A Síndrome do “Precisava Ser Assim?”
Por Paulo Schwartzman.
Olá leitores, tudo bem? Na
coluna dessa semana achei interessante falar um pouco sobre a situação que eu
apelidei de Síndrome do “Precisava Ser Assim?”
Primeiro acredito que compense
falar um pouco sobre o que seria a ideia de síndrome. Síndrome é, pelo menos
para a maior parte dos dicionários consultados por este escritor, um “conjunto
de sintomas”. Nesse sentido, a síndrome caracteriza-se por dois fatores, se é
que podemos decompor ainda mais esse termo: a pluralidade de elementos e o fato
de esses efeitos terem um fator comum de causa, uma doença.
Certo Paulo, e por qual motivo
tivemos de dar toda essa volta sobre o que é uma síndrome? Calma querido leitor
e querida leitora, a ideia aqui é construir suavemente uma imagem em vossa
cabeça.
Aqui em terrae brasilis,
infelizmente, a cultura de desrespeito aos direitos das pessoas é claramente
norma cogente. Ou seja, os cidadãos têm de suportar, diariamente, violações a
seus direitos. Exemplifico: quantas vezes um produto não chegou quebrado e foi
um verdadeiro parto para conseguir que a loja o arrumasse? Quantas vezes não
perdemos uma tarde inteira para resolver um problema no banco? Quantas vezes
não somos incomodados por telemarketing mesmo tendo se inscrito em diversos
programas para não sermos perturbados? Quantas vezes não sentimos que nesse
país não há Justiça, ou pior, que se há “Justiça” ela é só para uma casta
específica?
Enfim, poderia passar umas 50 páginas
falando sobre as violações corriqueiras e que, desafortunadamente, acabamos por
nos acostumar. É justamente sobre esse “acostumar” que eu tive vontade de
escrever essa coluna: nós, brasileiros, passamos a apresentar sintomas dessa
síndrome do “precisava ser assim?”.
São sintomas dessa Síndrome:
tomar medidas de precaução extra ao adotar atitudes cotidianas – como tirar
print de promoções (pois sabemos que raramente elas são aplicadas, e que nós
teremos que provar a validade delas – o que por si já é um abuso); ter todas as
comunicações oficiais das companhias com quem contratamos à mão (pois sabemos
que se faltar um número de protocolo não teremos nosso atendimento realizado);
sentir-se culpado por não tomar as medidas acima narradas (quantas vezes já vi
pessoas incríveis se culparem por não ter, por exemplo, mandado um e-mail de
confirmação de reserva – sendo que isso é dever do hotel - e ter “perdido” a
estadia em decorrência de clara prática abusiva de overbooking); etc. O
ponto que quero fazer é: o brasileiro apresenta essa pluralidade de elementos
advindos de uma causa doentia única: o desrespeito aos direitos.
Quanto ao nome da Síndrome, achei por bem nomeá-la de Síndrome do “Precisava Ser Assim?” justamente pela provocação intrínseca que o epíteto possui em si. Não leitora, não leitor, não precisava ser assim.