Sandra Mara Devincenzi da Silveira da Silva ^{( * )}

Há muito que credito que parcela significativa da sociedade brasileira sinta-se lograda, lesada e contrabandeada em sua boa fé ao creditar esforços para determinados políticos tomarem assento nos poderes executivo ou legislativo, tamanho é o desmando que a cada dia é desnudado. Digo parcela da população brasileira porque ainda temos milhares que não tomaram consciência de seu papel de cidadão e se submetem a uma velada escravidão política para sobreviverem, enquanto outros tantos estão absurdamente alienados do processo ou incrustados em suas conchas onde nada vêem e nada ouvem.

Retomo o ano de 2005 como o da catapulta que iniciou o lançamento de dardos nas vidraças de tantos que se diziam patriotas, probos, quase messias das mazelas nacionais. De lá para cá não há santo mês que não se tenha uma enxurrada de desmandos, corrupção e prevaricação partindo dos poderes constituídos. Denúncias e inquéritos mostram a sordidez e hipocrisia de quem tinha o dever de promover o bem estar coletivo e para o que utilizou de todos os ardis até chegar ao seu objetivo.

Os últimos escândalos envolvendo a administração do Senado envergonham e enlutam a nação que há muito deixou de ser séria em razão da péssima conduta de seus políticos e gestores públicos. A capital da república já não é tão somente a ilha da fantasia, mas do deboche, do escárnio, da libertinagem e licenciosidade do erário. Isso sem falar em outras devassas morais que foram sufocadas rapidamente e a cada tempo mais e mais se entranha na obscuridade do esquecimento. Quem se recorda dos vínculos da república com as prostitutas de luxo? Nada contra o fato em si, eis que cada um faz a vida pessoal do seu jeito, desde que não envolva recursos públicos.

Enquanto se esbanja na distribuição de cargos como forma de buscar plataformas que garantam sequentes reeleições, redes de pedofilia se alastram destruindo crianças e famílias quase sempre pobres; condenados por delitos são confinados como ratos dentro de prisões, ainda que lá mereçam estar, mas não como dejetos; cidadãos perdem suas vidas e seus patrimônios em rodovias sem manutenção; milhares moram em barracos de folhas de lata por falta de política habitacional e outros incontáveis morrem pela escassez de atendimento médico no dito melhor programa de saúde universal.

Com tantos desmandos, mazelas e indiferença governamental, não há como negar a estupefação e indignação contra os promotores dessa orgia, mas também contra uma sociedade indolente, amorfa, insípida e idiota que se mantém calada e incapaz de dizer: BASTA DE ESPOLIAÇÃO!

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Notas:

* Sandra Mara Devincenzi da Silveira da Silva, Socióloga, Jornalista (DRT/RS 13.573), acadêmica de Direito. E-mail: sandra.silva@brturbo.com.br. [ Voltar ]