A latrina das ditaduras

A incidência habitual das ditaduras no continente sul-americano tem razões históricas, geográficas e estratégicas e, no momento contemporâneo, assistimos mais uma vez, convulsões desnecessárias que tanto abalam as democracias.

Fonte: Gisele Leite

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No século XX, observou-se uma série de ditaduras, sobretudo as militares e que encontraram um terreno fértil na América Latina[1]. Também diferentes países do Caribe, da América Central e  América do Sul tiveram suas ditaduras marcadas pelo terrorismo de Estado, quando o próprio Estado capitaneou e promoveu diversas ações de terrorismo contra a sociedade.

Todas as ditaduras foram, nitidamente, influenciadas pelos  EUA que encontraram por esse apoio uma forma de manter o continente americano sob sua influência e, assim, evitar e podar a possível disseminação da experiência cubana viesse a se reprisar noutros locais. Um dos pioneiros golpes de Estado que foram apoiado pelos EUA foi o ocorrido em nosso país em 1964.

Já na segunda metade do século XX ficou marcada na história de toda América Latina a expressiva quantidade de ditaduras militares implantadas. E, tal modelo se consolidou na década de 1960.

Outros países tais como o Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Bolívia, Guatemala, República Dominicana, entre outros, tiveram ditaduras conservadoras conduzidas em sua maioria por militares. E, tal fato está associado as disputas derivadas da Guerra Fria[2].

Depois da Segunda Grande Guerra Mundial[3], acirrou-se a rivalidade existente entre os EUA e a União Soviética (URSS) e a disputa por influência aumentou consideravelmente. Inicialmente, os EUA envidaram esforços para evitar o crescimento da influência soviética na Europa e na Ásia.

Ao final da década de 1950, o governo dos EUA percebeu a necessidade de majorar sua influência sobre o próprio continente, e deu início as ações em países latino-americanos. E, seu objetivo era enfraquecer os movimentos de esquerda através da instauração de ditaduras militares[4] de forte tendência conservadora.

O marco da mudança no comportamento dos EUA com relação à América Latina deu-se, particularmente, com a Revolução Cubana[5] de 1959 que foi conduzida por Fidel Castro e Che Guevara, teve caráter nacionalista e se aproximou da URSS por conta da hostilidade aos EUA contra o novo governo cubano.

A forte aproximação de Cuba com a URSS era considerada pelos EUA como perigoso precedente para toda América Latina. E,  mesmo antes da Revolução Cubana, os EUA procuravam criar um meio de intervenção diplomática e economicamente viável na América Latina através da Operação Pan-americana[6].

A situação de Cuba produziu desdobramentos que fizeram com que a ação dos EUA sobre a América Latina se tornasse mais agressiva, principalmente, no Brasil.

A interferência norte-americana em nosso país deu-se a partir da posse de João Goulart como presidente. Goulart era enxergado com maus olhos pelo governo norte-americano porque ele havia se voltado contra os lucros excessivos de multinacionais dos Estados Unidos no Brasil, além de ter sido um político apoiado pela esquerda e, que defendia a realização de reformas socioeconômicas no país.

O governo de João Goulart, assim como o cenário político e social do Brasil, era visto como contrário aos interesses norte-americanos, assim, por meio do serviço de inteligência, os Estados Unidos começaram a enviar incentivos financeiros a grupos de oposição e políticos conservadores. O objetivo era desgastar profundamente o governo de João Goulart.

"Em 1962, dezenas de candidatos de ideologia conservadora tiveram suas candidaturas nas eleições daquele ano financiadas com dinheiro norte-americano.

Além disso, os Estados Unidos, por meio da Aliança para o Progresso, liberaram ajuda econômica para Estados governados por opositores de João Goulart;  o embaixador norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon[7], apoiou as articulações do golpe contra o presidente brasileiro; e os Estados Unidos, por meio  da Operação Brother Sam, interviriam militarmente no Brasil, caso o golpe dos militares não tivesse dado certo em 1964[8]."

A partir de então, a ação secreta dos Estados Unidos criou um cenário para a desestabilização política e econômica do governo chileno e fomentou um golpe militar. Em 11 de setembro de 1973, militares cercaram e bombardearam o Palácio La Moneda, centro do poder no Chile. O presidente Allende resistiu ao golpe e, para não ser preso, cometeu suicídio.

A ditadura chilena foi uma das mais agressivas de toda a América Latina[9] e responsável por cerca de 40 mil casos de tortura em 17 anos de regime. Locais como o Estádio Nacional, principal estádio de futebol de Santiago, foram transformados em prisão e local de tortura. Heraldo Muñoz, político chileno, afirmou que, desde o primeiro dia da ditadura, Pinochet autorizou a perseguição de marxistas, defensores de Allende, opositores dos militares etc."

Apesar de que nesse momento, algumas ditaduras pela América Latina já se encontravam em vigor, mas, a partir do golpe de Estado no Brasil, iniciou-se fase em que as ditaduras militares ganharam todo o cone sul da América Latina.

E, foram marcadas pelas práticas de terrorismo de Estado quando ocorreu diversos sequestros de cidadãos, prisões arbitrárias, o uso de tortura, atentados à bomba e o desaparecimento de presos e de cadáveres, condutas  seguidas contra os opositores e que resultaram na morte de milhares de pessoas.

Na década de 1950, já existia a ditadura no Paraguai que foi uma ditadura civil-militar paraguaia e estendeu-se de 1954 a 1989, sendo governada durante todo esse período pelo General Alfredo Stroessner que na época instaurou-se por meio de um golpe de Estado contra o presidente Federico Chaves.

Nesse período, o Paraguai foi governado pelo ditador Alfredo Stroessner que foi responsável pela violação dos Direitos Humanos[10] de mais de vinte mil pessoas. E, em nosso país, o efeito da ditadura galgou maiores números pois trata-se de um país de maior tamanho e densa população.

Do ponto de vista estratégico norte-americano, era fundamental que o avanço de pautas progressistas fosse barrado e que o alinhamento da política brasileira com os interesses conservadores dos EUA se estabelecesse.

A ditadura Stroessner[11] contou com direto apoio dos EUA que forneceram auxílio econômico.  "Com a consolidação da ditadura no Paraguai e o golpe civil-militar no Brasil[12], outras ditaduras criaram-se pela América. Na década de 1960, Bolívia, Peru e Argentina caíram nas mãos dos militares; na década de 1970, foi a vez de Chile, Uruguai e novamente a Argentina. Todos esses regimes fizeram  uso de práticas como a tortura.

Nas décadas de 1970 e 1980, houve uma grande articulação de seis nações sul-americanas para ampliar-se o combate a opositores e “subversivos” por todo o cone sul. Essa articulação recebeu o nome de “Operação Condor[13]” e contou com o envolvimento de Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Bolívia, Uruguai, sendo também apoiada pelos Estados Unidos."

"No restante da América Latina, ainda existiram ditaduras civis e militares na República Dominicana, Haiti,  Panamá, Nicarágua, Honduras, El Salvador e Guatemala. Vejamos agora dois exemplos delas: a chilena e a argentina."

"A ditadura chilena estendeu-se de 1973 até 1990, sendo governada durante todo esse período por Augusto Pinochet. A construção da ditadura chilena ocorreu como estratégia para derrubar o governo de Salvador Allende, o primeiro socialista eleito por voto popular na América do Sul. Ele foi o vencedor da eleição presidencial de 1970 estando à frente de uma coalizão de partidos de esquerda conhecida como Unidade Popular.

A vitória de Allende imediatamente chamou a atenção do governo norte-americano, temeroso de que a vitória de um socialista no Chile pudesse arrastar outros países da América do Sul nesse caminho. O escritor Elio Gaspari[14] demonstrou a preocupação dos Estados Unidos por meio de uma fala do presidente Richard Nixon".

Um dos casos mais significativos do modo de operação da ditadura chilena, deu-se contra a estudante Lumi Videla. Ela foi presa pelo Dina, o serviço  de inteligência da ditadura chilena, em 1974, por ser membro de um grupo de esquerda revolucionária.

Lumi Videla foi torturada até a morte  (bem como seu marido) e seu corpo foi lançado no interior da embaixada italiana, local que dava abrigo a pessoas perseguidas pela ditadura.

No dia seguinte, em 4 de novembro de 1974, o governo chileno acusou a embaixada italiana de ter provocado a morte de Lumi Videla em uma orgia.

A partir da década de 1980, a ditadura chilena começou a enfraquecer-se porque o apoio dos Estados Unidos foi retirado devido à grande  quantidade de violações dos Direitos Humanos realizadas pelo governo de Pinochet.

Em 1988, sob os olhos vigilantes e atentos de representantes internacionais, foi realizado um plebiscito para decidir a permanência de Pinochet no poder. O resultado desse plebiscito mostrou que 56% da população chilena desejava o fim da ditadura. Ele abandonou o poder em 1990, mas prosseguiu como figura influente na política chilena durante toda aquela década.

Além das violações dos Direitos Humanos, o ditador chileno também ficou conhecido  por enriquecer-se via tráfico internacional de cocaína.

O século XX foi de crise crônica para a Argentina e marcado por diferentes golpes de Estado. Em 1966, a Argentina tinha passado por um golpe que instaurou uma ditadura militar que se estendeu até 1973 e se encerrou com a ascensão de Perón ao poder. O retorno do peronismo[15], no entanto, foi curto, e logo os militares retomaram o poder do país com outro golpe, em 24 de março de 1976.

Todo esse período que incorporou as décadas de 1960 e 1970 foi marcado por convulsão social em resposta ao autoritarismo e à crise econômica.

A crise[16] do regime peronista (1973-1976) intensificou-se a partir de 1975 e levou grandes empresários, direitistas e militares a unirem-se para organizar um novo golpe.

Com a vitória desse golpe, foi formado o Processo de Reorganização Nacional, nome que os militares deram à ditadura que existiu de 1976 a 1983. A ditadura argentina era administrada por uma junta militar que escolheu Jorge Rafael Videla como presidente do país. O que se viu nesse país em sete anos foi uma perseguição política sem precedentes.

Líderes de grupos políticos de oposição, de movimentos sociais e revolucionários, assim como sindicalistas, sacerdotes, intelectuais e advogados que defendiam os Direitos Humanos, entre outros, foram sistematicamente perseguidos. O sequestro, a tortura física e psicológica e o desaparecimento de cadáveres foram práticas da ditadura argentina.".

"Estima-se que, nos seus sete anos de duração, cerca de 30 mil pessoas tenham sido mortas pelo terrorismo promovido pelo Estado. A sociedade foi silenciada pelo terror. No âmbito econômico, a ditadura argentina, assim como a brasileira e chilena, contribuiu para o empobrecimento da população e para o aumento da concentração de renda.

Na década de 1980, a ditadura argentina procurou recuperar as Malvinas, ocupadas pelos britânicos desde o século XIX. A Guerra das Malvinas[17] foi um grande fracasso, e a derrota, junto aos problemas econômicos, debilitou os militares, que acabaram entregando o poder, em 1983, para Raúl Alfonsín, eleito presidente naquele ano.

A primeira ditadura da América Latina a contar com a intervenção direta da CIA[18] foi a da Guatemala em 1954. O governo de Jabobo Arbenz promoveu algumas reformas de caráter nacionalista que, no máximo, modernizariam e aumentariam as relações de produção no país, diminuindo a quantidade de terras ociosas. Arbenz, conhecido como o suíço, estava longe de ser um comunista, sua reforma era meramente nacionalista.

Essa reforma agrária tímida de Arbenz, entretanto, iria contra os interesses imperialistas da United Fruit Company, empresa norte americana que exportava frutas tropicais, na Guatemala, principalmente se produzia bananas e abacaxis para exportação.

Para evitar que a Guatemala se tornasse uma praia soviética, como sugeriu o diretor da CIA Allen Dules, e impedir que o seu negócio de exportação de frutas fosse prejudicado, os EUA promoveram um Golpe de Estado e implantaram uma ditadura no país.

Os sucessivos governos militares para garantirem os lucros americanos com bananas e abacaxis foram responsáveis pela morte de 140 mil pessoas, ativistas dos direitos humanos cogitam até em 250 mil.

Para essa missão o imperialismo yankee não mediu esforços e nem vacilou, em 1946 já havia criado a Escola das Américas[19], cujo objetivo era formar militares golpistas e ditadores. A agência secreta americana estava presente em todos os governos, infiltrada em vários movimentos sociais.

Em 1961, com o argumento de construir uma cooperação para desenvolver a América Latina e combater o comunismo é criada a “Aliança Para o Progresso”, cujo real objetivo era controlar de perto possíveis movimentos revolucionários ou qualquer ação dos trabalhadores que contrariassem os interesses do capitalismo americano e internacional.

Em 1964, duas ditaduras na América do Sul tiveram intervenção direta das forças armadas e do governo norte americano: Brasil e Bolívia.

Nos dois casos os governos  passam a adotar políticas privatizantes, retirar direitos trabalhistas, proibir as greves, criminalizar os comunistas e receber empresas estrangeiras interessadas  em uma mão de obra barata e que trabalhava sob o “tacão de ferro” dos militares.

As tentativas de resistência dos mineiros e operários bolivianos, das ligas  camponesas e trabalhadores no Brasil foram reprimidas com prisões ilegais, torturas, assassinatos e todo tipo de crueldade.

Em 1967, na Guerrilha de Ñancahuazú[20]  que tentava libertar a Bolívia da ditadura, foi morto o revolucionário argentino Ernesto Che Chevara pelas forças da CIA.

Em 1966, começaria a ditadura militar Argentina. Assim como no Brasil, a ditadura na Argentina foi apresentada como uma grande revolução democrática. Com a ajuda dos EUA e de várias empresas americanas, argentinas e transnacionais.

Entre 1966 e 1983 o país virou um verdadeiro inferno para quem se opusesse a política pró-americana e liberal dos ditadores. Vários comunistas foram jogados vivos de aviões no mar, 340 campos de concentração foram criados onde trabalhadores “subversivos”[21] eram castigados e condenados a escravidão, cerca de 9 mil pessoas foram mortas e outras 20 mil desapareceram, deixando filhos órfãos, pais e mães desesperados.

Como se não bastasse mais de 500 bebês foram retirados dos seus pais “subversivos” para ser entregues a militares e então receberem uma educação “de bem”.

A linha dura foi a característica principal das ditaduras nos anos 70, seja no governo de Jorge Rafael Vidella na Argentina ou do general Médici no Brasil. As justificativas para os golpes militares eram as mesmas: ameaça comunista, imoralidade, corrupção, defesa da democracia contra a ditadura soviética e chinesa etc.

A verdade é que todas as tentativas de conquistas mínimas para os trabalhadores na América do Sul podiam atingir os lucros das grandes empresas americanas e dos latifundiários locais.

O pacto entre as burguesias latinas e as empresas estrangeiras, entre burguesias nacionais entreguistas e o governo americano era para exterminar qualquer possibilidade de mudança do ciclo do mesmo e garantir que os trabalhadores continuassem a assumir papel de pária na divisão internacional do trabalho.

O que aconteceria se os trabalhadores do campo se rebelassem contra os latifundiários e entendessem que como camponeses são os legítimos donos das terras? Quem teria mais direito às terras do que os indígenas e aqueles que nela trabalham e dela vivem? No Peru[22], em 1963, um grande movimento chamado “Tierra o Muerte”, que contou com mais de 300 mil comuneiros, pensou exatamente assim.

Os camponeses passaram então a ocupar as terras que lhes fora tomada pelos latifundiários, inclusive, terras produtivas, questionando o latifúndio conquistado pelo extermínio em massa promovido pela invasão espanhola.

A ameaça comunista e a desordem pública causada pelos terroristas do campo foram os argumentos para o golpe militar no Peru em 1968. O ditador Velasco Alvaredo foi o nome ideal para servir ao capital dos EUA satisfazendo sua vontade de transformar a terra em lucro para alguns e fome para a maioria.

Em 1973, o Uruguai e o Chile sofreriam com os golpes orquestrados pela burguesia nacional e internacional. No primeiro caso, a ditadura seria a única forma de impedir a ameaça representada pelo Movimento de Liberação Nacional – Tupamaros[23] (MLN-T), a verdade é que a partir da ditadura, a esquerda uruguaia foi complemente dizimada.

O país que em 1973 organizou a maior greve geral da sua história passaria a viver anos de extrema repressão aos trabalhadores. No caso chileno, o presidente Allende, com apoio da unidade popular (grupo formado por vários partidos de esquerda), tentava aplicar algumas reformas no intuito de diminuir a extrema desigualdade do país, Allende foi eleito, não era um revolucionário, mas um social-democrata. O golpe que colocou o general Augusto Pinochet no poder por sete anos deixava clara a intenção dos empresários e governos que o orquestraram.

A ditadura chilena aplicou o neoliberalismo, aliou-se totalmente aos EUA e Inglaterra, fez reformas privatizantes na educação e na previdência, ajudou a trazer empresas transnacionais que recebiam várias benesses e isenções fiscais, enquanto os trabalhadores sentiam o arrocho salarial e a carestia.

Para manter as empresas estrangeiras e a elite chilena mais reacionária lucrando muito, o governo utilizou de toda forma de violência, chegando a prender pessoas em estádios de futebol e promover milhares de fuzilamentos.

Com o governo Gorbatchev[24] deixando clara sua intenção de acabar com a URSS e abrir as portas para o capitalismo, o discurso da ameaça comunista perdeu fôlego. Mais do que isso, os governos militares não eram mais necessários, depois de décadas de perseguição e desarticulação da esquerda latina, a democracia burguesa era, tornou-se, uma via segura.

Uma esquerda reformista que concentrava suas forças na via eleitoral e aceitava governar dentro dos limites do Consenso de Washington[25] não representava mais nenhuma ameaça ao capital.

Dentro do Estado de Direito, a burguesia passou a manter o seu poder através de governos eleitos, seja com compra de votos, ou com todo o seu aparato midiático. As várias instituições da burguesia como a OEA e a ONU, os bancos internacionais passaram a considerar como legítimo ou não um governo, de acordo com os seus critérios, ou seja, todos os presidentes para ter sua legitimidade reconhecida internacionalmente precisariam da aprovação de uma série de instituições.

Para conseguirem essa chancela das instituições capitalistas os governos precisam aplicar todo o receituário neoliberal[26], mesmo que para isso tenham que usar a violência contra os trabalhadores, esse expediente foi utilizado seja por um intelectual liberal como Fernando Henrique Cardoso, ou por um ditador como Alberto Fujimori, de Carlos Menen, mais à direita, a Hugo Chávez, a esquerda; o imperialismo norte-americano, as burguesias nacionais  e os grandes grupos capitalistas internacionais continuam a espremer toda a riqueza da América latina, os trabalhadores continuam a trabalhar para aumentar a riqueza dos outros ao tempo em que ampliam a própria miséria.

A única alternativa possível é a construção do socialismo em toda a América Latina, pois nos marcos do capitalismo jamais houve qualquer perspectiva para os latino-americanos que não fosse o trabalho escravo, a miséria e a exploração fatal[27].

É preciso construir um movimento de ofensiva socialista que rompa com o reformismo e os falaciosos e enfadonhos discursos eleitoreiros, todos os governos são da burguesia, é mais do que urgente pensar para além do capital para a América latina e para os trabalhadores de todo mundo.

Enfim, existiram muitas principais características em comum nas ditaduras militares latino-americanas[28], no período de 1960 a 1980 e foram traçadas por diversas perspectivas historiográficas e, onde o fascismo foi o dínamo dos governos instaurados temerosos da expansão do comunismo ou do socialismo[29] e da influência da URSS.

É preciso situar os fascismos[30] dentro de nova vertente da própria linguagem da direita, compreendendo-se como teoria metapolítica diferente do parlamentarismo tolerante, do reacionarismo autoritário, dos autoritarismos militares ou partidário sendo tão mobilizada para a incorporação da nação.

Em verdade, após a afirmação do liberalismo ao longo do século XIX, a direita passou por processo de adaptação com as regras de representação política e da convivência com a diferença, mesmo que em alguns casos com alguma dificuldade[31].

Nenhum regime político é imune de haver problemas e defeitos. Mas, a democracia ainda é o melhor tipo de governo. Toda ditadura é cruel, violenta e corrupta. Lembremos que entre  todas as ruínas em Roma, é o túmulo do ditador Júlio César o mais abandonado. Toda ditadura já  nasce ilegítima, é parida com violência e sob a supressão de liberdades. E, todas as crueldades,  por ironia são realizado em nome do bem-estar e da segurança nacional.

Referências

ARAÚJO, Maria Paula; DA SILVA, Izabel; DOS SANTOS, Désirée. Ditadura militar e democracia no Brasil: história, imagem e testemunho / organização. Rio de Janeiro : Ponteio, 2013.

AZEVEDO, Antonio Carlos do Amaral. Dicionário de nomes, termos e conceitos históricos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

COGGIOLA, Oswaldo. “Os regimes militares na década de 1960”. In: Governos militares na América Latina. São Paulo: Contexto, 2001.

FERNANDES, Hiago Rangel; MORETT, Matheus Teixeira. As ditaduras militares da América Latina e o fenômeno do fascismo: uma análise comparativa. Disponível em:  https://periodicos.uff.br/mundolivre/article/download/39965/23039/134300. Acesso em 03.09.2022.

GASPARI, Elio. A Ditadura Derrotada. Volume 3. Coleção O Sacerdote e o Feiticeiro, São Paulo: Companhia da Letras, 2003.

MENDES, Ricardo A.S. “Ditaduras civil-militares no Cone Sul e a Doutrina de  Segurança Nacional – algumas considerações sobre a Historiografia”.  Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 5, n. 10, p. 06-38, jul. 2013.

SANCHEZ, Luis Alberto. Existe América Latina? México: F.C.E, 1945.

VIZENTINI, Paulo G. F. “A Guerra Fria”. In: REIS, Daniel A. (org.).  O século XX: o tempo das crises. Rio. de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

Notas:


[1] A América Latina já era culturalmente diversificada antes de ser chamada por esse nome. Centenas de povos habitavam o continente. Havia intercâmbios e guerras entre alguns deles, evidenciando sua enorme diversidade: incas, calchaquíes, tzotziles, olmecas, maias, guaranis, tupis etc. Mas não existiam ainda as palavras índios e indígenas com as quais os unificaram os colonizadores espanhóis e portugueses. A maior parte da literatura sobre diversidade na América Latina concentrou-se, até poucos anos, nas diferenças entre indígenas, afro-americanos e brancos (e crioulos ou criollos, como eram chamados os descendentes de europeus nas colônias espanholas da América). Ou seja, a maior atenção foi conferida à diversidade étnica. Os projetos de integração regional, desde o de Bolívar até o Mercosul, têm colocado também, como parte das análises e dos debates, as diferenças entre nações e as perguntas sobre o que poderia unificar o continente ou criar uma identidade latino-americana.

[2] A repressão fora instituída nas suas mais diversas facetas, sendo a censura aos meios de imprensa oficializada e a tortura legitimada juridicamente.  Exílios, prisões e desaparecimentos de perseguidos políticos também se fizeram cotidianos em países como Chile, Uruguai, Argentina, Bolívia e Brasil. A Guerra Fria, muito mais do que uma tensão política, militar, econômica e ideológica entre os Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, foi a fomentadora de diversos conflitos, golpes e  até mesmo outras guerras ao redor do planeta. Por seu caráter, verdadeiramente mundial, e por sua duração, mais de quatro décadas, vitimou direta e indiretamente milhões de pessoas por todo o globo. Só na América do Sul, se contabiliza um total de aproximadamente quinhentas mil vítimas, entre mortos e desaparecidos, as quais em sua grande maioria foram sequestradas, torturadas ou mortas pelos regimes ditatoriais militares, que com o apoio dos Estados Unidos, governaram parte dos países sul americanos nessa época, e que em nome do temor da expansão comunista, - como ocorrera em Cuba em 1959 - mascarada pela defesa de uma pseudo segurança nacional, mobilizaram todo um aparato, fundamentado em especial na Operação Condor, para reprimir violentamente os opositores desses regimes. Pretendemos então discutir neste artigo, de forma cronológica, a história, e algumas características - destacando semelhanças e especificidades - dos governos autoritários, que governaram as nações sul americanas no cenário da Guerra Fria, focando especialmente o Brasil e as nações do Cone Sul, analisando também a ascensão desses regimes, a relação regional entre os governos militares,   a afinidade destes com o governo estadunidense em diferentes épocas, assim como, a transição de volta à democracia nesses países.

[3] Acredita-se que, a Segunda Guerra foi uma das consequências da Primeira Guerra Mundial. Isto porque a Alemanha, país que está no centro do episódio, teve de pagar impostos altíssimos depois da Primeira Guerra devido ao Tratado de Versalhes. O pagamento desse valor afetou a economia do país, aumentando a inflação.  Insatisfeita, a população alemã necessitava de uma nova direção e viu nascer o governo nacionalista de Adolf Hitler. O discurso do ditador se concentrava na soberania do povo ariano e no ódio aos judeus que, para ele, seriam os principais culpados pelo fracasso da Alemanha na Primeira Guerra Mundial. Surgia o nazismo.  O comando de Hitler tinha como ideologia a supremacia alemã. Em seu governo, a Alemanha buscou se expandir através da invasão de países e do discurso nacionalista. Quando o exército alemão invadiu a Polônia em setembro de 1939, a França e a Inglaterra se posicionaram contra o governo alemão e declararam guerra ao país.  Vários países participaram do conflito. De um lado estava O Eixo, formado por Alemanha, Itália e Japão, e do outro, estava o grupo dos Aliados, composto por  Inglaterra, União Soviética (URSS), Estados Unidos e França. Outros países participaram da guerra, inclusive o Brasil, mas dentro de um desses blocos.  Podem ser consideradas Consequências da Segunda Mundial: O Fim do extremismo ditatorial e das ideologias fascistas e conservadoras O fim da guerra possibilitou a inserção do governo social-democrata e resultou no Estado de bem-estar social na Europa, em que todos os indivíduos tinham direito a bens e serviços, que deveriam ser garantidos pelo Estado. Sobre as ideologias fascistas pode-se dizer que elas não estão em evidência como antigamente, mas, infelizmente, vive-se um período em que o regime autocrático e o fascismo voltam a surgir com novas características.  Entre as consequências da Segunda Guerra Mundial a mais sentida é a quantidade de mortes, civis e militares. Estima-se que morreram entre 70 a 85 milhões de pessoas, o maior número de toda a história.  Enfraquecimento da Alemanha e divisão do território Depois da derrota, a Alemanha se fragmentou, primeiro era só uma diferença ideológica, mas depois se transformou em territorial. Com a construção do Muro de Berlim, em 1961, o país se dividiu em Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental e ficou assim por quase 30 anos, até a Queda do muro de Berlim, em 1989. A Guerra Fria começou logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. No fim do conflito, os Estados Unidos e a União Soviética saíram como grandes potências mundiais, mas como os países tinham diferenças ideológicas muito fortes, acabaram criando um clima de polarização.

[4] Houve diferenças entre as ditaduras militares. A brasileira, instalada ainda no longo ciclo expansivo do capitalismo internacional, pôde beneficiar-se de investimentos, imprimir um novo ciclo expansivo à economia do país e manter a presença do Estado na economia, particularmente mediante empresas estatais. A ditadura militar argentina, instalada em 1966, fracassou e, quando os militares voltaram ao poder, em 1976, a economia mundial já se encontrava em recessão, condenando o regime militar à estagnação. A mesma coisa aconteceu com a ditadura militar uruguaia. A ditadura chilena, depois de enfrentar uma recessão inicial, optou por introduzir políticas neoliberais, provenientes da Escola­ de Chicago, com o que modernizou a economia do país, conforme os cânones neoliberais. Foi pioneira – junto com a ditadura boliviana – no experimento do novo modelo. Pôde imprimir um novo ciclo de expansão da economia, às custas da destruição do que havia de desenvolvimento industrial e da forte repressão ao nível de vida dos trabalhadores e a seus direitos sociais.

[5]A Revolução Cubana foi um processo revolucionário que aconteceu em Cuba, uma ilha localizada no Caribe, em 1959. Esse processo foi conduzido por um movimento guerrilheiro que atuava de uma região remota da ilha chamada Sierra Maestra e teve como lideranças Fidel Castro e Ernesto “Che” Guevara. Os guerrilheiros cubanos que a princípio conduziam um movimento revolucionário nacionalista, foram os responsáveis por derrubar a ditadura de Fulgêncio Batista." O sucesso inicial da revolução cubana deveu-se ao apoio de diversos setores da sociedade. Quando Castro e seus companheiros chegaram ao poder, a revolução ainda era sustentada pela coalizão de alguns grupos moderados, que incluía parte da classe média urbana, e outros mais radicais. Portanto, a revolução cubana consolidou-se como socialista apenas mais tarde, de acordo com os acontecimentos posteriores. Uma das primeiras ações de Fidel Castro após ascender ao poder foi criar um Executivo colegiado, formado por um presidente da república (Manuel Urrutia), um primeiro-ministro (José Miró Cardona) e um chefe das forças armadas (o próprio Fidel). As execuções em massa promovidas logo após o estabelecimento do novo regime começaram a denegrir sua imagem, interna e externamente. Em abril de 1959, Castro chegou a viajar aos Estados Unidos, para garantir ao presidente Eisenhower a intenção de manter boas relações diplomáticas. Entretanto, as tensões com o novo regime cubano já haviam se iniciado, por conta do anúncio de medidas como a nacionalização de empresas norte-americanas na ilha. Iniciou-se, então, um longo período de inimizade entre ambos os países. Os Estados Unidos também receberam muitos dos exilados da revolução comandada por Castro. Ainda em 1959 – ano em que, além dos fuzilamentos, foram promovidas uma reforma agrária e uma reforma urbana – surgiram as primeiras dissidências da revolução cubana. Em outubro daquele ano, Huber Matos, comandante militar e proeminente figura da revolução, renunciou ao posto que ocupava em uma província cubana e demonstrou suas preocupações com a crescente influência dos comunistas no governo. Alguns meses mais tarde, ele foi condenado a 20 anos de prisão por traição e conspiração.

Após um ano de governo, vários ministros de Fidel haviam deixado o governo, entre eles o primeiro-ministro Cardona. O cargo passou a ser ocupado por Fidel Castro. Essa conjuntura representou o fim da coalizão entre alas as moderadas e radicais da revolução. Enquanto o grupo moderado afastava-se, ocorria uma forte adesão dos comunistas.

[6] Programa multilateral de assistência ao desenvolvimento econômico da América Latina, submetido pelo governo do presidente Juscelino Kubitschek à apreciação do governo dos Estados Unidos em 1958. Temeroso de que as políticas de austeridade e restrições de empréstimos patrocinadas pelo governo norte-americano frustrassem seu Programa de Metas, Kubitschek iniciou uma ofensiva diplomática enviando uma carta ao presidente Dwight Eisenhower, datada de junho de 1958, em que o exortava a rever as relações dos EUA com o continente. Referindo-se às violentas manifestações populares de repúdio de que fora alvo o vice-presidente Richard Nixon em visita à América do Sul pouco tempo antes, Kubitschek perguntava ao seu colega norte-americano: “Estaremos todos nós... agindo no sentido de estabelecer a ligação indestrutível de sentimentos e interesses que a conjuntura grave aconselha e recomenda?”

Do ponto de vista brasileiro, a política externa comandada pelo secretário de Estado John Foster Dulles frustrava sistematicamente as aspirações de independência, desenvolvimento e justiça dos países latino-americanos, devido à prioridade conferida à luta anticomunista. Defendendo a tese de que a estagnação e a miséria constituíam potencial de subversão bem mais perigoso que uma virtual ameaça soviética ou chinesa, em discurso de 20 de junho de 1958 aos embaixadores latino-americanos acreditados no Rio de Janeiro, Kubitschek lançou a ideia da Operação Pan-Americana (OPA). Sua mensagem centrou-se em dois pontos: melhores preços para as matérias-primas vendidas aos EUA e financiamentos mais fáceis e abundantes em apoio ao processo de industrialização da América Latina.

[7]Abraham Lincoln Gordon (1913-2009)foi o embaixador dos Estados Unidos no Brasil entre 1961 e 1966 e nono presidente da Universidade Johns Hopkins  entre 1967 e 1971. Para Green, "Gordon ajudou os militares pessoalmente porque tinha uma visão de mundo moldada pela Guerra Fria, era anticomunista e realmente achava  que o Brasil estava à beira de uma revolução comunista". Apesar de todos os indícios comprovando sua atuação no golpe, Gordon morreu negando que havia conspirado com os militares. Em entrevista dada ao Fantástico em 2006, ele afirmou que a "participação ativa  (dos Estados Unidos no golpe) foi praticamente zero". Na mesma ocasião, ele confirmou que a CIA havia ajudado financeiramente os candidatos da União Democrática Nacional nas eleições de 1962, mas disse que havia sido "um erro da nossa parte". De acordo com o então presidente  estadunidense, Lyndon B. Johnson, o serviço de Gordon no Brasil foi "uma rara combinação de experiência e sabedoria, idealismo e julgamento prático.

[8] O golpe militar no Brasil, foi concentrado no movimento de derrubada do governo Goulart, por uma aliança entre políticos liderados pelo governador Magalhães Pinto e os militares comandados pelo general Olímpio Mourão Filho. Em suma, o golpe contra o governo Goulart foi desencadeado no dia 31 de março de 1964 por decisão individual do general Mourão Filho, que marchou com suas tropas de Juiz de Fora em direção ao Rio de Janeiro.

[9] O nome de "América Latina" tornou-se tão popular nos últimos sessenta anos, tão expressivo, que já serve não só para designar o difícil século XIX, mas para nomear à América Colonial. É o caso, entre outros, da História da América Latina, editada pelo historiador inglês Leslie Bethell. O volume primeiro, relativo ao século XVI, leva por título: Colonial Latin América. Isto não só é um ato de imprudência historiográfica, mas também e sobretudo, uma forma discriminatória das populações indígenas e negras do continente.

[10] No Brasil, houve perseguições, prisões, torturas, sevícias, assassinatos, desaparecimentos e exílios dos considerados subversivos. A ditadura vigorou por 21(vinte e um) anos no país, terminando em 1985. Na Argentina, o regime ditatorial foi um dos mais violentos e teve um saldo de 30 mil assassinatos e 230 crianças sequestradas. A Ditadura militar sangrenta foi três anos depois, em 14 de março de 1976, um novo golpe empossou o general Jorge Rafael Videla. Nos 17 anos seguintes, até 1983, quatro juntas militares comandaram o país. Foi a ditadura mais violenta da América Latina, com estimativa de 30 mil civis mortos na chamada “guerra suja”.

[11] A ditadura militar paraguaia foi o período de 35 anos na história do Paraguai, entre 1954 e 1989, no qual o Paraguai foi governado pelo ditador Alfredo Stroessner. Em espanhol, o período foi também conhecido por El Stronato ou Stronismo. Após a guerra civil paraguaia de 1947 e a derrubada do regime de Higinio Moríñigo, Juan Natalicio González assumiu a Presidência, mas logo foi deposto e seguido por presidentes que mantiveram o poder por apenas alguns meses cada. Alguma estabilidade foi alcançada depois que Federico Chávez foi eleito em 10 de setembro de 1949. Três semanas depois de assumir o cargo, Chávez impôs um estado de emergência, usando seus poderes executivos de emergência sob a Constituição de 1940 para atacar os partidários de González e do ex-presidente Felipe Molas López. Os problemas econômicos crescentes após duas décadas de extrema agitação política e social haviam debilitado e aniquilado a economia do Paraguai. A renda nacional e per capita caíram acentuadamente. A prática do Banco Central de conceder empréstimos leves aos comparsas do regime estimulou um aumento da inflação e um crescente mercado negro. Finalmente, os problemas econômicos da Argentina também influenciaram negativamente o Paraguai. Em 1953, o apoio político e militar a Chávez tinha erodido.

[12] A ditadura no Brasil, assim como nos demais país da América, deixou marcas profundas que são sentidas até hoje, sendo que dentre elas podemos citar: 434 mortos por conta do autoritarismo do regime, além de mais de 8 mil indígenas mortos pela política de ocupação da Amazônia; 20 mil torturados; quase cinco mil pessoas com direitos políticos cassados; aumento da corrupção, pois não havia liberdade para investigar os crimes dos militares; redução nos direitos dos trabalhadores; aumento da desigualdade social; aumento do endividamento do Brasil; inflação alta e crise econômica.

[13] A Operação Condor, formalizada em reunião secreta realizada em Santiago do Chile no final de outubro de 1975,  é o nome que foi dado à aliança entre as ditaduras instaladas nos países do Cone Sul na década de 1970 — Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai — para a realização de atividades coordenadas, de forma clandestina e à margem da lei, com o objetivo de vigiar, sequestrar, torturar, assassinar e fazer desaparecer militantes  políticos que faziam oposição, armada ou não, aos regimes militares da região. Devido à sua natureza clandestina, o número exato de mortes diretamente atribuíveis à Operação Condor é altamente contestado.  Algumas estimativas indicam que pelo menos 60.000 mortes podem ser atribuídas à Condor, cerca de 30.000 das quais na Argentina, e o Arquivo do Terror lista 50.000 mortos, 30.000 desaparecidos e 400.000 presos. O cientista político americano J.  Patrice McSherry  dá um número de pelo menos 402 mortos em operações Condor que atravessaram as fronteiras nacionais numa fonte de 2002, e menciona numa fonte de 2009 que daqueles que "foram para o exílio" e foram "raptados, torturados e mortos em países aliados ou ilegalmente transferidos para os seus países de origem para serem executados... centenas, ou milhares, de tais pessoas — o número ainda não foi finalmente determinado — foram raptadas, torturadas e assassinadas em operações Condor". As vítimas incluíam dissidentes e pessoas de esquerda,  líderes sindicais e camponeses, padres e freiras, estudantes e professores, intelectuais e suspeitos de serem guerrilheiros.  Embora tenha sido descrito pela Central Intelligence Agency (CIA) como "um esforço cooperativo dos serviços de inteligência/segurança de  vários países sul-americanos para combater o terrorismo e a subversão", os guerrilheiros foram usados como desculpa, pois nunca foram  suficientemente substanciais para controlar o território, obter apoio material de qualquer potência estrangeira, ou ameaçar de qualquer  outra forma a segurança nacional. Os principais membros da Condor eram os governos da Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai,  Bolívia e Brasil. Mais tarde, o Equador e o Peru juntaram-se à operação com funções mais periféricas.

[14] De acordo com Elio Gaspari, no livro "A Ditadura Derrotada - Volume 3" (editora Companhia das Letras), "os Tupamaros, com 3 mil militantes,  fizeram coisas nunca vistas e até mesmo difíceis de imaginar. Suas ações, iniciadas em 1968, eram românticas, vingativas e pirotécnicas.  Eles assaltaram um cassino e devolveram as gorjetas dos crupiês pelo correio. Depenaram a mansão de um plutocrata e divulgaram que nela  havia 400 mil dólares em dinheiro e barras de ouro”. No entanto, em 1985, alguns representantes dos Tupamaros voltam a assumir cargos políticos, pois, naquele ano, a democracia uruguaia tinha sido reestabelecida com o fim da ditadura militar. Atividades de guerrilha não foram mais detectadas no país. Sendic acabou sendo internado em um sanatório da França e faleceu no ano de 1989. Em 2004, José Mujica e Nora Castro, dois antigos representantes do grupo, foram eleitos à presidência das duas Câmaras do Congresso. Cinco anos depois, José Mujica foi eleito presidente do Uruguai.

[15] O peronismo tem sua própria doutrina política, econômica e social: o justicialismo.  O justicialismo é uma nova filosofia de vida, simples, prática, popular, profundamente cristã e profundamente humanista. O peronismo pretende constituir um governo centralizado, um estado organizado e um povo livre. O Peronismo foi um movimento político, econômico e social, que surgiu na Argentina em meados da década de 1940.  Foi criado e teve como seu principal representante o presidente argentino Juan Domingo Perón (daí a origem do nome do movimento). O Peronismo teve como base de sustentação política e ideológica o Partido Justicialista, também conhecido como Partido Peronista. O movimento peronista comandou politicamente a Argentina em grande parte da segunda metade do século XX. Até hoje,  muitas características do peronismo ainda estão influenciando a política argentina, embora de forma menos significativa,  pois estão arraigadas na cultura do país.

[16] O historiador e jornalista argentino Carlos Pagni, comentarista político do diário La Nación e do Canal 13, é um crítico do peronismo e do modelo implementado por Néstor Kirchner (2003-2007), morto em 2010, e pela mulher dele Cristina (2007-2015), concentrado na ampliação de subsídios e de programas sociais sem lastro orçamentário. Pagni vê na tentativa de recriar os tempos de bonança vividos durante o governo do caudilho Juan Domingo Perón (1946-1955), no pós-guerra, parte da explicação para as crises inflacionárias cíclicas da Argentina e para a perda de relevância econômica do país na América Latina.

[17] A Guerra das Malvinas (Falklands War ou Guerra de las Malvinas) foi um conflito que ocorreu em 1982 entre a Grã-Bretanha e Argentina.  O intuito era conquistar a posse do arquipélago que está situado a 464 quilômetros da costa argentina. O saldo final da guerra foi a recuperação do arquipélago pelo Reino Unido e a morte de 649 soldados argentinos, 255 britânicos e 3 civis das ilhas. O conflito foi iniciado pela ordem do ex-ditador argentino Leopoldo Galtieri (1926-2003). Ele ordenou a ocupação das ilhas, que estavam em posse  da Grã-Bretanha desde 1833. A justificativa era a unificação das ilhas ao território argentino. Na avaliação do ditador, o território argentino  deveria ser indivisível.

[18] A preocupação norte-americana em difundir o modelo democrático, contudo, entrava em conflito com as necessidades de estabilidade política e defesa de seus interesses na região. Frente aos governos que se levantavam contra o controle estadunidense na América Latina, o apoio a golpes militares – como o ocorrido no Brasil em 1964 – foi uma prática comum. Frente à ameaça de expansão castrista no continente, esses grupos pareciam uma sólida prevenção. A assistência militar norte-americana a países latino-americanos aumentou consideravelmente na administração Kennedy. Assim, os anseios de grupos conservadores foram atendidos. Em 1962, com aval dos Estados Unidos, Cuba perdeu sua condição de membro da Organização dos Estados Americanos (OEA). O rompimento das relações diplomáticas de países americanos com Cuba foi reforçado pela OEA nos anos seguintes.

[19] É um instituto do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, fundado em 1946. Em 1961, seu objetivo oficial passou a ser o de ensinar  a "formação de contra-insurgência anticomunista". A Escola treinou vários ditadores latino-americanos, gerações de seus militares e, durante os anos 1980, incluiu o uso de tortura em seu currículo. Em 2001 foi renomeada para Western Hemisphere Institute for Security Cooperation (WHINSEC). (Instituto do Hemisfério Ocidental para a Cooperação em  Segurança, em português) A instituição é mantida pelos Estados Unidos e, entre outros, oficialmente ministra cursos sobre assuntos militares a oficiais de outros países. Atualmente situada em Fort Benning, Columbus, Geórgia, a escola esteve de 1946 a 1984 situada no Panamá, onde se graduaram mais de 60 mil militares  e policiais de cerca de 23 países da América Latina, alguns deles de especial relevância pelos seus crimes contra a humanidade como os generais  Leopoldo Fortunato Galtieri ou Manuel Noriega.

[20] A Bolívia é o país campeão em quarteladas e contragolpes em todo o século XX, sendo que teve dezenas de presidentes desde 1964, quando foi derrubado o presidente de esquerda Paz Estenssoro (golpista e depois eleito democraticamente). Ele voltou ao cargo em 1985 com a democratização do país, mas enfrentou fortes crises econômicas e não estabilizou a política. Os governos militares da Bolívia (1964-1982) realizaram uma conservadora política de reformas econômicas, como a reabertura da indústria das minas de estanho ao investimento privado estrangeiro. René Barrientos, durante seu mandato, manteve uma aliança com os militares e com os camponeses, mas enfrenta os mineiros e trabalhadores.

[21] Subversão (do termo latino subversione) é uma revolta contra a ordem social, política e econômica estabelecida vigente.  Pode manifestar-se tanto sob a forma de uma oposição aberta e declarada, como sob a forma de uma oposição sutil e prolongada. Durante a ditadura militar no Brasil, o Serviço Nacional de Informações produziu um dicionário de termos considerados subversivos que propagou o pânico moral da ameaça comunista.

[22] Foi a “Revolução de Cima”, como foi denominada, encabeçada pelo general Juan Velasco Alvarado, que iniciou as reformas estruturais na sociedade peruana.  Assim a ditadura Peruana foi realizada por uma  junta militar liderada pelo general Juan Velasco Alvarado. Ela instala-se no poder ao depor o líder Belaunde Terry. O primeiro ato de Alvarado foi polêmico e surpreendente: ele nacionalizou a empresa International Petroleum Company, que detinha a principal concessão de exploração de óleo e que estava com impostos atrasados. O governo Velasco foi a primeira ditadura do continente a promover uma reforma agrária. O governo de Juan Velascos foi marcado pelos seguintes elementos: nacionalismo; anti-imperialismo; reforma agrária; reforma educacional (ensino de quíchua e aimará); crise econômica.

[23] Tupamaros foi o nome dado a um grupo de guerrilheiros uruguaios que agiu entre os anos de 1963 e 1972. A denominação do partido remete ao período  da colonização do Uruguai, quando Tupac Amaru III, um cacique peruano, foi líder de um confronto contra os espanhóis (século XVIII). Do nome do indígena surgiu a palavra tupamaro, que era a forma como os conquistadores espanhóis chamavam os seguidores do líder tribal. O fundador do Movimento de Liberação Nacional - Tupamaros (MLN-T ) foi Raul Sendic, advogado, revolucionário guerrilheiro e político do Uruguai.  Entre as primeiras ações do partido, destacam-se as investigações dentro de grandes corporações que tinham por objetivo encontrar documentos  que comprovassem a corrupção governamental. Porém, o grupo tinha como forte característica a guerrilha urbana, que incluía atividades como  assaltos a clubes de armas, bancos, sequestros, propaganda de guerrilha e assassinatos. Segundo alguns historiadores, o dinheiro que conseguiam  nas ações ilegais era distribuído para as camadas mais pobres da população de Montevidéu.

[24] Mikhail Gorbachev, o último líder da União Soviética (URSS), morreu em(30/08/2022) aos 91 anos em Moscou. De acordo com o Hospital Clínico Central da capital russa, ele foi vitimado por uma prolongada doença. Mikhail Gorbachev, o último líder soviético, ficou chocado e perplexo com o conflito na Ucrânia nos meses antes de morrer e psicologicamente afetado nos últimos anos pelo agravamento dos laços de Moscou com Kiev, disse seu intérprete na quinta-feira (1º). Pavel Palazhchenko, que trabalhou com o falecido presidente soviético por 37 anos e esteve ao seu lado em várias cúpulas entre os Estados Unidos e a União Soviética, conversou com Gorbachev algumas semanas atrás por telefone e disse que ele e outros ficaram impressionados com o trauma de Gorbachev com os acontecimentos na região da Ucrânia. “Não é apenas a operação (militar especial) que começou em 24 de fevereiro, mas toda a evolução das relações entre a Rússia e a Ucrânia nos últimos anos, foi realmente um grande golpe para ele”, disse Palazhchenko em entrevista à Reuters. “Era muito óbvio para nós em nossas conversas com ele que ele estava chocado e perplexo com o que estava acontecendo (depois que as tropas russas entraram na Ucrânia em fevereiro) por todos os tipos de razões. Ele acreditava não apenas na proximidade do povo russo e ucraniano, ele acreditava que essas duas nações estavam misturadas”.

[25] Ideias chamadas de neoliberais veio no ano de 1989, quando o economista John Williamson publicou um artigo apresentando um conjunto de regras econômicas acordadas por economistas de grandes instituições financeiras. Essas regras, que ficariam conhecidas como Consenso de Washington, seriam o mínimo denominador comum, os pontos com que todas as principais instituições financeiras do mundo concordavam. Nos anos seguintes, esse ideário neoliberal orientaria a elaboração das políticas econômicas recomendadas por grandes agências internacionais, e de fato foram implementadas em vários países em desenvolvimento a partir do início dos anos 1990 – inclusive no Brasil. O conjunto de regras neoliberais seria: Disciplina fiscal; Redução dos gastos públicos; Reforma tributária; Juros de mercado; Câmbio de mercado; Abertura comercial; Investimento estrangeiro direto; Privatização de empresas estatais; Desregulamentação (flexibilização de leis econômicas e trabalhistas); Direito à propriedade intelectual; Enquanto a definição de “liberal” é ampla e abriga formas de pensamento bem diferentes entre si, a definição de neoliberal é mais específica.  Trata-se de uma doutrina prática, voltada a ações econômicas concretas, já que poucos acadêmicos de fato se definem como neoliberais ou desenvolvem  uma filosofia política ou econômica neoliberal. Também não existem muitas tentativas de definição rigorosa do termo. Dessa forma, o artigo de Williamson  e as políticas do FMI e do Banco Mundial são o que temos de mais concreto sobre o que compõe o ideário neoliberal.

[26] O termo “neoliberalismo” já era registrado em alguns escritos dos séculos XVIII e XIX, mas começou a aparecer com mais força na literatura acadêmica no final dos anos 1980, como uma forma de classificar o que seria um ressurgimento do liberalismo como ideologia predominante na política e economia internacionais. A ideia é que durante um certo período de tempo, o liberalismo perdeu predominância para o keynesianismo, inspirado pelo trabalho de John Maynard Keynes, que defendeu a tese de que os gastos públicos devem impulsionar a economia, especialmente em tempos de recessão. Keynes era favorável ao Estado de bem-estar social. A partir dos anos 1970, o mundo passou a vivenciar um declínio do modelo do Estado de bem-estar social, o que deu espaço para que ideias liberais aos poucos voltassem a ter preferência na política. Uma das primeiras experiências consideradas neoliberais no mundo foi levada a cabo pelo Chile.

[27]De um lado estava os EUA, um país de economia liberal e do outro a URSS, um Estado Socialista. O governo americano buscava conter o avanço do comunismo na Europa e criou o Plano Marshall, que visava garantir a recuperação do continente destruído pela guerra. Na verdade, o que os Estados Unidos pretendiam era aumentar seu poder de influência na Europa.  Logo que perceberam a jogada, os soviéticos proibiram os países que participaram do seu bloco de aderirem à doutrina americana. Foi assim que surgiu a Guerra Fria, um conflito basicamente político-ideológico, cheio de tensões, marcado bela briga armamentista, corrida espacial, e outras guerras, como a Guerra do Vietnã e Guerra do Afeganistão.

[28] Os sete ditadores da América Latina são: Anastasio Somoza Garcia (Nicarágua, ficou no por mais de cinquenta anos);Porfirio Diaz (México, ficou mais de trinta e cinco anos); Augusto Pinochet (quase vinte anos no Chile); Rafael Carrera (Guatemala, vinte e sete anos); Eloy Alfaro (Equador); Jorge Rafael Videla (Argentina); Fidel Castro (Cuba). No Brasil, tivemos: Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Ernesto Geisel, Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Epitácio Pessoa, Castelo Branco e Costa e Silva.

[29] O socialismo é um sistema econômico e ideológico que procura alcançar a igualdade entre os membros da sociedade. O comunismo, por outro lado, seria o resultado da implantação das ideias socialistas, onde o objetivo principal é a busca da igualdade entre os membros da sociedade. Assim, o governo, que estaria formado pela classe trabalhadora, seria o proprietário e teria o poder decisório em todos os assuntos. O socialismo é sistema econômico que procura alcançar a igualdade entre os membros da sociedade, mantendo os bens de produção como bens coletivos. A maioria dos sistemas socialistas defende a democracia participativa. O comunismo é sistema político e econômico, que defende uma sociedade sem classes, onde os meios de produção e outros bens pertencem ao governo e a produção é dividida igualmente entre todos. Uma sociedade comunista é internacionalista, pois toda a classe trabalhadora seria unida por um ideal maior que o da pátria.

[30] O fascismo foi um sistema político nacionalista, antiliberal e antissocialista surgido na Itália, em 1919, no fim da Primeira Guerra Mundial,  e que durou até 1943. Liderado por Benito Mussolini, influenciou regimes políticos em vários países da Europa, como a Alemanha e a Espanha no período entre guerras. O fascismo é um regime que acredita na utilização da força e da violência para atingir seus objetivos. Por esse motivo, o governo dedica quantidades desproporcionais  de recursos ao financiamento de armas e guerras, chegando a negligenciar outras áreas como saúde ou educação. Neste tipo de governo, soldados e militares são  vangloriados pelas massas. Nos regimes fascistas a polícia é altamente militarizada e possui ampla autonomia para lidar com problemas internos e domésticos que normalmente não necessitam de  participação militar. A fim de manter a integridade do sistema, os regimes fascistas tendem a controlar os meios de comunicação. Por vezes, o controle é exercido diretamente pelo governo  e, em outras, a mídia sofre regulação indireta. De qualquer forma, a censura a ideias contrárias ao regime é comum.


Gisele Leite

Gisele Leite

Professora Universitária. Pedagoga e advogada. Mestre em Direito. Mestre em Filosofia. Doutora em Direito. Conselheira do INPJ. Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Consultora Jurídica.


Palavras-chave: Ditaduras História Guerra Fria EUA URSS

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