Brasil tem 56 milhões de miseráveis, diz FGV
Enquanto na década de 90, os miseráveis ficavam mais concentrados nos grotões rurais, nesta década a situação se agravou na periferia das grandes cidades.
A miséria no Brasil atinge 56 milhões de brasileiros, o que corresponde a 33% da população, de acordo com o Mapa do Fim da Fome II, lançado ontem pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O estudo mostra que, se cada brasileiro não miserável doasse R$ 14 por mês, a pobreza seria erradicada no Brasil. Segundo o economista Marcelo Neri, houve uma mudança geográfica na pobreza de 2000 a 2002. Enquanto na década de 90, os miseráveis ficavam mais concentrados nos grotões rurais, nesta década a situação se agravou na periferia das grandes cidades.
? A pobreza cai nas áreas rurais e fica estagnada nas metrópoles. Em regiões metropolitanas como as do Rio e de São Paulo, a miséria aumentou muito ? afirma Neri.
O problema é mais grave quando o recorte é feito na periferia das regiões metropolitanas. No Rio, o distrito de Engenheiro Pedreira convive com pobreza mais intensa, ou seja, onde o rendimento da população miserável fica mais distante da linha ? R$ 79 por mês. O distrito fica em Japeri, um dos municípios do Grande Rio.
Em média, a miséria nessas cidades do entorno da capital aumentou 18,3% entre 2000 e 2002, quando se considera o rendimento do trabalho. No município do Rio, o número de miseráveis caiu 1,68%.
? Entre 1996 e 1999, a piora da miséria atingiu igualmente capital e periferia. De 2000 a 2002, a situação ficou mais crítica fora da capital ? diz o economista.
Em São Paulo, a situação se repete. Nas cidades que formam a Grande São Paulo, excluindo a capital, a pobreza atingiu mais 10,4% de paulistanos. E na capital, o aumento foi de 1,57%.
Na avaliação do economista, a crise no mercado de trabalho foi mais grave nas metrópoles. Simultaneamente, os programas sociais são destinados aos grotões de miséria, nos sertões. Neri cita a Previdência Rural e o Benefício de Prestação Continuada como exemplos. Mas, para ele, não faltam recursos para reduzir a miséria nas áreas metropolitanas; faltam, sim, políticas integradas entre os três níveis de governo: município, estado e União.
? As grandes cidades necessitam de políticas integradas, que unam regularização fundiária, treinamento, educação e microcrédito. Não adianta resolver o problema da violência no município vizinho. Os problemas são comuns. Atualmente, vivemos uma situação caótica ? diz Neri.
Desemprego entre 15 e 29 anos é de 22,6%
Segundo Neri, o mercado de trabalho tem papel fundamental nesse quadro de miséria e, conseqüentemente, da violência que atinge os jovens. Entre a população de 15 e 29 anos, a taxa de desemprego é de 22,6%, contra 9% da média, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). A taxa quadruplicou de 1989 a 2001.