As pesquisas eleitorais e seus erros
Por Paulo Schwartzman.
Olá leitores, tudo bem? Independentemente
de qual foi seu voto no domingo passado, acredito que as eleições desse ano
podem ter nos dado uma lição valiosa acerca da forma como fazemos pesquisa. Com
efeito, um fenômeno comum nesta eleição foi o erro grotesco em grande parte das
pesquisas eleitorais (cito, como exemplo máximo dos erros grosseiros, o
referente ao pleito de governador do Mato Grosso do Sul, no qual as pesquisas
apontavam que o mais votado seria André Puccinelli [31% de votos segundo o
IPEC], e esse ficou com apenas 17,2% dos votos na eleição, restando, inclusive,
fora do 2º turno). O texto da coluna versará em sua maior parte, no entanto,
sobre o equívoco que mais repercutiu, ou seja, justamente aquele referente ao
pleito presidencial.
Exemplifico. As duas pesquisas
de maior relevo, realizadas pelo Datafolha e pelo IPEC, respectivamente,
apontaram para o seguinte cenário: 50% - Lula; 36% - Bolsonaro e 51% - Lula; 37%
- Bolsonaro. Nas urnas o resultado final foi o seguinte: Lula – 48,4% e
Bolsonaro – 43,2%.
Os defensores das pesquisas
podem vir dizendo que os “erros” teriam acontecido principalmente nos votos do
atual presidente Jair Bolsonaro, sendo que os votos do ex-presidente Lula
estavam ou dentro ou muito próximos da margem de erro (2 pontos percentuais em
ambos os estudos). Entendo o ponto arguido, mas discordo que isso prove que as
pesquisas foram bem feitas. Ora, não se pode dizer que uma pesquisa realmente é
adequada se ela erra mais de 8 pontos percentuais de um candidato (uma
diferença que em termos de número de cidadãos dá mais de 9 milhões de
brasileiros, pelo menos nessa eleição).
Metáforas bonitinhas
explicando as pesquisas eleitorais, como a de Luciano Huck, que falou sobre a
comparação destas com exame de sangue, podem até ser interessantes para dar uma
visão geral da coisa. Infelizmente, para loucura-loucura-loucura de Huck, as
pesquisas eleitorais, como produtos interdisciplinares entre as hard
sciences e as soft sciences, misturando a estatística e a matemática
com as ciências sociais, notadamente a antropologia, precisam de um cuidado
maior para sua interpretação. Com efeito, não podemos, sob pena de reducionismo
extremado, imaginar que uma pesquisa eleitoral possa de fato captar todas as
nuances de um Estado tão grande como o Brasil. Claramente, pelo menos do que
foi mostrado nessas eleições, o método de se fazer pesquisa precisa ser
aprimorado para captar nuances diversas das já percebidas.
Alguns fatores podem ter
influenciado o resultado das pesquisas, como, por exemplo, o atraso na
atualização dos dados demográficos brasileiros. Outro ponto levantado teria
sido um possível “boicote” por parte dos eleitores de Bolsonaro. Nesse sentido,
vale lembrar que só é colhida a opinião eleitoral de quem se permite participar
das pesquisas, e, nesse sentido, como havia uma desconfiança grande por parte
dos bolsonaristas em relação a estas, foi levantada a hipótese de que isso
poderia ter influenciado no resultado.
Outra causa da incorreção,
pelo menos segundo alegado pelos próprios institutos em sua defesa, é o fato de
que a pesquisa seria um mero recorte momentâneo da intenção de voto. Nesse
sentido, para aqueles que são das ciências médicas, permitam-me uma analogia,
seria como se a análise fosse de glicose no sangue, e não de hemoglobina
glicada. Para os que são das artes visuais, as pesquisas seriam como uma
fotografia, e não um filme. E para quem gosta de literatura, como eu, as
pesquisas seriam um capítulo do livro, mas não este inteiro (e muito menos o
final).
Não acredito que a medida mais sadia seja tentar criminalizar pesquisas eleitorais que derem errado, como propôs em fala o deputado federal Ricardo Barros um dia depois dos resultados do primeiro turno[1] (aqui). Melhorar os parâmetros, entender as nuances brasileiras e, mais que isso, a falibilidade de métodos estatísticos apurados sem a necessária interpretação de um contexto parecem ser as melhores saídas para resolver o problema.
Nota:
[1] Conteúdo disponível em https://www.cnnbrasil.com.br/politica/lider-do-governo-na-camara-quer-lei-para-punir-institutos-de-pesquisa/ Acesso em 06/10/2022.