Renovada questão militar
Por Gisele Leite.
Não
bastasse a maior crise humanitária produzida pela pandemia de coronavírus que
se abateu por todo mundo, em nossa modesta república de incipiente democracia
vivencia uma crise militar que fora aberta pelo Exército brasileiro.
Relata
a História que o último conflito da famélica questão militar se findou em 1883.
Como se um golpe militar não tivesse extinguido o Império de Dom Pedro II logo
nos dois anos seguintes.
É
indispensável conscientizar que as Forças Armadas são instituições do Estado,
servem ao Estado e não a um pessoal presidente da república. A política não é
espaço para as Forças Armadas e muito menos o Exército.
O
atual Presidente da República não perdoará os ataques e depredações golpistas
ocorridas na Esplanada dos Ministérios e, também cobrará a eficiência nas
investigações para identificar todos os responsáveis e participantes e,
mediante, o devido processo legal puni-los e se ressarcir dos assombrosos danos
causados.
A
recente troca do comandante do Exército brasileiro traduziu-se como a fratura
nas relações. O atual Presidente da República exonerou recentemente o General
Júlio César de Arruda que fora nomeado nos derradeiros dias do governo anterior
e, o substituiu por General Tomás Miguel Miné Riveiro Paiva que era o
comandante militar do Sudeste.
Sendo
reconhecido por seu melhor traquejo político, tanto que fizera um incisivo
discurso em prol do resultado final das eleições de 2022. In litteris, falou o
atual Comandante do Exército: “Ser militar é isso. É ser profissional. É
respeitar a hierarquia e disciplina. É ser coeso. É ser íntegro. É ter espírito
de corpo. É defender a pátria. É ser uma instituição de Estado. Apolítica,
apartidária”.
Frise-se
que a situação com o comandante anterior era mesmo insustentável, quando
ocorreram discussões ásperas de dedo em riste, com o interventor federal de
segurança do DF, Ricardo Capelli, e depois outro embate com o próprio Ministro
da Justiça, Flávio Dino. Nessa ocasião, o general confirmou a decisão de
impedir que a PM prendesse golpistas acampados na porta do QG do Exército.
A
troca no comando do Exército brasileiro ganhou maior consistência quando Arruda
ofereceu resistência em sustar a nomeação do antigo ajudante de ordens do
Presidente da República anterior, o que seria alocado na chefia do primeiro
Batalhão de Ações de Comandos, em Goiânia. Ademais, devido a grande intimidade com
o Presidente anterior, o Tenente-Coronel Cid é investigado pelo Supremo
Tribunal Federal.
O
atual comandante do Exército brasileiro em reunião com dezesseis generais de
quatro estrelas O principal tema deve ser a investigação sobre leniência ou
participação de militares da ativa nos atos golpistas de 8 de janeiro. Embora o
novo comandante já exerça a função desde sua nomeação no diário oficial.
Representando
mais que pivô da troca de comando no Exército, o tenente-coronel Mauro Cesar
Barbosa Cid é figura-chave em uma das investigações que, a mando do Supremo Tribunal Federal (STF), a
Polícia Federal conduz tendo como alvo Jair Bolsonaro.
Como
contam Rodrigo Rangel e Sarah Teófilo, Cid gerenciava uma complexa movimentação
financeira que envolvia o ex-presidente, parentes e pessoas próximas.
Entre
outras despesas, ele pagava faturas do cartão de crédito de uma amiga de
Michelle Bolsonaro que era, na verdade, usado pela própria ex-primeira-dama. Os
recursos eram sacados em espécie do cartão corporativo da presidência e os
pagamentos feitos na agência do BB dentro do Palácio do Planalto.
Cid
gerenciava ainda o celular de Bolsonaro e fazia a ponte entre ele e grupos
antidemocráticos, apontam as investigações. Por escrito, Bolsonaro negou que
houvesse saques em seu “cartão pessoal”, embora a presidência tenha diversos
cartões corporativos. Ele alegou ainda que Michelle usou o cartão de uma amiga
por não ter “limite disponível”.
A
propósito, O ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Benedito Gonçalves
deu cinco dias para que Bolsonaro se explique sobre a publicação em redes sociais
em que contesta o resultado das eleições de 2022 e sobre os atos criminosos
ocorridos no dia 8 de janeiro de Brasília.
O
questionamento se refere a um vídeo na conta do ex-presidente, depois apagado,
em que um procurador do Mato Grosso do Sul nega que o presidente Lula tenha
sido eleito, alegando que foi “escolhido pelo STF e pelo TSE”.