Economista diz que delator mandou para Delcídio do Amaral R$ 1,5 milhão ‘em caixas’

Antônio Alberto Leite Godinho declarou que foram levados à portaria de seu prédio, em São Paulo, ‘entre cinco e sete entregas de dinheiro’.

Fonte: Estadão

Comentários: (0)




O economista Antônio Alberto Leite Godinho afirmou à Polícia Federal que, entre 2006 e 2007, em nome do então senador Delcídio Amaral (Sem partido-ex-PT-MS), recebeu R$ 1,5 milhão do operador de propinas e delator da Lava Jato Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano. Antônio Godinho afirmou que foram enviados a ele ‘em várias ocasiões, pacotes de dinheiro deixados na portaria do prédio’. Os valores pagaram, segundo o economista, credores da campanha de Delcídio ao governo do Mato Grosso do Sul, em 2006.


Um interlocutor identificado como ‘Godinho’ havia sido citado pelo ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró em março deste ano. Cerveró afirmou, em delação premiada, que em 2006 Delcídio pediu contribuição financeira para ‘auxiliá-lo na campanha eleitoral’. Ele declarou que Baiano repassou US$ 1,5 milhão ‘a uma pessoa ligada a Delcídio do Amaral de nome Godinho, indicada pelo senador’.


Em sua delação, Delcídio relatou que disse a Cerveró que Godinho, ‘amigo de longa data’ iria procurá-lo para receber US$ 1 milhão, a ser entregue por Fernando Baiano. O ex-senador afirmou que o valor recebido não foi contabilizado oficialmente por ele e as dívidas de campanha foram pagas. Delcídio declarou ainda se arrepender ‘da campanha eleitoral disputou em 2006 e que ‘soube, posteriormente, que a origem desses recursos teria advindo de propinas pagas a partir da compra da Refinaria de Pasadena, no valor global de US$ 15 milhões’.


O depoimento de Godinho foi prestado em 25 de maio de 2016. À PF, ele contou que estudou com Delcídio no Colégio São Luiz, em São Paulo. Em 2002, segundo Godinho, ele organizou um encontro da turma de escola para comemorar trinta anos de formatura e se reaproximou de Delcídio, recém-eleito senador.


“Após essa reaproximação, o declarante teve a oportunidade de acompanhar Delcídio do Amaral, em entrevistas e eventos, quando realizados em São Paulo, além de tê-lo encontrado em diversas ocasiões, sobretudo de cunho social, envolvendo as famílias de ambos”, relatou Godinho, que disse ter ocupado cargos na administração pública, ‘tais como na Casa Civil do Estado de São Paulo, no Ministério da Agricultura e na Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp)’.


“Em algum dos encontros que travou com Delcídio Amaral, este lhe mostrou uma lista com diversas pessoas e empresas, as quais seriam credores da campanha eleitoral ao Governo do Estado do Mato Grosso do Sul, realizada naquele ano de 2006; que o então senador queixou-se de que estava enfrentando muitas dificuldades para saldar tais dívidas, alegando que recém havia obtido a possibilidade de um apoio financeiro no Rio de Janeiro; perguntando ao declarante (Antônio Godinho) se este poderia prestar-lhe ajuda para a operacionalização desses pagamentos; que a tarefa do declarante seria apanhar os valores e realizar o pagamento dos credores das dívidas de campanha.”


De acordo com o economista, Delcídio então lhe passou um número de telefone para que fosse feito um primeiro contato com Fernando Baiano, ‘que seria o responsável por disponibilizar os valores no Rio’. Antônio Godinho declarou que ligou para Baiano ‘a quem não conhecia e, ao mencionar o nome Alberto Godinho, Fernando afirmou que sabia do que se tratava, orientando o declarante a comparecer no Rio de Janeiro, em endereço do qual não recorda’.


À Federal, o economista relatou que acabou indo de São Paulo ao Rio em três ocasiões. Na primeira, logo após a campanha eleitoral de 2006, esteve em um endereço no centro da capital fluminense. Segundo o economista, tratava-se ‘de um prédio velho, pequeno, aparentemente empresarial, em que Fernando Soares mantinha um escritório’.


“Ao chegar no endereço, o declarante conversou pessoalmente com Fernando Soares, mas não obteve nenhum valor, tendo apenas tratado a respeito”, disse.


“Fernando Soares confirmou que disponibilizaria os valores, cerca de R$ 1,5 milhão, mas não dispunha, naquela oportunidade, de nenhuma parcela dessa monta.”


No depoimento, Antônio Godinho contou que as duas idas seguintes ao Rio, também para cobrar valores de Fernando Baiano, foram ‘sem sucesso’. Todas as viagens, afirmou, foram realizadas por transporte aéreo, com ida e retorno no mesmo dia, pelos aeroportos de Congonhas, em São Paulo, e Santos Dumont, no Rio.


“Em algum momento das tratativas com Fernando Soares ficou acertado que o dinheiro seria levado até a residência do declarante (Antônio Godinho), em São Paulo, o que de fato ocorreu; que esclarece que foram enviados ao declarante, em várias ocasiões, pacotes de dinheiro deixados na portaria do prédio; que tais valores estavam acondicionados em caixas cobertas por papel pardo, contendo o nome do declarante; que foram entre cinco e sete entregas de dinheiro realizadas na forma recém-descrita”, disse.


Godinho afirmou à PF que ‘nunca teve contato com a pessoa que deixou tais valores na portaria do prédio, complementando que saía pela manhã de casa e retornava somente ao final do dia’. O economista declarou que ‘achou estranho essa modalidade de entrega, mas nunca a questionou’.


“O ex-senador Delcídio apenas perguntava ao declarante se estava correndo tudo bem, referindo-se à chegada do dinheiro e aos pagamentos; que o intervalo de tempo entre cada remessa de dinheiro ficava entre quinze e vinte dias, salvo engano; que, no total, o declarante acredita que tenha recebido em torno de R$ 1,5 milhão”, relatou.


Godinho declarou que ‘por desempenhar essas tarefas’, recebeu do ex-senador ressarcimento dos gastos que teve com passagens aéreas e demais despesas relacionadas às viagens, e uma pequena compensação financeira de cerca de R$ 6 mil a R$ 8 mil. Os valores foram solicitados, disse Godinho, ‘em face do grande transtorno que teve ao realizar os pagamentos no interesse do ex-senador’. Segundo o economista, ao receber os valores de Fernando Baiano, ele passava a pagar os credores de Delcídio, ‘seguindo as prioridades que o ex-senador tinha indicado’.


“Havia, na lista, muitas pessoas humildes, que sequer tinham conta bancária, sendo que outras, a maioria, mantinham contas-poupança na Caixa Federal ou no Banco do Brasil; que havia, na lista, também muitos postos de combustíveis e empresas de rádio, além de empresas de alimentação; que o declarante não se vê em condições de identificar nominalmente qualquer dessas empresas; que o declarante levou cerca de dois meses para conseguir saldar todas as dívidas que constavam na lista que Delcídio havia lhe passado”, afirmou.


O economista afirmou que ‘nunca teve conhecimento quanto à origem dos valores que Fernando Soares enviou à sua residência’. A PF questionou Godinho se ‘pelas circunstâncias como foram enviados os valores (de forma arriscada e sem o uso do sistema financeiro)’, ele nunca teria se questionado sobre a licitude do dinheiro.


“Respondeu que não, esclarecendo que, como Delcídio era amigo de muitas pessoas “bem posicionadas” financeiramente, pareceu tratar-se apenas de uma forma “excêntrica” de remeter os valores; que o declarante, após finalizar o pagamento dos credores de Delcídio, nunca mais realizou qualquer tarefa relacionada a dinheiro no interesse dele, quer estabelecendo contatos com colaboradores ou fornecedores de campanha, quer apanhando ou remetendo dinheiro a terceiros”, disse.

Palavras-chave: Petrobras Propinas Operação Lava Jato Delação Premiada

Deixe o seu comentário. Participe!

noticias/economista-diz-que-delator-mandou-para-delcidio-do-amaral-r-15-milhao-em-caixas

0 Comentários

Conheça os produtos da Jurid