A morte de Deus e o Direito como muleta metafísica
A difícil obra de Nietzsche nos ensina a questionar os dogmas, mitos e a moral dominante. Ao tratar do niilismo, da vontade de potência, da filosofia do martelo e, ainda, da democracia abordou temas muito contemporâneos e, ainda por decifrar plenamente.
Nietzsche foi filólogo, aquele que estuda
a língua em todos seus aspectos, além de filósofo, crítico cultural, poeta e
compositor alemão do século XIX. Prolífero escritor que discorreu sobre vários
temas religião, cultura, moral, filosofia e ciência. Não sendo mesmo fácil
interpretar sua obra, pois foi escrita em forma de aforismo, isto é, através de
sentenças concisas, sem obedecer aos aspectos formais da linguagem, ou seja,
segundo uma estruturação lógica. Literalmente, escreveu conforme as ideias lhe
surgiam à cabeça.
De suas obras é possível obter conceitos
que são importantes chaves para o entendimento humano. Principalmente quando
tratou de niilismo, a morte dos deuses, ou de deus[1], a
vontade de potência, a filosofia do martelo e a democracia que devem ser
interpretados conjuntamente.
Relevante sublinha que o niilismo no
sentido comum é o oposto do niilismo de Nietzsche. O sentido dado pelo filósofo
alemão significa levar a vida pautada por valores supremos, por ideologias e
por ideias supremas.
A ideia principal do niilismo é justamente
negar e repudiar as pulsões em nome de verdades absolutas. E, consiste em
abster-se de realizar condutas que, apesar de prazerosas do ângulo
materialista, estão em colisão com os princípios supremos. Desta forma, em nome
e em prol de valores absolutos, nega-se o mundo da vida, isto é, o mundo
material e do prazer.
Em sua obra "Crepúsculo dos
Ídolos"[2]
afirmou que Platão fora um niilista e, concluiu porque este cogitava em mundo
sensível, que é o mundo da ilusão, onde se encontram a maioria das pessoas, tão
aprisionadas no mundo iluminado, onde só conseguem ver sombras de imagens
manipuladas por outros; E, cogitou também em um mundo inteligível, que
corresponde ao mundo dos filósofos, constituído por verdades absolutas, valores
absolutos e, onde o ser liberta-se da caverna e pode lançar seu próprio olhar
sobre e para o mundo iluminado.
Acontece que Nietzsche, em sua genialidade
extrema, critica tal polarização, pois a partir desta, Platão escraviza o
homem, que sequer é alertado do que seriam esses dois mundos e como seria,
afinal, possível sair da caverna para galgar o mundo das verdades.
O filósofo alemão, também considerou
Aristóteles também como niilista. O pensamento aristotélico possui como
referência o "cosmos" que é certa noção de mundo ordenado, onde cada
um possui uma atribuição dentro do sistema. E, se a máquina cósmica espera que
o indivíduo faça tal coisa, e ele, por força de seus pessoais valores, não a
faz, estaria em desarmonia com o cosmo e, portanto, cometendo grave pecado.
Eis o motivo pelo qual o filósofo alemão
igualmente criticou Aristóteles, afirmando que o indivíduo, nesta concepção,
não passaria de mera peça dentro da ideologia cósmica. E, que este modelo
mental igualmente escraviza a vida, pois faz com que o indivíduo atue de
maneira forçada sem que seja questionado se tal forma de agir realmente
corresponde aos ideais individuais.
Em resumo, enquanto Platão escraviza a
vida por meio da noção de mundo inteligível, cujo caminho para se chegar até
este somente existe na sua concepção interna, Aristóteles, por sua vez,
escraviza a vida difundindo a ideia de "cosmos" defendendo que o
homem deve entrar na linha com o universo, sob pena de a este não pertencer.
Questiona-se, e se o sujeito não quiser
ser o que o sistema determina ser? O que redunda na dominação do indivíduo,
pois o que importa mesmo é o "cosmos" e não o indivíduo isoladamente
considerado.
Enfim, para que tal mundo ideal seja
galgado, faz-se necessário que o ser humano atue de forma harmônica com os
ideais postos. E, consequentemente, o ser humano que busca esse mundo ideal
blasfema contra a terra em nome do paraíso. E, a vida real seria escravizada em
nome de um modelo mental. Concluiu que inventaram o ideal para negar o real.
Eis que ao construir a filosofia do
martelo[3] refutou
e compreendeu as teses aristotélicas, platônicas e monoteístas. Asseverou que
melhorar a humanidade, é a última coisa que se promete. Portanto, no mundo das
ideias de Platão escraviza, bem como o mundo do cosmos de Aristóteles[4] e o
mundo das religiões igualmente traz escravidão, assim como também qualquer
outra concepção idealista escravizará. Sua teoria é de desconstrução, nem
pretende apresentar nem eleger novo ideal, apenas declarou: Não espere de mi
que eu erija novos ídolos.
A filosofia do martelo desmantela todos os
ídolos, ou seja, todo tipo de modelo mental que escraviza a vida. As certezas
e, por isso mesmo, se notabiliza em ser uma filosofia da desconstrução e, não
se propõe apontar verdades absolutas, posto que não existam.
Aliás, a invenção de um ideal corresponde
a maior mentira e maldição que tanto oprime a realidade, daí que a
desconstrução visa destruir, mas não visa reconstruir. A humanidade tornou-se
mentirosa e falsa até o mais profundo de seus instintos, até a adoção de
valores contrários aos outros que poderiam garantir um belo futuro.
Asseverou que Deus morreu, em sua veemente
crítica ao cristianismo. Essa assertiva provocativa, afirma que porque se Deus
existe, ele não pode morrer, porque Deus não morre. E, se ele, Deus, não
existe, igualmente não poderá morrer, pois para morrer, é preciso que tenha
existido.
Com a impactante frase, deus está morto,
pretende o filósofo alemão denunciar a morte da estrutura religiosa do
pensamento, e o fim da oposição definitiva existente entre o bem e o mau, entre
o céu e a terra, a convicção de que o além é superior ao aqui mesmo.
Nietzsche expressou a sentença “Deus está
morto” pela primeira vez no terceiro livro do escrito “A gaia ciência”,
publicado em 1882. Com esse escrito, começoi o caminho de Nietzsche em direção
à conformação de sua posição metafísica fundamental. Entre esse escrito e a
labuta vã em torno da configuração da obra central planejada, encontra-se a
publicação de “Assim falou Zaratustra”. A obra central planejada nunca foi
levada a termo. Provisoriamente, esta deveria ter o título “A vontade de poder”
e o subtítulo “Tentativa de uma transvaloração de todos os valores”.
Ao afirmar a morte de Deus, certifica a
morte como uma forma de pensar que apavorou a humanidade durante séculos, de
que “o fora daqui é melhor que aqui”. Enfim, a racionalidade humana matou os
deuses, razão pela qual não há mais espaço para divisão entre o mundo das
ideias e o mundo sensível.
A anunciada morte de Deus ou dos deuses
significa a morte de todas as visões morais tradicionais que calcam-se na
oposição entre o real e o ideal, o bem e o mal, justo e injusto, porque é Deus
quem fornece fundamento para tais ideias, e, a partir do momento em que Deus
morreu, tais noções perdem seu maior fundamento, pois assim, tudo rui, cai e
acaba. Morrem também todos os ideais políticos, as utopias de sociedades sem
classes sociais, inclusive a utopia de Marx e Engels.
Também denunciou todas as muletas
metafísicas[5]
que se relacionam com as polarizões existentes entre o real e o ideal, o justo
e o injusto.
O Direito é tido como muleta metafísica[6]. O
Direito pretende estabelecer a ordem e o justo. Para dar conta desse anseio,
ele está amparado em princípios que não escapam daquilo que Nietzsche
entenderia também como muleta metafísica: a liberdade, a igualdade, a vida e
etc. Junto dos princípios morais, o Direito surge para confortar, a explicação
psicológica deste fenômeno é que "reduzir algo desconhecido a algo
conhecido alivia, acalma, satisfaz e além disso, dá uma sensação de
poder".
A justiça e o ordenamento que o Direito
pretende atribuir à sociedade decorre da incapacidade do homem em permanecer no
campo das mudanças e das incertezas, onde não há nenhum direito de punir ou
julgar. Dir-se-ia que este homem quer mais do que a efemeridade das sensações,
que nos anseios metafísicos de justiça, ele se engrandece.
Aliás, a expressão "muletas
metafísicas" é uma metáfora que aponta para um corpo fraco que se apoia
sobre algo para mitigar seu sofrimento. É justamente o que impede a evolução da
humanidade, porque ao invés de a pessoa viver a vida como ela é, vive-se apenas
pensando num mundo que não existe.
E, portanto, de acordo com Nietzsche, não
se pode apoiar-se em utopias, dogmas e religiões que nada mais são que muletas.
O indivíduo padece muito ao empreender suas forças numa ideia criada ao invés
de buscar com essas mesmas forças, seus próprios ideais morais e éticos.
O indivíduo usuário das muletas
metafísicas nada mais é que um tijolo no muro, e finda por renunciar a vontade
de potência, outro conceito filosófico muito relevante, que significa à vontade
firme e dirigida pela vida.
Enfim, Nietzsche pregou que a vida do
indivíduo deve pautar-se na busca incessante por mais “vontade de potência”.
Uma vontade de potência busca mais vontade de potência, mais energia vital.
Dito de outro modo, segundo Nietzsche, o
indivíduo deve buscar todas as formas para que essas potências aumentem.
Potência busca mais potência, isto é, o ser humano é energia que busca mais
energia, mas isso, ressalta Nietzsche, nem sempre acontece, porque a busca pela
“vontade de potência” esbarra em energia contrária.
Importante perceber que a vontade de
potência é contaminante e toca a todos os seres vivos e, pode ser estudada a
partir de dois tipos de força, as chamadas forças ativas e forças reativas. As
ativas são as que existem por si só, sendo consubstanciada na positividade. E,
as reativas é a que existe para se opor a uma força ativa preexistente.
Somos todos nós movidos por forças ativas
e reativas, e por vezes, uma prevalece sobre a outra. Mas, o indivíduo forte é
aquele que preferencialmente é movido por forças ativas. E, o fraco, por seu
turno, é o reativo que está o tempo todo, esperando os outros, que vive para
impedir o gozo de outrem.
Para Nietzsche, existem certas atividades
clássicas de forças ativas, sendo a principal delas a arte. O artista é movido
por força ativa, pois faz aquilo que o corpo dele pede. A arte é, então, tudo
aquilo que o homem faz como força de sua potência.
Por outro lado, a burocracia é uma força
reativa, porque é criada para impedir que a força ativa da “vontade de
potência”[7]
aumente. Exemplifique-se, o caso de determinada pessoa que resolve virar
banqueiro, criando uma instituição financeira. Por mais dinheiro que ela possa
possuir, certamente terá que enfrentar um longo caminho burocrático (força
reativa) que, paulatinamente, vai reduzindo suas forças ativas até que seja
reduzida a zero, fazendo com que desista de criar o tão almejado banco.
O filósofo Nietzsche é, sem dúvida, um dos
mais importantes do pensamento moderno e, até de todos os tempos. Enquanto os
racionalistas e empiristas se digladiavam para conhecer efetivamente a origem
do conhecimento humano, Nietzsche zombava de ambos, e até do próprio
conhecimento.
Assim como Baruch Spinoza[8] que foi
anterior ao filósofo alemão, possuiu um pensamento filosófico com diversas
proximidades. Igualmente, Michel
Foucault se aproximou do filósofo alemão e influenciou positivamente o
pensamento contemporâneo.
Mesmo em Spinoza e, mais tarde, com Foucault[9] não há
essa força das palavras igual à que Nietzsche se exprimiu. Ele literalmente fez
de sua escrita, uma arma de denúncia do que julgava ser falacioso. Sua
filosofia, como a de Spinoza, foi uma filosofia em prol da vida, da vida
vivida, e não uma idealizada, com recalques, opressão, culpa, etc. Acreditou
que esses sentimentos negativos absolutamente nada acrescentam de bom na vida
do homem. E, acreditou que esses sentimentos negativos em absolutamente
contribuíam para algo de bom na vida humana.
A originalidade
do pensamento de Nietzsche é única em toda história da filosofia e, somente,
mais tarde, com Foucault a força das palavras tal qual exprimiu Nietzsche
ganhou expressão. Sua feroz crítica
começou direcionada à Sócrates e, desde a obra "O Nascimento da
Tragédia" em 1871 até mesmo ao seu derradeiro escrito publicado ainda em
vida, que foi o "Crepúsculo dos Ídolos" em 1888, procurou a mesma
coisa, isto é, denunciar a moral que dominava o mundo, propondo transvaloração
de todos valores[10],
onde deveríamos, por seu método genealógico[11],
investigar a origem dos valores antes simplesmente aceitá-lo.
Uma transvaloração dos valores é a
proposta da filosofia de Nietzsche, que se mostra também uma tarefa no âmbito
da política. Somente a partir desta seriam possíveis transformações na política
amparada em valores restritos e perniciosos à elaboração infindável da
humanidade.
Denunciou também os erros da ciência
moderna[12] que
ficou atrelada e presa em sua própria teia, numa busca desenfreada atrás de
verdades absolutas, termo igualmente muito criticado pelo filósofo alemão, pois
constatou a sua impossibilidade.
Verdade é o tipo de erro sem o qual uma
espécie de seres vivos não poderia viver. O valor para a vida decide em última
instância; O não-poder-contradizer prova uma incapacidade, não uma “verdade”. In:
“A vontade de poder”. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008.
Essa relação entre o que Nietzsche
denomina de apolíneo e o dionisíaco é de grande importância dentro de seu
pensamento, pois com ela ele denuncia toda a “ditadura apolínea” que começou efetivamente
a ocorrer após Sócrates, que ele chamava de “o homem de uma só visão”.
Quando Nietzsche escolheu apolíneo, que
deriva de Apolo, e dionisíaco que deriva de Dionísio, ele pensou na relação
entre razão e instintos que existe em todo homem. Apolo, também conhecido por
Febo, era considerado o deus da sabedoria e falava aos homens por meio de suas
sacerdotisas (as pitonisas) as em seu santuário em Delfos.
Já Dionísio era considerado como o deus do crescimento exuberante e da opulência, e também o deus do vinho, e até por conta disso, seus festejos eram sempre regados a essa bebida, que inebriavam seus convivas e até por isso, em sua comemoração ,os rituais acabavam em verdadeiras orgias que aconteciam nas florestas, que ficaram conhecidas como bacanais (Baco, do latim Bacchus era como Dionísio também era conhecido)[13].SCHWAD, Gustav. As mais belas histórias da Antiguidade Clássica – os mitos da Grécia e de Roma. São Paulo: 1996, p. 320 e 327.
Portanto, enquanto Apolo representava o conhecimento,
a razão, Dionísio representava os instintos. E enquanto toda a filosofia
tradicional desde Sócrates prega que a razão deva controlar os instintos (que
Apolo deve se sobrepujar sobre Dionísio) a filosofia de Nietzsche prega que
ambos devam andar juntas sem a prevalência de um ou de outro (muitos consideram
que haveria uma prevalência do dionisíaco em relação ao apolíneo no pensamento nietzschiano,
o que não parece estar correto, pois seria efetivamente a união dos dois que
comporiam o que mais tarde Nietzsche denominaria de super-homem.
No estudo do valor dos valores, Nietzsche
faz duras críticas a ideia de verdade absoluta e de valores morais universais
(tanto que Kant é sempre mencionado em suas obras, sem que ele efetivamente
escreva seu nome, e normalmente Kant é mencionado de uma forma sarcástica).
Nietzsche entende então, criticando os
moralistas, afirmando que os supremos valores morais não são absolutos, de
validade objetiva, independentes dos condicionamentos psicológicos, sociais,
políticos, econômicos e culturais, pois a história faz parte de tudo, e nela há
diversos fatores que os fazem mudar radicalmente o seu sentido.
Assim, valores morais não devem ser tidos
como padrões invariáveis de julgamento, pelo contrário, pode e até devem ser
objetos desses julgamentos, para que assim se possa exigir critérios superiores
aos referenciais morais instituídos.
Percebe-se que o filósofo alemão era
contrário à ideia de democracia. E, segundo ele a iniciativa de estrutura a
sociedade democraticamente adveio justamente dos reativos, ou seja, daquelas
pessoas que, para conseguir serem ouvidas, uniram-se.
Aliás, a democracia valoriza justamente o
indivíduo que, por várias razões, foi imbuído de força reativa. Porque, se
depois de aferido o nível de vontade de potência de determinada pessoa
atribui-se a esta a nota sete, mas o seu voto vale somente um, esta estará em
prejuízo, porque para que saísse pelo menos com empate, seu voto teria que valer
este.[14]
E, por outro viés, se a pessoa vale zero e
seu voto vale um, esta estará em vantagem. Em resumo, o critério adotado pela
democracia é quantitativo e não qualitativo, isto é, o que conta é o tamanho do
rebanho.
Nas considerações de Nietzsche a respeito
da política destacam-se seus ataques à democracia moderna: ele discerne no
movimento democrático uma herança cristã e, em vista disso, o avalia como expressão
de uma moral alimentadora do animal de rebanho, e, portanto, do rebaixamento e
amolecimento da humanidade; acusa os Estados
democráticos de fazer prevalecer a concepção do governo como instrumento da
vontade popular; e, em vista disso, ser modelo exemplar para as relações
instrumentais e comerciais formadas nas demais esferas sociais. Por fim, a
democracia moderna é, para Nietzsche, o declínio do Estado.
Em suas críticas aos valores que amparam a
democracia moderna, Nietzsche evidencia um grave limite: o cuidado das condições
de vida de uma época associado à falta de comprometimento com o cultivo e o
fortalecimento do que se manifesta como potencialidades humanas a qualquer
tempo.
Na obra "Humano, demasiado
humano", Nietzsche defende que a dedicação ao Estado não deve ser tarefa
de quem se mobiliza apenas com o imediato, com as demandas do seu próprio
tempo, de sua própria vida e da vida de seus contemporâneos.
Ao atacar a democracia[15],
também atacou a igualdade, pois na democracia todos são considerados iguais,
principalmente na forma religiosa de pensar a igualdade, pois afirmou que não
existe possibilidade alguma de uma pessoa ser igual a outrem e, possuir o mesmo
valor, principalmente, porque o nível de vontade de potência varia de um para o
outro.
Na democracia, cada um vale um. E, a democracia
interessa apenas a quem é ruim.[16] Verifica-se
que a ideia de representação efetiva é, em si, uma ilusão, pois nas democracias
reais não há vinculação entre a vontade do parlamentar à de seu eleitor. Não existe representação de fato. O que
ocorre é mera delegação de poderes.
Provavelmente, o melhor argumento em prol
da democracia é aquele que afirma que esta substituiu tiros por votos. Pois
seria o único arranjo que admite trocas de poder, ou a manutenção do poder sem derramamento
de sangue. Assim, a democracia substitui o processo de mudanças violentas e,
por vezes, trágicas. Seja qual for a definição oferecida para democracia, esta
ainda é o melhor sistema disponível pois permite as trocas pacíficas de poder,
ou mesmo a manutenção pacífica do poder.
Outros defensores da democracia defendem que as decisões da maioria, sempre ou quase sempre, são as moralmente corretas. A tendência presente em todas as democracias contemporâneas é tornar o voto mais fácil para as pessoas. Mas, a grande força da democracia é confessar-se falível de imperfeição e impureza, o que não acontece com os sistemas totalitários que se autopromover como perfeitos e oniscientes para sejam irresponsáveis e onipotentes.
Referências:
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igualdade: assim não falou Nietzsche. Disponível em: https://www.boletimjuridico.com.br/artigos/teoria-geral-do-direito/1118/democracia-igualdade-assim-nao-falou-nietzsche
Aceso em 15.8.2021.
DE CASTRO, Fábio Guimarães. Justiça e
Direito em Nietzsche. Disponível em: https://www.portalsaofrancisco.com.br/filosofia/justica-e-direito-em-nietzsche
Acesso em 15.8.2021.
DELBÓ, Adriana. Nietzsche: sobre alguns
problemas morais da democracia moderna. Dispo nível em: https://www.scielo.br/j/cniet/a/Wxt4HX4hqWWmgtgZ8ZwfTmx/?lang=pt&format=pdf#:~:text=Nas%20considera%C3%A7%C3%B5es%20de%20Nietzsche%20a,amolecimento%20da%20humanidade%3B%20acusa%20os Acesso em 14.8.2021.
FERNANDES, Rodrigo. Nietzsche
e o Direito, Tese doutorado em filosofia, PUC. -São Paulo, 2005
GIACOIA JUNIOR, Oswaldo. Nietzsche. - São
Paulo: Publifolha, 2000.
HEIDEGGER, Martin. A sentença nietzschiana
"Deus está morto". Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/nh/v5n2/v5n2a08.pdf Acesso em 15.8.2021.
LOBO, Iann Endo. A Crítica Nietzschiana à
democracia. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/174001/TCC%20Iann%20Endo%20Lobo.pdf?sequence=1&isAllowed=y Acesso em 14.8.2021.
MARTINELLI, Neiva da Silva. Spinoza e
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Acesso em 15.8.2021.
NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos
Ídolos. Trad. Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1985.
NIETZSCHE, Friedrich Ecce homo:
como alguém se torna o que é. Tr. Paulo César de Souza. São Paulo: Cia. Das
Letras, 1995.
NIETZSCHE, Friedrich. O Nascimento da
Tragédia ou Helenismo e Pessimismo. São Paulo: Companhia das Letras.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falava
Zaratustra. São Paulo: Vozes.
REALE, Miguel. Introdução à Filosofia. -
São Paulo: Saraiva, 1988.
SCHWAD, Gustav. As mais belas histórias da Antiguidade Clássica – os mitos da Grécia e de Roma. São Paulo: 1996.
[1] Tanto o
escritor russo Fiódor Dostoievski como Nietzsche consideraram o processo de
investigação que parte da morte de deus e, levaram até as últimas consequências
sobre o futuro do ser humano. Porém Dostoievski apontou para redenção, um
caminho diametralmente oposto proposto e seguido por Nietzsche. Tanto a
pergunta da personagem Ivan Karamazóv no romance Irmãos Karamazóv de
Dostoiévski “Se Deus não existe tudo é permitido?”
[2] Crepúsculo dos
ídolos foi um dos últimos livros escritos por Nietzsche e pode ser considerado
uma síntese de sua filosofia. A obra faz uma crítica à cultura ocidental
moderna e é com aforismo, sarcasmo e trocadilho irônico que o pensador alemão
se dirige a Sócrates, Platão, Kant e tantos outros. O Crepúsculo dos Ídolos – em ironia à ópera
de Wagner, Crepúsculo dos Deuses – foi escrito em 1888, num momento em que o
autor já se encontrava bastante debilitado, pouco antes de perder totalmente
sua lucidez. A obra, grosso modo, constitui uma introdução a sua filosofia, na
medida em que tenta quebrar paradigma filosófico, questionando a legitimidade
de ícones do pensamento humano e que, até então, eram considerados ídolos
intocáveis das ciências e da filosofia. De Sócrates aos românticos de seu
tempo, Nietzsche percorre citando e criticando pensadores, teorias e
instituições, incluído a própria educação alemã, pondo em xeque os mais
respeitados intelectuais do ocidente: Rousseau – o naturalista impuro; Dante –
a hiena; e Kant – o funcionário público infantil.
[3] A Filosofia do
Martelo, portanto, destina-se a “martelar” os ídolos, que é todo tipo de modelo
mental que escraviza a vida. Nietzsche martela as certezas. Por isso a
filosofia de Nietzsche é uma filosofia de desconstrução, pois com ela tenta
mostrar que não existem verdades absolutas. A filosofia nietzschiana é feita a
golpes de martelo: tende a agredir bases que se estabeleceram de forma
histórico-social, ou talvez, tornar estas bases como socialmente constituídas,
visto que se busca destituir a transcendentalidade dos valores e da vida.
[4] Para
Aristóteles, o Universo era como o interior de uma cebola. O conceito de
cosmos, então, apresenta-se como uma esfera gigantesca, porém finita, à qual se
prendem as estrelas. Dentro dessa esfera verificava-se uma rigorosa
subordinação de outras esferas, pertencentes aos planetas restantes, que giram
em torno da Terra. Aristóteles mantinha
a crença de que os corpos celestes estavam presos a esferas cristalinas
centradas na Terra, que, ao girarem, arrastavam-nos, fazendo com que
descrevessem movimentos circulares.
[5] Nietzsche se
aproximou da cosmovisão de Heráclito a respeito da mudança. Tudo se destrói. O
fogo queima e o que é, já deixou de ser. Diante desse fluxo ininterrupto do
real, o homem, fraco das pernas, cambaleia, e tem medo de seguir em frente, tem
medo de se deixar levar, tem medo de dizer sim à vida. Em posse de sua
covardia, como foi que até aqui que tal criatura caminhou pelo mundo? Apoiado
em supérfluos, afinal, "a terra está cheia de supérfluos, e os que estão
demais prejudicam a vida: tiram-nos desta com o engodo da 'eterna'!".
Muleta metafísica é, pois, um conceito marcante do pensamento nietzschiano, ele
compreende todas as verdades que sustentam os comportamentos do mundo real em
função de um mundo ideal. São verdades que se apresentam para solucionar o
problema da insegurança e da fragilidade, e que, por fim, subtrai a emo homem
do mundo da vida (efêmero) e o projeta em um mundo eterno (estático).
[6] Para Nietzsche,
o direito natural não pode ser associado à natureza, nem ao divino, nem à razão
como fora realizado ao longo do processo histórico humano. Esse é um dos pontos
cruciais da filosofia do direito nietzschiana, a efetividade de se pensar o
direito como fenômeno antinatural, uma criação humana. Esse é um dos pontos
cruciais da filosofia do direito nietzschiana, a efetividade de se pensar o
direito como fenômeno antinatural, uma criação humana. Daí a desconstrução
realizada por Nietzsche e, posteriormente por Hans Kelsen da inviabilidade dum
direito natural.
[7] Vontade de
poder ou de potência (alemão: "Der Wille zur Macht") é um
conceito da filosofia de Friedrich Nietzsche. A vontade de poder descrita por
Nietzsche é a principal força motriz em seres humanos — realização, ambição e
esforço para alcançar a posição mais alta possível na vida. O conceito de
vontade de potência foi criado por Nietzsche como base para o desenvolvimento
de outras ideias. Trata-se de uma proposição ontológica que sustenta toda sua
teoria, inclusive sua genealogia da moral é retirada das relações entre a
Vontade de Potência. A vida é Vontade de Potência, mas não se pode restringi-la
apenas à vida orgânica; ela está presente em tudo, desde as reações químicas
mais simples até à complexidade da psiquê humana (e, é no ser vivo que a
vontade de potência pode se expressar com mais força). Ela é aquela que procura
expandir-se, superar-se, juntar-se a outras e se tornar maior. Tudo no mundo é
Vontade de Potência porque todas as forças procuram a sua própria expansão.
Neste campo de instabilidade e luta, jogo constante de forças instáveis, a
permanência é banida junto com a identidade: neste mundo reina a diferença.
Força como superação, como constante ir para além dos próprios limites.
[8] Nietzsche
declara em uma carta de 1881 que sua filosofia e a de Espinosa partilham de uma
“idêntica tendência geral”, resumida na fórmula: “fazer do conhecimento o afeto
mais potente”. Spinoza e Nietzsche, a Ética de Spinoza, “Da Servidão Humana ou
da Força das Paixões”, a expressão da verdadeira liberdade, as paixões humanas,
a Natureza é rica, é poderosa, não há limites para ela. Nietzsche conforme seu
enunciado, vai ao encontro de Spinoza, na referência ao homem pela busca da
felicidade, no uso de suas próprias leis que lhe são inerentes: ao indivíduo,
enquanto busca sua felicidade, não deve dar prescrições sobre o caminho para a
felicidade: pois a felicidade individual brota de leis próprias, desconhecidas
de todos, e preceitos externos podem apenas inibi-la, impedi-la. A liberdade do
homem está no desenvolvimento de todas as suas possibilidades, ou seja, as
possibilidades ditadas pelo nosso interior, pelo nosso querer, pela nossa
vontade de potência, como diria Nietzsche, as circunstâncias externas é que
podem nos impedir, nos limitar e condicionar.
[9] Foucault se
desloca de uma caracterização da genealogia em Nietzsche, conforme um longo
trabalho com os vocábulos que designam origem no alemão, em direção a uma
reavaliação mais geral da ideia de história no pensamento de Nietzsche. Tanto
Nietzsche quanto Foucault abordam, de certa forma, o poder como um grande
sistema de forças em intensas relações, das quais se originam todos os eventos
sociais ou privados.
[10] Transvaloração
é rompimento com o homem ideal pela tradição para que se tenha o homem real,
este que não segue e sofre as consequências de não aderir aos valores impostos,
isto é, não ter medo de ser tachado como imoral por não segui-los, visto que o
conceito que se tem de “bem e mal” varia de pessoa para outra. A
transvalorização da moral proposta por Nietzsche é: É a superação da moral
tradicional, para que os atos do homem forte não sejam pautados pela
mediocridade das virtudes estabelecidas.
[11] O procedimento
genealógico de Nietzsche é, ao contrário, um método histórico-crítico que
pretende fazer a investigação e a avaliação da criação, do nascimento, da
proveniência e do estabelecimento do significado dos conceitos “bom” e “mau” e
“bom” e “ruim” ao longo do tempo. Foram localizados dois sentidos principais
desse conceito: 1) genealogia é uma metodologia de investigação da história que
estabelece princípios de interpretação; 2) mas é também de uma filosofia da
história, uma vez que admite a pluralidade dos sentidos.
[12] Eis algumas teorias científicas bizarras, como a teoria da geração
espontânea, cunhada há muitos anos atrás, quando os microscópios ainda não
tinham sido inventados e as teorias de células e germes ainda não existiam, e
veio para explicar a necessidade do homem saber como os seres humanos surgiam.
A teoria pregava que a vida surgia de matéria inanimada.
Outra bizarrice
foi a teoria das doenças miasmáticas que considerava que “pegar frio”, como
abrir portas e janelas poderiam produzir diversos tipos de doença. Esta teoria
sustenta que doenças como a cólera, a clamídia ou a peste negra e os seus
surtos foram causadas por um miasma (que vem da palavra "poluição" em
grego antigo), e era o termo utilizado para algo conhecido popularmente como
"ar ruim", um ar proveniente de matéria orgânica em decomposição. E,
embora, o miasma esteja tipicamente associado à disseminação de doenças e
epidemias (bastante comuns em tempos que não existiam vacinas, saneamento
básico e serviços públicos de saúde), alguns acadêmicos do início do século XIX
sugeriam que os seus efeitos se estendiam a outras condições como, por exemplo,
tornar-se obeso ao inalar o ar ruim de alguma comida. A teoria foi aceita desde
a antiguidade na Europa e na China até o final do século XIX quando passou a
ser abandonada por cientistas e médicos depois de 1880 e o surgimento da teoria
germinal das doenças; ou seja, germes específicos causavam doenças específicas.
Similar à
teoria miasmática, a teoria dos 4 Humores (ou Teoria Humoral) também versava
sobre o porquê de as pessoas ficarem doentes em uma época que ninguém entendia
direito como funcionavam as doenças e como se precaver e manter saudável. A teoria
foi criada por ninguém mais ninguém menos do que Hipócrates, o pai da medicina
e nome por trás das bases mais profundas dessa profissão e que, inclusive,
redigiu o juramento que todos os médicos do planeta Terra repetem ao se formar
na Universidade. Isso há quase 2500 anos atrás. E por falar em teoria ridícula,
não poderia faltar ela, a mãe de todas: a famosa Terra Plana. Se a Terra fosse plana a gravidade até
existiria, mas sem força suficiente de atração reunida em um mesmo ponto para
puxar as coisas para baixo, tendo, ao invés disso, infinitos pontos de
gravidade sem força suficiente para atração em nenhum deles. Qual a explicação
dos terraplanistas então? Segundo eles não somos nós que descemos em direção a
Terra após um pulo, mas sim a Terra que sobe em direção a nós. Aposto que você
não estava esperando por essa! Embora exista uma crença popular de que ela é,
de alguma forma, uma ideia "científica", nomes como Aristóteles
e Tomás de Aquino já sabiam que a Terra era redonda há mais de 2 mil anos atrás.
Em suma, a maioria dos estudos sugere que homens e mulheres
instruídos, desde os primórdios da antiguidade, tinham a noção de que a Terra
era redonda. Então, a ciência não deve ser culpada, manchada ou nem passar
vergonha por este probleminha chamado Terra Plana.
[13] Na mitologia
grega, Apolo e Dionísio são ambos filhos de Zeus. Apolo é o deus da razão e o
racional, enquanto que Dionísio é o deus da loucura e do caos. Os gregos não
consideravam os dois deuses como opostos ou rivais, embora, muitas vezes, as
duas divindades foram entrelaçadas por natureza. A ideia de Nietzsche tem sido
interpretada como uma expressão da consciência fragmentada ou instabilidade
existencial por uma variedade de modernos e pós-modernos escritores,
especialmente Martin Heidegger, Michel Foucault e Gilles Deleuze. De acordo com
Peter Sloterdijk, o Dionisíaco e o Apolíneo formam uma dialética; são
contrastantes, mas isto não significa que Nietzsche queria que um fosse mais
valorizado que o outro. E, sim a primordial dor, nossa existência ser determina
pela dialética Dionisíaco\Apolíneo.
[14] Nietzsche
apontou diretamente que o movimento democrático constitui a herança do
movimento cristão. Apesar de Deus ter morrido, seus valores permanecem sob os
valores dos ideais modernos. O problema do cristianismo se dá pelo fato de que
o conjunto de valores que o movem, em oposição à nobreza da gratidão grega pela
vida, são negadores da vida. O que é vida? Desdenhando a sensibilidade e a
“fraqueza sentimental”, Nietzsche responde, a “vida mesma é essencialmente
apropriação, ofensa, sujeição do estranho e mais fraco, opressão, dureza,
imposição das próprias formas e, no mínimo e mais comedida, exploração”, isto
é, vontade de poder. Os democratas cristãos e seus pares desconhecem, contudo,
a origem imoral da moral. Para eles o “‘bem’ e o ‘mal’ não são mais um
problema. As forças que valoram os ideiais políticos modernos são aqueles que
originam a moral escrava. O ressentimento contra o forte, a hierarquia e a
diferença se estendem, portanto, à modernidade e continuam a parir perspectivas
avaliativas a partir do (demokratische Bewegung), do anarquismo, do
socialismo, do utilitarismo liberal, da ideia de direitos iguais e da revolução
francesa.
[15] A democracia
consiste na expressão da decadência e fraqueza da modernidade, assim como o
arrebanhamento do homem em seu projeto são, para Nietzsche, dois problemas que
demonstram o debilitamento político a que a sociedade se encontrava submetida.
Ele compreendia a democracia como secularização dos valores cristãos, como
igualdade niveladora e um culto da piedade e da compaixão. As características
cristãs teriam sido transpostas para o campo político, reproduzindo sua lógica
de pensamento nas instituições sociais e no sujeito, resultando na
desvalorização da política como arena de conflito, ao modo grego. No aforismo
202 de Além de bem e mal, Nietzsche sustenta que, “com o auxílio de uma
religião que fazia a vontade dos mais sublimes apetites de animal-de-rebanho, e
adulava-os, chegou ao ponto em que, mesmo nas instituições políticas e sociais,
encontramos uma expressão cada vez mais visível dessa moral: o movimento
democrático é o herdeiro do cristão” . A democracia liberal desemboca no
niilismo passivo: “creio que nos falta paixão política” , e sobre esse aspecto
em específico devemos admitir que ele tem razão ao se referir tanto à sua
época, quanto o teria se falasse a respeito da política de nossos dias no caso
do Brasil, apática, ou, no máximo, reativa.
[16] Nietzsche descreve, ainda em O Crepúsculo dos Ídolos: “Em nossa sociedade dócil, medíocre, castrada, um homem que está próximo à natureza, que vem da montanha ou do mar, degenera facilmente num criminoso. Ou quase fatalmente, pois há casos em que um homem desse gênero resulta mais forte que a sociedade. O corso Napoleão é o exemplo mais famoso. Para o problema que ora se apresenta tem importância o testemunho de Dostoievsky — o único psicólogo, que seja dito de passagem, de quem se tem algo a aprender e que se faz parte dos acasos mais felizes de minha vida, mais ainda que a descoberta de Sthendal. Esse homem profundo, que tinha razão de sobra para fazer pouco dum povo tão superficial como os alemães, viveu muito tempo entre os presidiários da Sibéria e esses criminosos, para os quais não há redenção, possível na sociedade, lhe produziram uma impressão muito diferente da que esperava. Pareceram-lhe da melhor madeira que existe na terra russa, da madeira mais dura e mais preciosa”.