A aprendizagem sem internet

Infelizmente em face da precariedade da estrutura das escolas públicas no Brasil, a aprendizagem dependente da internet não se desenvolveu adequadamente. Novamente, intensificam-se as desigualdades existentes e engrossa-se o nível de evasão escolar.

Fonte: Gisele Leite

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Pelo menos dez Estados do Brasil[1] começaram a retomar as aulas presenciais. Depois de dezesseis longos meses de escolas fechadas por causa da pandemia da coronavírus.

O Ministério da Educação sequer realizou um levantamento nacional sobre o impacto provocado pelo obrigatório e necessário isolamento social. Mas, é óbvio que os mais desfavorecidos e pobres e que vivem em cidades com parca infraestrutura foram os mais prejudicados. Cerca de um terço dos colégios da rede pública não teve qualquer tipo de aula à distância seja ao vivo, gravada, pela internet, rádio ou televisão.

E, até mesmo a reabertura das escolas vem sendo marcada por desigualdades[2], entre os alunos de maior renda, trinta e oito por cento voltaram a ter aulas presenciais, enquanto que o grupo de discentes mais pobres, a proporção é de apenas dezesseis por cento. Eis o oceano pacífico das desigualdades no acesso à educação no Brasil que só veio a se agravar na pandemia.

No ano de 2020 apenas seis por cento das escolas públicas forneceram internet gratuita ou subsidiada aos alunos que estavam em ensino remoto. E, o dado foi obtido pelo Inep a partir de questionário enviado a todas as 179 mil escolas da rede básica no Brasil, das quais cerca de noventa e quatro por cento responderam.

Já na rede municipal que atualmente concentra cerca de metade dos estudantes, apenas dois por cento das escolas forneceram a internet para os alunos. Enquanto que na rede estadual, foram apenas vinte e um por cento das escolas, enquanto que na rede federal, a menor de todas as redes, foram cerca de oitenta e dois por cento.

Em 2020, apenas 64,7% das escolas da rede municipal – que concentra a maior parte das escolas e dos estudantes brasileiros – contavam com internet em suas dependências.

Nas escolas particulares que atendem ao ensino fundamental, a proporção era de 97,6%. Na rede estadual, 92,1% das escolas tinham internet; na rede federal, todas tinham.

No Distrito Federal, 42% das escolas públicas ofereceram internet gratuita ou subsidiada para os alunos durante o ano letivo de 2020. É uma proporção seis vezes maior que a média nacional, de 6,6%. Rondônia foi o estado que menos garantiu internet para os alunos em isolamento: apenas 0,5% das escolas públicas de lá ofereceram o serviço.

Até o dia 5 de agosto do corrente ano, já haviam sido vacinados ao menos 3,2 milhões de trabalhadores da educação básica, um dos grupos prioritários no plano nacional de imunização. Desse total, apenas 671 mil tinham completado o ciclo vacinal – ou tomando duas doses, ou tomando uma vacina de dose única. Os outros 2,6 milhões ainda aguardavam pela segunda dose da vacina que haviam tomado.

O Governo do Estado do Rio de Janeiro[3] retrocedeu em sua inicial decisão de retomada de aulas presenciais na rede de escolas públicas. Enquanto o calendário de vacinação continua rateando por falta de vacinas para cumprir a imunização da população.

Entre vários estudiosos e até cientistas em razão do surgimento da variante delta que está em ascensão no Rio de Janeiro opinam ser temeroso a volta as aulas presenciais, principalmente, em razão da frágil estrutura das escolas públicas.

Referências

MAZZA, Luigi; BUONO, Renata. Sem internet nem aprendizagem. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/sem-internet-nem-aprendizagem/?utm_campaign=a_semana_na_piaui_70&utm_medium=email&utm_source=RD+Station Acesso em 14.08.2021.

Pnad Contínua (IBGE); pesquisa “Resposta educacional à pandemia de COVID-19 no Brasil” (Inep); Censo da Educação Básica 2020;

Pesquisa Datafolha encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); Ministério da Saúde.

Nota:

[1] São 26 estados e o Distrito Federal, que funciona como a capital do país. A atual divisão político-administrativa brasileira é de 1988. O Brasil é uma república federativa formada pela união de 26 estados federados, 5 568 municípios e do Distrito Federal.

[2] A desigualdade social é oriunda de processos relacionais na sociedade. Ela condiciona, limita ou prejudica o status e a classe social de uma pessoa ou um grupo e, consequentemente, interfere em requisitos primários para a qualidade de vida. Esses aspectos abrangem liberdade de expressão, de escolha, satisfação no trabalho e acesso a direitos básicos como voto, saúde, educação, habitação e saneamento básico. A desigualdade pode ser subdividida em três tipos principais: econômica, social e política. Cada grupo reforça a composição e as características do outro, logo, eles estão intimamente relacionados e se auto perpetuam. Além disso, nenhum tipo de desigualdade ocorre primeiro em detrimento das demais, por isso, essa é uma formação circular. Por exemplo, uma família vítima da má distribuição de renda possivelmente terá crianças em situação de insegurança alimentar. Com a saúde comprometida, elas aprenderão menos na escola e terão menores chances de realização profissional.


Gisele Leite

Gisele Leite

Professora Universitária. Pedagoga e advogada. Mestre em Direito. Mestre em Filosofia. Doutora em Direito. Conselheira do INPJ. Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Consultora Jurídica.


Palavras-chave: Educação Pandemia Covid-19 Aula Remota Aula Online Ensino Público Ensino Privado

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