Homem X Natureza

Paola Mardini Lopes, pós-graduanda em Direito Ambiental e Agrário, FADISMA (Santa Maria-RS).

Fonte: Paola Mardini Lopes

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Paola Mardini Lopes ( * )

Em uma primeira análise do título acima você interpretaria: o homem está contra a natureza ou o homem e a natureza estão interligados...

A relação homem - natureza é vista e vivida de maneira diferente por um indivíduo ou grupo cultural dependendo do momento histórico e do lugar. Para algumas culturas, por exemplo, as forças da natureza - raios, trovões, maremotos, vulcões, frutos, alimentos, calor, abundância, escassez, etc. - eram entendidas como expressões da mãe natureza.

A vida do homem em sociedade, desde os tempos remotos sempre esteve ligada diretamente com a natureza, tal relação é tão automática que muitas e muitas vezes o homem nem percebe, ou melhor, esquece desta ligação enorme com o meio onde ele respira, trabalha e se relaciona.

Na antiguidade, a natureza foi cultuada como divindade, mas com o decorrer dos tempos, o domínio da espécie humana sobre qualquer ser vivo, em movimento ou inerte que paira sobre o planeta terra apagou da memória esta cultura de inter-relação divina com a natureza.

As culturas modernas, estão fundamentadas na oposição entre o homem e a natureza. A natureza foi vista como uma máquina da qual era necessário extrair suas leis de funcionamento para dominá-la e torná-la útil para o homem. Todo conhecimento devia então ter uma finalidade no sentido de colocar o homem acima da natureza, torná-lo amo e senhor da natureza.

Bastaria dar uma olhada na física quântica e na física da relatividade para ver como durante o século XX foram trabalhadas de maneira radical - homem-natureza - , levando o pensamento humano a transcender limites e a enxergar a natureza de maneira inteiramente diferente do que estamos acostumados.

Atualmente, compreender o mundo onde vivemos tem sido a maior preocupação de todos, uma vez que estamos traçando o futuro dos nossos descendentes, e isto, pelo que se tem analisado, será um futuro cheios de interrogações.

Desde o aparecimento do homem como espécie inteligente, ele vem interferindo sistematicamente no meio ambiente, degradando-o cada vez mais.

A regra hoje é o caos!

Está na hora de repensar sobre as leis universais no que tange à natureza e ao homem, entre si. Somos o resultado de idéias um tanto complexas de um passado onde se cultuou a idéia de que o desenvolvimento da sociedade onde vivemos está diretamente ligado com o desenvolvimento econômico da população, mesmo que para isso o meio onde esta localiza-se, tenha que ser sacrificado pela busca do sucesso econômico.

Apesar do Planeta Terra estar no limiar desse colapso, ainda é tempo de refletirmos que toda a sociedade é responsável pela degradação ambiental, pois: os grandes empresários poluem com sua atividade industrial, comercial, e o pobre polui por falta de condições econômicas de viver condignamente e por falta de informações, e por sua vez, o Estado polui por falta de informações ecológicas de seus administradores, gerando uma política desvinculada dos compromissos com o meio ambiente.

É chegada a hora de renunciarmos a idéia de que tudo é reversível, a sociedade deve emergentemente ter mais 'humildade zoológica', esta um tanto simples, ou seja, o retorno direto para com a natureza, poupand-a do sacrifício exacerbado que ela tem feito até agora.

Todo os acontecimentos representam uma alteração no meio ambiente, os efeitos refletem e a evolução é imprevisível. O homem em uma análise simples e lógica, resgatada dos tempos remotos, é a natureza, mas a humanidade parece que esqueceu, ou não consegue mais enxergar, tendo em vista, ter convivido com esta idéia a vida toda.

Mesmo que o homem se encontre em um metanível em relaçãoaos demais seres vivos, não pode dizer que rompeu com toda a ligação, e assim, se distanciar e subjuga-los. A lógica recepcionada pelos científicos, hoje, é que o homem não pode sobreviver sem o meio onde vive, meio este denominado natureza, enquanto que o inverso não se verifica.

Francois Ost, brilhante doutrinador do tema, em sua obra 'A natureza à margem da lei: A ecologia a prova do direito', trata que o homem é além da ordem, a desordem, ou seja, ele é livre em relação ao seu espírito, mas integralmente ligado ao meio ambiente físico. Sendo que podemos entender que isto é a base da nova consciência humana, a descoberta da fragilidade da vida, que é apenas uma partícula da natureza.

Há uma certa urgência em descrever a história da natureza, entendendo o meio e manter-se vivo. Homem, ontem expectador, hoje ator, inserido diretamente dentro da compreensão natural do meio em que vive, sem que possa influenciar o próprio sistema que estuda. Uma afirmação meio bombástica que os cientistas e doutrinadores estão desenvolvendo em seus projetos em prol da sustentabilidade do Meio Ambiente.

A idéia projetada é a de que: se há um projeto do homem com a natureza, também deve estar ciente de que há um projeto da natureza para com o homem, pois, a natureza ultrapassou-se a si mesmo quando criou o homem, que pode ser representado pela natureza consciente.

Para o escritor inglês C.S. Lewis (1898-1963), nascida na Irlanda, que criou o filme, lançamento no Brasil - As crônicas de Nárnia: o Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa -, é a natureza que está conquistando o homem. Todas as invenções, todos os 'avanços' e progressos, não representam o poder do Homem sobre a Natureza, mas o poder de alguns homens sobre o resto dos homens com a Natureza como instrumento.

Avião, rádio, internet: não se pode dizer que estamos conquistando a natureza com eles. Afinal, o homem é tanto sujeito quanto objeto de tal poder: aviões são bons, mas não quando nos jogam bombas na cabeça; o rádio é bom, mas não quando terroristas o usam para intercomunicarem-se; a internet é boa, mas não quando é usada por Manipuladores para vasculhar nossa intimidade.

O que o escritor quer dizer é que essas invenções, muito além de apenas nos trazerem confortos e divertimentos, trazem em si o acúmulo cada vez maior de poder nas mãos de alguns poucos homens, à medida que a modernidade 'avança', nos propondo um exercício de imaginação:

'...como será o século C d.C...como estaremos vivendo lá pelo ano 10.000 d.C...Os homens do passado tinham lá seus problemas: guerra, fome, opressão. Mas nunca, em toda a história, ouviu-se falar de Estado mundial, de ogivas nucleares, de manipulações psicológicas em massa, de campos de concentração.''

Tudo o que foi escrito se resume em um simples projeto de renovação, ou seja,o homem depois de muito destruir também pode reconstruir, a humanidade deve ser vista como um médico planetário. Este compromisso é personalíssimo, de modo que não está adstrito a nenhum outro compromisso. É um compromisso da sociedade consciente, não se trata de obrigação legal, mas moral e ética de cada um.

Logo, concluindo, a natureza não é objeto, o homem faz parte dela.

"Tudo o que move é sagrado e remove as montanhas como cuidado...
Abelha fazendo o mel, vale o tempo que não vôou,
A estrela caiu do céu, o pedido que se pensou...
Todo dia é de viver, para ser o que for e ser tudo,
Sim, todo amor é sagrado e o fruto do trabalho é mais que sagrado...
A massa que faz o pão, vale a luz do teu suor,
Lembra que o sono é sagrado e alimenta de horizontes o tempo acordado de viver.
No inverno te proteger, no verão sair pra pescar
No outono te conhecer, primavera poder gostar
No estio me derreter pra na chuva dançar e andar junto..."

Trecho da música 'Amor de Índio' de Daniela Mercury.


Notas:

* Paola Mardini Lopes, pós-graduanda em Direito Ambiental e Agrário, FADISMA (Santa Maria-RS). [ Voltar ]

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1 Comentários

04/08/2008 16:59 Responder

Marcelo Dutra empresário 05/05/2011 16:42

muito bom

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