Malícias & milícias
A atual pátria armada[1] fruto da política armamentista conhece há bastante tempo o poder paralelo da milícia que não integra as forças armadas, nem a polícia brasileira. É composta por militares, ex-militares, paramilitares ou civis armados. Segundo a Anistia Internacional, utilizam da força e violência para extorquir a população em determinados territórios urbanos ao redor do mundo.
Precisamos entender que milícia[2] significa um eufemismo
contemporâneo para máfia[3]. E, são os moradores de
áreas controladas por milícias que sentem o poder da máfia formada basicamente
por ex-policiais, policiais na ativa, policiais expulsos, carcereiros e leões
de chácara[4] em geral que se mostram
leais ao sistema e, não reajam quando cortar a cabeça, literalmente, quando for
a mando de chefões.
Atualmente, cerca de mais de dois
milhões de fluminenses vivem sob esse rígido regime feudal[5]. E, basicamente, o serviço
que uma milícia presta é o de segurança. Inicialmente, contra a ação de
criminosos comuns. E, num segundo momento, segurança contra a ação da própria milícia.
Há fortes indícios de que a morte de Marielle Franco[6] foi promovida pela
milícia.
Já outro assassinato, o da juíza
Patrícia Acioli, em 2011, não se trata de mera suspeita. A dita julgadora era
notabilizada por condenar milicianos fardados, sendo rígida tanto quando
condenava os criminosos não fardados, ou, à paisana. Terminou, infelizmente,
fuzilada por vinte e um tiros. E, o saldo final foi onze PMs condenados.
A origem[7] das milícias reside nos
grupos extermínio compostos de gangues de policiais e ex-policiais que passaram
a oferecer e vender serviços de proteção patrimonial privada aos comerciantes
ainda na década de 1960. Eram assassinos de aluguel que agiam sob a tolerância
da ditadura militar.
Os generais, durante o regime de
exceção, usavam tais serviços para capturar os subversivos, ou seja, qualquer
pessoa que representasse uma ameaça ao seu poder. O fim da ditadura militar
brasileira não acabou com os grupos de extermínio[8]. Tanto que a Chacina da
Candelária, em 1992, foi uma realização de um destes. Atiradores dispararam
contra sessenta crianças, adolescentes que dormiam do lado de fora da Igreja da
Candelária, no centro do Rio, num atentado que terminou com oito óbitos. Três
PMs acabaram condenados, todos com penas superiores a duzentos anos. Mas, ninguém passou muito tempo preso. E, o
último destes, deixou a cadeia faz tempo, em 2012.
Já no começo do século XXI, tais grupos
sofisticaram sua operação Em vez de agir meramente como mercenários,
tomaram o controle de regiões carentes da cidade. Tornaram-se um Estado
paralelo, com exército próprio. Consolidavam-se, assim, como milícias
propriamente ditas.
Estas começaram matando e repelindo
traficantes. Para demonstrar seu poder, adotaram justamente a estratégia dos
antigos grupos de extermínio: largar na rua os corpos daqueles que abatiam. Na prática,
deu-se a substituição de um crime organizado por outro.
Na pseudopromoção da paz externa e
aparente, em franco contraste com a insegurança crescente nos territórios do
tráfico, as milícias conseguiram consolidar seus domínios, particularmente, na
zona oeste do Rio de Janeiro. A zona oeste[9] é a região menos densa do
Rio de Janeiro.
A região é composta tanto pela região da
Barra da Tijuca na sua parte sul, uma das mais ricas da cidade, quanto por
zonas industriais, com algumas áreas agrícolas, na sua parte norte, sendo muito
acentuada diferença social entre as partes sul e norte da Zona Oeste. Divide-se
em duas grandes regiões separadas pelo Maciço da Pedra Branca (maior formação
rochosa do Rio, que alcança 1.025 metros de altitude): sudoeste e noroeste.
Como moeda de troca pela segurança
patrimonial prestada, os milicianos passaram a cobrar taxas sobre diversos
setores da economia carioca, o da energia (botijões de gás), o de entretenimento
(gatonet), o de transporte (vans e kombis de lotação), o
de imóveis (terrenos e alugueres para lixões clandestinos). Começaram a cobrar
dez mil reais por mês de pequenas empresas para que não fossem assaltadas, e
para que não tivessem seus empregados atacados, nem seus caminhões.
Enfim, as milícias acabaram formando
corporação multimilionária e à margem da lei.
Segundo informações recentes, o que é extorquido de motoristas de
lotação nos bairros de Campo Grande e Santa Cruz, na zona oeste do Rio de
Janeiro, de acordo com o Ministério Público, um total de vinte e sete milhões
por mês.
Com o passar do tempo, a linha divisória
da milícia e tráfico de drogas foi ficando cada vez mais tênue. Tanto que
várias milícias passaram também a oferecer proteção e segurança para
traficantes, contra os grupos rivais e, ainda, lucrar também o comércio de
drogas.
A facção que mais faz acordos com as
milícias é o Terceiro Comando Puro[10], que controla o complexo
de Acari, situado na zona norte, a mesma localidade onde a falecida vereadora
Marielle Franco denunciava abusos policiais.
O Comando Vermelho[11] também estaria na lista
de parceiros. O Jornal "O Dia" relatou que uma milícia tinha vendido
o Morro do Jordão, em Jacarepaguá, para o Comando Vermelho ou CV[12]. A facção teria três
milhões de reais para instalar seu comércio de entorpecentes. Assim, os
paramilitares podem empreender nova forma de negócio. E, tomar as comunidades a
fim de negociá-las, como se passassem o ponto comercial.
O perfil atual das milícias do RJ está
mudando pois, 42 dos 143 milicianos presos em 2010 eram PMs da ativa. Já em
2016, essa proporção caiu para dez PMs da ativa entre cento e cinquenta e cinco
milicianos presos.
Tenório Cavalcanti, precursor das milícias, ficou célebre por resolver os impasses à bala, foi deputado da UDN[13] foi o primeiro político a entrar armado ostensivamente em uma casa legislativa. Tenório era advogado alagoano, cujo nome completo era Natalício Tenório Cavalcanti de Albuquerque, foi eleito deputado estadual, deputado federal entre as décadas de cinquenta e sessenta.
Sua biografia abriga o embrião do que
atualmente é conhecido milícia no Rio de Janeiro, correspondendo, a um poder paralelo,
violento, amparado por uma aparente legalidade que o levava a transitar livremente
em gabinetes enquanto atuava à margem da lei em áreas atravessadas por
violências, muitas delas perpetradas pelo Estado.
Famoso por ser "homem da capa
preta", ficou notabilizado por causa do acessório que usava para esconder
a "Lurdinha", que era submetralhadora MP-40 que carregava a tiracolo,
que sintetizava a noção da justiça pelas próprias mãos. A biografia de Tenório serviu
de inspiração para filmes intitulados como "O Homem da Capa Preta",
de 1986, de Sérgio Rezende e o "Amuleto de Ogum[14]", de Nelson Pereira
dos Santos. Serviu também como inspiração para batizar até um coletivo de
autores de histórias em quadrinhos, a Capa Comics do produtor João
Carpalhau, sediado em Duque de Caxias, o município onde Tenório fundamentou sua
base eleitoral.
Aliás, Tenório se utilizava, habitualmente, da violência como meio de conter a violência. Propunha uma resolução de conflitos através de jagunços que ele chamava diretamente de Palmeira dos Índios[15], a sua terra natal. Aliás, Tenório colecionava em seu corpo mais de cinquenta cicatrizes de projéteis de diferentes calibres. Assim, a prática de homicídio seja pessoal ou mandando matar quem mandou encomendar sua morte, explica o sociólogo José Cláudio Souza Alves[16], que estuda a violência da Baixada Fluminense, bem como em outras localidades do Rio de Janeiro.
Tenório Cavalcanti tinha sua
personalidade pautada na Lei de Talião, ou seja, “olho por olho, dente por
dente” por ter origem que remonta a infância, quando aos dez anos, presenciou
seu pai ser assassinado por "mexer com mulher alheia". Mais tarde,
vingaria a morte do pai com certeiros golpes de enxada.
Tenório era político e líder
identificado com partidos conservadores, tal como a UDN, a União Democrática
Nacional e, transitou igualmente para o âmbito progressista, quando fez
oposição a Getúlio Vargas e ao genro então Presidente, Amaral Peixoto[17] que foi governador do Rio
de Janeiro na década de 1950.
O dito sociólogo alerta que os grupos de
formato de milícias se impõem em territórios onde o Estado viola direitos
básicos, como o da segurança pública e da preservação da vida como bem máximo
de qualquer ser humana. Assim, diante da ausência de garantias de direito à
vida e ao mínimo existencial, estabelece-se em sociedade, dentro da lógica de
abandono, de não capacidade de preservação da vida. Onde as milícias fazem
isso, através do auxílio de jagunços[18].
O sociólogo, ainda, ressalta que a milícia consegue legitimidade por operar dentro do campo legal ou lícito, através de cargos políticos, por exemplo, o que a assemelha a um grupo de extermínio. Infelizmente, a evolução[19] de tais grupos políticos vem se aperfeiçoando, se reconfigurando, às dimensões do crescimento urbano, das estratégias eleitorais, de controle militarizado de áreas.
A grilagem é outro negócio das milícias
e, funciona da seguinte forma: os grupos milicianos tomam posse de certas
áreas, em sua maioria irregulares, loteiam e comercializam estipulando seus
valores de mercado, com documentação falsa.
A milícia na Muzema[20] era chefiada por major da
PM, suspeito de controlar a construção de imóveis irregulares (Vide G1 Rio, em
12.04.2019, disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/04/12/milicianos-dominam-construcao-e-venda-de-imoveis-irregulares-na-muzema-onde-predios-desabaram.ghtml
Acesso
em 9.5.2021).
Aliás, Tenório Cavalcanti, igualmente,
explorou o mercado imobiliário da área que dominava, mas o sociólogo alerta
para uma crucial diferença. O político acumulou mais de quarenta imóveis que
adquiriu justamente na época da construção da Rodovia Rio-Petrópolis, a partir
de investimento pessoal com dinheiro próprio. Com esse patrimônio, ele investe
em suas campanhas eleitorais, ajuda a população e cria o mito dele.
As milícias não surgem de patrimônio
adquirido, partem da extração de tal acervo com o poder conferido à estas pelo
Estado. O Estado oferece respaldo, não investiga além de permitir que tenham
acesso às informações privilegiadas, conforme explica o referido sociólogo.
O mesmo estudo conta que quando Tenório chegou a trabalhar como administrador de uma dessas terras, a Fazenda Santa Cruz, de Edgar Soares Pinho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, foi responsável por organizar um grupo de capatazes que tinha por objetivo defender as terras e combater possíveis invasores. Apadrinhado por gente influente, como o deputado Natalício Camboim de Vasconcelos[21], e tendo herdado relações da própria família Cavalcanti, o tio, o coronel Felino Tenório e um primo policial, Tenório começou a adquirir imóveis.
Uma das principais aquisições
latifundiárias dele foi a favela do Mangue, também em Caxias, e que veio a se
tornar um dos seus redutos eleitorais por ter sido ali construída a Vila São
José, principal obra social a qual o nome do ex-deputado esteve vinculado.
A construção da vila ocorreu após as
enchentes que assolaram a cidade em dezembro de 1958, atingindo principalmente
os bairros de Gramacho, Saracuruna e Sarapuí. Tenório teria ligado para o então
presidente Juscelino Kubistcheck[22] pedindo em caráter de
urgência que fossem construídas unidades habitacionais para os desabrigados.
O documentário “Nossos Mortos Têm Voz”,
dos diretores Fernando Sousa e Gabriel Barbosa, retrata justamente esse cenário
mais contemporâneo: chacinas provocadas
por agentes de segurança de Estado, em especial a maior já registrada em todo o
Rio de Janeiro, conhecida como a Chacina[23] da Baixada, em 31 de
março de 2005, quando 29 (vinte e nove) pessoas foram assassinadas.
A motivação da matança foi a
insatisfação de policiais militares com a mudança de comando em um batalhão que
resultou em prejuízos para seus “negócios”[24].
Segundo o Jornal Extra, de 19.10.2020 a
área de atuação da milícia já supera a do tráfico na capital do Rio de Janeiro,
conforme demonstra o Mapa dos Grupos Armados do Rio de Janeiro. as três
quadrilhas de traficantes, somadas, agem em bairros que perfazem 15,4% da área
total da cidade. O estudo é fruto de um convênio entre o Grupo de Estudos dos
Novos Ilegalismos (Geni) da UFF, o datalab Fogo Cruzado, o Núcleo de
Estudos da Violência (NEV) da USP, a plataforma digital Pista News e o
Disque-Denúncia.
Os bairros em que somente a ação de
milicianos foi registrada têm 686,75 quilômetros quadrados de área — o
território total do Rio de Janeiro é de aproximadamente 1.200 quilômetros
quadrados. Já as três facções do tráfico atuam, cada uma, em 11,4%, 3,7% e 0,3%
da área do município.
A área total dos bairros onde agem
traficantes é de cerca de 185 quilômetros quadrados. Pouco mais de um quarto do
território carioca (25,2%) está em disputa entre tráfico e milícia; e em apenas
1,9% não foi constatada a ação de qualquer grupo criminoso.
O levantamento considerou a área total
dos bairros. O mapa do crime foi lançado oficialmente em 19.10.2020, na
abertura do 1º Seminário da Rede Fluminense de Pesquisas sobre Violência,
Segurança e Direitos - Milícias, Grupos Armados e Disputas Territoriais no Rio
de Janeiro.
O mencionado trabalho teve a
participação do professor de Sociologia da UFF Daniel Hirata, coordenador do
Geni. Segundo ele, era previsível um resultado que mostrasse força da milícia,
mas não se esperava um domínio tão imponente.
A respeito das chacinas já ocorridas no
Rio de Janeiro, temos: uma disputa pelo comando do tráfico de drogas na Vila
Vintém, no bairro Padre Miguel, no Rio de Janeiro totalizou dezenove óbitos em
julho de 2009. Em julho de 1993, oito
pessoas com idades entre 11 a 19 anos foram executados.
Ainda são desconhecidas as causas sobre
a causa da Chacina da Candelária. Em agosto de 1993, cerca vinte e um óbitos na
favela de Vigário Geral, no Rio de Janeiro. Em março de 2005, outra chacina ocorreu
nos municípios de Nova Iguaçu e Queimados, ambos na Baixada Fluminense,
totalizou trinta óbitos. Em junho de 2009, cinco pessoas foram mortas na favela
do Barbante, em Inhoaíba, no Rio de Janeiro. Os assassinatos seriam retaliação
dos milicianos da Liga da Justiça[25], comandada por Ricardo
Teixeira da Cruz, alcunha Batman.
Pesquisa inédita sobre a expansão das organizações criminosas no Rio de Janeiro mostra que as milícias já controlam 25,5% dos bairros do Rio, totalizando 57,5% da superfície territorial da cidade[26]. São 686,75 quilômetros quadrados, equivalente a 57,5% do território da capital, nas mãos da milícia. Unidade de Polícia Pacificadora (UPP[27]) é um projeto da Secretaria Estadual de Segurança do Rio de Janeiro que pretende instituir polícias comunitárias em favelas, principalmente na capital do Estado, como forma de desarticular quadrilhas que, antes, controlavam estes territórios como verdadeiros estados paralelos[28].
Com uma diminuição considerável do
índice de criminalidade nas proximidades das favelas pacificadas, o fim dos
tiroteios é o principal ponto positivo apontado pelos moradores das áreas
pacificadas. Para Luís Eduardo Soares, o
fim dos tiroteios e da circulação de armas de fogo na mão de traficantes possui
ligação direta com a queda dos índices de violência letal. Também são apontadas
as maiores facilidades para entrada de novos serviços prestados à população.
Apesar destes pontos consideravelmente positivos,
os críticos lembram que tais melhorias ocorreram principalmente no primeiro
momento da instalação das unidades de polícia pacificadora. Tiroteios,
inicialmente ausentes nas favelas pacificadas, voltaram a ser rotina
principalmente no Complexo do Alemão, Vila Cruzeiro sendo emblemáticos os
tiroteios na Corrida pela Paz, do Complexo da Penha ao Complexo do Alemão e a
morte da policial Alda Rafael Castilho em confronto no Parque Proletário da
Penha.
O ponto culminante para a crítica às
unidades de polícia pacificadora foram as manifestações de junho de 2013,
quando o caso do desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo na Rocinha se
tornou um símbolo da crítica ao programa ou mesmo ao reforço militar que as
UPPs da Penha e Complexo do Alemão começaram a receber em resposta aos ataques
a policiais destas unidades. Este reforço provocou movimentação de organizações
e ambos os complexos de favelas, que emitiram um manifesto público sobre a
presença militar.
Em termos culturais, as favelas ou
comunidades passaram por uma profunda mudança em seus hábitos. A Resolução 13 (que
regulamentou o Decreto estadual (RJ) nº 39.355, de 24 de maio de 2006) definiu
as Unidades de Polícia Pacificadoras como responsáveis pela autorização de
eventos dentro das favelas. Com isso, ficaram prejudicados os bailes funk,
mesmo após revogação da resolução. Atualmente, moradores ainda enfrentam
dificuldades em realizar eventos em suas comunidades.
Mesmo com as críticas, outros projetos
semelhantes têm sido implantados em outros estados brasileiros: o governo do
estado da Bahia criou as Bases Comunitárias
de Segurança (BCS) para atender às comunidades de Salvador e doutras cidades do
interior; o governo do Paraná criou as Unidades Paraná Seguro (UPSs) para atender às
comunidades de Curitiba; o governo do Maranhão criou as Unidades de Segurança
Comunitária (USCs) para atender às comunidades de São Luís; e o governo do Rio
Grande do Sul criou os Territórios da Paz (TP). O governo do Rio de Janeiro
também lançou o projeto das Companhia Integrada de Segurança Pública (Cisp),
que atendem a alguns morros e favelas da cidade, com formato idêntico às UPPs.
Segundo o balanço de indicadores da
Polícia de Pacificação que reuniu dados de todas as trinta e oito UPPS, a taxa
de letalidade inclui o número de assassinatos e roubos seguidos de morto,
voltou a crescer em 2014 a 2015, apesar de estar abaixo do índice outrora
verificado antes do início do programa de segurança pública em 2008.
Com a intervenção do Governo Federal na
segurança pública no Rio de Janeiro em 2018, decretou-se o fim das UPPs. A UPP
surgiu como símbolo do processo de pacificação nas comunidades cariocas e, a
primeira UPP apareceu no Morro Dona Marta, em Botafogo, na zona sul. E, a
última destas, fora instalada na Vila Kennedy, na zona oeste. Foi considerado
um dos mais importantes projetos de segurança pública.
Dentro do ordenamento jurídico brasileiro, a
Constituição Federal vigente determina que não há crime sem lei anterior que o
defina, nem pena sem previsão legal. E, também, considera como crime
inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático de Direito.
Sempre houve uma tendência cultural e
histórica na tolerância institucionalizada aos abusos em prol de política
criminal enfocada na punição de criminosos, soando como resposta à sociedade. O
Ministro Rogerio Schietti Cruz, do STJ tem razão quando afirma que é preciso
reavaliar o alto custo de condenações com lastro em abusos de direito. In: VITAL, Danilo. País deve reavaliar custo de
condenações com lastro em abuso de direitos. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-mai-09/entrevista-rogerio-schietti-ministro-stj
Acesso em 10.5.2021.
As milícias são hoje a expressão mais
contundente do neoliberalismo autoritário, segundo Lia de Mattos Rocha, em que
vivemos, onde a ilegalidade e a criminalidade são condição de possibilidade
para a expansão dos mercados e para a repressão dos descontentes e
expropriados. Combatê-las não é simples, mas é tarefa prioritária do Estado de
Direito.
A Lei nº 12.720, de 27 de setembro de 2012, cria mais uma figura penal inserindo-o em nosso Código Penal de 1940, tipificando as ações dos denominados grupos de extermínio e das milícias privadas[29]. Acrescenta, ademais, uma nova majorante ao crime de homicídio (§ 6º), quando praticado pelos referidos grupos. Igualmente, o crime de lesões corporais também é contemplado com majorante similar, nas mesmas circunstâncias, tendo redefinido seu parágrafo sétimo[30].
Importante sublinhar que o crime de
constituição de milícia[31] não se confunde com os
crimes que eventualmente essa entidade cometer, pois, somente o integrante ou
“associado” que concorre, in concreto, isto é, que participa
efetivamente da prática deste ou daquele crime responde por ele, e, nessa
hipótese, em concurso material com o previsto no art. 288-A. Os demais membros
ou integrantes do grupo ou da milícia respondem somente por esse crime
(constituição de milícia privada), ou, se for o caso, por aqueles crimes para
os quais tenham efetivamente concorrido.
Não é difícil imaginar o porquê do tráfico e milícia se relacionem às práticas evangélicas[32] que ficam imbricadas nas periferias[33]. “A subjugação de moradores é uma demonstração de força e de domínio. Uma atitude que combina crença religiosa com um modo de operação corriqueira do crime. Chama a minha atenção uma narrativa ‘moralizadora’ que vem acompanhando estas ações”, salienta a professora Christina Vital em entrevista concedida por e-mail à IHU On-line. In: SANTOS, João Vitor. A religião como símbolo de dominação das milícias nas periferias. Disponível em: https://contee.org.br/a-religiao-como-simbolo-de-dominacao-das-milicias-nas-periferias-entrevista-especial-com-christina-vital/ Acesso em 10.5.2021.
As milícias têm expressões também em 15
(quinze) Estados do país. “Se você olhar para a estrutura das milícias elas
sempre irão atuar na lógica de quem tem grana naquela região. Então, ao se
interiorizar, os grupos milicianos estão com o agronegócio, latifundiários,
coronéis, grupos mineradores “, descreve José Cláudio. In: RioOnWatch.
Milícias e Poder, Parte 2: Alves e Soares refletem sobre as múltiplas faces e
fases. Disponível em: https://rioonwatch.org.br/?p=52019#prettyPhoto
Acesso em 10.5.2021.
Onde o Estado falta, o princípio de
legitimidade é evocado e sustentado pela ideia de defesa, de segurança,
construído em um lugar específico: o de morador que se liga ao de policial. A
legalidade enfraquece-se diante do discurso de justiça pelas próprias mãos.
Esse discurso é afetado pela ilusão de pertencimento.
Concluímos que a insegurança produzida
pela franca violação dos direitos fundamentais, torna trivial existir na
sociedade o culto do medo, onde os comportamentos sociais se adequam a nova
realidade vivida pelos brasileiros, o que entristece os futuros juristas do
Brasil, que hoje estudam e lutam para garantir direitos que são previstos na
atual Carta Magna, se o Estado brasileiro que deveria, entretanto, não cumpre
seu papel de dar a devida assistência ao tão questionado artigo 5º da
Constituição Cidadã[34].
Enfim, esse efeito de evidência é um
sintoma do real da segregação, pois o imaginário de pertencimento, de estar do
mesmo lado, dentro, no mesmo espaço de direitos negados, nas mesmas condições
de existência, sobretudo, esquecidos pelo Estado, confere à milícia concessão.
Paradoxalmente, a ascensão das milícias
corresponde à decadência e omissão do Estado, enquanto instância organizadora e
detentora da violência corretiva. Quando a violência se torna linguagem corrente,
não corrige e nem inibe a criminalidade, apenas a torna mais cruel e, cada vez
mais entranhada no contexto institucional, social e político.
Referências
ALTINO, Lucas; SOARES, Rafael. Área
de atuação da milícia já supera a do tráfico na capital, mostra o ‘Mapa dos
Grupos Armados do Rio de Janeiro’. Disponível em: https://extra.globo.com/casos-de-policia/area-de-atuacao-da-milicia-ja-supera-do-trafico-na-capital-mostra-mapa-dos-grupos-armados-do-rio-de-janeiro-24699788.html Acesso em 9.5.2021.
BITTENCOURT, Cezar Roberto. Constituição
de Milícia Privada. Disponível em: https://cezarbitencourt.jusbrasil.com.br/artigos/121935991/constituicao-de-milicia-privada
Acesso em 10.5.2021.
DA COSTA, Greciely Cristina. Discursos
sobre a Milícia: Nomes, Vozes e Imagens em Movimento na Produção de Sentidos.
Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/270665/1/Costa_GrecielyCristinada_D.pdf
Acesso em 10.5.2021.
DE CASTRO, Jeanne Berrance. As
Milícias Nacionais. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/download/127380/124562
. Acesso em 10.5.2021.
DUARTE, Thaís Lemos; RIBEIRO, Ludmila. As
milícias fluminenses em tempos de Covid-19: Relatos de medos ambivalentes na
imprensa? Disponível em: http://ippesbrasil.com.br/wp-content/uploads/2020/07/artigo-4-1.pdf
Acesso em 10.5.2021.
FERREIRA, Roberta Miranda Cattermol da
Rocha. Milícias: Poder Paralelo e Omissão do Estado. Disponível em: https://www.emerj.tjrj.jus.br/paginas/trabalhos_conclusao/2semestre2011/trabalhos_22011/RobertaMirandaFerreira.pdf
Acesso em 10.5.2021.
GOMES, Luiz Flávio. Direito Penal do
inimigo (ou inimigos do Direito Penal). São Paulo: Notícias forenses, 2004.
GOULART, Gustavo. Milícia invade
apartamentos e vende imóveis em condomínio na Praça Seca, denunciam moradores.
Disponível em: https://extra.globo.com/casos-de-policia/milicia-invade-apartamentos-vende-imoveis-de-condominio-na-praca-seca-denunciam-moradores-24699498.html
Acesso
em 9.5.2021.
LEON, Fabio. Ponte Jornalismo.
Tenório Cavalcanti, precursor das milícias. Disponível em: https://outraspalavras.net/outrasmidias/tenorio-cavalcanti-precursor-das-milicias/ Acesso em 9.5.2021.
ROCHA, Lia de Mattos. O que se perde
(e o que se ganha) com as milícias. Disponível em: https://www.corecon-rj.org.br/anexos/30F3D8E920F732B01E2398F1905FAE2D.pdf
Acesso
em 10.5.2021.
SANTOS, João Vitor. A religião como símbolo
de dominação das milícias nas periferias. Disponível em: https://contee.org.br/a-religiao-como-simbolo-de-dominacao-das-milicias-nas-periferias-entrevista-especial-com-christina-vital/
Acesso em 10.5.2021.
SILVA, Luiz Geraldo. Gênese das
Milícias de Pardos e Pretos na América Portuguesa: Pernambuco e Minas Gerais,
séculos XVII e XVIII. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rh/n169/0034-8309-rh-169-00111.pdf
Acesso em 10.5.2021.
SOUZA, Carolina Rodrigues; SADALLA,
Nachara Palmeira. Milícias: uma análise sobre o populismo penal e o Direito
Penal do Inimigo. Revista de Direito da Faculdade Estácio do Pará ISSN:
2359-322 Disponível em: http://revistasfap.com/ojs3/index.php/direito/article/download/231/209/
. Acesso em 10.5.2021.
VERSIGNASSI, Alexandre. A origem e
ascensão das milícias. Super Interessante. De 12.03.2019. Disponível em: https://super.abril.com.br/sociedade/a-origem-e-a-ascensao-das-milicias/
Acesso em 9.5.2021.
VITAL, Danilo. País deve reavaliar
custo de condenações com lastro em abuso de direitos. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-mai-09/entrevista-rogerio-schietti-ministro-stj
Acesso em 10.5.2021.
Notas:
[1] O Presidente Jair Bolsonaro alterou quatro
decretos de 2019 que regulam a aquisição de armamento e munição por agentes de
segurança e pelos CACs (colecionadores, atiradores e caçadores). As medidas
foram publicadas em edição extra do DOU (Diário Oficial da União) nessa 6ª
feira (12.fev.2021). Eis os decretos de números 10.627 (282 KB), 10.628 (98
KB), 10.629 (143 KB) e 10.630 (164 KB). De acordo com o governo, “a medida
desburocratiza procedimentos, aumenta clareza sobre regulamentação, reduz
discricionariedade de autoridades e dá garantia de contraditório e ampla
defesa”. Com esse entendimento, a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal
Federal, concedeu parcialmente liminar para suspender os trechos das normas que
descomplicam a posse e porte de armas. A decisão passará por referendo pelo
Plenário da corte. A liminar foi concedida no âmbito de uma das três ações
diretas de inconstitucionalidades ajuizadas contra os Decretos 10.627, 10.628,
10.629 e 10.630, que foram editados em 12 de fevereiro com previsão de entrada
em vigor após 60 dias. A autoria da ADI é do Partido Socialista Brasileiro.
[2]
O termo "milícia" na época do Brasil Império não possuía o mesmo
sentido empregado que o atual, mas se assemelhava ao significado dicionarizado,
no sentido de serem tropas auxiliares de segunda linha. As milícias surgiram,
dentro no panorama social contemporâneo, como uma forma de segurança
alternativa oferecida, com o intuito de acabar com o domínio exercido pelo
tráfico de drogas nas comunidades carentes. A omissão do Poder Público, quando
lesiva ao direito de qualquer pessoa, induz à responsabilidade civil objetiva
do Estado, desde que presentes os pressupostos primários que lhe determinam a
obrigação de indenizar.
[3]
A palavra “máfia” tem origem etimológica no dialeto siciliano mafia e significa
coragem, bravura, excelência e elegância.
Difundida inicialmente como sendo um conjunto de associações sicilianas,
regidas por princípios de segredo e silêncio solidário e que estabelecem leis
próprias e buscam sobrepor-se ao poder constituído. A máfia mais antiga do
mundo é a Cosa Nostra, igualmente conhecida apenas como Máfia, trata-se
de sociedade criminosa secreta e que se desenvolveu na primeira metade do
século XIX na Sicília, na Itália. Igualmente se desenvolveu no Estados Unidos
(EUA).
[4]
A origem da expressão é antiga e tem muitas versões. Uma delas é que na
Antiguidade, em alguns lugares, a punição para certos crimes era marcar o
criminoso a ferro quente, na testa. Criminosos ricos pagavam a certas pessoas
para assumirem o crime e serem marcados no lugar deles. Outra versão é que nas batalhas navais os
líderes ficavam lá na popa do seu navio, protegidos, mandando para a proa
combatentes que deveriam arrebentar os navios inimigos.
[5]
Nos finais do século XV, longe ia o contexto do aparecimento das Ordens
Militares, ocorrido na Idade Média Plena, quando os cluniacenses difundiam o
ideal de um monarquismo vigoroso, a cavalaria se estabelecia enquanto grupo
cristianizado e a Cruzada procurava a libertação dos lugares santos e o
afastamento da ameaça islâmica sobre a Cristandade. No quadro peninsular, onde
estas milícias se estabeleceram desde o século XII para combater os muçulmanos
na Reconquista, conseguimos observar na charneira para a modernidade a sua
faceta marcial, nem sempre considerada pela historiografia para esse tempo de
transição bélica.
[6]
Marielle Francisco da Silva, conhecida como Marielle Franco (Rio de Janeiro, 27
de julho de 1979 – Rio de Janeiro, 14 de março de 2018), foi uma socióloga e
política brasileira. Filiada ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL),
elegeu-se vereadora do Rio de Janeiro para a Legislatura 2017-2020, durante a
eleição municipal de 2016, com a quinta maior votação. Marielle defendia o
feminismo, os direitos humanos, e criticava a intervenção federal no Rio de
Janeiro e a Polícia Militar, tendo denunciado vários casos de abuso de
autoridade por parte de policiais contra moradores de comunidades carentes. Em
14 de março de 2018, foi assassinada a tiros junto de seu motorista, Anderson Pedro
Mathias Gomes, no Estácio, Região Central do Rio de Janeiro.
[7]
As tropas auxiliares, posteriormente denominadas milícias, foram criadas em 7
de janeiro de 1645 no contexto da restauração do trono português após o período
unificação com a Espanha, entre 1580 e 1640. Tinham como atribuições a
manutenção da posse territorial, da ordem e da lei. Formavam, junto com as
Tropas de Primeira Linha instituídas em 1641 e com as companhias de ordenanças
estabelecidas em 1570, as forças militares de Portugal e seus domínios. As
milícias brasileiras são herança ideológica do século XVIII.
[8]
Scuderie Detetive Le Cocq ou Esquadrão Le Cocq foi uma
organização extraoficial criada por policiais no Rio de Janeiro em 1965 e que
atuou principalmente nas décadas de 1960, 1970 e 1980, sendo extinta por
decisão judicial no início dos anos 2000. Essa organização matou ao menos 1,5
mil pessoas só no Espírito Santo e é considerada o primeiro grupo de extermínio
fluminense. Em 2015, policiais utilizando
o nome da organização, sob a denominação Associação Filantrópica Scuderie
Detetive Le Cocq, realizaram ação de panfletagem para incentivar a
utilização do disque-denúncia. A associação era liderada pelos chamados
"Doze Homens de Ouro" (um para cada casa do zodíaco), eram doze
famosos policiais escolhidos pelo Secretário de Segurança Pública do Rio de
Janeiro, Luís França, para "limpar" a cidade e eliminar criminosos,
travestis e moradores de rua. Integravam
o grupo os policiais Aníbal Beckman dos Santos (Cartola), Euclides Nascimento Marinho,
Helio Guahyba Nunes, Humberto de Matos, Jaime de Lima, Lincoln Monteiro, Mariel
Mariscot, Nelson Duart, Neils Kaufman (Diabo Loiro), José Guilherme Godinho
(Sivuca), Vigmar Ribeiro e Elinto Pires.
[9]
Bairros da Zona Oeste do Rio de
Janeiro: Bangu, Barra da Tijuca, Campo Grande (bairro do Rio de Janeiro),
Jacarepaguá, Realengo (Português) Capa comum – 27 junho 2011. Fonte: Wikipedia.
[10]
Terceiro Comando Puro, conhecido também pela sigla TCP, é uma organização
criminosa carioca, surgida no Rio de Janeiro, no Complexo da Maré no ano de
2002, a partir de uma dissidência do Terceiro Comando, liderada pelos
traficantes Facão e Robinho Pinga. Em 1998, o Terceiro Comando (TC) aliou-se à
facção Amigos dos Amigos (ADA), ampliando seus domínios. Após 11 de setembro de
2002, quando Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, liderou uma
revolta no presídio Bangu I, matando alguns rivais, entre eles Uê, um dos
líderes do TC. Celsinho da Vila Vintém, da facção Amigos dos Amigos (ADA), que
não foi morto durante a rebelião, sendo acusado de traição, e que somado com
desavenças entre Linho (um dos líderes da ADA) e Facão, gerou o rompimento da
aliança com a ADA. Assim, os traficantes do então TC aliados de Linho passaram
de vez para o lado da ADA, e os aliados de Facão migraram para a nova
dissidência, o Terceiro Comando Puro (TCP). Lideradas pelos traficantes Robinho
Pinga e Facão, o TCP se instalou em pontos de venda de drogas nas zonas norte e
oeste do Rio de Janeiro, mais especificamente no bairro de Bangu (Vila
Aliança), Senador Camará, Complexo de Acari, Dendê, Parada de Lucas, Fumacê e
Amarelinho. Há na Zona Norte e Oeste a grande concentração de territórios do
TCP como o Complexo de Acari e
Amarelinho, Para-Pedro (Para-Paz), Parada de Lucas e Vigário Geral (Parada
Geral), Muquiço, Morro dos Macacos, Cidade Alta, Complexo do Dendê, Fumacê, Vila Aliança,
Senador Camará , Complexo da Serrinha, Pedreira, Morro da Primavera, Brás de
Pina, Cordovil, Costa Barros, Favela da Kelson´s, Guacha, São Leopoldo, Barro
3, Mineira, Vila do João, Baixa do Sapateiro, Morro do Timbau, Morro do Dendê, Muquiço, Caju, Adeus,
Lagartixa, Quitanda, Carvão, Morro do 18, Complexo da Alma.
[11]
Comando Vermelho Rogério Lemgruber, mais conhecido como Comando Vermelho e
pelas siglas CV e CVRL, é uma das maiores organizações criminosas do Brasil.
Foi criada em 1979 no Instituto Penal Cândido Mendes, na Ilha Grande, Angra dos
Reis, Rio de Janeiro. Entre os membros fundadores da facção, que se tornaram
notórios depois de suas prisões, estão os líderes Rogério Lemgruber,
Fernandinho Beira-Mar, Marcinho VP, Mineiro da Cidade Alta, Elias Maluco,
Fabiano Atanazio (FB) e José Antônio de Freitas mais conhecido como Toninho do
pó de Santa Rita de Jacutinga. O CV já possui ramificações em outros estados
brasileiros como Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso, Espírito Santo,
Acre, Pará, Maranhão, Alagoas, Rio Grande do Norte, Ceará, Mato Grosso do Sul,
Goiás, Distrito Federal, Amazonas, Santa Catarina e algumas partes de Minas
Gerais, Piauí, Paraíba, Pernambuco e da Bahia. Nos estados do Rio de Janeiro,
Espírito Santo, Rondônia, Mato Grosso, Acre, Ceará e Tocantins o CV é maioria
no sistema penitenciário.
[12]
Em 1994, surge uma nova facção criminosa denominada de Terceiro Comando,
formada da dissidência do Comando Vermelho e por policiais que passaram a
integrar a organização. Depois, travou-se uma batalha entre as duas facções
rivais pelo domínio dos pontos de venda de drogas nas favelas do Rio de Janeiro
e o Terceiro Comando passou a dominar as comunidades localizadas nas zonas
oeste e norte, áreas mais periféricas da cidade. Já em 1998, o Terceiro Comando
aliou-se à outra organização criminosa, denominada Amigos dos Amigos (ADA), o
que resultou no fortalecimento e ampliação daquela facção. Entretanto, em 2002,
ocorre uma dissidência e surge o Terceiro Comando Puro.
[13]
A União Democrática Nacional, fundada a 7 de abril de 1945 como uma “associação
de partidos estaduais e correntes de opinião” contra a ditadura estadonovista,
caracterizou-se essencialmente pela oposição constante a Getúlio Vargas e ao
getulismo. Embora tenha surgido como uma frente, a UDN organizou-se em partido
político nacional, participando de todas as eleições, majoritárias e
proporcionais, até 1965. Seu principal adversário das urnas era o Partido
Social Democrático (PSD), de representação majoritária no Congresso. Na Câmara
dos Deputados a UDN manteve o segundo lugar até 1962, quando perdeu para o
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Elegeu governadores, especialmente no
Nordeste, e integrou vários ministérios, inclusive no governo Vargas. Perdeu
três eleições presidenciais consecutivas (1945, 1950 e 1955) e apoiou a
candidatura vitoriosa de Jânio Quadros em 1960 e o movimento político-militar
de 1964. In: União Democrática Nacional (UDN) FGV CPDOC. Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/uniao-democratica-nacional-udn Acesso em 9.5.2021.
[14]
Sinopse: Violeiro cego conta (canta) a história de um menino cujo pai e irmão
foram assassinados e que, a pedido da mãe, vai a um terreiro de umbanda para
"fechar o corpo" (proteger-se pelos espíritos). Crescido, envolve-se
com o crime e a contravenção na Baixada Fluminense, até que se envolve com
amante do bicheiro e é jurado de morte — mas conta com a proteção do amuleto de
Ogum.
[15]
Palmeira dos Índios ocupa terras que um dia foram aldeias dos índios Xucurus.
Foi criada como freguesia em 1798 e transformada em vila em 1835. Na década de
1840, uma disputa política brutal entre famílias, causa de dezenas de
assassinatos, provocou o êxodo que praticamente esvaziou a vila. Anexada então
a Anadia, Palmeira dos Índios só recuperou a autonomia anos mais tarde. Em 1889
foi elevada a cidade. Entre 1928 e 1930 a prefeitura foi exercida pelo escritor
Graciliano Ramos (nascido na cidade de Quebrangulo, em Alagoas), que incluiu
fatos do cotidiano da cidade em seu primeiro romance, Caetés (1933).
[16]
O sociólogo tem obra interessante intitulada "Dos Barões Ao Extermínio Uma
História Da Violência na Baixada Fluminense”. Muito oportuna e indispensável é
a reedição, agora aumentada de um impressionante relato atualizador, na forma
de Prefácio, do mais importante estudo sobre a violência na Baixada Fluminense
já escrito até hoje. O seu autor, já o havia defendido como tese de doutorado
na USP no final dos anos 90. Publicada a primeira edição em 2003, o livro
rapidamente transformou-se em referência para os estudiosos. Mais que uma história
da violência na Baixada Fluminense, como diz o seu subtítulo, o livro expressa
pesquisa e militância, reflexão apaixonada e insights originais, além de narrar
o terror cotidiano vivido por moradores e trabalhadores dos municípios da
região. No livro de José Cláudio Souza Alves “Dos Barões ao Extermínio: Uma
História da Violência na Baixada Fluminense” está descrita a vinculação dos
grupos de extermínio com a polícia e com a política.
[17]
Ernâni Amaral Peixoto nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 14
de julho de 1905, filho de Augusto Amaral Peixoto e de Alice Monteiro Amaral
Peixoto. Seu pai combateu a Revolta da Armada — levante de oposição ao
presidente Floriano Peixoto que envolveu a esquadra fundeada na baía de
Guanabara de setembro de 1893 a março de 1894 sob a chefia do almirante
Custódio de Melo e mais tarde do almirante Luís Filipe Saldanha da Gama —,
atuando no serviço médico da Brigada Policial do Rio de Janeiro. Dedicando-se
depois à clínica médica, empregou em seu consultório o então acadêmico Pedro
Ernesto Batista, vindo mais tarde a trabalhar na casa de saúde construída por
este. Quando Pedro Ernesto se tornou prefeito do Distrito Federal, foi seu
chefe de gabinete, chegando a substituí-lo interinamente entre 1934 e 1935. Seu
avô paterno, comerciante de café, foi presidente da Câmara Municipal de Parati
(RJ). Seu avô do lado materno, comerciante e empreiteiro de obras públicas
arruinado com a reforma econômica de Rui Barbosa — que desencadeou o chamado
“encilhamento”, política caracterizada por grande especulação financeira e
criação de inúmeras empresas fictícias —, alcançou o cargo de diretor de câmbio
do Banco do Brasil na gestão de João Alfredo Correia de Oliveira (1911-1914).
Seu irmão, Augusto Amaral Peixoto Júnior, foi revolucionário em 1924 e 1930,
constituinte em 1934 e deputado federal pelo Distrito Federal de 1935 a 1937 e
de 1953 a 1955.
[18]
Jagunço ou capanga era, no nordeste brasileiro, o indivíduo que se prestava ao
trabalho paramilitar de proteção e segurança às lideranças políticas. O termo
deriva do quimbundo, junguzu, ou do iorubá, jagun-jagun, ambos
originados das palavras para "soldado". Segundo o Professor Gabriel
Perissé, da Universidade de São Paulo (USP) em suas "Considerações
Etimológicas" no livro Palavras e Origens, discorrendo sobre a
considerável lista de palavras que não provêm do mundo greco-latino, após citar
várias da herança tupi-guarani, que se incorporaram à nossa língua, e sobre a
presença afronegra no português falado no Brasil, nos diz: “A presença afronegra
na cultura brasileira, do ponto de vista da linguagem, é igualmente expressiva
em particular mediante duas línguas, o quimbundo e o quicongo. Do quimbundo
temos: "moleque"...A exclamação "babau"...e
"jagunço" que é soldado. In: Jagunço. Wikipedia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jagun%C3%A7o
. Acesso em: 9.5.2021.
[19]
Com novas configurações e mudanças nos métodos de atuação, a milícia avança no
Rio de Janeiro e expande suas influências para prefeituras e câmaras de
vereadores, além de buscarem formas de “legalizar” suas ações. Para se ter uma
ideia, os criminosos chegaram a criar uma associação de moradores para acionar
a Defensoria Pública da União e assegurar o acesso de moradores de comunidades
a habitações do programa Minha Casa Minha Vida.
[20]
Muzema é uma favela não oficial, geograficamente é parte do Itanhangá, no Rio
de Janeiro, Brasil. Por vezes é descrito como uma favela. A Muzema engloba
outras comunidades menores, tais como Muzema propriamente, Angu Duro, Morro do
Sossego, Regata e Cambalacho. A Muzema já era descrita na obra ficcional de
Stanislaw Ponte Preta, Febeapá (O Festival de Besteira que Assola o País), como
"um bairrozinho pequeno e pacato, ali pelas bandas da Barra da
Tijuca", e pertencente à jurisdição da 32ª Delegacia Distrital. Em 1983,
foi criada a primeira associação de moradores, na área da Muzema propriamente
dita, com apoio da Igreja Católica. Em
2016, uma reportagem do jornal O Globo já denunciava uma série de construções
irregulares no bairro, notadamente algumas até mesmo em áreas de proteção
ambiental. A comunidade é uma área dominada pela milícia e ficou conhecida por
graves desabamentos de dois prédios, ocorridos em 12 de abril de 2019, que
deixaram vários mortos e feridos.
[21]
Natalício Camboim de Mendonça Vasconcelos (1872-1956) foi um político e
industrial brasileiro. Era filho do coronel João Carlos de Mendonça
Vasconcellos e de Ana de Siqueira Cavalcanti Camboim (filha de Ana Olímpia de
Siqueira Cavalcanti e Francisco Alves Cavalcanti Camboim, 1º e único Barão de
Buíque). Empossado na Câmara dos Deputados, no Rio de Janeiro, então Distrito
Federal, seria sucessivamente reeleito em 1912, 1915, 1918, 1921 e 1924. De
início, integrou a bancada liderada pelo líder republicano e senador gaúcho
José Gomes Pinheiro Machado. Foi membro da Comissão de Diplomacia e Tratados da
Câmara e um dos signatários, em 1915, do parecer favorável à aprovação do
tratado denominado ABC, de arbitragem ampla entre Argentina, Brasil e Chile.
Insinua-se que era contrário à transferência do terminal da estrada de ferro de
Quebrangulo para Palmeira dos Índios, em Alagoas, por ter na primeira, terra de
sua mulher, seu mais expressivo colégio eleitoral. Permaneceu na Câmara até
dezembro de 1926, quando se encerrou seu último mandato e a legislatura. Natalício
era padrinho de Tenório Cavalcante, o homem da capa preta, que foi batizado
como Natalício Tenório Cavalcanti de Albuquerque em homenagem ao deputado
alagoano.
[22]
O ex-Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira morreu em 22.8.1976 calcinado
sob as ferragens do automóvel em que viajava para o Rio de Janeiro, depois de
um encontro com o ex-Presidente Jânio Quadros. O acidente ocorreu na altura do
quilômetro 165 da Rodovia Presidente Dutra, próximo à localidade de Engenheiro
Passos. O local do acidente ficou conhecido como "Curva do JK", antes
conhecido como "Curva do Açougue". Mais de trezentas mil pessoas
assistiram ao seu funeral em Brasília, onde a multidão cantou a música que o
identificava: Peixe Vivo. Seus restos mortais repousam no Memorial JK, construído
em 1981, na capital federal do Brasil, Brasília, por ele fundada.
[23]
O fim da ditadura não acabou com os grupos de extermínio. Tanto que a Chacina
da Candelária, em 1993, foi obra de um deles.
Atiradores dispararam contra 60 crianças e adolescentes que dormiam do
lado da Igreja da Candelária, no Centro do Rio de Janeiro.
[24] GOULART, Gustavo. Milícia invade apartamentos e vende imóveis em condomínio na Praça Seca, denunciam moradores. Disponível em: https://extra.globo.com/casos-de-policia/milicia-invade-apartamentos-vende-imoveis-de-condominio-na-praca-seca-denunciam-moradores-24699498.html Acesso em 9.5.2021.
[25]
O vereador Jerônimo Guimarães (PMDB), da milícia chamada “Liga da Justiça”, e o
deputado estadual Natalino Guimarães (ex-DEM), atuante na comunidade Rio das
Pedras no Rio de Janeiro, condenados a dez anos de prisão por formação de
quadrilha. Apesar do resultado expressivo da CPI das Milícias, com mais de
1.100 pessoas presas – até 2008, foram 219 policiais militares, deputado
estadual e 791 civis -, a fonte de renda das milícias ainda não foi extinguida
e, assim, continuam a existir.
[26]
As áreas dominadas pela milícia na Zona Norte servem como locais operativos
para convocar homens a qualquer momento com o objetivo de disputar territórios
com o tráfico de drogas. Em geral, as milícias, aliados a outras facções como o
Terceiro Comando Puro, entram em conflito com a facção Comando Vermelho. As
milícias são formadas geralmente por quadros das Polícias Militar e Civil e dos
Bombeiros e dominam cerca de 25,5% dos bairros, totalizando 57,5% do território
da capital fluminense—segundo pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos dos
Novos Ilegalismos (GENI/UFF), Fogo Cruzado, Núcleo de Estudos da Violência da
USP, Pista News e o Disque-Denúncia—além de dominar territórios e cidades da
Região Metropolitana.
[27]
O idealizador das UPPs no Rio de Janeiro, José Mariano Beltrano em 11.10.2016
pediu demissão do cargo. Segundo ele, a UPP foi uma anestesia que se deu num
paciente que precisava de uma grande cirurgia. Essa cirurgia ou não foi feita
ou foi malfeita, ou foi feita aos pedaços. Mas o desafio está ali, é possível,
tem um rumo, há um norte para mitigar os problemas. O projeto de UPPs não está
dando certo porque é débil em sua implementação, a retomada do território veio
desacompanhada de outras medidas para dar conta das enormes lacunas sociais que
caracterizam a cidade e estado do Rio de Janeiro”, afirma André Mendes, da FGV
Rio.
[28]
Há certo consenso entre os estudiosos de que a difusão das milícias é efeito de
sua dominação política (CANO e DUARTE, 2012; WERNECK, 2015; COUTO e BEATO,
2019; ARAUJO, 2019). Alguns programas sociais levados a territórios de pobreza
geram serviços urbanos e infraestrutura que animam as instituições locais —
como uma associação de moradores controlada por milicianos — a realizar
parcerias com o poder público. Quanto mais se expande em uma área, mais a
milícia se introjeta na estrutura estatal (COUTO e BEATO, 2019), praticando
ações ambíguas do ponto de vista legal. Cano e Duarte (2012) assinalaram que
nas comunidades em que a milícia consegue uma forte implantação, a liderança
local acaba por regular a totalidade das práticas de conduta e transações
locais, independentemente de seu caráter lícito ou ilícito. In: DUARTE, Thaís
Lemos; RIBEIRO, Ludmila. As milícias fluminenses em tempos de Covid-19: Relatos
de medos ambivalentes na imprensa? Disponível em: http://ippesbrasil.com.br/wp-content/uploads/2020/07/artigo-4-1.pdf
Acesso em 10.5.2021.
[29]
A novel infração chamada de constituição de milícia privada, a situação não é
muito diferente, embora, pela estrutura da formação desse “novo” modelo de
associação, possa produzir, in concreto, maior repercussão, mas pelos crimes
que poderá cometer, normalmente, mais violentos e sanguinários, como veremos.
No entanto, nesse caso, os crimes que o “grupo” praticar terão como objetos de
tutela outros bens jurídicos, que não se confundem com o crime associativo em
si, como pontificava Magalhães Noronha, examinando a figura da incitação ao
crime (art. 286): “Diverso, consequentemente, é o bem jurídico, aqui
contemplado, daquele que é ofendido pelo crime objeto da instigação, v. G.,
linchamento, assalto etc.”.
[30]
A Lei 12.720/12 criou nova modalidade de reunião de pessoas para delinquir, que
não se confunde com o concurso eventual, e tampouco com a formação de quadrilha
ou bando, sem cogitar no concurso para ao tráfico de drogas ilícitas (art. 35
da Lei 11.343/06). Naquele há uma associação ocasional, eventual, temporária,
para o cometimento de um ou mais crimes determinados; nesta, a associação para
delinquir é duradoura, permanente e estável, com o objetivo de praticar,
indiscriminadamente, crimes indeterminados. No concurso eventual de pessoas
exige-se no mínimo dois participantes para formar o concurso (art. 29), embora
o texto legal nada diga a respeito. Concurso eventual de pessoas é a consciente
e voluntaria participação de duas ou pessoas na prática de uma mesma infração
penal; na quadrilha ou bando a exigência mínima é mais de três associados (art.
288). Em outros termos, configura-se a quadrilha ou bando quando mais de três
pessoas formam uma associação organizada, estável e permanente, com programas
previamente preparados para a prática de crimes, indeterminados. Associação de
forma estável e permanente, com a finalidade de praticar crimes,
indiscriminadamente, é o que distingue a formação de quadrilha do concurso
eventual de pessoas. Assim, a simples organização ou acordo prévio para a
prática de crimes previamente determinados está mais para o concurso eventual
de pessoas do que para formação de quadrilha, ao contrário do que se tem
apregoado indevidamente.
[31]
A paz social como bem jurídico tutelado não significa a defesa da “segurança
social” propriamente. A rigor, bem jurídico tutelado imediato é a sensação ou o
sentimento da população em relação a segurança social, ou seja, aquela sensação
de bem-estar, de proteção e segurança geral, que não deixa de ser, em outros
termos, uma espécie de reforço a mais da própria segurança ou confiança, qual
seja, o de sentir-se seguro e protegido. Já se sustentava, nesse sentido, que
“bem jurídico objeto desses crimes é o sentimento coletivo de segurança de um
desenvolvimento regular da vida social, de acordo com as leis”. E, a nosso
juízo, essa doutrina continua atualizada e vigente em nosso sistema jurídico.
[32]
Um complexo de favelas na Zona Norte do Rio de Janeiro é conhecido como
“Complexo de Israel”, local onde impera a ação de milícias e o tráfico de
drogas, mas também muito próximos da prática evangélica. Traficantes e
milicianos se anunciam como evangélicos e têm grande penetrabilidade nessas
comunidades confessionais.
[33]
Em entrevista à DW Brasil, o pesquisador Bruno Paes Manso, que é jornalista,
economista e cientista político, autor do livro "A Guerra: a ascensão do
PCC e o mundo do crime no Brasil, em parceria com a socióloga Camila Nunes
Dias, cogitam sobre o discurso armamentista do presidente, a morte da vereadora
Marielle Franco, e a ligação da família Bolsonaro com as milícias, que, segundo
ele, é ideológica. "Bolsonaro sempre representou e defendeu uma ideia de
milicianismo, essa ideia de que as leis muitas vezes atrapalham."
[34] Há certa polaridade nos relatos da imprensa
sobre as milícias em contexto de Covid-19, iluminando as contradições e
ambiguidades em torno do assunto. Em alguma medida, este dado vai ao encontro
de pesquisas sobre o tema (COUTO e BEATO, 2019; DUARTE, 2019; ARAUJO, 2017).
Cano e Duarte (2012) pontuaram que o grau de adesão aos milicianos costuma ser
variável nas áreas sob sua influência. Algumas pessoas os apoiam, outras os
repudiam, ao passo que há aquelas sem uma opinião definida. Inclusive, um mesmo
indivíduo que parece aderir às milícias em determinado momento pode, em outro,
adotar postura diametralmente contrária. Um ponto comum nessas distintas
narrativas é o medo. O sentimento parece imperar entre os moradores e os
trabalhadores de áreas de milícias, mesmo quando alguns deles dizem
enfaticamente que esses grupos criminais não impõem temor nas rotinas
comunitárias.