Educação tempo integral
Deve-se refletir sobre a inexistência de projetos pedagógicos específicos para Escola Tempo Integral (ETI) e na necessidade de haver verdadeiro fortalecimento da instituição escolar e de seus profissionais, para além de coleção de atividades oferecidas, mas investir na transformação desse tempo ampliado em tempo para a pacificação e controle dos discentes, com muita pouca repercussão na qualidade educacional e, na aquisição da cidadania. O direito à educação não deve se acomodar sob as franjas da filantropia, será preciso realizar escolas e formular propostas pedagógicas coerentes e eficazes
Foi sancionado
em 31.7.2023 o Programa Escola em Tempo Integral que prevê investimento de
quatro bilhões de reais para aumentar em um milhão o número de matrículas de
tempo integral na educação básica ainda em 2023.
Essa
medida visa alcançar a meta seis prevista no Plano Nacional de Educação que é, in
litteris: “Oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das
escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos alunos da educação
básica”.
Em
2021, o percentual de escolas em tempo integral no país era de 22,4%, segundo o
Relatório de Monitoramento das Metas do PNE de 2022, documento mais recente
produzido pelo Inep. Já o percentual de matrículas nesse modelo estava em 15,1%
naquele ano.
A
carga horária: As escolas terão carga horária igual ou superior a 7 (sete)
horas diárias ou 35 (trinta e cinco) horas semanais. Hoje, é de cerca de 4
horas diárias. São 20 metas para a educação, desde o ensino infantil até o
superior, cada uma com um prazo próprio.
Entre
estas, estão a universalização do acesso ao ensino básico[1] (infantil, fundamental e
médio), a alfabetização e o aprendizado na idade certa, o aumento da
escolaridade da população adulta e diminuição da taxa de analfabetismo dos
adultos.
O
programa não explicita os critérios mínimos que se espera de uma escola que
oferte educação integral. Não se sabe ainda quais etapas da educação básica
serão priorizadas para a criação das novas matrículas[2].
O
acesso a recursos para ensino integral é “muito difícil” para 61% dos
dirigentes escolares, diz pesquisa. O acesso a recursos para implantação do
ensino integral no Brasil é considerado muito difícil para 61,9% dos dirigentes
de ensino do país, enquanto apenas 7,3% dizem não haver nenhum revés.
A
modalidade tornou-se política pública nacional esta semana com a sanção da Lei
14.640/2023, que institui o Programa Escola em Tempo Integral. O governo
federal irá investir R$ 4 bilhões para ampliar em 1 milhão o número de
matrículas de tempo integral nas escolas de educação básica em 2023. A meta é
alcançar, até 2026, cerca de 3,2 milhões de matrículas.
Para o
Ministério da Educação (MEC), a educação em tempo integral é a ampliação do
tempo de permanência nas escolas para um período igual ou superior a sete horas
diárias ou 35 horas semanais.
A
modalidade tem como finalidade a perspectiva do desenvolvimento e formação
integral de bebês, crianças e adolescentes a partir de um currículo intencional
e integrado, que amplia e articula diferentes experiências educativas, sociais,
culturais e esportivas em espaços dentro e fora da escola com a participação da
comunidade escolar.
Uma das atividades é criada pelos próprios
jovens, o chamado clube do protagonismo. Trata-se de clubes que funcionam nos
intervalos das aulas, onde os alunos desenvolvem atividades como teatro, dança,
xadrez, jogos de tabuleiro. “Eles aproveitam esse momento para interagirem,
para alicerçar as aprendizagens”, explica.
A Lei
de Diretrizes e Bases (LDB), Lei 9.394/1996, prevê que as escolas tenham uma
carga horária mínima anual de 800 horas, distribuídas em no mínimo 200 dias de
efetivo trabalho escolar, o que equivale a quatro horas diárias.
Para
estender a jornada escolar é uma meta prevista no Plano Nacional de Educação
(PNE), Lei 13.005/2014. O PNE estabelece a oferta de “educação em tempo
integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo
menos, 25% dos(as) alunos(as) da educação básica”.
O
Relatório do 4º Ciclo de Monitoramento das Metas do PNE 2022 mostra que o
percentual de matrículas em tempo integral na rede pública brasileira caiu de
17,6%, em 2014, para 15,1%, em 2021.
“Quando
se fala de escola integral fora do Brasil, isso não faz nem sentido se é só
escola, pois a escola já tem uma carga horária de sete horas. Estamos cogitando
em um rearranjo do sistema educacional para estar em linha com o que é visto
internacionalmente. A gente espera resultados semelhantes no Pisa [Programa
Internacional de Avaliação de Alunos] e no PIRLS [Estudo Internacional de
Progresso em Leitura], mas com uma oferta de educação em tempo inferior”, afirma
o diretor de Projetos da Fundação Lemann, Lucas Rocha.
Uma
das conquistas no novo programa é a priorização de escolas que atendam
estudantes em situação de maior vulnerabilidade socioeconômica[3].
“Uma
das preocupações que a gente tem sempre é que educação em tempo integral
normalmente tinha ficado, na história, muito dedicada a escolas urbanas, em
locais que tem população mais rica, mais branca e não atingia uma população que
não só precisa como tem direito a uma educação integral”.
Para
garantir o caráter público e democrático da educação, é fundamental que a
construção do projeto educacional de cada escola esteja comprometida com os
anseios da sociedade em geral, sem deixar de valorizar as especificidades
locais, entendendo e dando voz aos atores educacionais diretamente ligados ao
dia a dia escolar.
Na
prática, ainda são poucas as instituições de ensino que oferecem a educação em
tempo integral. A ampliação dessa oferta demanda propostas curriculares
diferenciadas, além de investimentos públicos para adequação da infraestrutura
nas escolas, formação docente e outros.
Dessa
forma, seja pelo pouco tempo em que o tema tem sido considerado pelas
secretarias de educação, seja pela complexidade conceitual e operacional do
processo, a ampliação das escolas em tempo integral não se efetivou totalmente.
Sobre tal temática surgem questionamentos como:
Qual
currículo[4] tem sido praticado nas
escolas em que foram implementadas políticas de ensino em tempo integral? De
que forma esses currículos contribuem para uma formação integral, para além do
que já tem sido feito nas escolas em que a carga horária não foi ampliada? Conhecer
e refletir, por meio da pesquisa, sobre o que ocorre nessas escolas é relevante
para que se possam fomentar novas políticas e subsidiar as que estão em curso.
Levando
em conta que o ensino integral e o ensino em tempo integral são temas
recorrentes em políticas educacionais e curriculares, vale ressaltar que a
escolha do que e como se ensina nas escolas de educação básica tem assumido
cada vez mais relevância diante de transformações sociais, econômicas e
culturais.
As
políticas educacionais[5] são políticas sociais que
contemplam um conjunto de ações que definem padrões de proteção social
implementados “pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos
benefícios sociais, visando a diminuição das desigualdades estruturais
produzidas pelo desenvolvimento socioeconômico” (Höfling, 2001).
As
políticas educacionais devem, portanto, preservar as relações sociais,
minimizar as desigualdades e favorecer a equidade e justiça social.
Entretanto,
a força dos discursos envolvidos na construção e implementação de políticas
curriculares revela que sobre a educação atuam interesses políticos com forças
desiguais, uma vez que a educação é “fortemente intersectada por opções
políticas que obedecem a lógicas de poder muito díspares e que são a expressão
de conflitos”.
Historicamente,
o currículo se apresenta como ferramenta importante na dinâmica escolar, ao
reunir os conteúdos a serem ensinados e quando fazê-los, embora seu conceito vá
muito além de tal perspectiva.
Mais
que um conjunto de conteúdos ordenados por níveis de ensino, apresentados cada
qual a seu tempo pelo ato de ensinar, o currículo deve ser resultado de uma
construção coletiva, baseada em políticas públicas educacionais e curriculares,
concebidas para atender aos desejos e às necessidades de uma sociedade. O
currículo precisa ter um compromisso com a oportunidade da escolha.
Defende-se
uma concepção de currículo que contemple a participação de estudantes,
professores, gestores e demais atores, criando condições para que o
conhecimento do cotidiano possa, aliado ao conhecimento científico e
historicamente construído, integrar a construção de um projeto educacional
identificado com a comunidade onde está inserido.
Nesse
sentido, ao trazer um histórico sobre as políticas de educação no Brasil, Dutra
e Moll (2018) enfatizam a educação integral como direito de todas as pessoas e
como possibilidade para superar a crise educacional em nosso país.
Os
pesquisadores trazem a necessidade de reestruturar o tempo escolar e o
currículo na educação básica como aspecto fundamental nesse processo, pois
somente assim pode ser possível “enfrentar a lógica que coloca os conteúdos e
disciplinas no centro do processo educacional e não o sujeito”.
Mesmo
com os progressos nas políticas educacionais para a educação integral, conforme
Dutra e Moll (2018), em 2016, com os encaminhamentos dados à construção da Base
Nacional Comum Curricular (BNCC), vinculados à uma lógica mercantil, na qual as
questões econômicas são colocadas à frente das questões sociais, a construção de
uma educação integral de caráter público e de qualidade fica ameaçada.
“A
disputa de projetos de sociedade por trás dessas mudanças interfere diretamente
na visão de escola que vivenciamos, devemos afirmar a diversificação das
atividades oferecidas para proporcionarmos aos alunos o desenvolvimento de suas
múltiplas capacidades”.
Diante
disso, não se pode deixar de lembrar que é necessária uma reflexão sobre as
concepções de educação integral nas políticas educacionais e nas propostas
oriundas dessas políticas, para compreender como estas podem afetar a vida das
crianças e dos adolescentes (Cavaliere, 2007). Com base em suas pesquisas, a
autora ressalta que é possível destacar, pelo menos, quatro concepções de
escola em tempo integral no território brasileiro.
Em
todas estas, em menor ou maior intensidade, há a preocupação com o papel da
escola[6] e, sobretudo, com a
utilização do tempo dedicado às atividades nesses estabelecimentos escolares.
A
concepção predominante de escolas em tempo integral é a assistencialista, uma
vez que: a percepção dessa concepção assistencialista como visão das escolas
dedicadas ao ensino em tempo integral nos parece bastante evidente (ou
frequente) na sociedade brasileira.
A
escola passa a ser compreendida como um espaço destinado ao atendimento dos
alunos, sobretudo daqueles estudantes oriundos das classes sociais menos
privilegiadas, suprindo necessidades como alimentação e cuidados de lazer. Há
um desprestígio do ato de educar nessa escola, com uma desvalorização do espaço
do conhecimento.
Uma
segunda visão é a autoritária, na qual as escolas dedicadas ao ensino em tempo
integral são um tipo de instituição de prevenção ao crime (Cavaliere, 2007).
Nessa
perspectiva, a escola assume o papel de “guardar” os alunos em um ambiente
hipoteticamente mais seguro que as ruas. Vê-se aí uma perspectiva muito
alinhada à insegurança, fruto da violência e do descuidado a que as pessoas
estão submetidas.
A
valorização das rotinas como solução para tais dificuldades passa a
caracterizar essa dimensão da escola de tempo integral. Percebe-se ainda uma
relação do compromisso com rotinas rígidas e a menção precoce à formação para o
trabalho[7], já nos anos dedicados ao
ensino fundamental.
Para
Cavaliere (2007), uma terceira concepção é a de que a escola de tempo integral
tem a capacidade de assumir uma formação emancipatória dos alunos, numa
concepção democrática.
De
acordo com essa percepção, o aumento da permanência dos estudantes nas escolas
está diretamente ligado ao desempenho deles em relação aos saberes escolares.
Em uma
concepção mais recente, temos uma visão de educação em tempo integral que não
depende da organização de uma escola de horário integral e que se caracteriza
como uma concepção multissetorial de educação integral. Considerando tal
concepção, o ensino em tempo integral não precisa estar centralizado em uma
instituição (Cavaliere, 2007).
Nessa
concepção de ensino de tempo integral multissetorial, “as estruturas de Estado,
isoladamente, seriam incapazes de garantir uma educação para o mundo
contemporâneo e a ação diversificada, de preferência de setores
não-governamentais, é que poderia dar conta de uma educação de qualidade”
(Cavaliere, 2007).
Diante
da diversidade de concepções de educação integral e de escolas de tempo
integral, reitera-se a relevância de investigar a implementação de políticas
curriculares para escolas de tempo integral.
A
implementação do tempo integral ainda ocorre mediante ações isoladas, todavia é
preciso conhecer e refletir sobre o que ocorre nessas escolas, para que se
possa avaliar as políticas e ampliar o processo de implementação do ensino em
tempo integral em nosso país.
Refere-se
ao currículo de uma escola municipal de tempo integral em Joinville/SC. Para
Lüdke e André (2014), os estudos de caso apresentam características gerais,
entre elas a de que visam à descoberta, pois, mesmo que os investigadores
partam de seus pressupostos teóricos, é importante que se mantenham atentos às
possibilidades do surgimento de novos e importantes elementos durante todo o
estudo, tanto na visita ao lócus da pesquisa quanto no contato com os
participantes.
Para a
implementação dessa organização curricular, é necessária uma infraestrutura
diferenciada. Conforme o PPP da escola (Joinville, 2019), o prédio escolar
possui uma área de 2.400 m., distribuídos em doze salas de aula, uma sala dos
professores, um laboratório de informática, uma biblioteca, banheiros para
funcionários e banheiros para alunos, um amplo refeitório, cozinha regular e
uma cozinha experimental, onde acontecem as aulas de práticas industriais. Há
ainda a sala de atividades complementares e uma área esportiva, que inclui um
pátio coberto, além dos espaços destinados à gestão e supervisão.
A área
física da escola apresenta ainda um conjunto de unidades didáticas destinadas
ao núcleo técnico, espaços nos quais são realizadas as práticas zootécnicas e
agrícolas.
As
unidades de práticas zootécnicas atendem à cunicultura (criação de coelhos), coturnicultura
(criação de codornas), aviários, bovinocultura, caprinocultura (criação de
cabras), suinocultura (criação de suínos), piscicultura (criação de peixes),
anacultura (criação de patos), aves ornamentais e domésticas, minhocário e
meliponário (criação de abelhas sem ferrão). Dentre as unidades de práticas
agrícolas têm-se a fruticultura, culturas anuais, horta, pastagens, mandala,
temperos, viveiro de mudas, viveiro de floricultura e horto medicinal,
ferramentaria e produção de caldo de cana (Joinville, 2019).
Ao
serem questionados sobre a infraestrutura geral da escola, necessária para a
implementação e execução do projeto educativo da instituição, para os sete
professores (100%) que atuam na base comum, a infraestrutura é adequada ou
suficiente.
No
entanto, para os quatro professores que atuam na base técnica, dois (50%)
consideram a infraestrutura adequada ou suficiente e os outros dois (50%) a
consideram como insuficiente ou inadequada. Na entrevista os gestores
reiteraram a necessidade de melhorias na infraestrutura para a base técnica,
contextualizando a realidade em que a instituição está inserida.
No que
se refere ao aumento do tempo de permanência dos estudantes na escola, a
percepção de que tal modelo de escola tem o compromisso de assumir um papel de
instituição solucionadora dos problemas sociais é muito presente; mesmo em uma
escola que se propõe à formação da qualificação em agropecuária, com conteúdos
curriculares da base técnica, a concepção assistencialista ainda pode ser
observada.
Sabe-se
que, independentemente das concepções, a estruturação de um currículo para um
projeto educacional de tempo integral deve contemplar atividades diferenciadas,
que no caso da escola aqui investigada são os projetos integrados, vinculados a
um currículo organizado numa base comum e técnica, vivenciados em espaços
incomuns em outras escolas.
O uso
desses espaços só é possível porque a escola está localizada na área rural e há
uma parceria entre diferentes secretarias municipais.
Essa construção precisa ser
resultado de um movimento coletivo, pensado para atender aos desejos e às
necessidades da comunidade em que a escola está inserida.
Compreender que o comprometimento de todos os agentes educacionais é parte desse movimento significa entender que as decisões políticas, na prática, devem ser compartilhadas de maneira democrática e atenta às particularidades locais.
Desvantagens escola integral
Apesar
dos inúmeros benefícios, há alguns pontos que devem ser refletidos pelos pais
no momento de escolher a escola dos filhos. Por isso, confira algumas situações
que podem ser consideradas desvantagens da escola integral.
Pouca
diversidade: a convivência com colegas e professores, apesar estimular a
socialização, pode interferir nas outras referências para as crianças.
Por
isso, é importante optar por uma escola com um planejamento pedagógico bem
estruturado, que proporcione diferentes atividades para as crianças e traga
profissionais para além dos que atuam na escola.
Tempo
ocioso e monotonia: sem um bom planejamento, as crianças podem ter longos
períodos de tempo ocioso. É importante que a criança tenha os momentos de
descanso e lazer, mas a ludicidade esteja presente como uma forma de promover o
seu aprendizado.
Além
disso, rotinas constantes, sem muitas novidades, podem despertar um sentimento
de monotonia. Os pais devem estar atentos para a escola integral não se tornar
um problema na vida dos filhos.
Conflitos
na relação família-escola: é uma situação recorrente os pais acreditarem que a
escola é a única responsável pela educação dos seus filhos.
No
caso do ensino integral este sentimento pode ser potencializado devido ao fato
das crianças passarem um período maior no ambiente escolar. Por isso é
importante que a relação família-escola seja cuidada ao longo de todo o
processo de desenvolvimento do aluno, e os papeis de ambos estejam bem
estabelecidos.
Questiona-se:
Escola Pública de Tempo Integral no Brasil: filantropia ou política de Estado?
A LDB
afirma em seus artigos 34 e 87 que a ampliação da jornada escolar será feita
"progressivamente", "a critério dos sistemas de ensino",
para o "ensino fundamental", nas "redes escolares urbanas".
Observa-se, portanto, que a proposição nasce com uma margem grande para
interpretações e omissões.
Existem
documentos legais posteriores que vêm refinando, embora sua condição em termos
político-legais não esteja ainda estabilizada.
No
cerne da legislação concernente, a Lei do Fundeb[8] (BRASIL/MEC, 2007) é das
mais importantes pois especifica aportes financeiros maiores para as matrículas
em tempo integral, diferenciando os acréscimos de acordo com os níveis de
ensino: creche-10%; pré-escola-15%; educação fundamental-25% e ensino
médio-30%. Assim, foi a Lei do Fundeb que primeiro recomendou a escola de tempo
integral para toda a educação básica.
Além
da LDB e do Fundeb, há os dois Planos Nacionais de Educação, estabelecidos para
os períodos 2001-2010 (BRASIL, 2001) e 2014-2024 (BRASIL, 2014) e o Plano de
Metas Compromisso Todos pela Educação (PDE 2007) (BRASIL, 2007a), que trouxeram
diretrizes relacionadas a Escola de Tempo Integral (ETI). Mesmo cientes das
diferentes naturezas e funções desses documentos para o planejamento e
regulação da educação, os apontamos ora como expressões aproximadas do pensamento
vigente na sociedade sobre o assunto em suas respectivas épocas.
Os
dois Planos Nacionais de Educação e o PDE trazem algumas diferenças entre si,
no que se refere às ETI (Escolas de Tempo Integral), a serem notadas pois que
indicam sentidos.
No
Plano aprovado em 2001 (PNE 2001) ficou estabelecida a "prioridade de
tempo integral para as crianças das camadas sociais mais necessitadas",
"para as crianças de idades menores", para as "famílias de renda
mais baixa, quando os pais trabalham fora de casa". (BRASIL, 2001)
Neste
a ETI (Escola de Tempo Integral) não aparece como um item específico, isto é,
como uma meta em si mesma. Ela aparece diluída nos itens do Plano que se
organizam pelos níveis e modalidades de ensino. Ela está presente na educação
infantil e no ensino fundamental, mas não no ensino médio.
Nas
Diretrizes da educação infantil, o foco da ETI nos "mais
necessitados" e nas "idades menores" é acompanhado da seguinte
advertência:
“Essa
prioridade não pode, em hipótese alguma, caracterizar a educação infantil
pública como uma ação pobre para pobres. O que este plano recomenda é uma
educação de qualidade prioritariamente para as crianças mais sujeitas à
exclusão ou vítimas dela”.
A
expansão que se verifica no atendimento das crianças de 6 e 5 anos de idade,
conduzirá invariavelmente à universalização, transcendendo a questão da renda
familiar. (BRASIL, 2001).
Foi
notória a presença da "bandeira" das escolas de tempo integral na
campanha eleitoral de 2014 tanto para os cargos do Poder Legislativo como do
Poder Executivo e em todos os partidos. Imaginando-se que, em geral, os
candidatos estão sintonizados com as expectativas da população, o momento
político reafirmou uma demanda social.
Não
parece haver dúvida de que uma das grandes motivações para a ampliação da
jornada escolar é a necessidade das famílias de terem as crianças e
adolescentes protegidos e assistidos durante o período de trabalho dos pais.
Essa é
uma questão presente hoje em diversos países ocidentais que, mesmo quando
possuem jornadas escolares longas, dificilmente elas são compatíveis com a
carga horária de trabalho dos adultos - pais e mães (PEREYRA, 2014), tudo
agravado pelas condições objetivas da vida cotidiana nas metrópoles.
Mas, a
explicação para o crescimento da demanda não se esgota nisso. Muitos imaginam
que mais tempo diário de escola trará resultados escolares melhores, embora
ainda não existam pesquisas conclusivas no Brasil que os relacionem.
Na
literatura internacional sobre eficácia escolar, o tempo, ou a falta dele -
necessariamente acompanhado das formas de sua utilização - é uma das variáveis
importantes (COMPÈRE, 1997; BROOKE; SOARES, 2008) na explicação dos bons e maus
resultados.
Uma
ampliação da jornada pouco ou nada amarrada ao projeto pedagógico da escola ou
ancorada na ideia da complementação, ou da mera ocupação do tempo, é
insuficiente frente ao desafio educacional que o Brasil tem pela frente e não
corresponde à expectativa da população, que, em situações já relatadas (SILVA,
2013) passa a desvalorizá-la.
Essa
solução organizacional do tempo integral, que na verdade não constrói uma
escola de tempo integral e nem cria as condições para o desenvolvimento da
chamada "educação integral", mas apenas oferece um regime escolar
diferenciado para os alunos "mais necessitados", gera uma excessiva
dispersão de objetivos, ao mesmo tempo em que não mexe com o
"coração" da instituição e pode levar a um trabalho com identidade
educacional inespecífica, ao sabor de idiossincrasias locais e pessoais, ainda
que em alguns casos ele possa aliviar tensões e situações emergenciais
relacionadas aos direitos humanos específicos da infância e da adolescência.
As
escolas são instituições complexas e uma ETI é ainda mais complexa.
Primeiramente, não temos construções escolares preparadas para a rotina em
tempo integral e todas estão ocupadas por, no mínimo, dois grupos de alunos por
dia.
Construir
e reformar escolas é condição sine qua non a um projeto de médio e longo
prazo para a implantação das ETI. Em segundo lugar, não há conceito ou prática
firmados sobre o que seja educação integral escolar.
Outra
condição, portanto, é formular/aperfeiçoar modelos de trabalho articulando
áreas disciplinares e temáticas, o que necessariamente terá que ser feito no
âmbito das discussões mais aprofundadas sobre currículo. Uma outra condição
ainda é aumentar o efetivo de professores e incorporar, regularmente e não
precariamente, profissionais de diferentes formações, para além dos
professores.
Se o
parágrafo anterior pode ser lido como extravagante frente às reais condições de
financiamento e organização da educação pública, sem as preocupações que ele
traz, as iniciativas hoje em curso de ampliação da jornada escolar podem
desvirtuar caminhos e naturalizar a precariedade do trabalho educacional,
justamente quando se pretende fortalecê-lo.
Do
ponto de vista da ação educacional cotidiana, a espinha dorsal do PME são os
monitores. As atividades desenvolvidas por eles são de natureza voluntária, nos
termos da já citada Lei n° 9.608, pelas quais recebem ajuda de custo.
Há
basicamente dois tipos de monitores: estudantes universitários e agentes
comunitários detentores de algum saber específico.
Devido
à condição precária desse vínculo de trabalho, a rotatividade desses agentes é
alta, especialmente nos grandes centros, o que agrava ainda mais as
dificuldades de integração das atividades por eles conduzidas com as atividades
da escola. Salvo exceções, há pouco contato entre eles e os professores. Em
locais onde há distribuição de bônus pelo bom desempenho da escola, prática
cada vez mais comum nos sistemas públicos de educação, os monitores, não tendo
vínculos efetivos, ficam de fora.
Um
outro núcleo importante da proposta do PME se inspira no movimento das cidades
educadoras que - com esse ou outros nomes (bairro educador, bairro-escola,
escola integrada e outros) - aparece nas experiências de ampliação da jornada
escolar.
Trata-se
de uma compreensão da cidade como lócus educativo, a requerer a presença
constante e intensiva dos estudantes nos espaços públicos, bem como a troca e
sinergia entre a escola e o seu entorno. É uma proposta inovadora e
interessante, fruto de determinadas realidades sociais, urbanas e educacionais.
No
Brasil, sua justificativa, diferentemente daquela do movimento original europeu,
é com frequência uma função da ausência de infraestrutura e espaço nos prédios
escolares para a ampliação do tempo escolar, tendo sido chamada de
"tecnologia educacional de baixo custo" em folheto de apoio ao PME.
(CIDADE ESCOLA APRENDIZ, s.d.).
Há que
se pensar se a inexistência de projetos pedagógicos específicos nas ETI,
articulados a um verdadeiro fortalecimento da instituição escolar e de seus
profissionais, para além de uma coleção de atividades oferecidas nos moldes
aqui expostos, está transformando esse tempo ampliado em tempo para a
pacificação e controle dos alunos, com muita pouca repercussão na qualidade
educacional.
Entre
um caminho que se realiza como política de Estado para a promoção do direito à
educação e outro que se acomoda nas franjas da filantropia, seja ela uma
filantropia independente ou a expressão do chamado
"filantrocapitalismo"[9] (BISHOP; GREEN, 2009) será
preciso fazer escolhas e formular propostas coerentes.
As
experiências de educação integral no Brasil estão ligadas principalmente a dois
nomes: Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro. As experiências mais conhecidas são o
Centro de Educação Carneiro Ribeiro – Escola Parque na Bahia, nos anos de 1950
e os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), no Rio de Janeiro, nos
anos de 1980. No caso de Anísio Teixeira era explícita a filiação à concepção
político, ideológica, filosófica e pedagógica de John Dewey.
Em que
pese o fato de Darcy Ribeiro[10] ter se inspirado na
experiência de Anísio Teixeira, eram distintas as perspectivas de ambos sobre a
forma de implantação da educação integral na rede pública. No caso de Anísio
Teixeira[11],
dentro do espírito do movimento escola novista, as experiências educativas eram
levadas a cabo com intenção de se constituírem em exemplos a serem seguidos.
No caso de Darcy Ribeiro, o caminho seguido
foi de implantação massiva de um modelo de organização escolar. Essas
pedagogias possuem elementos ideológicos bastante sedutores, reproduzem o panorama
ideológico da sociedade contemporânea e, sendo assim, acabam produzindo uma grande
afinidade pelo seu discurso, facilitando de forma entusiasmada sua aceitação
entre os educadores.
Justamente
por serem hegemônicas, orientam, ainda que de forma contraditória, todas as questões
relativas à educação nacional, incluindo-se os debates e os documentos oficiais
sobre educação integral.
O foco assistencialista parece acentuar-se na
atualidade, em conexão com o fato de que a visão da realidade social e
econômica brasileira é bem diferente daquela da década de 1950, com o
agravamento de uma série de problemas sociais, o que leva a se insistir ainda
mais fortemente na ideia de que a escola deveria responsabilizar-se pela
resolução desses problemas.
São atribuídas à escola responsabilidades que
extrapolam seus limites e, dessa maneira, desvia-se a atenção do fato de que o
trabalho educativo não está realizando aquilo que estaria ao seu alcance, ou
seja, a socialização do conhecimento científico, artístico, filosófico em suas formas
mais desenvolvidas.
Mas,
como socializar conhecimento quando não se tem um currículo comum a todos e o
currículo escolar está destruído? Atualmente a elaboração do currículo está
ligada à questão do respeito à diversidade cultural e ao pluralismo de ideias.
Acaba-se negando a existência de conhecimentos essenciais para a formação
humana.
Segundo
Duarte (2010), não é difícil perceber que o relativismo cultural incide
diretamente sobre o currículo escolar, acarretando sua fragmentação, podendo
levar, no limite, ao seu desaparecimento.
A
discussão sobre escola integral não pode deixar de abordar a questão do
currículo, há necessidade de se diferenciar as atividades curriculares
nucleares das secundárias. Mas, a secundarização dos conhecimentos clássicos nos
currículos escolares encontra respaldo nas orientações oficiais,
Segundo
o Manual Operacional de Educação Integral do Ministério da Educação (BRASIL,
2014), para o acompanhamento pedagógico tem-se por objetivo a articulação entre
o currículo e as atividades pedagógicas propostas pelo Plano Municipal de
Educação (PME).
Como
citado anteriormente, o currículo escolar está destruído e isso acaba
repercutindo também na educação integral. Para esse macrocampo há uma hora, uma
hora e meia de dedicação, porém não há uma articulação com os conteúdos vistos
em sala de aula, a criança chega em casa cansada das demais atividades e não
consegue realizar as tarefas escolares propostas em sala de aula – poderia
haver uma melhor articulação, como também prioridade aos conteúdos escolares –
o tempo previsto no programa para esse macrocampo acaba sendo relativamente pouco.
Quando
se refere à Comunicação, uso de Mídias e Cultura Digital e Tecnológica e são
prioritárias as temáticas de “Educação em Direitos Humanos”, “Promoção da
Saúde” e temas relacionados à Ética e Cidadania percebe-se, então, uma
supervalorização dos temas transversais, já que para as pedagogias e políticas
educacionais hegemônicas, esses temas fazem sentido para realidade social dos
alunos.
No que
diz respeito à Cultura, Artes e Educação Patrimonial, há uma grande valorização
da cultura popular em detrimento da cultura construída ao longo do tempo. Não
que seja necessário “jogar fora” a cultura popular, mas incorporar o que nela
há de melhor, apropriando-se também da cultura erudita.
É nesse contexto que acreditamos na
contribuição da pedagogia histórico-crítica e do marxismo ao campo dos debates
e políticas da educação integral, para que haja um rompimento com as posições
hegemônicas e possa dessa forma articular a educação integral à luta pela socialização
do saber sistematizado.
Considerando o discente como um ser global, a
perspectiva histórico-crítica concebe a sistematização e a socialização do
conhecimento a partir das relações entre a teoria e a prática, em um modelo
educacional que chama para si a concepção de educação integral, ressaltando “a
especificidade da escola e a importância do trabalho escolar como elementos necessários
ao desenvolvimento cultural, que concorrem para o desenvolvimento humano em
geral”. (SAVIANI, 2008).
Para Saviani, a escola tem a função de
socializar os conhecimentos científicos, artísticos e filosóficos em suas
formas mais desenvolvidas, por meio do ensino dos clássicos, ou seja, conteúdos
que resistiram ao tempo, que são importantes e necessários para uma boa
formação.
A
educação integral deve gerar no aluno uma necessidade de apropriação de conhecimentos
e fazer com que essa necessidade aumente cada vez mais, deve-se formar numa perspectiva
omnilateral, rompendo com o caráter unilateral.
É
necessário caminharmos em uma direção oposta à formação humana unilateral
provocada pelo capitalismo, é necessário caminharmos em direção à formação
omnilateral superando o individualismo, a mesquinhez e os preconceitos da
sociedade atual, denominada capitalista. Tem que haver um processo de
desprivatização do conhecimento, desprivatização da riqueza material e
intelectual da humanidade.
A educação omnilateral[12] tem compromisso com o desenvolvimento
pleno do ser humano, levando-se em conta todas as dimensões, contribuindo para
o processo de desenvolvimento das diversas dimensões constituintes do gênero
humano.
A
educação escolar é imprescindível para a formação omnilateral, mas não é
suficiente, pois a formação humana omnilateral envolve a totalidade da vida
humana.
Ao
contrário da formação humana unilateral, fragmentada e alienada, a formação omnilateral,
desenvolve o ser humano em todos os sentidos e as aptidões. A dimensão
subjetiva da existência humana deve ser para além da alienação, isso é
enfatizado na citação do Marx.
Pressupondo o homem como homem e seu
comportamento com o mundo enquanto um [comportamento] humano, só podemos trocar
amor por amor, confiança por confiança etc. Se desejar fluir da arte, terá de
ser uma pessoa artisticamente cultivada; se desejar a influência sobre outros
seres humanos, terá de ser um ser homem que atue efetivamente sobre os outros
de modo estimulante e encorajador.
Cada
uma das suas relações com o homem e com a natureza tem de ser uma externação (Äusserung)
determinada da vida individual efetiva correspondente ao objeto da tua vontade.
Se houver amor sem despertar amor recíproco, isto é, se seu amor, enquanto
amor, não produz amor recíproco, se mediante sua externação de vida (Lebensäusserung)
como homem amante não se torna homem amado, então seu amor é impotente, é uma
infelicidade. (MARX, 2004)
É
necessário investigar as propostas de educação integral, porque nem sempre o fato
de ampliar o tempo de permanência na escola caracteriza a educação no sentido
da formação integral do ser humano, pois a educação de tempo integral não é
igual à educação integral omnilateral, ou seja, uma formação no sentido
integral, de modo pleno e completo.
É preciso pensar tudo com muito cuidado, porque aquilo que pode parecer uma boa proposta, poderá se transformar em uma armadilha. Se a criança fica o dia inteiro na escola e faz mais atividades de recreação e, pouca atividade pedagógica, apenas com o objetivo de permanência no ambiente escolar, ao invés de melhorar a aprendizagem estaremos construindo um obstáculo, pois ela fica na escola o dia inteiro, mas não tem tempo para estudar, para se apropriar da cultura, não se apropria dos conhecimentos acumulados historicamente e, que são importantes para a sua formação e para sua individualidade.
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Notas:
[1]
Para atingir as metas do PNE para 2024 (universalizar a educação básica de 4 a
17 anos e atender a 50% das crianças de 0 a 3 anos) será necessária a oferta de
45,8 milhões de matrículas. Confirmadas as projeções do IBGE, o Brasil não terá
nos próximos anos uma pressão para a abertura de escolas. É seu objetivo é
garantir o acesso ao sistema educacional a todos que desejam deste usufruir,
evitar a evasão escolar, criando condições reais para o que o aluno conclua o
ciclo de aprendizagem, oferecendo aprendizado de qualidade, capacitando o
educando para a cidadania e para o mercado de trabalho.
[2]
A universalização do acesso à educação no Brasil é uma questão que antecede o
Brasil República e se faz presente na sociedade contemporânea. A origem do
sistema educacional brasileiro tem raízes em uma concepção etnocêntrica, com a
catequização assumindo função elementar, proporcionando também o letramento dos
índios na língua portuguesa (STRELHOW, 2010). O autor aborda a continuidade da
exclusão social direcionada pela educação no Brasil Império, na qual:A
identidade da educação brasileira foi sendo marcada então, pelo elitismo que
restringia a educação às classes mais abastadas. As aulas régias (latim, grego,
filosofia e retórica), ênfase da política pombalina, eram designadas
especificamente aos filhos dos colonizadores portugueses (brancos e
masculinos), excluindo-se assim as populações negras e indígenas (STRELHOW,
2010, p. 51).
[3]
O acesso e permanência nos estabelecimentos de ensino ocorre de maneira díspar
no território brasileiro. A população nordestina, por exemplo, tem média de 2,1
anos estudados a menos que a sudeste. No que se refere à taxa de analfabetismo,
a menor incidência ocorre no grupo populacional entre 15 e 60 anos de idade,
sendo 3,01 vezes menor quando comparada à população com 60 anos ou mais. Em
comum entre ambos os casos, é a regionalização da vulnerabilidade educacional.
A região Sudeste apresentou os melhores indicadores, 3,47% e 10,33%
respectivamente. Por outro lado, as regiões Norte (7,98% e 27,02%) e Nordeste
(13,87% e 36,87%) obtiveram os piores resultados. Em síntese, considerando a
média dos grupos populacionais, no Nordeste a taxa de analfabetismo é 3,68
vezes maior que no Sudeste, enquanto no Norte corresponde a 2,54 (IBGE, 2018).
[4] As fontes do currículo estruturam-se
considerando as dimensões epistemológica, filosófica, socioantropológica e
sociopsicopedagógica. • A base epistemológica: refere-se à compreensão do modo
de produção do conhecimento, que se dá pela relação entre sujeito e objeto em
circunstâncias históricas determinadas; em decorrência desta relação, o homem é
produto das circunstâncias, a mesmo
tempo em que as transforma. Não há aprendizagem sem protagonismo do estudante,
que constrói significados pela ação. • A base filosófica: a escola será
compreendida e respeitada em su especificidades temporais e espaciais, ou seja,
históricas; o currículo será organizado para atender as características das
fases do desenvolvimento humano, os aspectos cognitivos, afetivos e
psicomotores do(a) estudante e o trabalho pedagógico será flexível para
assegurar o sucesso escolar. • A base socioantropológica: fundamenta um
currículo que considera os significados socioculturais da cada prática, no
conjunto das condições de existência em que ocorrem, que envolvem o estudante e
sua comunidade; esta dimensão fornece os sistemas simbólicos que articulam as
relações entre o sujeito que aprende e os objetos de aprendizagem. • A base
sociopsicopedagógica: firma um currículo que considera a relação entre
desenvolvimento e aprendizagem; promove o desenvolvimento intelectual na
relação com o mundo; compreende a escola como espaço de trabalho cooperativo e
coletivo. Essas dimensões têm por base a relação da escola, de seus diferentes
interlocutores com o local onde se encontra, assim, a Proposta Pedagógica da
Escola é construída a partir da pesquisa socioantropológica, da articulação com
as instituições e atores sociais locais que tenham vínculos com as comunidades
do entorno da escola e das discussões feitas nos quatro segmentos que compõem a
comunidade escolar, para contemplar a diversidade em seus aspectos sociais,
culturais, políticos, econômicos éticos,
estéticos, gênero e étnico.
[5]
As políticas públicas em Educação consistem em programas ou ações elaboradas em
âmbito governativo que auxiliam na efetivação dos direitos previstos na
Constituição Federal; um dos seus objetivos é colocar em prática medidas que
garantam o acesso à Educação para todos os cidadãos. Nelas estão contidos
dispositivos que garantem a Educação a todos, bem como a avaliação e ajuda na
melhoria da qualidade do ensino no país. A partir dessa definição de políticas
públicas educacionais, é preciso avaliar criticamente em que medida, no que se
refere a direito à Educação, elas têm sido concretizadas, isto é, se de fato
têm sido corporificadas. Conceber a educação como dever moral de aprimoramento
social requer a compreensão de educação pelo Estado que, assim entendida,
torna-se um mecanismo de direito social que reverbera como um dos elementos da
providência de igualdade social. Entretanto, somente no século XX o conceito de
Educação passou a ser compreendido como mecanismo de acesso à igualdade
econômica e social, daí associada como veículo de acesso a bens culturais,
sociais e, dependendo das contingências, econômicos. Embora o direito social a
ser garantido pelas políticas públicas resultantes do Estado tenha seu início
muito tarde – no período em que o Império promulgou a Constituição Política do
Império do Brasil em 1834, que previa a educação pública e gratuita –, de todo
modo, esse "direito" se estendia apenas para a instrução primária, além
de limitar a afluência de todos os potenciais estudantes, em decorrência do Ato
Adicional de 1834, que emendou a Constituição com uma reforma de tipo
administrativa deixando a responsabilidade da instrução primária a cargo das
províncias, que, em consequência, não trouxe resultados satisfatórios sobretudo
por conta das condições socioeconômicas precárias de grande parte da população
e das próprias províncias.
[6]
A escola pública brasileira tem se deparado, com certa frequência, com
propostas, projetos e outras experiências que objetivam a expansão do tempo do
aluno na escola, notadamente por meio da criação de escolas de tempo integral.
Essa expansão é prevista na LDB 9394/96 e atualmente se configura como meta no
Plano Nacional de Educação (2014-2024), recentemente aprovado pela Lei nº
13.005/2014.
[7]
A formação de mão de obra no Brasil só começa oficialmente em 1909, com um
decreto sancionado pelo então presidente Nilo Peçanha que instituía a educação
profissional brasileira. Foram criadas 19 Escolas de Aprendizes Artífices para
atender a demanda criada pelo desenvolvimento industrial e urbanização. Já no
ano seguinte, cursos técnicos de tornearia, mecânica, eletricidade e
carpintaria foram oferecidos. Porém, é a década de 1930 que se tornou
referencial histórico para a educação profissional do Brasil. A crescente
industrialização resultou na institucionalização de escolas superiores para a
formação de recursos humanos necessários ao processo produtivo. Salto
importante foi dado nos anos 1940 com a criação do Senai. “Com o surgimento do
Sistema S, tomou impulso em amplitude de atendimento”, escreve Lidiane Soares
Wittaczik em artigo publicado na Revista E-Tech” Educação profissional
no Brasil: histórico”. “Atualmente, a formação profissional, no Brasil, ocorre
em escolas de educação profissional públicas e privadas, sendo que alcança mais
sucesso aquela que oferece ao mercado de trabalho trabalhadores que, ao mesmo
tempo, conheçam as tecnologias utilizadas pelas empresas, quanto apreendam as
novas tecnologias que surgem. Neste contexto, encontram-se as escolas de
educação profissional, com a responsabilidade de gerar saberes coletivos e
flexíveis, sintonizados com as novas bases e novas formas de organização
produtiva, fundadas na produção e difusão de inovações de cunho tecnológico,
marca presente no fechamento do século XX e identidade deste novo século”.
[8]
O Todos Pela Educação tem compromisso com a ampliação e melhoria do uso dos
recursos educacionais desde sua fundação, em 2006, sendo nossa 5ª Meta – Investimento
educacional ampliado e bem gerido. O acompanhamento dos dados educacionais
também vem sendo feito pela organização ao longo dos anos, por meio de
levantamentos e análises criteriosas a respeito do financiamento educacional
brasileiro. Em 2017, ciente do prazo de expiração do Fundeb (Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação) em dezembro de 2020, o Todos reuniu um conjunto de
especialistas para pensar em uma proposta e desenvolver estudos que
contribuíssem para a elaboração de um Novo Fundeb, mais justo e sustentável,
capaz de ampliar os recursos para a Educação, e também redistribuir recursos
aos alunos que mais precisam – felizmente o que foi aprovado pelo Congresso
Nacional, tornando-se a Emenda Constitucional 108/2020.
[9]
Filantrocapitalismo descreve como eles doam, ao aplicarem técnicas e modos de
pensar do mundo dos negócios a sua filantropia. O filantrocapitalismo é uma
forma estratégica de praticar a filantropia, tornando-a um investimento social.
Os novos filantropos, ou empreendedores sociais, criam empresas estruturadas
com a mesma lógica utilizada no mercado, fazendo o lucro e o bem social
dialogarem entre si.
[10]
Darcy Ribeiro, antropólogo, educador e romancista, nasceu em Montes Claros
(MG), em 26 de outubro de 1922, e faleceu em Brasília, DF, em 17 de fevereiro
de 1997. Eleito em 8 de outubro de 1992 para a Cadeira nº 11, sucedendo a
Deolindo Couto, foi recebido em 15 de abril de 1993, pelo acadêmico Candido
Mendes de Almeida. Entre 1992 e 1994, ocupou-se de completar a rede dos CIEPs;
de criar um novo padrão de ensino médio, através dos Ginásios Públicos; e de
implantar e consolidar a nova Universidade Estadual do Norte Fluminense, com a
ambição de ser uma Universidade do Terceiro Milênio. Em 1995, lançou seu mais
recente livro, "O povo brasileiro", que encerra a coleção de seus
Estudos de Antropologia da Civilização, além de uma compilação de seus
discursos e ensaios intitulada O Brasil como problema. Lançou, ainda, um livro
para adolescentes, Noções das coisas, com ilustrações de Ziraldo, considerado,
em 1996, como altamente recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e
Juvenil. Em 1996, entregou à Editora Companhia das Letras seus Diários índios,
em que reproduziu anotações que fez durante dois anos de convívio e de estudo
dos índios Urubu-Kaapor, da Amazônia. Seu primeiro romance, Maíra, recebeu uma
edição comemorativa de seus 20 anos, incluindo resenhas e críticas de Antonio
Callado, Alfredo Bosi, Antonio Houaiss, Maria Luíza Ramos e de outros
especialistas em literatura e antropologia. Ainda nesse ano, recebeu o Prêmio
Interamericano de Educação Andrés Bello, concedido pela OEA.
[11]
Anísio Teixeira (1900-1971) foi um importante teórico da educação no Brasil.
Foi o principal idealizador das grandes mudanças que ocorreram na educação
brasileira no século XX. Fez parte do movimento de renovação do ensino chamado
de Escola Nova. Anísio Spínola Teixeira (1900-1971) nasceu em Caetité, no
sertão baiano, no dia 12 de julho de 1900. Filho de fazendeiros estudou no
colégio jesuíta São Luís Gonzaga em sua cidade natal. Em 1914 ingressou no
colégio Antônio Vieira, em Salvador. Em 1931 mudou-se para o Rio de Janeiro
onde trabalhou como funcionário do Ministério da Educação e Saúde Pública e
logo depois como diretor-geral do Departamento de Educação do Distrito Federal.
Anísio Teixeira fez parte de um grupo de educadores interessados em remodelar o
ensino no país, oferecendo um ensino livre e aberto. Esse movimento foi chamado
de Escola Nova, que ganhou maiores proporções com a divulgação do “Manifesto da
Escola Nova”, em 1932. Em 1935 criou a Universidade do Distrito Federal, no Rio
de Janeiro. Em 1936, perseguido pela ditadura Vargas, demitiu-se do cargo de
diretor e regressou a Bahia. Em 1946, Anísio Teixeira foi nomeado Conselheiro
de ensino superior da UNESCO. Em 1947 assumiu novamente a pasta da Educação do
Estado da Bahia. Nesse período criou a Escola Parque, em Salvador, que se
tornou um novo modelo de educação integral. De 1952 a 1964, Anísio Teixeira foi
diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), realizando
trabalhos para a valorização da pesquisa educacional no país. Em 1955 criou o
Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais e os Centros Regionais de São Paulo,
Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia e Pernambuco.