Saudades duplas
Por Gisele Leite.
Quem
diria que certo dia sentiríamos saudades do Presidente Figueiredo? De sua falta
de lhaneza. Do "prendo e arrebento"! Quem diria que poderíamos
aprender tanto através da grande Glória Maria que além de jornalista, repórter
e apresentadora nos ensinou muito sobre superação e luta contra o racismo e
contra as liberdades? Existem pessoas que não morrem, são imortais não porque
entraram na Academia Brasileira de Letras (ABL). Mas, porque entraram
definitivamente em nossos corações.
As
mensagens e os valores dourados que tanto nos incentivaram a prosseguir, mesmo
quando o caminho não era promissor. Mesmo quando as costuras do tempo nos
sabotavam e nos deixavam desprovidos de pudor ou proteção. Não importa.
Essa
grande mulher, mãe e profissional serviu de inspiração e mais, guardou em nossa
memória afetiva que somos capazes de construir-se, aperfeiçoar-se e, até
redimir-se...
Quem
diria que diante do anterior Presidente da República com seu rotineiro festival
de agressões e impropriedades, consideraríamos que Presidente Figueiredo era um
lorde, um gentleman... Em comum, Jair Bolsonaro, João Figueiredo e Floriano
Peixoto (o Marechal de Ferro) todos os militares que não passaram a faixa
presidencial e não transmitiram o cargo de Presidente da República devido às
rixas políticas. João Baptista de Oliveira Figueiredo foi militar (general),
político e geógrafo brasileiro e foi o 30º Presidente da República do Brasil,
de 1979 a 1985, o derradeiro presidente do período da ditadura militar.
Seu
pai, o general Euclides de Oliveira Figueiredo, era opositor de Getúlio Vargas
desde a Revolução de 1930, tendo sido um dos mentores e líderes da Revolução
Constitucionalista de 1932. Com o fim desse conflito, seu pai foi preso e, posteriormente,
exilado com sua família em Portugal e, depois na Argentina, até 1934 quando
obteve a anistia. Porém, foi novamente preso em 1938 com o Estado Novo. Anos
depois, com o fim do Estado Novo, seu pai foi eleito deputado federal e atuou na
Constituinte de 1946 na legenda da União Democrática Nacional (UDN).
Foi o
presidente da República do regime militar com o maior tempo de mandato, seis
anos, somente atrás de Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso
(oito anos) e de Getúlio Vargas (dezoito anos). Glória Maria sofreu racismo até
de presidente da República e fora chamada de "neguinha da Globo" pelo
Presidente Figueiredo.
A
jornalista foi a primeira cidadã a usar a Lei Afonso Arinos promulgada em 1951
contra a discriminação racial. Antes era mera contravenção penal, hoje o
racismo é crime inafiançável e imprescritível. Precisamos denunciar e jamais aceitar,
pois o racismo é uma ofensa ao princípio-mor da Constituição Federal de 1988, o
da conservação da dignidade humana.
A
única raça existente no planeta é a raça humana. As outras visões sobre raça
não encontram apoio científico e técnico seja nas ciências sociais aplicadas,
nem mesmo nas ciências médicas.
Confirmando
a etimologia de seu nome, Glória é palavra que vem do latim e significa fama,
renome e grande honra...De forma tradicional, este era um nome apontado para as
meninas que nasciam no dia 15 de agosto, quando a Virgem é venerada.