A volta do (neo) fascismo na Itália

Por Gisele Leite.

Fonte: Gisele Leite

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Depois de um século, a extrema-direita italiana retorna ao poder, novamente. O partido “Irmãos da Itália”, juntamente com as legendas de direita Liga e Forza Itália conquistou o maior número de votos nas eleições nacionais do país, e, com isso, indicará a nova primeira-ministra da Itália. Giorgia Meloni é francamente admiradora de Mussolini  apesar de rejeitar o rótulo de fascista, se tornará a primeira mulher a governar a Itália.

Os resultados publicados deram liderança prevalente à coalização de direita da qual Meloni faz parte, os partidos dos grupos unidos perfazem entre 41 a 45% de votos, o que dá aos três partidos, o controle de ambas as casas eleitas do parlamento e a possibilidade de formar um governo.

O partido de Meloni tem suas origens políticas fincadas no Movimento Social Italiano (MSI) que qual phênix ressurgiu das cinzas do fascismo de Mussolini. Aliás, o referido partido exibe logotipo dos partidos de extrema-direita do pós-guerra, a chama tricolor que ,muitas vezes é interpretada como sendo o fogo queimando no túmulo de Mussolini.

Cumpre recordar que a Itália passou por um processo diferente de desnazificação conforme ocorrera na Alemanha depois da Segunda Guerra, permitindo que os partidos fascistas se reformassem.

A propósito, Giorgia Meloni não deseja abandonar o referido símbolo posto que seja a identidade da qual não deseja escapar, é sua própria juventude. O professor Gianluca Passarelli, de Ciência Política da Universidade Sapienza de Roma, afirma que o partido dela não é fascista. Explica que o fascismo significa tomar o poder e destruir o sistema. Porém, existem alas no partido que são ligadas ao neofascismo.

O neofascismo, em geral, inclui o ultranacionalismo, a supremacia racial, o populismo, o autoritarismo, o nativismo, xenofobia e o sentimento anti-imigração, bem como oposição à democracia liberal, parlamentarismo, liberalismo, marxismo, capitalismo. comunismo e socialismo.

Em sua obra de 2021, “I am Giorgia”, ressaltou que não é fascista, mas se identifica com os herdeiros de Mussolini e, ainda afirma que: "Peguei o bastão de uma história de setenta anos".

Afirmou ser pró-Otan e pró-Ucrânia e, deseja renegociar o grande plano de recuperação para Covid-19 da União Europeia e, afirma desejar ver um presidente eleito na Itália por voto popular. Lembrando que para mudar a Constituição italiana precisará de uma maioria de dois terços no atual Parlamento.

Vociferando o velho lema controverso: Deus, pátria e família, Meloni faz campanha contra os direitos LGBT, é favorável ao bloqueio naval da Líbia para impedir embarcações de migrantes cheguem à Europa e, alertou repetidamente ser contra os migrantes muçulmanos.

Clama por uma posição italiana diferente em relação ao órgão executivo da União Europeia, afirma que "queremos deixar a Europa, queremos deixar de fazer coisas malucas".

Analistas afirmam que Meloni não é propriamente um perigo para a democracia, e sim, para a União Europeia, afirma o Professor Passarelli, que a situa bem ao lado dos líderes nacionalistas da Hungria e da França.

Deseja uma Europa das Nações, onde todos estão basicamente sozinhos. Assim, a Itália poderá se tornar um autêntico Cavalo de Tróia de Putin para enfim minar a solidariedade ao seu oponente, então a vitória de Meloni permitirá o enfraquecimento da Europa.

Afirma, Meloni, sua identidade feminina, porém o faz de forma machista e política. O domínio da família italiana é mesmo da “mamma”. Mas, é a figura machista que contra a cozinha e, assim, ela atinge o âmago do sistema italiano.

Essa vitória da líder de 45 anos representa uma mudança política radical na Itália, que é esperada em face de sua longa estagnação econômica e uma sociedade liderada por políticos longevos e provectos.

Com a maioria nas duas casas do Parlamento, a aliança vencedora poderá formar um governo. Como as novas regras mudaram o Parlamento, que encolheu em um terço, doravante, haverá 400 deputados na Câmara e, 200 senadores.

A Itália tem sistema de votação híbrido em que três oitavos, cerca de 36% dos membros são eleitos por representação uninominal. Assim, se o candidato obtiver o maior número de votos em determinado distrito uninominal ganhará o lugar, mesmo que tenha apenas uma pequena margem em comparação com o oponente mais próximo.

Os demais são eleitos por representação proporcional e os assentos são atribuídos às listas partidárias de acordo com a sua quota total de votos em nível nacional. Existem também assentos reservados para candidatos residentes no exterior.

O partido de Meloni não tem experiência no governo italiano, de forma que precisará de total apoio dos ex-primeiros-ministros tal como Silvio Berlusconi e Matteo Salvini que fizeram parte do governo Draghi. Apesar de ser o primeiro-ministro da Itália mais velho, Berlusconi, de 85 anos, está concorrendo às eleições para o Senado pela primeira vez dede que fora barrado em 2013 por fraude fiscal. Seu partido que é de centro-direita Forza Itália é visto como o mais fraco dos três partidos.

Já a Liga de Matteo Salvini é parceiro natural para Meloni, pois como ministro do Interior fechou campos de imigrantes e impediu que embarcações de ONGs que transportavam os imigrantes fossem resgatados do Mediterrâneo e entrassem no porto italiano.


Gisele Leite

Gisele Leite

Professora Universitária. Pedagoga e advogada. Mestre em Direito. Mestre em Filosofia. Doutora em Direito. Conselheira do INPJ. Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Consultora Jurídica.


Palavras-chave: Volta Neofascismo Itália Extrema-direita Retorno Poder

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