Biografia do Bruxo. Magia ou feitiço?[1]

Machado de Assis (Joaquim Maria Machado de Assis), jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 21 de junho de 1839, e faleceu também no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1908. É o fundador da cadeira nº. 23 da Academia Brasileira de Letras. Entre as mais importantes biografias de Machado de Assis já publicadas estão os trabalhos de Alfredo Pujol (Machado de Assis, 1917); Lúcia Miguel Pereira (Machado de Assis – estudo crítico e biográfico, 1936); Manuel José Gondim da Fonseca (Machado de Assis e o hipopótamo, 1960); Luís Viana Filho (A vida de Machado de Assis, 1965); Jean-Michel Massa (A juventude de Machado de Assis 1839-1870, 1971); Raimundo Magalhães Júnior (Machado de Assis – vida e obra, 1981); e Daniel Piza (Machado de Assis – um gênio brasileiro, 2005).  Machado de Assis faleceu no Rio de Janeiro, no dia 29 de setembro de 1908. Em seu velório, compareceram as maiores personalidades do país. Rui Barbosa[2], um dos juristas mais aplaudidos da época, fez um discurso de despedida com elogios ao homem e escritor.

Fonte: Gisele Leite e Ramiro Luiz Pereira da Cruz

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A vida de Machado de Assis[3] situou-se em 1838, quando o Rio de Janeiro era a capital do país contendo apenas trezentos mil habitantes, em grande parte escrava, sendo iluminada por lampiões a óleo de baleia, com transporte precário movido por tração animal e tendo farto ambiente insalubre pelas ruas estreitas. Todas as belezas naturais estavam sufocadas por falta de higiene. Havia apenas quatro canais que levavam os esgotos para o mar e os mangues.

Não existiam fossas sanitárias. Dejetos domiciliares, incluindo fezes que eram  levados para as praias em carroças ou em tonéis carregados na cabeça por escravos (os chamados tigres, de quem todos fogem apavorados por causa do cheiro nauseante e do receio de um tropeço ou esbarrão que pode respingar fezes nos pedestres e nas ruas).

As doenças epidêmicas mataram muitas pessoas e, os morros cariocas abrigavam estabelecimentos militares, religiosos e os ricos, com suas chácaras e casarões, os pobres serão expulsos para lá somente a partir da virada do século XIX para o XX.

O Morro do Livramento abrigava uma grande família rica de origem portuguesa, com muitos agregados e escravos. Um dia, chega ali o pintor de paredes e dourador Francisco José de Assis, um “pardo forro”, de 32 anos, para prestar serviço.

Logo conheceu e se apaixonou pela imigrante açoriana Maria Leopoldina Machado da Câmara, de 26 (vinte e seis) anos, que veio menina com a família para o Brasil. Ela costurava, bordava e fazia outros trabalhos como agregada no casarão.

Eles  se casaram em 19 de agosto e 10 (dez) meses depois, em 21 de junho de 1839, nasceu Joaquim Maria Machado de Assis, que recebeu o nome em homenagem aos padrinhos. O garoto terá infância pobre e difícil, porque a mãe morrerá de tuberculose quando ainda tiver 9 (nove) anos, e também sofrerá crises de epilepsia.

Ainda no Rio de Janeiro, 1908. Em meio ao alargamento das avenidas e às medidas de saneamento para combater epidemias, o consagrado escritor Machado de Assis, fundador e presidente da Academia Brasileira de Letras o que revolucionou a literatura brasileira com realismo e forte crítica social em obras fundamentais como “Dom Casmurro”, “Memórias póstumas de Brás Cubas” e “Quincas Borba”. Faleceu, aos 69 (sessenta e nove) anos, em 29 de setembro[4].

Junto ao caixão, Rui Barbosa, o orador supremo da época, escalado como porta-voz da ABL, deu sua definição de Machado de Assis:  "Eu quase não sei dizer mais. [...] Não é o clássico da língua; não é o mestre da frase; não é o árbitro das letras; não é o filósofo do romance; não é o mágico do conto; não é o joalheiro do verso. É o exemplar, sem rival, entre os contemporâneos da elegância e da graça, do aticismo e da singeleza no conceber e no dizer; é o que soube viver intensamente da arte, sem deixar de ser bom".

A sua obra apesar de escancarar a escravidão e o racismo e das feições afrodescendentes delineadas por sua máscara mortuária, em seu atestado de óbito constou que ele era branco. Assim, começou a construção de uma farsa.  Um branco, elitista, um “europeu heleno”. E mais ainda,  na visão de seus críticos, indiferente à escravidão em sua vida e em sua obra.

Durante um século, esse será o perfil de Machado de Assis imposto por uma elite branca à cultura brasileira. Afinal, como o maior escritor brasileiro poderia ser afrodescendente num país com racismo estrutural?, indaga o professor Eduardo de Assis Duarte, do Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos Literários, da UFMG.

Para afastar de vez essa falácia biográfica e resgatar o Machado verdadeiro, Eduardo de Assis Duarte acabou de lançar a terceira edição, revista e ampliada, do livro Machado de Assis afrodescendente[5].

Escreveu uma antologia completa sobre a afrodescendência machadiana, reunindo crônicas, contos, críticas de teatro publicadas em jornais, poemas[6] e trechos de romances sobre o tema. Compõem a obra também detalhadas análises críticas dos textos de Machado relativos à questão étnica.

O resultado é uma obra brilhante, perene e singular, digna de consulta para o meio acadêmico e essencial também para o leitor comum sobre a extensa e profunda crítica de Machado à elite branca, à escravidão e a outras injustiças do seu tempo.

Com análises concisas e exemplos contundentes, o professor Assis Duarte desconstruiu o perfil branco e europeu de Machado e, mais ainda, o propalado absenteísmo em relação à escravidão, ao racismo e ao sistema produtivo reinante.

“Indagar a respeito da porção afrodescendente de Machado de Assis até recentemente soava estranho para muitos de seus leitores. Não só as literaturas lusófonas do século XIX foram, desde sempre, consideradas espaço esteticamente branco, onde pontificam heróis construídos a partir de uma perspectiva europeia, portadora quase sempre de uma axiologia cristã, mas, também a própria tradição literária que vige no Brasil nos remete à Europa e não à África”, diz o professor na obra.

“Tais lugares-comuns, somados à ausência de um herói negro em seus romances, fundamentam em grande medida a tese do propalado absenteísmo machadiano quanto à escravidão e às relações interétnicas existentes no Brasil do século XIX”, avalia o autor.

Epiléptico e gago, Machado de Assis foi vendedor de balas e sacristão da Igreja Nossa Senhora da Lampadosa, uma irmandade negra, na Avenida Passos, no Centro. Ele nunca frequentou escola ou faculdade, mas foi considerado um dos mais brilhantes autodidatas do seu tempo.

Ao longo do século XX, foram cometidos muitos equívocos sobre a descendência e a obra de Machado[7], lembra o professor, principalmente devido ao estilo dissimulado em tratar temas como a escravidão em sua obra. “De fato, nada mais adverso à escrita de autor-caramujo, especialista em disfarces de toda ordem, do que o projeto de uma literatura missionária e panfletária”, ressalta.

Afrodescendente em pleno período escravista, escrevendo em jornais lidos pela elite, trabalhando em empregos públicos e vivendo de aluguel, era natural que Machado não tivesse uma atuação militante e panfletária, ressaltou  Eduardo de Assis Duarte.

O livro de Eduardo de Assis Duarte destaca, então, trechos representativos do tema em Ressurreição (1872), Helena (1876), Iaiá Garcia (1878), Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Casa Velha (1886), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó[8] (1901) e Memorial de Aires (1908) e ainda de crônicas, contos e poemas de todas as fases da vida de Machado.

Em seu livro “Anjo Rafael”, Machado de Assis previu a existência da doença mental folie à deux[9] (delírio a dois, em português) antes de ela ser descrita. A obra conta a história de uma filha que é “contagiada” pela loucura do pai, enlouquecendo também. Anos depois da publicação, o mal foi descoberto por pesquisadores. Como se não bastasse, o brasileiro também descobriu a cura para a doença: afastar a pessoa saudável de quem tem o problema mental.

Essa edição ampliada inclui, inclusive, o conto A mulher pálida, a curiosa história de um rapaz que procura a mulher mais pálida do mundo para se casar, uma sátira à eterna obsessão brasileira pela branquitude europeia.

A respeito da afrodescendência de Machado de Assis é ainda polêmica, pois não apenas as literaturas lusófonas do século XIX foram, habitualmente, consideradas um locus esteticamente branco, onde despontavam heróis construídos, a partir de perspectiva europeia e dentro da axiologia cristã, mas igualmente, seguiu assim a tradição literária brasileira.

Quanto a barba e o bigode que eram quase obrigatórios entre os homens do seu tempo, teria como fito o disfarce de traços negroides . Além de cogitar em polêmicos retoques para branquear[10] a pele na fotografia da época.

Segundo Magalhães Jr.[11], a imagem serviu de modelo a um desenho de bico de pena e gouache, em que o escritor aparece com as feições branqueadas. Da mesma forma, o Machado dos retratos mais conhecidos, como os de Insley Pacheco (Joaquim José Insley Pacheco), passa por mulato[12], ou até branco.

— É uma indicação de que as fotos de Machado costumavam ser retocadas no Brasil — opinou Duarte. — Não é uma coincidência que a foto em que ele aparece mais negro tenha sido publicada na Argentina.

Machado de Assis era afrodescendente em pleno período escravista, escrevia em jornais mais lidos por toda elite, trabalhou em empregos públicos, vivendo de aluguel, era natural que Machado não tivesse atuação militante e panfletária, ressaltou Eduardo de Assis Duarte. Do contrário, seria perseguido. A opção, portanto, veio com fina ironia e dissimulação no perfil de “autor-caramujo”[13] em suas obras a denunciar a escravidão e outras questões sociais.

Hélio Seixas Guimarães destaca a ironia presente em Memórias Póstumas de Brás Cubas como fator determinante na obra que se tornou um clássico da narrativa nacional. “A ironia presente ali não é simplesmente inverter o sentido, mas de abrir várias possibilidades. São intervalos de sentido. Foi possível ler Machado de Assis pensando que aquilo é sério ou para ser lido literalmente. Mas é possível interpretar o texto de várias maneiras”, comenta.

Ao longo do tempo, Machado de Assis teve sua obra questionada por, aparentemente, não questionar de maneira mais direta problemas latentes do século XIX no Brasil, como a escravidão.

A estratégia de caramujo, aliás, adotada e declarada, aos leitores atentos, em uma crônica de 1893 (cinco anos após a abolição da escravatura) mostrou um autor negro que aprendeu andar pelas frestas, pelas ambiguidades das relações sociais da burguesia brasileira, e não mudou muito o modo como racismo brasileiro é velado, porém, não menos existente e contundente.

Foi o mais encolhidos dos caramujos conforme retrataram Eduardo de Assis Duarte e Lillia Moritz Schwarcz.  Afinal, escrever sobre a podridão dentro da própria podridão é genial e assentou as representações como Brás Cubas, Bentinho, Capitu[14] e, José Dias, Rubião, Quincas Borba, Cândido Neves que exibe toda a ideologia burguesa, eurocêntrica e branca.

A “estratégia de caramujo” de Machado é, portanto, uma singularidade de um gênio produzida por nossas maiores chagas: a escravidão e o racismo, velado ou não.

Contudo, Joaquim Maria não se dobraria ao ambiente, mas sim criaria uma casca, um casulo protetor, como o de um caramujo, de onde poderia mover-se lentamente, por letras, por palavras, poderia fazer suas críticas, deixando um rastro no chão, quase imperceptível para quem tinha olhos distraídos; mas bastaria olhar mais de fora, por uma espécie de exotopia, para enxergar a estratégia de um “bruxo caramujo” e seu rastro, como podemos agora ver, ler e nos deliciar.

Portanto, a “estratégia de caramujo” declarada pelo autor foi seu modo de denunciar o racismo em suas entranhas mais perversas, inconscientes e veladas. Racismo tão agudo e estrutural que logrou embranquecê-lo em fotografias em campanhas publicitárias e em livros, ao longo das décadas. A “estratégia de caramujo” é, portanto, mais uma forma de denúncia machadiana à podridão burguesa e, principalmente, ao racismo.

Há diversos trechos representativos como nas obras: Ressurreição (1872), Helena (1876), Iaiá Garcia (1878), Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Casa velha (1886), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1901) e Memorial de Aires (1908) e ainda de crônicas, contos e poemas de todas as fases da vida de Machado de Assis.

“O tom do discurso machadiano é corrosivo”. Engendrou contra-narrativa ao pensamento hegemônico da época – cuja ideia mestra entronizava o ‘escravismo benigno’ praticado nos trópicos pelo colonizador à miscigenação, afirmou Eduardo de Assis Duarte.

Tal ideologia se aprimorou ao longo do século XX e primou por construir uma leitura do nosso passado histórico em que o tempo do cativeiro surge emoldurado pelo mito da democracia racial[15] para substituir a brutalidade pela tolerância e o rebaixamento do outro pela mestiçagem”, apontou Assis Duarte.

Novamente, em oposição ao sistema vigente é o racismo brutal presente no conto "Pai contra mãe", que mostrou como um capitão do mato e caçador de escravos foragidos, foi obrigado a entregar o filho recém-nascido para a adoção por não ter como sustentá-lo.

Já quando em captura de escrava fugitiva e fica indiferente quando ela aborta bem na sua frente. E, sua reação foi: "Nem todas as crianças se vingam".  Assim, nas suas narrativas denunciou as atrocidades escravagistas de seu tempo.

O curioso é que o negros e mestiços representam 54% da população brasileira, a cada vinte e três minutos um negro é assassinado no país, em uma proporção quase quatro vezes maior do que o mesmo risco corrido pelos brancos. Cerca de 80% dos policiais mortos no Rio de Janeiro, em 2019, eram negros. Esses dados revelam uma patologia social vinculada à desigualdade e ao racismo estrutural[16].

Não podemos acusar Machado de Assis de não ter feito um jornalismo onde as questões negras e abolicionistas eram abordadas.

Fez denúncia antirracista e profundamente antissistêmica. Mostrou-nos como um caramujo-escritor, deixando o rastro na terra, deixando o rastro em palavras e crítica, fez seu sinal de alertar sobre a sociedade que se apoia em pseudociências (como o racismo). Genial, Machado ironizou seu tempo e os modos de vida que o circundavam.

A grande musa inspiradora de machado foi Carolina Augusta Xavier de Novaes, a portuguesa e o grande amor do escritor e influente nas suas obras. Entre os anos de 1869 até 1904, o casal permaneceu unido, até quando Carolina veio a falecer aos setenta anos de idade.

O escritor não teve filhos[17].  Em carta de Machado para o amigo Joaquim Nabuco, historiador, in litteris:

      "Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo. Note que a solidão não me é enfadonha, antes me é grata, porque é um modo de viver com ela, ouvi-la, assistir aos mil cuidados que essa companheira de 35 anos de casados tinha comigo; mas não há imaginação que não acorde, e a vigília aumenta a falta da pessoa amada. Éramos velhos, e eu contava morrer antes dela, o que seria um grande favor, escreveu."

Quando Carolina faleceu, o escritor publicou seu último soneto, "A Carolina", uma obra comovente. E, em 1908 publicou a obra com tons autobiográficos, Memorial de Aires. Machado de Assis foi enterrado no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, ao lado do túmulo da companheira, e ainda pediu que tão logo morresse fosse queimado o móvel onde guardava relíquias de amor, bem como as cartas tocadas com Carolina quando ainda eram namorados, havia até pedaços do véu da noiva, a grinalda, os sapatos de cetim usados no dia do casamento.

Consta em sua biografia que o namoro entre Machado de Carolina não fora aprovado pela família da moça, que já integrava uma elite intelectual. Por sua escolha, Carolina uniu-se a alguém de nível abaixo, o que foi determinante para que ele tivesse estabilidade emocional e também transitasse entre os intelectuais. Como esposa o incentivou a ler em inglês e a conhecer os clássicos da literatura britânica.

Machado de Assis não permitia que Carolina participasse de conversas com os escritores e homens cultos que os visitavam. “Habituada em sua terra ao convívio de grandes intelectuais, amigos de seus irmãos, ela abdicou de si mesma para se dedicar exclusivamente ao homem que tanto amava e tanto lutou para desposar.

Machado de Assis era um notável enxadrista tanto que participou do primeiro campeonato brasileiro do esporte.  Cometeu uma gafe histórica. Na segunda edição da obra Poesias Completas, no prefácio, publicada em 1902, a palavra "cegara" foi substituída, na expressão "lhe cegara o juízo", saiu um inusitado cagara. Diz a lenda que o próprio

Machado teria participado de um mutirão para corrigir os exemplares antes que chegassem ao público. O que se sabe é que  alguns escapara e saíram com tal erro.

Em 1888 foi condecorado pelo então imperador Dom Pedro II com a ordem rosa e, meses depois indicado para fazer parte da Secretaria de Agricultura. E, mais tarde, chegou a ser diretor-geral da viação da Secretaria da Indústria, Viação e Obras Públicas.

Desde os primeiros estudos críticos sobre a obra de Machado de Assis, a brasilidade do escritor jamais deixou de ser problematizada, ainda que sob diferentes perspectivas interpretativas. Críticos como José Veríssimo[18], Sílvio Romero e Araripe Júnior debateram, principalmente, a existência ou não do nacional nos escritos de Machado de Assis. Alguns pensavam que seria de outra natureza, de caráter mais íntimo e interno e, também, por isso mesmo melhor, ainda que tal qualidade não fosse facilmente percebida.

Sílvio Romero, a seu turno, era duro em seu discurso e, por vezes até ofensivo e desrespeitoso, acusou Machado de ser um macaqueador das formas de outras autores estrangeiros.

A partir de meados de 1930, no contexto do Estado Novo e da Era Vargas, momento que o nacionalismo despontou com pedra de toque, novos críticos pareceu ganhar ênfase, novamente explorando o viés nacional. Lúcia Miguel-Pereira, Astrojildo Pereira[19], Roger Bastide e Mário de Andrade debateram e fizeram dessa questão o foco principal de suas leituras sobre a obra machadiana.

Astrojildo Pereira influenciado por estudos marxista, interpretou com equívocos os romances e contos do Bruxo, tal como de "Pai contra mãe"[20], contaminando-se por suas paixões políticas e ideológicas sua leitura e crítica. Também se deve ao fato de haver péssimas traduções dos textos de Karl Marx e Engels a que teve acesso. Enxergou o autor como sendo um homem de seu tempo e de seu país. Na concepção de Astrojildo Pereira, um romancista do Segundo Reinado.

Já Lúcia Miguel-Pereira trouxe à baila a origem humilde de Machado de Assis bem como sua afrodescendência. A negritude de Machado nem era mais contestada, mas utilizada para legitimar seu temperamento.

Outra contribuição foi de Roger Bastide[21], que trouxe um dos textos mais curiosos desse período, para a discussão do nacional no autor Memórias Póstumas, traduzindo-o como paisagista íntimo, pois centrava-se em analisar internamente seus personagens. O estudioso francês defendeu o escritor que se preocupava com o ambiente, que o insere de forma tão natural em suas narrativas, tornando difícil de ser plenamente observável.

A contribuição de Mário de Andrade, em uma série de ensaios, escritos, em grande parte, em comemoração ao centenário de nascimento do escritor, também abordou a questão da nacionalidade. Mas, trouxe visão ambígua que o crítico tinha sobre Machado de Assis, apesar de jamais duvidar das qualidades literárias do romancista, mesmo que veja que em alguns momentos, renegou sua origem negra.

Lá pelos idos de 1970, começou a se concretizar novo padrão de leituras e, foi Raymundo Faoro[22] que trouxe brilhante compêndio de referências para a obra de Machado de Assis, e trouxe a leitura à luz do estamento social, jogando pá de cal nas reticentes dúvidas a respeito da brasilidade do escritor. O que permitiu abrir caminho para sucessão de críticos mais interessados em analisar as relações entre literatura, história do Brasil, Direito e, outras ciências sociais.

Foi Roberto Schwarz[23] talvez o melhor exemplo de tradição crítica, tendo sido discípulo de Antonio Cândido e leitor assíduo de Theodor Adorno[24], ao analisar na forma literária as estruturas sociais.  Nas Memórias póstumas, a narração de Brás Cubas é  lida a contrapelo, e suas características – a volubilidade e a desfaçatez, por exemplo  – entendidas como representativas da classe do narrador.

O nacional, claro, não é  mais alvo de desconfiança, mas de problematização radical: tratar-se-ia de um  nacional negativo, não interessado em expor nossas belezas e qualidades, mas de  marcar nossas contradições mais graves. Esse nacional não nasceria, a princípio,  apenas de um gênio superior de Machado, porém, mais que tudo, da posição que o  escritor ocupa na história da literatura brasileira.

Seguindo a trilha cavada por Schwarz veio John Gledson[25] e retirou do esquecimento uma pequena novela intitulada "Casa Velha"[26], conferindo um olhar desconfiado ao padre-narrador. Uma espécie de proto-Bentinho, ao narrar a história de casal proibida, em razão da diferença de classe social, e, ao final chega-se a legitimar a separação. O crítico britânico também ofereceu outras leituras e buscou nas tramas, datas e nomes de personagens da obra machadiana as alusões à história do Brasil.

Contemporaneamente, os críticos tiveram inspiração e, novamente, o nacionalismo é realçado nos trabalhos de Sidney Chalhoub e o magnífico Eduardo de Assis Duarte. Eduardo de Assis Duarte, por sua vez, tem um olhar mais centrado no problema da  escravidão e na negritude de Machado.

Seu livro “Machado de Assis  afrodescendente” foi publicado quase cem anos após a discussão entre Nabuco e  Veríssimo sobre o uso da palavra mulato para definir o escritor, morto pouco antes.  Duarte procura demonstrar, no volume organizado por ele, através de um artigo e de contos, crônicas e trechos de romances selecionados, o olhar do escritor, que não  renega sua origem, como durante tanto tempo se aventara.

O ponto mais aperfeiçoado dessa crítica estaria nas leituras a contrapelo dos  narradores dos romances, que propiciaram interpretações originais, que revigoraram  os estudos sobre Machado de Assis. As discussões se deslocaram  consideravelmente dos assuntos de ordem filosófica, metafísica e psicológica, para  passarem a se centrar na classe, etnia e gênero dos narradores-personagens.

Entre as interpretações originais, destaca-se a de “Dom Casmurro”, em que não apenas  um crítico, mas diversos, contribuíram na reconfiguração dos significados da obra na  contemporaneidade.

O estudo pioneiro de Helen Caldwell, O “Otelo brasileiro de  Machado de Assis”[27], embora não traga discussões sobre a questão nacional, abriu  caminho para outras leituras em que a figura do narrador é problematizada em sua  marca de classe, de gênero e de etnia. Silviano Santiago, John Gledson e Roberto  Schwarz tiveram papel importante nessa virada crítica sobre o romance.

Tal virada, para Schwarz, aconteceu em um âmbito maior, e passou a trazer  assuntos para a pauta crítica sobre a obra do escritor, que antes mal e mal eram  esboçados: desfaçatez de classe, relações entre periferia e centro, modernização  conservadora, intelectualidade, escrita e representação social, tornaram-se temas  presentes nessas leituras.

Contemporaneamente, outros grupos se autodenominam como porta-vozes da modernidade brasileira e propõem reformas que podem fragilizar ainda mais a condição dos trabalhadores brasileiros e que correspondem a maior parte da população brasileira. E, aí vem nesse lastro a reforma trabalhista, a reforma previdenciária e, dando maior poder e validade aos acordos entre empregadores e empregados.

Somos forçados a manter a desconfiança diária e necessária dos narradores como Brás, Bento e Aires que pertencem a elite e vivem na periferia do capitalismo. Mas, nos resta questionar que contará ou quais versões prevalecerão para narra as histórias de Prudêncio, Capitu[28] ou ainda dos escravos de Santa-Pia?

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Notas:

[1] Um feiticeiro é alguém que nasce com magia, podendo utilizá-la de forma intuitiva. No feiticeiro a magia é um poder natural. Um bruxo é alguém que não possui magia naturalmente, obtendo ela através de um contrato ou pacto com alguma entidade (um demônio ou outra entidade, por exemplo). As palavras magia, mago e mágico vêm do latim magus, através do grego μάγος, que vem do antigo persa maguš. (mago). Em persa antigo magu- é derivado do protoindo-europeu *magh (poder). A palavra feitiço  veio do Latim facticius, “não pertencente ao mundo natural, artificial, de imitação”, do verbo facere, “fazer”. Aliás, a palavra feitiço foi levada para a África pelos portugueses e de lá voltou para a Europa com os franceses, como fétiche, nosso atual “fetiche”. Os termos bruxaria ou feitiçaria ou ainda, menos comumente, embruxação, bruxação, embruxamento, bruxamento, bruxedo etc., têm sido de uso corrente da língua portuguesa, designando o uso de poderes de cunho sobrenatural, sendo também utilizada como sinônimo de magia, feitiçaria, sortilégio ou encantação. Já feitiço, deriva do latim facticius .a um ("fictício, artificial, não-natural"), é um vocábulo muito antigo na língua portuguesa, sendo registrado já no século XV. Inicialmente significava "postiço, artificial": chave feitiça era uma chave falsa, e briga feitiça era apenas de faz-de-conta. Logo, no entanto, assumiu o seu significado atual de "encantamento". Com o avanço português pela costa da África, os nativos adotaram o termo, modificando-lhe a pronúncia para /fe.′ti.xu/; os franceses, que então conheceram o vocábulo, importaram-no com a forma de fétiche, que foi reimportada por nós no século XIX, com o sentido de "objeto ao qual se atribui um valor sobrenatural" ou "objeto ou parte do corpo em que certos indivíduos vão buscar excitação erótica". A palavra "bruxaria" tem etimologia que é incerta, mas acredita-se venha do italiano brucia(queima), que vem do verbo bruciare(queimar) ou de brixtia, que vem do nome da deusa gaulesa Bricta. Outros indícios indicam que a palavra bruxa nasce na Era Antiga na Península Ibéria, que sua origem seria anterior a invasão romana e por consequência anterior ao próprio latim, portanto.

[2] Discurso de Rui Barbosa pronunciado na Academia Brasileira, junto do ataúde de Machado de Assis, aos 29 de setembro de 1908, minutos antes de partir o féretro para o cemitério de S. João Batista. In: Obras Completas de Rui Barbosa, Discursos Parlamentares. Volume XXXV (1908), Tomo 1.

[3] Machado de Assis, mulato que nasceu livre, se educou pelos próprios esforços, numa sociedade abalada repetidamente por crises sociais – da metade do século XIX em diante. Era uma época em que um dos maiores movimentos sociais – envolvendo mulatos livres e intelectuais liberais – era a libertação dos escravos.

[4] O velório teve lugar primeiro em sua casa, no Cosme Velho. Euclides da Cunha, jornalista e romancista, eleito para a ABL em 1903, conta em seu artigo A última visita como foram os momentos finais em volta do mestre. Mas aquela placidez augusta [de Machado no leito de morte] despertava na sala principal, onde se reuniam Coelho Neto, Graça Aranha, Mário de Alencar, José Veríssimo, Raimundo Correia e Rodrigo Octavio, comentários divergentes. Resumia-os um amargo desapontamento. De um modo geral, não se compreendia que uma vida que tanto viveu as outras vidas, assimilando-as através de análises sutilíssimas, para pô-las transfigurar e ampliar, amorfoseadas em sínteses radiosas –, que uma vida de tal porte desaparecesse no meio de tamanha indiferença, num círculo limitadíssimo de corações amigos. [...] Nesse momento, precisamente ao enunciar-se esse juízo desalentado, ouviram-se umas tímidas pancadas na porta principal da entrada. Abriram-na. Apareceu um desconhecido, um adolescente de dezesseis ou dezoito anos no máximo. [...] Não disse uma palavra. Ajoelhou-se. Tomou a mão do mestre; beijou-a num belo gesto de carinho filial. Aconchegou-o depois por algum tempo ao peito. Levantou-se e, sem dizer palavra, saiu. [...] Pelos nossos olhos passara a impressão visual da Posteridade.

[5]A  Lei 10.639/2003 instituiu o ensino de história da África e de história e cultura afrobrasileiras na educação básica. Tal lei foi conquistada porque as políticas afirmativas e o movimento negro venceram para implementar noções que pudessem alterar o lugar dado socialmente ao povo afro-brasileiro durante séculos, modificando seu status de objeto para o de sujeito e, construindo contranarrativa para instaurar novos paradigmas através de estética e autoria própria.

[6] “A derradeira injúria”, poema de Machado de Assis publicado  em uma coletânea luso-brasileira comemorativa dos cem anos da morte de Pombal (1885).  Relaciona-se o texto (narrativa imaginativa de um episódio póstumo) aos festejos do 1º  centenário fúnebre do marquês no Rio de Janeiro (1882), atentando-se a como se mobiliza  o passado pombalino no poema e em outros impressos que abordam tanto as celebrações  quanto o discurso histórico difundido sobre Pombal.

[7] As obras de Machado podem ser divididas em duas fases: Romântica (de 1872 a 1878) e Realista (de 1881 a 1908). Entre as principais características, estão: Crítica à burguesia e à sociedade de maneira geral; Ironia; Metalinguagem; Diálogo direto com o leitor. Publicou um total de 10 romances, 10 peças teatrais, 200 contos, 5 coletâneas de poemas e sonetos e mais de 600 crônicas.

[8] Esaú e Jacó foram filhos de Isaque, netos de Abraão. A história deles está relata em Gênesis, primeiro livro da bíblia. Antes mesmo de nascerem o Senhor havia dito que o mais velho serviria o mais novo, e que duas nações estavam sendo geradas no ventre de Rebeca, esposa de Isaque e mãe dos meninos. Os dois irmãos cresceram e Esaú se transformou em um homem muito habilidoso com a caça. Isaque amava mais a Esaú porque gostava da caça, mas Raquel amava a Jacó. Certo dia, Jacó cozinhou uma carne. Esaú chegou cansado do campo e pediu a Jacó que lhe desse um pouco de carne.

[9] Folie à deux é uma síndrome rara definida como o compartilhamento de sintomas psicóticos entre dois ou mais indivíduos. Este relato descreve o caso de um paciente do sexo masculino, com 15 anos de idade, diagnosticado com transtorno delirante induzido (folie à deux, subtipo folie imposée). Folie à deux, ou transtorno delirante induzido, é uma síndrome rara caracterizada por transferência de delírios de um sujeito considerado primariamente psicótico para um ou mais sujeitos considerados secundários em relação à origem do delírio. Apesar de ser um diagnóstico considerado raro, e até por isso esquecido nos tratados psiquiátricos atuais, nosso artigo descreve um caso de folie à deux entre mãe (sujeito delirante primário) e filha (paciente previamente saudável e secundariamente psicótica) que teve sucesso terapêutico e evolução muito favorável.

[10] O escritor e ensaísta goiano Martiniano José Silva, na obra ” Racismo à Brasileira: Raízes Históricas”, ( Editora Popular, Goiânia, 1985), dedica um dos capítulos do livro a estudar a literatura de Machado de Assis em contraposição a sua situação racial. Martiniano, mais contundente que Simone, faz uma análise impiedosa do escritor, mostrando diversas facetas de sua negação a sua cor. Selecionamos alguns trechos da obra de Silva para quer possam ser comparados e refletidos num tópico tal como ” Literatura e relações raciais no Brasil”.

[11] Os biógrafos o acusam ainda de ter abandonado a madrasta negra Maria Inês, que se encontrava viúva, depois que se tornou escritor conhecido. Machado tinha trauma do passado pobre, e por isto, tendia a se afastar de tudo que remetia a ele. Ou como escreveu o crítico Álvaro Moreyra, em ” A Notícia”, 29-8-1939: ” O descendente de africanos não quis receber o legado de sua miséria. Disparou da origem. Substituiu a condição humana pela condição literária. Foi um grande escritor. Não foi um grande homem. O povo nunca o compreenderá”. A madrasta de Machado de Assis se chamava Maria Inês da Silva, e foi para ele uma segunda mãe. Dois anos depois, em 1856, o autor publicou seu primeiro poema, intitulado “Ela”, no jornal Marmota Fluminense. Ainda em 1856, passou a trabalhar como aprendiz de tipógrafo na Tipografia Nacional.

[12] São muitas as passagens em que Lúcia Miguel-Pereira, em seu "Machado de Assis: estudo crítico e  biográfico", recorda a cor de Machado. Em uma delas, a autora relata a profissão de baleiro que  Machado teria tido, na infância: “Nesse mister é que se ocupou Maria Inês, e o menino, o mulatinho,  enteado da cozinheira, aceito na casa por caridade, ficou encarregado de vender as quitandas”  (MIGUEL-PEREIRA, 1988, p. 42); em outra, descreve-o como uma criança triste e negra, mas já  curiosa pelos mistérios da vida: “A vida já devia ser inexplicável para o mulatinho triste que a sentia  fortemente, nos contatos da rua.” (MIGUEL-PEREIRA, 1988, p. 27).  No entanto, na mesma época em  que Lúcia escreveu seu trabalho, a menção à negritude de Machado parece ainda causar mal-estar  em alguns autores. É o que se percebe no trabalho de Modesto de Abreu, Biógrafos e críticos de  Machado de Assis, de 1939: “É uma preocupação obsedante, a da Sra. Lúcia Miguel-Pereira, de  acentuar e frisar bem por todo o livro, o ‘molequismo’ e o ‘mulatismo’ de Machado de Assis. Nas  trezentas e trinta e tantas páginas de seu texto, encontrei perto de 40 vezes a indelicada restrição  racial, o que equivale à proporção de 1 para 10, ou uma alusão de dez em dez páginas”.

[13] "Houve sol, e grande sol, naquele domingo de 1888, em que o Senado votou a lei, que a regente sancionou, e todos saímos à rua. Sim, também eu saí à rua, eu o mais encolhido dos caramujos, também eu entrei no préstito, em carruagem aberta, se me fazem favor, hóspede de um gordo amigo ausente; todos respiravam felicidade, tudo era delírio. Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto." Cinco anos após sancionada a abolição da escravatura no Brasil, um nobre “caramujo” resolve escrever as bem talhadas linhas acima. Na descrição da alegria popular pela conquista da liberdade, em crônica publicada em 14 de maio de 1893, fica evidente o olhar fascinado de um Machado de Assis ainda pouco conhecido – e discutido – por leitores e crítica especializada: o escritor comprometido com o debate da questão escravocrata.

[14] Quanto Capitu finalmente engravida e gera o filho, Ezequiel (nome em homenagem ao amigo), Bentinho se sente traído, pois não consegue tirar da sua cabeça que ele é, na verdade, fruto da traição entre ela e seu amigo Escobar. Bentinho, vale ressaltar, não é o único advogado na obra de Machado. Assim como as referências jurídicas, os bacharéis abundam em suas páginas — e, como muitos críticos já notaram, quase todos se revelam maus profissionais. Basta lembrar o Gonçalves do conto “Pílades e Orestes”, que “não era grande advogado, mas, na medida de suas habilitações, era distinto”. Segundo Matos, um dos poucos competentes — ou, pelo menos, não incompetentes — da criação machadiana é o Osório de “Memorial de Aires”.

[15] Assim, o mito da democracia racial era uma distorção do padrão das relações  raciais no Brasil, construído ideologicamente por uma elite considerada  branca, intencional ou involuntariamente, para maquiar a opressiva realidade  de desigualdade entre negros e brancos. Havia, no Brasil, os elementos para a fabricação ideológica do  mito da democracia racial. Desde o período colonial, passando pela época do  Império, a classe dominante foi treinada a ver os negros como seres inferiores,  mas, simultaneamente, aprendeu a abrir exceções para alguns indivíduos  negros e mulatos. As raízes históricas do mito da democracia racial remontam ao século XIX, impulsionadas: a) pela literatura produzida pelos viajantes que visitaram o país; b) pela produção da elite intelectual e política; c) pela direção do movimento abolicionista institucionalizado; d) pelo processo de mestiçagem.

[16] O racismo estrutural é o racismo que está presente na própria estrutura social. Segundo essa concepção, o racismo não seria uma anormalidade ou "patologia", mas o resultado do funcionamento "normal" da sociedade. Deste modo, nas palavras de Silvio Almeida, a sociedade seria uma "máquina produtora de desigualdade racial". O termo foi desenvolvido em parte para ajudar as pessoas que trabalham em prol da equidade racial a enfatizar a ideia de que o racismo na sociedade é um sistema, com uma estrutura clara e com múltiplos componentes. O conceito de racismo estrutural é também usado para a defesa de ações afirmativas, como a implantação de cotas raciais em universidades, pois, se a própria estrutura da sociedade é racista, a desigualdade racial tenderá a se perpetuar, caso algo não seja feito a respeito.

[17] Se pela voz de Brás Cubas o escritor Machado de Assis afirmava que não teve filhos porque não queria transmitir a nenhuma criatura o legado de nossa miséria, seu legado comprova-nos que transmitiu a todas as criaturas um sentido verdadeiramente superior de nossa condição.

[18] José Veríssimo Dias de Matos (Óbidos, 8 de abril de 1857 — Rio de Janeiro, 2 de dezembro de 1916) foi um escritor, educador, jornalista e estudioso da literatura brasileira, membro e principal idealizador da Academia Brasileira de Letras. Ao lado de Sílvio Romero e Araripe Júnior, seus contemporâneos, foi um dos primeiros e maiores historiadores da literatura brasileira. De sua obra História da Literatura Brasileira assoma a crítica e, em especial, uma constante preocupação em se definir um caráter tipicamente nacional dos escritores do país. Afiliado ao Naturalismo, foi um dos expoentes na crítica literária e na historiografia das letras no Brasil. Como educador, teceu importantes análises sobre os problemas do sistema educacional do país na jovem República, herdeira de problemas como a recente escravidão, e tantos outros. Veríssimo foi mais que um fundador do Silogeu brasileiro: talvez mesmo seu próprio idealizador, ao lado de Lúcio de Mendonça. A todas as reuniões preparatórias fez-se presente e um dos seus mais assíduos membros. Ele defendia uma academia voltada exclusivamente à literatura - e por seus pares foi eleito um não-escritor (o político Lauro Müller), afasta-se de forma definitiva em 1912 desta Casa pela qual tanto lutara.

[19] Astrojildo Pereira Duarte Silva (Rio Bonito, 8 de outubro de 1890 — Rio de Janeiro, 20 de novembro de 1965) foi um ex-anarquista, escritor, jornalista, crítico literário e político brasileiro, fundador do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1922. Foi preso pela Ditadura militar brasileira em outubro de 1964, no mesmo ano do golpe de estado após seu nome e de outros membros do PCB, do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISBE)  e da mídia comunista terém sido entregue aos militares. No dossiê sobre Astrojildo, estavam listados o fato de ter sido um dos fundadores do partido e sua ligação com Luís Carlos Prestes - um dos maiores líderes da esquerda brasileira. Na prisão, seus problemas cardíacos aumentaram e foi levado para o Hospital da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Por meio de um Habeas corpus em janeiro de 1965, foi liberado da prisão e a imprensa disse que se considerava um "marxista convicto".

[20] O conto “Pai contra mãe” apresenta duas temporalidades distintas. Uma delas é aquela em que se coloca o próprio narrador, que fala de um momento posterior à abolição da escravatura no Brasil. A outra é a que diz respeito ao tempo da ação em si, que é anterior a esse fato. A estrutura do conto demarca essas duas temporalidades de forma explícita: o texto pode ser dividido em duas partes – a primeira, contendo uma explanação de caráter histórico informativo; e a segunda, que traz a narrativa. Assim, esta última assume a condição de ilustração do ponto de vista desenvolvido na primeira. É o que se pode chamar de exemplum, gênero literário medieval utilizado para adornar os sermões de pregadores da época.  Na parte introdutória, o narrador trata de algumas práticas associadas ao período da escravidão, entre as quais aquela que será exercida pelo protagonista do conto – caçador de escravos. Na parte narrativa, desenvolve o tema, mostrando as angústias do protagonista no exercício de sua profissão. Como ponto comum às duas partes, temos a prática de um recurso muito frequente em toda a obra machadiana: a ironia. Logo no início, ao tratar da escravidão, ele afirma: “Eram muitos [escravos], e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada”. Depois, na narrativa, o mesmo procedimento aparece: “[...] não davam que comer, mas davam que rir, e o riso digeria-se sem esforço”. Como se pode notar, manifesta-se aqui o humor sombrio típico do escritor.  Mas a grande ironia fica por conta da situação em que é colocado o protagonista: para salvar a vida do filho, Cândido tem que entregar aos donos a mulata Arminda, que acaba por abortar. Na oposição entre eles, temos as mesmas razões de luta – a família, a prole – mas, para a satisfação de um dos lados, é preciso que o outro sofra. Na verdade, tanto Cândido quanto a mulata são vítimas do mesmo sistema: o escravismo. Assim, a crítica do conto tem seu alvo bem definido. E o acerta em cheio

[21] Roger Bastide (Nîmes, 1 de abril de 1898 — Maisons-Laffitte, 10 de abril de 1974) foi um sociólogo francês. Formou-se pela faculdade de Letras de Bordeaux e pela Sorbonne. Antes de fixar-se no Brasil, escreveu Problèmes de la vie mystique (1931) e Éléments de sociologie (1936). Como membro da "missão francesa" contratada para núcleo do corpo docente da Faculdade de Filosofia de São Paulo, lecionou quase vinte anos no Brasil (1937-1954), onde recebeu o título de "doutor honoris causa" pela Universidade de São Paulo. Foi membro das sociedades de sociologia e psicologia de São Paulo, de antropologia no Rio de Janeiro, de folclore no Rio Grande do Norte, e do Instituto Histórico do Ceará. Em 1973, Bastide reeditou "Brasil, terra de contrastes". Em seguida, aposentado, trabalhou no Centro de Psiquiatria Social em Paris, fundado por ele. O seu último livro, "Sociologia da desordem mental", utilizou resultados de pesquisas deste Centro. Em 1951, recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade de São Paulo.

[22] Raimundo Faoro (pronuncia-se "Fauro"; na grafia arcaica, escrevia-se Raymundo Faoro; Vacaria, 27 de abril de 1925 — Rio de Janeiro, 15 de maio de 2003) foi um jurista, sociólogo, historiador, cientista político e escritor brasileiro. Foi presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), de 1977 a 1979,[1] e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). É autor do livro Os Donos do Poder, em que analisa a formação sociopolítica patrimonialista do Brasil. Raymundo Faoro é autor de Os Donos do Poder, obra que aponta o período colonial brasileiro como a origem da corrupção e burocracia no país colonizado por Portugal, então um Estado absolutista. De acordo com o autor, toda a estrutura patrimonialista foi trazida para cá. No entanto, enquanto isso foi superado em outros países, acabou sendo mantido no Brasil, tornando-se a estrutura de nossa economia política. Nesta sua concepção de Estado patrimonialista, Faoro coloca a propriedade individual como sendo concedida pelo Estado, caracterizando uma "sobre propriedade" da coroa sobre seus súditos e também este Estado sendo regido por um soberano e seus funcionários. O autor assim nega a existência de um regime propriamente feudal nas origens do Estado brasileiro. O que caracteriza o regime feudal é a existência da vassalagem intermediando soberano e súditos e não de funcionários do estado, como pretende Faoro.

[23] Roberto Schwarz (Viena, 20 de agosto de 1938) é um crítico literário e professor aposentado de Teoria Literária brasileiro. Um dos principais continuadores do trabalho crítico de Antonio Candido, redigiu estudos sobre Machado de Assis elencados entre os mais representativos na fortuna crítica sobre o autor das Memórias Póstumas de Brás Cubas. Entre os estudos literários de Roberto Schwarz destacam-se os ensaios sobre Machado de Assis. Ao Vencedor as Batatas (1977) trata da primeira fase machadiana e sua relação com o romance Senhora, de José de Alencar. Um Mestre na Periferia do Capitalismo (1990) aborda o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas. Dentre seus ensaios menores sobre Machado de Assis, destacam-se “Complexo, moderno, nacional e negativo” (também sobre Brás Cubas, em Que Horas São?), “Duas notas sobre Machado de Assis” (linhas biográficas e estudo sobre Quincas Borba, em Que Horas São?), “A poesia envenenada de D. Casmurro” (incluído em Duas Meninas), “A viravolta machadiana” (2004) e “Leituras em competição” (2006).

[24] Theodor Adorno foi um filósofo, sociólogo, musicólogo e crítico musical alemão. Também foi um dos maiores críticos da degradação gerada pelo capitalismo em nome das forças que mercantilizam a cultura e as relações sociais. Para Adorno, a psicologia precede a política. Seu foco não recai tanto sobre os aspectos econômicos do capitalismo, pois está interessado nas configurações culturais que esse possibilita. Dessa maneira, Adorno foi um dos fundadores da famosa "Escola de Frankfurt", junto a nomes como Herbert Marcuse, Jürgen Habermas, Max Horkheimer e Wilhelm Reich. Recebeu muitas influências de pensadores como Hegel, Marx e Freud, bem como de Lukács e Walter Benjamin, com quem conviveu. Adorno considerava a sociedade enquanto objeto e abandona a ideia de produção cultural autônoma em relação à ordem social vigente. Por sua vez, sua perspectiva está embasada na Dialética de Hegel, apesar de divergirem em alguns pontos. Com isso, critica o Positivismo Lógico e a Razão Instrumental, pois estes não aceitam a dualidade existente entre o sujeito e objeto. Por outro lado, Adorno admite a presença do irracional no pensamento, do qual as obras de arte são um grande exemplo. Elas são um reflexo mediado do mundo real, expresso por uma linguagem (artística).

[25] John Gledson (Beadnell, 1945) é um tradutor, ensaísta, crítico literário inglês e professor aposentado da Universidade de Liverpool especializado em língua portuguesa, literatura brasileira, e especialmente nas obras de Machado de Assis, que tem escrito livros importantes sobre a correlação entre os romances e as crônicas de Machado com sua época. Viaja para o Brasil desde a década de 1970 e é mestre e doutor em Literatura Comparada pela Universidade de Princeton, nos EUA. Também selecionou contos para o livro "50 Contos de Machado de Assis, da Editora Companhia das Letras.

[26] A história se passa no Rio de Janeiro em um período próximo a 1839. Narrada em primeira pessoa, a novela de Machado de Assis parte da perspectiva de um padre que se propõe a escrever sobre o Primeiro Reinado, de Dom Pedro I. O narrador-personagem inicia sua preparação fazendo pesquisas, recolhendo os materiais necessários e, assim, descobre uma casa onde poderia consultar periódicos e manuscritos que seriam valiosos para seu trabalho. A questão é que tal casa, pertencia a ex-ministro e, agora era habitada pela viúva Dona Antônia e seu filho Félix e ainda por agregados como a jovem Lalau. Com seu jeito manipulador e carismático além de envolvente, o padre se aproxima dos moradores do local, conquista a confiança da viúva e, se envolve nas tensões familiares da casa, evidenciando certas contradições e paradoxos da formação da sociedade brasileira da época.

[27] Como o próprio título sugere, Helen Caldwell compara a obra de Machado de Assis a de outro grande escritor, um bem conhecido em sua língua materna: Shakespeare. Mas as comparações não se limitam a Otelo e Dom Casmurro, embora esse seja o maior foco da análise. A autora busca elementos de diversos textos shakespearianos para explicar referências contidas no romance de Machado de Assis. Outros autores e referências da história mundial também são dissecados pela autora, no decorrer das páginas, mostrando o quanto a obra machadiana é rica e complexa, como aqueles seriados cheios de teorias que adoramos assistir. A análise de Helen Caldwell, dessa forma, acaba por se transformar em um guia para toda a obra machadiana, em especial Dom Casmurro, Ressurreição e Memorial de Aires, sendo esses últimos praticamente complementares ao primeiro, nas palavras da autora. Helen enche os olhos do leitor e da leitora ao esmiuçar toda a simbologia contida em Dom Casmurro, desde nomes e sobrenomes de personagens, até o uso de cores e elementos da natureza, além de evidenciar pistas e capítulos-chave deixados por Machado de Assis para que consigamos ter uma visão melhor do mistério que ronda toda a trama.

[28] Essa culpabilização da personagem é questionada oficialmente pela primeira vez por Helen Caldwell (2008), quando põe em dúvida a infidelidade impingida a Capitu. Realizando um estudo comparativo com a tragédia shakespeariana Otelo, a autora centra-se nos aspectos intertextuais da obra de Machado para revelar os sofismas e ardis das acusações de Bento e absolver Capitu do crime que lhe fora falsamente imputado. Um a um, os argumentos de Bento são descontruídos e demonstrada a malícia, astúcia e dissimulação, não de Capitu, mas do narrador, personagem ambíguo e nada confiável, cujo testemunho precisa ser lido com cuidado e atenção. Assim como Desdêmona é incriminada por Iago através de meias palavras e sutis subterfúgios que plantam em Otelo a semente do monstro de olhos verdes, o leitor também é envolvido lentamente na teia tecida por Bento e se convence do adultério. Mas, Caldwell nos lembra, apesar de encontrar a morte pelas mãos de seu amado, Desdêmona era inocente. O lenço achado por Otelo entre as coisas de Cássio é a prova cabal da infidelidade da esposa; em Dom Casmurro o lenço é a semelhança física entre Ezequiel e Escobar, filho e pai.  Mas a exemplo do lenço plantado por Iago, as feições de ambos são similares apenas para Bento. Invertendo a peça jurídica montada pelo narrador, a autora acusa que a traição efetivamente existiu, mas da parte de Bento, que não amou sua esposa como ela o amara, e permitiu que seu ciúme a matasse e conspurcasse sua memória.

Palavras-chave: Direito Literatura Biografia História do Brasil Sociologia Machado de Assis

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