Crack: apreensões não acompanham o drama da epidemia

A polícia atribui os elevados índices de violência às drogas, principalmente ao crack. Mas tem retirado pouca droga de circulação

Fonte: O Povo

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Nos discursos políticos e da cúpula da segurança pública cearense, há anos ele é apontado como a principal causa do descontrolado inchaço nos indicadores de violência. Virou até nome de política pública do Governo Federal, com o lançamento do programa “Crack, é possível vencer”, em 2011. Mas tem sido retirado de circulação de forma tímida no Ceará.


De janeiro a agosto deste ano, as polícias Militar e Civil apreenderam apenas 103,35 quilos da droga em todo o Estado, sendo 41,02kg na Capital e 62,33kg nos demais 183 municípios. Uma média de 12,8kg mensais. Os dados constam nos relatórios da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) publicados na Internet. Eles não contemplam os trabalhos da Polícia Federal. O POVO solicitou estatísticas à PF, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria, ontem à noite.


Esses 103kg de crack representam um número 32% maior do que os 78kg recolhidos no mesmo período do ano passado. A marca também supera os 100kg de todo 2012. Números diminutos diante do diagnóstico da Central Única das Favelas (Cufa) de existirem, só em Fortaleza, entre 25 mil e 30 mil usuários de crack. Cada um, conforme o presidente nacional da entidade, Francisco José Pereira de Lima, o Preto Zezé, queima 12 pedras por dia, em média.


Isso significaria até 36 mil pedras de crack consumidas diariamente na Capital. Como cada uma pesa cerca de 0,02 grama, segundo estimativas da assessoria da Delegacia Geral de Polícia Civil, o universo pintado pela pesquisa da Cufa indicaria cerca de 7,2kg de droga queimada a cada 24 horas em Fortaleza. Ou 216kg por mês. Ou ainda 1.728kg de janeiro a agosto. Algo bem distante dos 41,02kg apreendidos na Capital nos oito primeiros meses de 2013.


Segundo a assessoria da Polícia Civil, os números constantes nos relatórios da SSPDS correspondem ao apurado de todas as delegacias do Estado. São 139, sendo apenas uma especializada no combate ao narcotráfico. Em 2012, houve mês em que menos de um quilo de crack foi apreendido na Capital. Neste ano, a maior apreensão aconteceu em agosto: 13kg.


O titular da SSPDS, Servilho Paiva, não quis se pronunciar. Procurada pelo O POVO, a PM argumentou que são as polícias Civil e Federal quem fazem as grandes apreensões. “A nossa é pontual. A Civil é quem levanta os pontos e os principais traficantes. Ela é quem sabe de onde vem a droga”, ponderou o relações públicas da PM, tenente-coronel Fernando Albano. Mas a Polícia Civil também não quis comentar a denúncia.


“O discurso do Estado é falho. Ele associa as altas taxas de homicídios ao uso de droga, especialmente ao crack, mas a apreensão é mínima. Algo está errado. Se você tem uma quantidade enorme de usuários e a demanda é elevada, o crack é um produto encontrável em qualquer boca de fumo. A apreensão é pouca por falta de estratégia. Há um descompasso entre a política de apreensão com a de saúde para o dependente etc”, critica Marcos Silva, do Laboratório de Estudos da Violência (LEV/UFC).

Palavras-chave: direito público tráfico de drogas crack

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