Tenho Medo

Meu avô contava os detalhes de sua chegada ao Brasil em 1915. Ele tinha 12 anos, veio de Portugal com um primo para morar na casa de conhecidos de seus pais. O resto da família ficou na Europa. Doze anos...Cruzando os mares para viver num país distante, na Bauru de 1915, que era pouco mais que uma vila de ruas de terra, a astronômicos 320 quilômetros de São Paulo.

Fonte: Luciano Pires

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1. Pois a Luciana Gimenez levou a ferradura de julho. Agora começou a eleição do candidato de Agosto para o Troféu Brasileiro Pocotó. Mudamos o sistema e você pode acessar www.lucianopires.com.br para ver a lista de quem os internautas estão julgando emburrecedores do Brasil. Passe lá, inscreva seu candidato, deixe seu voto.

2. Na enquete, com cerca de 300 votos, o maior resultado foram as 24% das pessoas que tiveram até hoje entre 1 e 3 parceiros sexuais. Um resultado conservador. Mas somando os que perderam a conta aos que disseram que tiveram entre 4 e mais de 20, chegamos aos 70%. Alguém aí tem uma pesquisa desse tipo que determine o padrão do brasileiro?

TENHO MEDO

Meu avô contava os detalhes de sua chegada ao Brasil em 1915. Ele tinha 12 anos, veio de Portugal com um primo para morar na casa de conhecidos de seus pais. O resto da família ficou na Europa. Doze anos...Cruzando os mares para viver num país distante, na Bauru de 1915, que era pouco mais que uma vila de ruas de terra, a astronômicos 320 quilômetros de São Paulo.

Meu avô só retornou à Portugal nos anos 30, para visitar a família. Aí lembro-me de minha infância em Bauru, aos 7 anos, seguindo a pé, sozinho ou com meu irmão mais novo, até a pré-escola. Com a lancheirinha de plástico, conga e calção vermelho, percorria as seis também astronômicas quadras até a escola. E voltava a pé para casa. E ia a pé para o clube, ou de bicicleta para a aula de violão.

Agora seja sincero: você tem coragem de deixar seu filho ou filha de sete ou doze anos ir a pé, sozinho ou sozinha, para a escola ou o clube?

E de mandá-los para viver noutro país, mantendo contato apenas por carta, que leva semanas para chegar?

Eu não tenho. Tenho medo.

Eles podem ser seqüestrados, assaltados, barbarizados, atropelados, atacados, aliciados, agredidos...

Fico imaginando o que se passou nas cabeças de meus bisavós, noventa anos atrás. Será que eles imaginavam os perigos que seu filho pequeno correria?

Além de tudo que já citei, ainda havia o oceano a cruzar e a tragédia do Titanic tinha ocorrido apenas três anos antes...

De onde vinha a coragem daqueles pais? E dos meus pais?

A coragem que hoje não tenho?

Penso que tudo é uma questão de percepção do risco que é colocado diante de nós a cada segundo, pelos exemplos das pequenas e grandes tragédias que são tratadas como espetáculo pela mídia.

A percepção do risco é cada vez mais ampliada. Temos medo.

E quanto mais informação, mais comunicação, mais tecnologia, mais modernidade, mais medo.

O Brasil é um país de gente que vive com medo. Medo de arriscar. Medo de investir. Medo de ousar. A cada segundo somos lembrados de que devemos ter medo. E a coragem que trouxe meu avô para o Brasil e, antes dele, os destemidos navegadores que nos descobriram, morre aos pouquinhos.

A institucionalização do medo paralisa nossas vidas e explica grande parte da falta de atitude que vemos em todos os segmentos de nossa sociedade.

Fico então com uma pergunta:

Quanto você acha que consegue realizar um povo que tem riqueza cultural, conhecimento e criatividade...Mas não tem coragem?

Luciano Pires é profissional de comunicação, jornalista, escritor,conferencista e cartunista, atualmente Diretor de Comunicação Corporativa da Dana. Visite o site www.omeueverest.com .

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