Dia do Folclore

O folclore brasileiro é reconhecido como um dos mais ricos do mundo. Afinal, é através dele que mantemos a sabedoria popular, as estórias e mesmo a histórias que são passadas de geração em geração e que fazem parte de nossa identificação cultural e social.

Fonte: Gisele Leite

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Saci-Pererê discutia com o Curupira, ele era um menino de pouca estatura, negro e com uma perna só (pois. perdera a outra perna jogando capoeira). Sendo famoso por gostar de fazer travessuras, queimar comidas e ainda pregar peças nas pessoas apagando as luzes da casa. Herdou o pito, uma espécie de cachimbo, e ganhou da mitologia europeia um gorrinho vermelho[1].

Já o Curupira é personagem de origem indígena sendo registrado pela primeira vez por Padre José de Anchieta. É considerado o guardião da floresta[2]. Também de baixa estatura, mas é vistoso pois, possui cabelos vermelho e tem os pés virados para trás. É dono de um forte e sonoro assovio que utiliza para espantar para bem longe os caçadores que prejudicam a mata e os animais.

O saci queria assustar os caçadores com a escuridão enquanto o Curupira desejava fazê-lo com seu potente assovio. Foi quando então entrou em cena o Boitatá ou Cobra-de-Fogo também de origem indígena que desejava espantar os predadores com suas chamas. Também foi descrito pelo Padre José Anchieta em 1560.

Logo, a Cuca[3] veio "dar o ar de sua graça", aliás, ela se sente uma celebridade por conta das inúmeras estórias de Monteiro Lobato[4].  Como bruxa maldosa, sua aparência é em forma de jacaré com fartos cabelos loiros (do tipo “loiro de farmácia”). A Cuca tão ladina que é, sugeriu que todos fizessem que os caçadores caíssem nas suas próprias armadilhas e ficassem pendurados de cabeça para baixo.

Em sua obra intitulada "Geografia dos Mitos Brasileiros", Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) afirmou que a Cuca é um mito de origem portuguesa relacionado à Santa Coca, figura que aparecia nas procissões da província do Minho, em Portugal. Também no Minho, "cuca" é o nome popular de uma espécie de abóbora que costumava-se perfurar com contornos de olhos e boca, e dentro da qual era colocada uma vela acesa (de forma semelhante ao que se faz no Halloween americano). Outra origem possível seria o “Farricoco”, personagem que acompanhava a procissão de Passos, no Algarve, também em Portugal."

Então, foi a hora da Iara ou Mãe D'Água intervir, como bela sereia de cabelos longos e pretos e seus encantadores olhos verdes, sugeriu que levassem os predadores para o lago e, lá num mergulho dar-lhes um belo susto, com a ajuda do Boto[5] que é uma espécie de golfinho de água doce e que, por vezes, se transforma num belo rapaz durante as festas típicas e que agitam o povo ribeirinho. Aliás, conta a lenda que se tornou popular no século XIX que o boto ao assumir a figura humana que veste roupas brancas e usa um bonito chapéu,  sendo um sedutor irresistível.

Irritado com a falta de consenso, Saci falou que então cada um impusesse aos caçadores e aos predadores o castigo que melhor entendessem...

O bom mesmo, seria a magia eficiente que fizesse surgir uma consciência de que preservar as matas, os rios e os animais, enfim, significam também preservar a qualidade de vida e as gerações futuras.

Infelizmente, os seres humanos são uma espécie única de superpredadores com tamanha eficiência que ultrapassa todas as regras existentes do mundo animal, sendo até quatorze vezes superior as outras espécies caçadoras.

Viva o dia 22 de agosto, o Dia do Folclore.

O folclore representa a cultura popular e revela a identidade de um povo, sua história, crenças e, principalmente, seus costumes e tradições. Viva o folclore brasileiro!

Em 22 de agosto é comemorado no mundo todo o Dia do Folclore. Nessa data, no ano de 1846, o arqueólogo britânico William John Thoms enviou uma carta especial para a revista literária Athenaeum. Em sua carta, John sugeria que as tradições populares fossem chamadas de folklore. Palavra de origem etimológica inglesa onde - folk significa povo, nação, raça e - lore corresponde ao ato de ensinar, instrução, educação e lição.

O Dia do Folclore no Brasil surgiu por meio de um decreto assinado pelo presidente Humberto Castello Branco, em 1965. Esse foi o decreto nº 56.747, assinado no dia 17 de agosto de 1965. O objetivo era incentivar estudos na área, assim como, de garantir a preservação do patrimônio folclórico do Brasil. No bojo do decreto, existe referência direta a William John Thoms e ao seu pioneirismo na pesquisa das culturas populares.

Referências

CÂMARA CASCUDO, Luís da. Geografia dos mitos brasileiros. São Paulo: Global, 2012.

________________________ Dicionário do folclore brasileiro. São Paulo: Ediouro, s/d, p. 183."

LOBATO, Monteiro. O sítio do Picapau amarelo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981. Disponível em: extension://elhekieabhbkpmcefcoobjddigjcaadp/https://www.fortaleza.ce.gov.br/images/Cultura/O_Picapau_Amarelo_-_Monteiro_Lobato.pdf Acesso em 22.08.2022.

Notas:


[1] Mas o “chapéu” do Saci advém do folclore do norte de Portugal, ou seja, da colonização europeia. Tanto é que o gorro era utilizado pelo lendário Trasgo, que também contava com poderes sobrenaturais.  Para saber se um Saci-Pererê está perto ou longe, é preciso observar o tempo. Se algum redemoinho aparecer, é sinal de que ele está bem próximo. Redemoinhos são semelhantes ao tornado, porém mais fracos.

[2] Ainda existe uma data comemorativa associada ao curupira. Essa data é comemorada no dia 17 de julho e é conhecida como Dia da Proteção das Florestas ou Dia do Protetor das Florestas. Como já vimos, o papel de protetor da floresta estava associado ao curupira, e daí vem sua relação com essa data.

[3] A origem da Cuca está na Coca (ou Coco) das lendas ibéricas, tradição que foi trazida para o Brasil possivelmente na época da colonização. Uma das versões da lenda da Cuca diz que, a cada 1.000 anos, brota de um ovo uma nova Cuca. Então, a Cuca "antiga" se transforma em um pássaro de canto triste, enquanto a nova Cuca assume seu papel, fazendo maldades maiores do que a anterior.

[4] O primeiro escritor a cogitar do Saci-Pererê foi Monteiro Lobato. Com o título "Mitologia Brasílica - Inquérito sobre o Saci-Pererê", ele colheu de leitores de um jornal, em 1917, diferentes narrativas de versões do mito. O resultado foi a publicação, no ano seguinte, da obra “Saci-Pererê: resultado de um inquérito”, primeiro livro do escritor. Com a transposição dos textos de Lobato para a televisão, Saci ultrapassou o imaginário, foi personificado e se transformou em um dos personagens mais famosos do nosso folclore.


Gisele Leite

Gisele Leite

Professora Universitária. Pedagoga e advogada. Mestre em Direito. Mestre em Filosofia. Doutora em Direito. Conselheira do INPJ. Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Consultora Jurídica.


Palavras-chave: Folclore Cultura Popular Patrimônio Cultural Brasileiro Cultura Brasileira Identidade Nacional

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