lembrado pelo que o pai fez."

Nogueira lembra que isso ocorre desde os tempos do Império. "O conselheiro Nabuco de Araújo foi deputado, senador, ministro. E o filho, Joaquim Nabuco, se tornou tão importante quanto pai."

Na Paraíba, o deputado Wilson Santiago (PMDB) foi eleito neste ano para o Senado, ao mesmo tempo em que o seu filho, o empresário José Wilson Santiago Filho, concorrendo como Wilson Filho (PMDB), conquistou seu primeiro mandato na Câmara, aos 21 anos.

Ainda na Paraíba, o deputado Efraim Filho (DEM) obteve a reeleição, mas seu pai, o senador Efraim Morais (DEM), não teve o mesmo sucesso. Também no mesmo estado, elegeu-se senador neste ano o atual deputado Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB), filho do ex-deputado Antonio Vital do Rego, que exerceu três mandatos na Câmara Federal.

História própria

No Paraná, o filho do ex-ministro José Dirceu, Zeca Dirceu (PT), obteve 108.886 votos para deputado federal neste ano. Prefeito de Cruzeiro do Oeste por duas vezes, Zeca Dirceu acredita que a maioria de seu eleitorado decorre da sua trajetória política na região.

"Não posso deixar de dizer que o fato de eu ser filho de José Dirceu me traz uma série de credenciais e, nos locais mais distantes, onde eu não era conhecido, acaba me trazendo uma parcela dos votos que tive", avalia o candidato eleito. "Mas é inegável que eu tenho história e que tenho votação que é minha."

A deputada distrital e filha do ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz, Jaqueline Roriz, ressalta, no entanto, que, se o político não tiver uma boa atuação, o nome da família não será suficiente para manter um mandato. "O segundo mandato faz parte de um processo de como você se comportou no primeiro mandato. Porque o eleitor está muito atento, muito politizado", acredita Jaqueline, que se prepara para ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados, para a qual obteve 100.051 votos.

Empresários e artistas

O professor Otaciano Nogueira lembra que o peso de um nome não é levado em conta apenas na política. Empresários, exemplifica Noqueira, também costumam seguir a carreira de seus ascendentes.

É o caso ainda de filhos de artistas famosos. Outro jovem político bem votado foi o deputado Ratinho Júnior (PSC), 29 anos, filho do apresentador de TV Carlos Massa, o Ratinho. No Paraná, o parlamentar obteve 358.924 votos, o equivalente a 6,32% dos votos válidos. Em 2002, aos 21 anos, foi o deputado estadual mais votado na história do estado, com mais de 189 mil votos. Em 2006, obteve a segunda maior votação no Paraná, com 205 mil votos.