Desafios e Oportunidades do aumento das recuperações judiciais no agronegócio
Agronegócio impulsiona economia brasileira, abastece mercado interno e exportações.
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Já há muitos anos é sabido que o
agronegócio é o principal motor da economia brasileira, contribuindo
significativamente para o crescimento do país e desempenhando um papel crucial
no abastecimento interno e na balança comercial das exportações.
Ocorre que, mesmo que pareça que o
setor vive em céu de brigadeiro, fato é que o agronegócio não é imune a crises,
o que pode ser identificado pelo aumento exponencial das recuperações judiciais
no setor. Para se ter uma ideia, em 2023, o número de pedidos de recuperação
judicial por parte de produtores rurais saltou 535%, segundo dados da Serasa
Experian.
Recentemente, o Ministro da
Agricultura, reconhecendo a importância das recuperações num cenário de crise,
externou preocupação com o aumento dos processos, destacando os impactos
negativos que essas podem ter sobre a estabilidade e o desenvolvimento do
agronegócio, trazendo, inclusive, efeito contrário ao que se almeja, pois o
mercado, cada vez mais desconfiado na saúde do setor e sendo vítima dos
processos de recuperação cada vez mais agressivos, vai precificar esse custo e
embutir nos preços dos produtos de toda a cadeia – o que, certamente, vai gerar
um efeito cascata que vai aumentar o custo de produção de forma sensível.
Essa crítica não pode ser ignorada,
pois ressalta uma questão complexa que merece reflexão e ação por parte de
todos os envolvidos. Antes de qualquer coisa, é importante compreender o que
está por trás desse aumento nas recuperações judiciais, onde destacamos os
seguintes pontos:
Aumento do endividamento: o agronegócio
vivenciou um ciclo de endividamento crescente nos últimos anos, impulsionado
por fatores como a expansão da área plantada, a alta dos preços dos insumos e a
desvalorização do real.
Fatores climáticos: a seca e outros
eventos climáticos adversos impactaram negativamente a produtividade das
lavouras, reduzindo a renda dos agricultores e dificultando o pagamento das
dívidas.
Oscilações do mercado: A volatilidade
dos preços internacionais das commodities agrícolas também contribuiu para as
dificuldades financeiras do setor.
Falta de acesso ao crédito: Apesar da
importância do agronegócio para a economia brasileira, o acesso ao crédito
ainda é um desafio para muitos produtores, especialmente os pequenos e médios.
Não bastasse isso, o contexto econômico
e político do país também pode desempenhar um papel significativo nesse
cenário. Por outro lado, é importante reconhecer que as recuperações judiciais
não devem ser vistas apenas como um problema, mas também como uma oportunidade
para revisão e ajuste.
Quando uma empresa entra em recuperação
judicial, isso não significa necessariamente seu fim, mas sim uma chance de
reestruturação e revitalização. É um processo complexo, que envolve negociações
com credores, reorganização financeira e, muitas vezes, mudanças estratégicas
na gestão do negócio.
Nesse sentido, é crucial que haja um ambiente propício para que as empresas do agronegócio possam passar por esse processo de forma eficiente e eficaz. Isso inclui medidas que visem desburocratizar e agilizar os procedimentos de recuperação judicial, promover a educação financeira e gestão empresarial entre os empreendedores rurais, além de políticas públicas que incentivem a inovação e a diversificação das atividades agrícolas.
É importante ressaltar também a
necessidade de uma abordagem equilibrada por parte do governo, que reconheça a
importância do agronegócio para a economia do país, mas que também esteja
atento aos desafios enfrentados pelo setor. Isso envolve não apenas o apoio
financeiro, mas também o estabelecimento de um ambiente regulatório e
institucional favorável ao desenvolvimento sustentável do agronegócio.
Em suma, o aumento das recuperações judiciais no agronegócio é um reflexo dos desafios enfrentados por esse setor dinâmico e complexo. No entanto, ao invés de apenas lamentar essa realidade, é necessário encará-la como uma oportunidade para promover mudanças positivas e construir um futuro mais resiliente e próspero para o agronegócio brasileiro.
Dr. Marco Aurélio Ferreira, advogado e sócio da Martinho & Alves Advogados nas áreas de Direito Tributário e Agronegócios.