Janones, eu autorizo ou não?
Por Paulo Schwartzman.
Olá leitores, tudo bem? Ontem explodiu no Twitter uma “trend” (como os mais novos chamam as tendências da moda) que basicamente consistia em repostar a hashtag (jogo da velha) “#euautorizo”. Muitos ficaram perplexos, assim como o escritor dessa coluna, e foram tentar entender do que se tratava.
Aparentemente o Deputado Federal André Janones (Avante) publicou em sua página do Twitter uma postagem com o seguinte teor. Transcrevo as palavras do político literalmente:
“Tô recebendo muitas críticas por estar tratando os vagabundos dos bolsonaristas como vagabundos. Por isso, preciso da autorização de vocês pra continuar! Vocês me autorizam? Se sim, escrevam:
JANONES EU AUTORIZO
Bora medir a aceitação!”
Aliás, a postagem pode ser encontrada aqui[1]. Vale também ler os comentários para sentir o contexto da afirmação.
Após descobrir a proveniência e o sentido da locução que estava bombando (“eu autorizo”) pensei se esta era a melhor forma de expressar um posicionamento político. De fato, aderir a uma campanha que basicamente consiste em ferir a honra dos eleitores de outro candidato não me pareceu a melhor forma de praticar o debate democrático.
Inclusive temos que refletir se a melhor maneira de posicionamento é partir para ataques ao caráter do eleitor do candidato A ou B, pois isso, infelizmente, já virou tão comum na cena eleitoral brasileira que é pouco mencionado ultimamente. No entanto acredito que, para que haja verdadeira mudança social, o primeiro passo é justamente um ambiente em que seja possível o diálogo. E diálogo não se constrói com insultos. Jamais.
Partidários da autorização poderiam agora dizer que o Bolsonaro e seu próprio séquito usualmente utilizam-se da mesma técnica. Nesse diapasão tenho como resposta o bom e velho “não faça o que seus ‘inimigos’ fazem ou se tornará como eles”.
A verdade, triste, mas não menos real, é que estamos sim diante de um cenário catastrófico em termos de evolução política. Com efeito, existe um candidato que atualmente flerta com a ditadura, e o pior, ainda com apoio de parte de seus financiadores e eleitores. Grande parte desse movimento pode se dever a um reacionarismo contido que aflorou após a queda de Dilma em 2016, com a impressão de que Chefes de Estado podem ser depostos por mero talante.
Enfim, voltando ao tema em si, não nego que o deputado Janones tenha o direito de se expressar politicamente como esse bem entender, mas a liberdade de expressão claramente possui um limite. Dentro do entendimento atual do STF esse limite seria o discurso de ódio (ou para os anglófilos “hate speech”), e, nesse sentido, a manifestação do deputado bordeja (ou será que ultrapassa?) essa linha.
Como eleitor, posso seguramente dizer que independentemente de votar em A ou B, ou talvez até mesmo em C, a maior preocupação do brasileiro deveria ser com a democracia. Ora, é justamente a democracia que permite que as ideias possam fluir de forma livre e desimpedida (pelo menos em tese ou em uma maior medida), e sem a democracia a vida como a conhecemos não será a mesma.
É nessa toada que quero terminar esse breve texto com uma reflexão. Considerando que ainda acredito na possibilidade de convivência mútua entre bolsonaristas e não-bolsonaristas, a pergunta seria: quem se beneficia ao se autorizar a incitação do ódio?
Nota:
[1] Conteúdo disponível em: <https://twitter.com/AndreJanonesAdv/status/1562543194042077185?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1562543194042077185%7Ctwgr%5Eeddd5918fccd1bb0048a6f33022daf19422ae01d%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.diariodocentrodomundo.com.br%2Fessencial%2Fjanones-eu-autorizo-nos-tts-internautas-apoiam-na-web-por-tratar-bolsonaristas-como-vagabundos%2F>. Acessado em: 25/08/2022.