O peso da idade no bolso

Fonte: Jornal O Globo

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A população idosa brasileira sofre mais com a inflação, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade (IPC-3i), divulgado ontem, pela primeira vez, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Enquanto de agosto de 1994 a dezembro de 2004 os reajustes para toda a população foram em média de 176,51%, para as famílias nas quais 50% das pessoas têm 60 anos ou mais a alta atingiu 226,14%. Segundo André Furtado Braz, coordenador do IPC Brasil, produtos que pesam mais nessas famílias tiveram reajustes maiores, o que explica a diferença.

? Itens como plano de saúde e remédios, hortaliças, frutas e pescados frescos têm peso maior no orçamento nessa faixa etária.

Outro fator a corroer mais os rendimentos são as tarifas. O grupo habitação ? no qual estão concentrados os gastos com telefone, água, luz e gás ? é responsável por 33% das despesas dessa parcela da população, enquanto representa 30% para o restante das famílias:

? Depois de aposentado, fica-se mais tempo em casa, gasta-se mais luz, telefone, água. E o aumento das tarifas foi muito alto no período ? disse Braz.

CUT e Força querem recompor benefício

No orçamento das famílias com mais idosos, plano de saúde e remédios são os maiores pesos. O primeiro engole 6,81% da renda dos idosos, contra 3,70% da população em geral. E com os medicamentos, a despesa é dobrada: 4,48% contra 2,20%. A funcionária pública federal aposentada Teresa de Souza, com mais de 70 anos, sabe bem o peso dessa despesa. Esteve domingo na farmácia e deixou R$ 330 para comprar os remédios da mãe e parte dos medicamentos do marido, de 73 anos:

? Ainda falta um colírio para catarata, que custa R$ 91. Tentei pegar alguns remédios na farmácia popular, mas só tinha um. Os remédios estão pela hora da morte ? diz Teresa, que ainda reclama da falta de aumento nas aposentadorias. Ela ganha menos de mil reais.

Mas, segundo Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV, a população de 60 anos ou mais teve ganho real de renda nos anos 90. Tirando o efeito da alta de preços captada pelo novo índice, o aumento foi de 32%. Esse fato, na opinião do economista, pode ter impacto nos preços dos produtos mais consumidos por essas famílias:

? Cerca de 16% de toda a renda apropriada pela população vêm de aposentadorias. Percentual que vem crescendo ? afirma.

No primeiro trimestre de 2005, a inflação dos idosos foi de 1,79%. A taxa é inferior à registrada para o restante da população, que teve no mesmo período alta de 1,99%. O comportamento naquele trimestre foi diferente do que a FGV apurou desde 1994: de lá para cá a inflação para os idosos sempre foi maior. A diferença este ano foram os transportes. Como a população de terceira idade tem gratuidade no transporte público e a inflação no período foi puxada pelo reajuste de 17,5% nas passagens de São Paulo, a taxa ficou menor. Segundo Braz, o índice de 2005 também é inferior ao registrado no mesmo período do ano passado, quando o IPC-3i foi de 1,91%. Em 2004, o índice acumulou variação de 6,58%, contra 6,27% do IPC-BR.

? Em 2004, o aumento dos remédios foi no primeiro trimestre. Este ano, passou a vigorar este mês ? afirma Braz.

A divulgação do IPC-3i acontece em meio à discussão sobre desvincular os reajustes do salário-mínimo do piso previdenciário. Muitos defendem a medida para reduzir o déficit da Previdência. Wilson Roberto Ribeiro, coordenador geral do Sindicato Nacional dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas da CUT, a luta tem que ser o oposto. A entidade quer levar para o conjunto dos benefícios (a média é de R$ 430) os reajustes do mínimo. João Batista Inocentini, presidente do sindicato da categoria ligado à Força Sindical, diz que aceita negociar a mudança no indexador, mas se houver um plano de recuperação do poder de compra dos aposentados no país:

? Nossa cesta de produtos sobe mais ? diz Inocentini.

Segundo Neri, o objetivo de calcular o IPC-3i foi dar uma face humana ao índice de inflação:

? São 15 milhões com mais de 60 anos. É uma faixa etária que cresceu três vezes mais que a população total nos últimos 30 anos e deve dobrar em 25 anos.

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