Primeiro cínico. Cinismo na Filosofia e no Direito

O cinismo é uma corrente filosófica que pregava o total desprezo pelos bens materiais e o prazer. Para os cínicos, a filosofia moral[1] não poderia estar separada do modo de vida dos filósofos. Eles deveriam ser exemplos daquilo que afirmam. Os cínicos acreditavam que a virtude estaria em aceitar as consequências de uma vida sem posses e despretensiosa. Os cínicos demonstravam seus ideais nas ações e depreciavam o conhecimento teórico. Os cínicos eram criticados por seu comportamento obsceno e descomedido em locais públicos. Os cínicos gregos e romanos clássicos consideravam a virtude como a única necessidade para a eudaimonia (felicidade) e viam a virtude como inteiramente suficiente para alcançar a felicidade.

Fonte: Gisele Leite

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Contar a história e Diógenes de Sínope que era um excêntrico que desafiou de todas as convenções sociais da época e, com palavras e gestos que eram em sua grande maioria humorísticos e chegou a chamar a atenção do Rei Alexandre, o Grande.

Até Platão[2] o conhecera e o alcunhou de "Sócrates delirante". Diversas excentricidades de Diógenes que viveu como um vagabundo pelas ruas, morou num barril pelas cidades gregas e, muitas vezes, se expressou com piadas e ironias.

Diógenes dizia ser mais feliz, mais justo e corajoso de qualquer rei e, quando Alexandre que já era rei, o procurou e, o encontrou deitado ao sol. E, ciosamente lhe perguntou: "Há algo que eu possa conceder a você?. Então, respondera: - "Você pode se afastar e parar de bloquear a luz do sol".

De acordo com a versão de Plutarco sobre a referida anedota, o Rei ficara tão impressionado e admirado com a arrogância e grandeza do homem que não sentiu nada além de desprezo por ele, que disse aos seus seguidores, que então, riram do filósofo enquanto se afastavam. E afirmaram: - Se eu não fosse Alexandre, quem me dera ser Diógenes.

Diógenes de Sínope (400 a.C. a 325 a.C.) era um cínico e, foi realmente o primeiro cínico, apesar de que o fundador da Escola cínica tenha sido seu professor, o filósofo ateniense Antístenes que fora discípulo de Sócrates. No entanto, foi Diógenes que angariou o apelido de cínico que por vezes era um insulto, porém o recebera como sendo um elogio.

Convém frisar que na Grécia Antiga cínico tinha outro significado e muito diferente do atual significado que nos remete ao um indivíduo hipócrita e sem escrúpulos, opondo-se aos padrões morais e sociais, a que tem procedimento imoral, sarcástico e debochado, ou que tem atitude de descaso. Etimologicamente, a palavra cínico descende de kynes que significa cachorro.

Outro motivo para tal designação reside na acepção da palavra Kunos, que pode ser traduzida como “cínico” e tem a mesma raiz de Kyon, que significa “cão”. Os cínicos, assim como os cães, viviam nas ruas em busca do que fosse necessário para manter sua vida. Além disso, não tinham qualquer tipo de apego a convenções sociais (algo que somente o ser humano é capaz de fazer) nem qualquer tipo de pudor.

Um questionamento nos assombra, mas o que afinal de contas o cinismo tem a ver com cães? Eis que corresponde ao comportamento incomum de Diógenes que tendo nascido no século V antes de Cristo e fora banido de sua terra natal, Sínope (atual Turquia) que era uma colônia jônica no Mar Negro, devido a um obscuro fato envolvendo a falsificação de moedas.

Em razão disso, Diógenes fora despojado de todos os seus bens, e até mesmo da cidadania, vindo a se declarar cosmopolita e então, passou a vagar pelas cidades gregas, vivendo de sua crença de que as convenções sociais impediam a liberdade pessoal e obstavam o caminho para a boa vida.

Para Diógenes, a riqueza, privilégio e poder eram convencionalmente os sinais de uma vida bem-sucedidas e que deveriam mesmo ser desprezados do que admirados. Pois a vida bom e bem-sucedida era uma vida virtuosa, vivida conforme a natureza, e esse tipo de vida exigia apenas o saciar das necessidades mais básicas.

Ao invés de buscar fama e fortuna, ou pelo menos uma maneira de ganhar a vida para pagar por comida e abriga, Diógenes fez sua casa em plena rua, dormindo ao ar livre, às vezes, dentro de um barril.

Esforçou-se para uma maior simplicidade. Há uma curiosa passagem: Quando viu um menino usando um pedaço de pão para comer lentilhas e as mãos para beber água, disse: "Este menino me ensinou que ainda tenho coisas supérfluas" e se livrou de sua tigela e colher, a única coisa que tinha, e o manto com que se cobria. Ele comia o que a natureza (ou boas almas) lhe dava e fazia todas as suas necessidades em público sem um pingo de vergonha.

Diógenes quando fora repreendido certa vez por se masturbar na Ágora, ele respondeu: "Gostaria que a fome pudesse ser aliviada tão facilmente apenas esfregando a barriga!”.

Foi por causa desse estilo de vida que passaram a chamá-lo de "Diógenes, o Kynikós", que significa "como um cachorro" ou "canino", ou, em português, "Diógenes, o Cínico". No entanto, ele não gostou do apelido.

Realmente, os cachorros eram um bom símbolo de sua filosofia pois viviam felizes com pouco, comiam de tudo e, ainda, dormiam onde podiam.

Diógenes afirmava: “Eu abano o rabo para quem me dá alguma coisa, lato para quem não me dá nata e até mordo os malandros”. De fato, ele latiu verdades, sem pudor, medo ou favoritismo. Encarnou suas convicções e serviu de exemplo. E, quando não estava pregando, passava a maior parte do tempo insultando os transeuntes e os poderosos, usando o humor para criticar aqueles que aderiram ao que ele considerava ordens sociais antinaturais.

Apesar de não ter deixado escritos, estava convencido de que a virtude se revelava pela ação e, não pela teoria, suas ideias filosóficas sobreviveram devido ao relato de autores que retomaram depois, em suas obras, vidas, opiniões e frases do mais ilustre dos filósofos de

Diógenes Laércio (século III a.C).  Suas ideias foram evidenciadas graças as suas anedotas e, alguns apócrifas, que mostram um estilo muito pessoal. Diógenes costumava, por exemplo, entrar no teatro, caminhando contra o fluxo de pessoas que saíam. Quando questionado sobre o motivo, respondia: "É o curso de ação que segui durante toda a minha vida".

A quem perguntava quando se devia almoçar, dizia: "Se for rico, quando quiser; se for pobre, quando puder."

Para explicar por que as pessoas davam esmolas a mendigos, mas não a filósofos, assinalava: "Porque as pessoas esperam que se tornem coxos ou cegos, mas nunca que se tornem filósofos."

Em uma de suas ações mais memoráveis foi questionar a definição dada por Platão do ser humano pela qual ganhou elogios: um animal, bípede e sem penas. E, Diógenes num acesso de crítica à Platão, arrancou um pássaro e levou-a até a Academia e ainda anunciou: Eis aqui o ser humano de Platão. E, Platão retrucou com humor: Não se preocupe, pois vou acrescentar algo à definição: é um bípede, sem penas com unhas largas.  Para Platão, o homem é a união de alma e corpo, e nunca está pronto, perfeito, havendo, portanto, a possibilidade de mudança. E uma boa educação, pensada cuidadosamente para fazer o homem agir com justiça e equilíbrio, é vista como a possibilidade de desprendimento da alma em relação às paixões do corpo.

Toda atitude de Diógenes expôs a insignificância da vida civilizada tanto com atos quanto com palavras, rejeitando desde ideias até práticas, como trazer iguarias de outras terras, argumentando que o era produzido localmente deveria ser consumido, para evitar o gasto de recursos e o custo humano da importação.

E, apesar de viver na pobreza, insistia que nem todos deveriam viver como ele, mas queria mostrar que a felicidade e a independência eram possíveis mesmo em circunstâncias reduzidas. E, seus quatro pilares eram: autossuficiência, ou a capacidade de possuir dentro de si tudo o que é necessário para a felicidade; falta de vergonha ou desprezo pelas convenções que proíbem ações inofensivas; franqueza[3], ou um zelo intransigente para expor o vício e a presunção e incitar os homens a se reformarem; Excelência moral, obtida por meio de treinamento metódico ou ascetismo.

Diógenes ganhou seguidores que se tornaram conhecidos como os Filósofos Cínicos, ou “Cachorrinhos”, e continuaram a ser chamados assim por cerca de 900 anos após sua morte.

Apesar de angariado muitos seguidores nem todos foram muito fiéis à sua doutrina. E, de acordo o escritor do século II, Luciano de Samósata (125 a.C. a 180 a.C.) os cínicos de sua épocas eram hipócritas e materialistas, sem princípios que apenas pregavam o que Diógenes havia praticado.

Mais tarde, séculos depois, os renascentistas, ao lerem os textos de Luciano, começara a utilizar a palavra "cínico" para descrever pessoas que criticavam outras sem ter nada de valor ou de útil para contribuir, conforme explicou o filósofo irlandês William Desmond.[4] E foi assim, que cínico chegou o seu contemporâneo significado.

O cinismo se tornou conhecido por seu comportamento estabelecer uma perspectiva ética[5]. E, acreditava que a felicidade estava relacionada a uma vida simples, em acordo com a natureza[6] e sem as complexidades das regras e valores sociais. Os cínicos desprezavam os ordenamentos sociais e viviam em circunstâncias degradantes, assemelhando-se aos animais.

O cinismo como movimento iniciado em meados do século IV antes de Cristo e que perdurou até o século IV depois de Cristo tendo adeptos como Antístenes, de Atenas, Diógenes de Sínope entre outros que sobreviveram e estudaram todo os balizamentos do cinismo.

Antístenes foi discípulo do sofista Górgias[7], o que justifica a grande quantidade de textos exibindo retórica e que já se ensinava em Atenas mesmo antes de Sócrates. Notabilizou-se por se afastar dos costumes valorizados em sua época.

O referido filósofo prezou a independência de bens externos materiais e mesmo os imateriais como a reputação, bom nome da família e propriedades e, autocontrole, aproximando-se de conduta asceta. E, chegou a afirmar que o melhor aprendizado que alguém pode ter é desaprender o que é fundamental.

Sem dúvida, o cínico mais conhecido é Diógenes e, não existem certezas de que ele tenha sido discípulos de Antístenes, mas certamente, a crítica deste à sociedade da época, lhe incentivou o desprezo pelos costumes e virtudes tão apreciados na Grécia Antiga. Tanto que debochava e ironizava as pessoas em seus hábitos corriqueiros e ainda os que se consideravam sábios.

"Textos antigos relatam que ele observava animais, tendo afirmado que poderíamos aprender com os ratos, e que seu comportamento era como o de um animal, pois decidiu viver nas ruas, sem manter higiene e alimentando-se com as mãos, pedindo esmolas muitas vezes.

O modo de viver dos cínicos está, inclusive, relacionado com a etimologia de uma palavra grega remetente a “cachorro”, a saber: kynikos." Diógenes procurava por seres humanos com uma lamparina, em pleno dia, como uma crítica à grande artificialidade dos costumes em sociedade.

Conclui-se que conforme conta que Diógenes um dia andava em plena luz do dia munido com uma lanterna acesa gritando; "Procuro um homem" quer dizer, um homem verdadeiro, que não fosse escravo nem de bens materiais nem do poder, pois para Diógenes e os demais cínicos, o que caracteriza o homem e faz com que ele realize sua natureza é a liberdade de ser aquilo que é se é plenamente, sem temer as opiniões alheias, sem ocultar suas próprias verdades[8] e opiniões por medo dos outros.

Crates de Tebas também adotou o modo de vida dos cínicos e viveu nas ruas de Atenas após distribuir toda sua herança. Há relatos de que Zenão[9] tornou-se seu discípulo porque disseram que ele era como Sócrates.

E, Zenão descrevera uma pessoa calma e pensativa, e que não estava de acordo com as extravagâncias que a conduta dos cínicos provocava nos ambientes públicos. Depois que se desligou desse pensador cínico, seguiu outros mestres antes de desenvolver o estoicismo, uma escola de pensamento que adotava a indiferença como perspectiva ética.

Os cínicos se destacavam por sua aparência, andavam descalços e trajavam uma espécie de manta para cobrir o corpo. A teimosia com a qual mantinham seus hábitos era considerada como virtude, que alguns relacionavam ao mito da "escolha de Hércules"[10], a este, em sua juventude, enquanto pensava sobre como sua vida deveria ser, foi-lhe oferecida uma vida cheia de prazeres e com a ausência de preocupações, entretanto, ele teria escolhido a opção dolorosa, mas dotada de sabedoria e coragem para enfrentar as dificuldades, e assim ter finalmente uma vida virtuosa.

"O modo de vida dos cínicos também influenciou pessoas no início do Império Romano. Há informações de que algumas delas procuraram imitar Diógenes nas ruas das cidades, mas muitos já não mantinham a motivação inicial desse filósofo. Dentre os verdadeiros cínicos desse período, destaca-se Demétrio, que era próximo a Sêneca. Este estoico escreveu muito a seu respeito, por admirar sua incorrutibilidade.

O posicionamento antissocial que o modelo de vida cínico exigia provocou muitas críticas a esses filósofos, em geral direcionadas a Diógenes, ainda na Grécia Antiga. Com a chegada do movimento nas cidades que compunham o Império Romano, questionava-se que a imitação do comportamento já não representava os preceitos que originaram o movimento, como fez Flavio Juliano.

Em sua obra “Cidade de Deus”[11], Santo Agostinho fez uma crítica semelhante, ao mencionar que poucos eram como os antigos cínicos, apesar de certa identificação com os ideais, pois não se ousava mais violar os instintos mais modestos do ser humano."

Em resumo:

"Os cínicos foram filósofos que repudiaram costumes e valores da Grécia Antiga.

Os cínicos acreditavam que a virtude estaria em aceitar as consequências de uma vida sem posses e despretensiosa.

Os cínicos demonstravam seus ideais nas ações e depreciavam o conhecimento teórico.

Os cínicos eram criticados por seu comportamento obsceno e descomedido em locais públicos.

A palavra “cínico” origina-se de uma palavra grega que remete à “cachorro”.

Além dessas características, o cinismo, ainda que não tenha fundamentado uma doutrina, deixou alguns princípios bem definidos, tais como: A vida tem como objetivo a felicidade (eudaimonia) e a lucidez, portanto, é preciso combater a ignorância, a arrogância e a presunção; A felicidade não depende de nada que seja externo ao indivíduo, pois a virtude está na conduta moral do homem, naquilo que está em seu interior e no modo como ele age; A eudaimonia só é alcançada ao se viver de acordo com a Physis (natureza), por meio da razão (logos) humana; Falsos julgamentos de valor causam a arrogância, esses falsos julgamentos geram emoções negativas e desejos não naturais que podem levar ao vício, por isso é preciso da lucidez para combater a arrogância;

A eudaimonia só se desenvolve se o ser humano for autárquico e autossuficiente. Além disso, é preciso exercer a apatia, a virtude e a indiferença[12] face às mudanças da vida; apenas as práticas ascéticas (aquelas que recusam o prazer) é que são capazes de provocar a evolução no ser humano, para que ele se liberte das influências da sociedade;

O cínico é aquele que desafia o nomos da sociedade, ou seja, as leis, as convenções, os costumes que são tidos como certos e verdadeiros; é preciso se libertar das preocupações com a morte[13], a saúde, o sofrimento de si e dos outros; por fim, a sabedoria consiste no agir, não só no pensar.

Um dia, Platão mencionou em uma conversa que o homem era como um galo depenado. No dia seguinte, Diógenes conseguiu um galo, tirou-lhe todas as penas e jogou o animal próximo a Platão dizendo-lhe: “Eis aqui o seu homem.”

A anedota do galo resume o modo de proceder cínico: um humor ácido e sarcástico que desestabiliza o debatedor. Os cínicos também tinham aversão a qualquer tipo de convenção social, desde a ciência e política[14] até o comportamento em sociedade, que era tolhido pelas normas de etiqueta, pois elas seriam formas de tirar a liberdade humana.

Em razão disso, os cínicos foram chamados de cães por serem despudorados (quem não tem pudor/desavergonhado) e viverem de acordo com a sua natureza[15].

O cinismo é uma corrente filosófica da Grécia Antiga, pertencente às chamadas Escolas do Helenismo[16], junto com os estoicos, os céticos, os hedonistas, os epicuristas, os peripatéticos e os ecléticos.

Os cínicos negavam todas as formas de prazer e desprezavam o acúmulo de bens materiais em detrimento de uma vida seguida pela virtude. Para os filósofos cínicos, exercer a virtude era o mais importante feito e era preciso viver de acordo com aquilo que eles pensavam.

Hipárquia foi uma filósofa cínica e merece atenção por ser uma das poucas mulheres filósofas da Antiguidade Clássica. Foi conhecida por desafiar os papéis de gênero da sociedade grega e as funções que a mulher deveria exercer.

Seu casamento com Crates também foi um modo de questionar as imposições feitas às mulheres. Como todos os cínicos, Hipárquia também entendia que era preciso viver de acordo com a natureza e rejeitar o materialismo, de modo a sustentar a ideia de autossuficiência.

O casamento entre Hipárquia e Crates influenciou Zenão de Cítio a elaborar a teoria do estoicismo[17] e defender a igualdade entre os gêneros. Hipárquia também ficou conhecida por debater com Teodoro, o Ateu, quando ele colocou em dúvida a legitimidade de Hipárquia como filósofa, dizendo que ela deveria estar tecendo. Ela então respondeu que utilizou o tempo dela com a educação e não com o tear, mais uma vez defendendo sua posição de que as mulheres não deveriam se limitar os afazeres domésticos.

Os cínicos contestavam ainda o matrimônio e a convivência em sociedade. Eles se declaravam cidadãos do mundo. Acreditavam que o homem deve ser autônomo e autossuficiente tratando o mundo com indiferença pois a felicidade deve vir de dentro do homem e não do seu exterior.

Com a ascensão do estoicismo no século III a.C., o cinismo como uma atividade filosófica séria sofreu um declínio e foi na era romana que houve um renascimento cínico.

O cinismo se espalhou com a ascensão da Roma Imperial no século I d.C., e os cínicos podiam ser encontrados por todas as cidades do Império Romano, onde eram tratados com uma mistura de desprezo e respeito. O cinismo parece ter prosperado no século IV, ao contrário do estoicismo. Notáveis ​​cínicos romanos incluem Demétrio (10 – 80 d.C.), Enomau de Gadara (século II) e Peregrino Proteu (95 – 167 d.C.).

O cinismo finalmente desapareceu no final do século V, embora muitas de suas ideias ascéticas e métodos retóricos tenham sido adotadas pelos primeiros cristãos.

Indagaram, certa feita, a Diógenes por qual razão ele chamava a si próprio de cão, ao que ele respondeu: Porque rosno para os que me aborrecem e abano a cauda para os que me agradam.

O cão tornou-se modelo para o homem na medida em que não necessita de muitas coisas, não busca nada de supérfluo e está plenamente feliz com essencial para a vida: água, comido, um lugar para dormir, amigos e sexo. Assim, para os cínicos, o homem, em sua busca pela sabedoria de vida, deve tornar-se cão na medida do possível.

Por trás todo exibicionismo sustentado pelo Cão há princípios filósofos que o norteiam e uma ideia clara de como transmiti-los.  Por isso, a escola cínica é uma perfeita expressão do σπουδαιογέλοιον, sério-cômico, é isto que denominamos de pedagogia do riso[18] – a predisposição e a intencionalidade de transmitir preceitos filosóficos e realizar exortações morais através de uma retórica performática cômica, que impacta seu interlocutor colocando, o seu mundo, de ponta-cabeça. E isso, não é nenhuma metáfora.  Diógenes realmente queria reformular o mundo de seu interlocutor.

Aparecem em Diógenes Laércio[19] em três grupos distintos, para começarmos a estruturar o processo pedagógico performático do Cão. Esses três grupos se referem ao modo, melhor dizendo, à forma como Diógenes buscou comunicar os princípios cínicos nas χρεῖαι, isto é, de maneira verbal, pantomímica ou híbrida.

O   cinismo   dissipa   a   ideia   de   que   o   filósofo   é   sempre   a   figura   séria, presa   em pensamentos transcendentais.  A segunda questão refere-se diretamente aos desafios impostos pelas anedotas para os pesquisadores que desejam aprofundar tanto na teoria quanto na retórica cínica. 

A maneira a qual as χρεῖαι foram compiladas não oferece grande sistematização, além de serem, segundo sua própria definição, histórias muito curtas, dificultando uma contextualização mais ampla e necessária para a interpretação.

Vale a pena abordar outro cinismo. "O cinismo da reciclagem" é um artigo da autoria de Philippe Layargues[20]. Segundo o autor, a pedagogia dos 3R's (Reduzir, Reutilizar e Reciclar) abordada nas escolas tem um efeito meramente comportamental, ilusório e não reflexivo.

Essa abordagem origina nos indivíduos a mentalidade de que podem consumir produtos (principalmente os descartáveis) sem nenhum acanhamento, porque se são recicláveis, são ecológicos.

Atualmente, o cinismo adotou um significado muito diferente. Os cínicos do mundo moderno são aqueles que não acreditam em valor nenhum e se vangloriam disso. Eles não criticam a sociedade para propor uma nova forma de olhar para ela, o único intuito é de simplesmente denunciá-la.

No fundo, Diógenes Laércio nos mostra - implicitamente - uma disputa entre a ética aristotélica e a ética cínica. Nos mostra que a ética peripatética não foi suficiente para impedir o rapaz de se matar devido à vergonha que sofrera. Isso se dá tendo em vista o grande valor dado pela escola para os:

1) bens corpóreos (como a beleza e a força física) e os

2) bens externos (como a honra). Metrocles ao ser alvo de escárnio público tendo em vista sua frágil condição física não detinha de dispositivos necessários para resistir aos eventos externos que lhe ocorreram. Por outro lado, a filosofia cínica detinha de tais dispositivos.

O cinismo, principalmente Diógenes, incorporou a enkráteia socrática, percebeu a importância da abnegação e do autodomínio para a construção de um novo agente moral.

A filosofia cínica apresenta-se como uma intervenção direta contra os costumes instituídos. Com seu modo de vida simples, os cínicos exercitavam aquilo que muitos filósofos falavam na teoria. Sua ação era como “jogar na cara” dos habitantes da cidade as hipocrisias de suas vidas. Faziam isso de modo humorístico.

O cinismo foi fundado por Antístenes, um discípulo menor de Sócrates. Ele estabeleceu uma escola na praça do Cão Ágil, de onde deriva o nome com que seus discípulos foram chamados: cínicos, de kynos, que significa cão. Os cínicos exageravam a ideia de felicidade socrática, mas de forma negativa.

Muito interessante é a dissertação de Gabriel Mota Maldonado (2019) a respeito do tema onde apreciou os elementos constitutivos da racionalidade cínica, no direito, na psicanálise, na sociologia e também na história servindo como fundamento para nova crítica do direito.

Especialmente, após a pós-modernidade. Reconhece-se que o cinismo é padrão de racionalidade que influencia as relações sociais e os atos jurídicos, que passam a admitir como legítimas as decisões cujas normas, valores e princípios que lhe são subjacentes que sejam usados para justificar

decisões de conteúdo oposto aos axiomas, envernizando a situação de violação, impermeabilizando situações sociais e jurídicas injustas e, com isso, fortalecendo o encastelamento das formas jurídicas que, a pretexto de elevarem valores e princípios de caráter emancipador, sofisticam as instituições técnico-positivistas e revitalizam os mecanismo de dominação.

O cinismo nasceu a partir da ruptura com o instituído e, assim, nasceu nossa Primeira República sob o manto da legalidade[21] cínica. No fundo o cinismo traz uma crítica mordaz ao poder e à dominação. O estudo da racionalidade[22] cínica talvez permita ver a genealogia da explosão, pois, com esta, se pode enxergar o jogo de linguagem e poder que serve à metabolização de uma vontade específica enquanto regra moral da existência.

Mostra-se como anomia, a desordem e a fluidez são, ao mesmo tempo, as fontes de mal-estar e motivos de prazer; uma prisão com ares de parque, e com isso pode coexistir com certa placidez, ainda que existam incômodos detectados.

Para os kynicós, sobretudo, Diógenes, a objeção aos rumos da realidade não eliminava a ligação do mundo e do pensamento. Ao revés, ao promover o lema de "desfigurar a moeda", o que pretendiam os cães-filósofos era elevar a humanidade ao patamar da virtude, não devastar o solo da razão. Seu despudor era, portanto, um método e não um fim, apontando que é possível ser feliz sem bens materiais, sendo possível criticar ladrões, adúlteros e devassos sem cair na malha fina do moralismo, buscando semear empatia através de um "parentesco potencial com os outros".

A razão cínica, em sua crítica, revela a fisionomia do sujeito contemporâneo em sua crua realidade, o que nos leva a um pensamento pessimista da condição humana. Aponta para a deturpação daquilo que poderia funcionar como ferramenta de evolução moral e como arma para a libertação tão enaltecida pelos principais arautos da modernidade.

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Notas:


[1] A filosofia moral procura orientar as ações humanas, segundo a razão, para que atinjam as finalidades que desejam, sempre em função do bem. Cada indivíduo é livre para escolher o bem ou o mal. Entretanto, essa liberdade é afetada por influências individuais, tais como temperamento, idade e vocações. A filosofia moral, por seu turno, extrapola os limites dos questionamentos éticos, ainda que o conhecimento advindo possa permanecer confinado ao plano teórico. Para ela, as regras éticas que definem o certo e o errado devem ser justificadas em termos das consequências lógicas advindas das crenças das pessoas que seguem tais regras. A racionalidade das consequências lhes atribui um carácter de verdade universal, independentemente de quais princípios éticos sejam considerados.

[2] Certa vez, perguntaram a Platão que tipo de homem era Diógenes e Platão respondeu: “um Sócrates que ficou maluco”. Ou seria “um anti-Sócrates que adotou um estilo perverso de ser”?  Porque maluquice (ou psicose) não é perversão.

[3] “Validamente, a parresia cínica pode ser compreendida como a franqueza e a liberdade da palavra para enunciar a verdade e se posicionar contra as imposturas do poder, a lisonja e os falsos problemas filosóficos [e as aspirações dogmáticas]. Inscrita em uma filosofia moral, tal forma de transmissão da verdade é sempre articulada a um outro ethos do enunciador” (MOREIRA, op. Cit., p. 81-82).

[4] William Desmond nascido em 1951, é um filósofo irlandês que escreveu sobre a ontologia, metafísica, ética e religião. Ex-presidente da Hegel Society of America (1990-1992) e da Metaphysical Society of America (1995), Desmond é professor de filosofia no Instituto Superior de Filosofia na Katholieke Universiteit Leuven, na Bélgica, e também na Villanova University, na Pensilvânia. Foi presidente da Associação Filosófica Católica Americana.  Em sua trilogia, Ser e o Entre, Ética e o Entre, e Deus e o Entre, Desmond elabora um sistema filosófico metafísico/ontológico inteiramente novo e completo baseado no que ele chama de potências do ser e dos sentidos do ser. Sua contribuição mais original em sua metafísica é a noção de "metaxológico", que será explicada a seguir. O programa de Desmond consiste principalmente em explorar os sentidos em que ele afirma que a modernidade desvalorizou o ser e o que "ser" e "o bem" podem significar. Dentro do ethos existem sete potências do ser. Esse "repertório capacitador do devir a si mesmo" tem o "caráter de uma investidura", sendo, portanto, visto como um dom. As potências não são um programa a seguir; eles simplesmente são todos juntos os poderes dos quais os eus éticos, expressos através de sentidos particulares de ser, tomam sua investidura.

[5] Enquanto a ética socrática se esforça no sentido do exercício das virtudes (fazer o bem, humildade, prudência, respeitar opiniões diferentes, denunciar a hipocrisia, desmascarar os pseudoargumentos por meio da maiêutica, etc.), o estilo cínico grego passa por cima das virtudes e das regras de convivência, exceto a coragem de dizer sem cálculo do efeito das palavras.

[6] O cinismo tem uma conotação pejorativa, pois designa um homem agudo e mordaz que não respeita os sentimentos e valores estabelecidos nem as convenções sociais. Ao velho cinismo se contrapõem outros cinismos, como, por exemplo, o contemporâneo, amplamente estudado pelo filósofo alemão Peter Sloterdijk, em seu livro Crítica da Razão Cínica. Situado entre dois momentos extremos, o grego e o contemporâneo, temos ainda o movimento cínico que se desenvolveu nos primeiros séculos de nossa era, ou seja, durante o Império Romano.

[7] Foi um retórico e filósofo grego, natural de Leontinos, na Sicília. Juntamente com Protágoras de Abdera, formou a primeira geração de sofistas. Diversos doxógrafos relatam que teria sido discípulo de Empédocles, embora tenha sido apenas alguns anos mais jovem que ele. Como outros sofistas estava continuamente mudando de cidade, praticando e dando demonstrações públicas de suas habilidades em diversas cidades, e nos grandes centros pan-helênicos como Olímpia e Delfos, cobrando por suas apresentações e por aulas. Uma característica especial de suas aparições era a de ouvir questões da plateia sobre todos os assuntos e respondê-las sem qualquer preparo. Seu principal legado foi ter levado a retórica desde sua Sicília natal para a Ática, e contribuir com a difusão do dialeto ático como idioma da prosa literária. Antístenes, fundador do cinismo, foi ouvinte de Górgias, e Platão escreveu um diálogo intitulado Górgias, onde discute a função e a validade da retórica.

[8] A verdade cínica acontece quando, vivendo na mais profunda pobreza e desonra, conquista-se a indiferença dos outros. A adoxia, que significa má reputação, era absolutamente temida pelos gregos, mas desejada para os filósofos Cães. Resistir às opiniões, às crenças e às convenções. E mais, criar situações vergonhosas e desonrosas para testar-se. Sim, se a verdade é pura, ela não está com o populacho e seu senso comum.

[9] Zenão de Cítio (333 antes de Cristo a 263 antes de Cristo) foi filósofo helenístico da Grécia Antiga, fundador do estoicismo. Nasceu em Cítio, atual Lárnaca, na ilha de Chipre. Lecionou em Atenas, onde fundou a escola filosófica estoica por volta de 300 antes de Cristo. Com base nas ideias dos cínicos, o estoicismo enfatizava a paz de espírito, conquistada através de uma vida plena de virtude, de acordo com as leis da natureza. O estoicismo floresceu como filosofia predominante no mundo greco-romano até o advento do cristianismo. Em Atenas, foi discípulo de Crates de Tebas e estudou os antigos filósofos, entre estes, Heráclito de Éfeso, que muito o influenciou. Teve também a influência da escola megárica, incluindo Estilpo e dos dialéticos Diodoro Cronos e FIlon. Estudou também a filosofia platônica sob a direção de Xenócrates e Polemão. A doutrina filosófica de Zenão de Cítio afirma que o ser humano atinge a plenitude e a felicidade quando abandona todas as paixões terrenas, contrariedades, aborrecimentos e desassossegos.  Para Zenão, a única forma de viver sem essas contrariedades é viver em ataraxia ou apatheia, ou seja, abandonado ao destino, impassivamente, nada receando e nada esperando. Apesar de compartilhar diversos conceitos básicos da filosofia de Epicuro de Samos, Zenão e o estoicismo em geral divergem do epicurismo por entender que a virtude, e não o prazer, constitui o bem supremo. Além disso, consideram que o princípio-chave do universo é a lei racional da natureza, e não é o movimento aleatório dos átomos. Como os cínicos, Zenão reconhecia um bem único e simples que seria o único motivo a ser atingido. "A felicidade é um fluxo de vida bom," disse Zenão, e isto apenas pode ser atingido através do uso da razão correta coincidente com a razão universal (logos), que tudo governa. Um mau sentimento (pathos) "é um distúrbio da mente repugnante à razão e contra a natureza." Esta essência a partir da qual as ações moralmente boas emergem é a virtude. O verdadeiro bem pode apenas consistir em virtude.

[10] Hércules optou por seguir Aretê, a virtude. Empregou grande parte de sua vida na famosa jornada conhecida como os 12 trabalhos de Hércules, destruiu vários monstros e obteve inúmeras conquistas. As alegorias realizadas provavelmente para Rodolfo II estão entre as obras-primas de Veronese. O quadro “A escolha de Hércules ou Hércules entre o Vício e a Virtude” é uma variação sobre uma temática cara aos pintores do Renascimento. De acordo com o ensaio de Erwin Panofsky, o mito da escolha de Hércules é narrado por Pródico e sua versão mais antiga foi transmitida por Xenofonte, em Memorabilia, II, 1, 21-33: Hércules, jovem, repleto de dúvidas, estava refletindo em um local isolado e não muito preciso. Surgem duas mulheres que se dirigem a ele, procurando arrebatar o jovem, prometendo, cada uma a seu modo, conduzi-lo à felicidade. A primeira, que representa o Vício, promete um caminho mais agradável e fácil, por sua alegria e ociosidade; a segunda, associada à Virtude, indica uma trajetória longa e difícil, repleta de privações e perigo. A escolha de Hércules é conhecida: ele decide-se pela Virtude.

[11] A obra de Santo Agostinho ao descrever um mundo dividido entre o terreno e o espiritual, revela os paradoxos mais clássicos da História e traz assuntos complexos e torturantes como a origem e a subtancialidade do bem e do mal e também do direito. A obra em seu título original é "Dei Civitate Dei" traduzindo literalmente é "A Cidade de Deus" é obra de Santo Agostinho onde descreve o mundo dividido entre o dos homens, ou seja, o mundo terreno e o dos céus, isto é, o mundo espiritual. Parece que era a obra preferida do Imperador Carlos Magno.  “A Cidade de Deus” representa o maior monumento da Antiguidade Cristã e, certamente, a obra prima de Agostinho, na qual é discutida a questão da metafísica original do cristianismo, numa visão orgânica e inteligível da história humana, e resolve este problema ainda com os conceitos de criação, de pecado original e de Redenção. O conceito de criação é indispensável para o conceito de providência, que simboliza o governo divino do mundo e que é, por sua vez, necessário, a fim de que a história seja suscetível de racionalidade.

[12] Os comentadores dizem que Diógenes foi o exemplo vivo de indiferença cínica para tudo e para todos, porque faz parte deste estilo também não ligar para o sofrimento humano, principalmente quando este se expressa em ritos considerados hipócritas: funeral, homenagem aos mortos, festas de formatura, festas sociais e culturais, etc.

[13] Sobre seu sepultamento de Diógenes, assim como sobre sua morte, conhecem-se outras histórias. Para alguns autores, Diógenes, antes de morrer, teria deixado instruções para que o lançassem insepulto em qualquer lugar, a fim de que os animais selvagens pudessem devorá-lo, ou para que o jogassem numa vala e o recobrissem com um pouco de pó, ou, ainda, segundo outra lenda, pedira que fosse lançado no rio Ilissôs, para ser assim útil a seus irmãos.

[14] Nas ditaduras de direita o cinismo aparece em forma de perversão das leis e na política de Estado centrada no carisma do líder e nos atos de extrema perversidade e justificativa “moral” (vide as tentativas de justificar o genocídio judeu e o apartheid da Africa do Sul).

[15] Para os gregos antigos, alguns animais se caracterizavam pela prudência e representavam a civilidade, como as formigas e as abelhas. Aristóteles, por exemplo, qualificou as abelhas como “animal cívico”. Disciplinadas, organizadas em comunidades, exemplarmente laboriosas, as abelhas se tornaram, para os cidadãos gregos, um paradigma de civilidade. Como acontece a qualquer animal, ainda que convivendo em espaços humanizados, o cão participa da civilização a partir de sua própria posição natural. O cão é paciente, feroz com os estranhos, e se acostuma a viver junto aos humanos, aceitando que lhe deem de comer.

[16] As escolas helenísticas têm em comum a atividade filosófica, como amor e investigação da sabedoria, sendo esta um modo de vida. Elas não se diferenciavam muito na escolha da forma de sabedoria. Todas elas definiam a sabedoria como um estado de perfeita tranquilidade da alma. A Filosofia Helenística é o nome que se dá ao conjunto de escolas filosóficas que ganharam projeção durante o período do Helenismo. Elas têm em comum principalmente a preocupação com a felicidade e a Ética, um dos temas de Filosofia que mais caem no Enem. Entenda tudo sobre ela. As principais correntes filosóficas desse período vão tratar da intimidade, e da vida interior do ser humano. Entre as principais tendências desse período destaca-se o epicurismo, o estoicismo, o pirronismo e o cinismo.

[17]  O estoicismo propunha que os homens vivessem em harmonia com a natureza - o que, para eles, significava viver em harmonia consigo próprios, com a humanidade e com o universo. Para os estoicos, o universo era governado pela razão, ou logos, um princípio divino que permeava tudo..  Estoicismo é a corrente de pensamento cuja característica central é o pensamento de que todo o cosmos é regido por uma harmonia que determina todos os acontecimentos. O estoicismo foi uma das correntes filosóficas do helenismo mais influentes na Antiguidade Clássica. Deus é Hylezoísta, ou seja, ele é a vida e a matéria do universo se manifestando. Uma vida e uma matéria eternamente em movimento. Por isso dizemos que ele é o sopro divino, que anima tudo. Deus é a razão, o logos, a ordem de todas as coisas na natureza, ele é o destino e a necessidade suprema. As quatro virtudes estoicas – coragem, justiça, autocontrole e sabedoria.

[18] Platão utilizou o riso como uma ferramenta pedagógica no diálogo Eutidemo. Procuramos evidenciar como o autor busca despertar no leitor a atenção para o comportamento risível dos dois irmãos sofistas, Eutidemo e Dionisodoro. Trata-se de evidenciar o resgate que o autor faz do personagem cômico de Sócrates para contrastar com esses sofistas, pois isso possui uma razão simultaneamente pedagógica e filosófica. O intuito é demonstrar que, na maior parte das vezes, as interpretações tradicionais tendem a subestimar os elementos cômicos nos diálogos platônicos, sobretudo ao tratar o autor como uma espécie de “domesticador do riso”. Platão utilizou o riso como uma ferramenta pedagógica no diálogo Eutidemo. Procuramos evidenciar como o autor busca despertar no leitor a atenção para o comportamento risível dos dois irmãos sofistas, Eutidemo e Dionisodoro. Trata-se de evidenciar o resgate que o autor faz do personagem cômico de Sócrates para contrastar com esses sofistas, pois isso possui uma razão simultaneamente pedagógica e filosófica,

[19]  Foi historiador e biógrafo dos antigos filósofos gregos. A sua maior obra é Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres, composta por dez livros, que contêm relevantes fontes de informações sobre o desenvolvimento da filosofia grega. A obra trata-se de uma compilação da vida e das ideias dos mais importantes pensadores gregos. É principalmente uma história da vida dos filósofos, tendo a filosofia defendida por estes apenas como parte acessória do texto.

[20] Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Santa Úrsula (1989), especialização em Planejamento e Educação Ambiental pela Universidade Federal Fluminense (1990), mestrado em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996) e doutorado em Ciências Sociais.

[21] O atual Código Civil brasileiro prevê a figura da reserva mental em seu artigo 1110 dispondo no sentido que a manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento. A reserva mental ou reticência é atitude aproximada à simulação, sendo fenômeno consubstanciado na omissão consciente do declarante da discordância com o que está declarando, com fito de enganar o declaratário. Conclui-se que é diversa da simulação, porque na reserva mental a intenção de enganar e dirigida contra o próprio declaratário e, não havendo acordo simulatório. Trata-se de uma simulação unilateral. O Direito do Trabalho, tal como vem sendo interpretado na jurisprudência, terá muito a evoluir se emprestar do Direito Civil o instituto da reserva mental, principalmente naquelas reclamações trabalhistas tão em voga, nas quais altos executivos juram autonomia às empresas tomadoras de seus serviços para, depois de terminada a relação e dela usufruído todas as benesses, revelar, judicialmente, pela primeira vez, que "tudo não passou de uma fraude, pois sempre agiu, na realidade, como autêntico empregado".


Gisele Leite

Gisele Leite

Professora Universitária. Pedagoga e advogada. Mestre em Direito. Mestre em Filosofia. Doutora em Direito. Conselheira do INPJ. Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Consultora Jurídica.


Palavras-chave: Cinismo Filosofia Antiguidade Clássica Diógenes de Sínope Felicidade

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