Lula limitou alta do mínimo para ter sobra no Orçamento para investir
O presidente, mais uma vez, ficou com Palocci num momento em que houve clara e forte divisão na cúpula do governo.
Uma posição firme da Fazenda na defesa do menor impacto possível nas contas públicas e o desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de maior sobra no Orçamento a fim de investir em infra-estrutura e projetos sociais foram os motivos que levaram o salário mínimo a ser reajustado de R$ 240 para R$ 260.
A demora na definição do valor, que consumiu pelo menos cinco longas e grandes reuniões nas duas últimas semanas, aconteceu porque o presidente ficou até o último momento avaliando o custo-benefício de um reajuste maior e de menor sobra de recursos para medidas pontuais de geração de emprego que pretende anunciar por ocasião do 1º de Maio, o Dia do Trabalhador.
Contrariado com os baixos gastos de 2004, Lula tem feito reuniões com a equipe para dar broncas e pedir que ministros tirem projetos do papel. A intenção de Lula é anunciar um ambicioso projeto de habitação popular, com recursos na casa dos R$ 2 bilhões, entre as medidas do 1º de Maio. Lula, porém, temia e teme que o anúncio dessas medidas tenha o destino de outros anúncios.
Planeja-se e alardeia-se um programa bilionário, mas os resultados concretos não saem --seja pela dureza da área econômica na liberação de recursos, seja por falta de competência dos gestores do programas.
Nas últimas duas semanas, Lula ouviu de seus auxiliares argumentos pró e contra o modesto aumento do salário mínimo. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, capitaneou um grupo que tinha o apoio até do ministro da Casa Civil, José Dirceu, por um aumento menor.
O principal argumento era o impacto sobre as contas da Previdência, dos Estados e dos municípios. Palocci rejeitava ainda dar sinal de farra fiscal num momento em que o governo sofre pressões de diversas categorias do funcionalismo (inclusive com greves em andamento) por reajustes significativos.
Já o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, defendeu um aumento maior alegando que o mínimo tem forte efeito na distribuição de renda e que isso ajudaria a aquecer a economia --aumentando, por sua vez, a arrecadação de impostos e diminuindo o impacto final sobre as contas públicas de modo geral.
Mas o presidente, mais uma vez, ficou com Palocci num momento em que houve clara e forte divisão na cúpula do governo.