Lições de um velho advogado francês
Por Paulo Schwartzman.
Olá leitores, tudo bem? Aqueles
que me seguem no instagram opauloschwartzman[1] já
sabem que uma das leituras dessa semana foi o livro “O Advogado” de Henri-Robert.
Pode parecer contraintuitivo ressuscitar conselhos de um advogado que viveu em
uma época (o livro é de 1923 e a vida do autor foi entre 1863-1936) e em uma
cultura tão distinta (o autor é francês), mas a leitura logo desvela que as
semelhanças e, mais que isso, a utilidade de seus conselhos transcendem as
limitações de tempo e espaço acima narradas.
Portanto, a coluna dessa
semana será um pouco diferente, servindo este colunista como “médium-curador”
das ideias de Henri-Robert. Depois me busquem para dizer o que acharam dessa
ideia diferente.
Antes algumas explicações
sobre o autor, principalmente para aqueles que não o conhecem poderem apreciar
mais o teor de suas prescrições. Henri-Robert (que foi batizado como Robert
Henri, mas posteriormente adotou como seu nome Henri-Robert) foi um dos grandes
nomes da advocacia francesa do início do século XX. Um amante da advocacia
criminal, Henri-Robert participou de diversos casos ilustres da sociedade
francesa de sua época, sendo que seu sucesso era conhecido por toda a França.
Tão notável foi sua fama que este virou nome de rua perto de um importante
tribunal parisiense.
Aos conselhos e insights do
mestre então. Vale pontuar que todas as remissões são relativas à segunda
edição da obra feita pela Martins Fontes, contando com bela tradução de
Rosemary Costhek Abílio (revista por Eduardo Brandão).
Sobre a relação entre advogado
e cliente:
“Os advogados são as testemunhas
profissionais dos maus dias, os confidentes obrigatórios a quem o cliente é
forçado a confessar seus segredos de família, até mesmo as pequenas baixezas de
que não tem motivo para se orgulhar.” (p. 06)
Sobre a qualidade do bom
advogado:
“Com efeito, em geral
imagina-se que um grande advogado deve ser grandiloquente e tumultuoso. É quase
sempre o contrário o que acontece.” (p. 19)
Sobre a dificuldade crescente
de advogar:
“A soma dos conhecimentos
necessários para exercer a profissão de advogado torna-se cada dia mais
considerável.” (p. 21)
Sobre o improviso no exercício
da profissão
“Reduzido a repetir-se a si
mesmo, empobrecendo-se constantemente, o improvisador preguiçoso em breve será
seu próprio papagaio, e a chama sagrada da eloquência não mais animará suas
palavras vazias de sentido.” (p. 24).
Sobre o sigilo profissional
“A segurança do segredo
guardado já não é metade da confidência? Por isso, assim como o pudor físico
não entra no consultório do médico, o pudor moral geralmente não tem lugar no
escritório do advogado.” (p. 41).
Sobre a argumentação e os
arrazoados forenses
“O lado estético da
argumentação cede passo ao lado jurídico ou científico, e o advogado deve
constantemente lembrar-se de que não está ali para brilhar e sim para convencer.”
(p. 45).
Sobre a faculdade de Direito
“A Faculdade de Direito tem a
reputação, bastante sólida se não justificada, de não sobrecarregar de trabalho
os estudantes que nela se inscrevem.” (p. 51).
Sobre os honorários
“Os honorários devem ser proporcionais ao trabalho requerido pelo caso, ao serviço prestado, à situação do cliente, e finalmente à arte do advogado e ao seu valor profissional.” (p. 97).
[1] Autor pode ser contatado na seguinte página: https://www.instagram.com/opauloschwartzman/