Aval do MEC à enxurrada de cursos cria "indústria do diploma"

Fonte: Conselho Federal da OAB

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Desde 1998, o Ministério da Educação vem autorizando - na grande maioria das vezes sem o parecer favorável da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - a abertura desenfreada de instituições privadas de ensino superior de Direito. Essa atitude vem influenciando diretamente nos percentuais de reprovação do Exame de Ordem, que têm aumentado gradativamente. Hoje, o Brasil possui 862 cursos jurídicos em funcionamento, sendo mais de 700 particulares e apenas 56 federais. O índice médio de reprovação nos diversos exames de Ordem realizados no País é de 70%, ou seja, de cada cem alunos que se formam em Direito apenas 30 conseguem se tornar advogados.

Para o presidente nacional da OAB, Roberto Busato a proliferação das faculdades de Direito de baixa qualidade e a busca incessante do lucro pela maioria delas vem criando no Brasil a chamada "indústria do diploma". "A ganância da indústria do ensino tornou-se uma realidade abominável, que compromete a qualidade do mercado de trabalho e, por extensão, gera danos consideráveis à cidadania e à distribuição de Justiça".

Os reflexos da chamada ?indústria do diploma? podem ser identificados principalmente no Estado que mais possui cursos jurídicos no Brasil: São Paulo. Em um dos últimos exames realizados, o resultado final foi um dos piores já apresentados na história da advocacia brasileira. Apenas 8,57% (1.686 bacharéis) dos 19.660 inscritos no exame da OAB de São Paulo foram aprovados, perfazendo um índice de reprovação de quase 92%.

Exemplo negativo também vem do interior do país, justamente em regiões de grande importância econômica do país. Recentemente, em duas cidades pujantes do Paraná - Cascavel e Ponta Grossa -, quase a totalidade dos alunos recém-formados em Direito não obteve êxito no Exame de Ordem. Em Ponta Grossa, 92,9% dos bacharéis não conseguiram aprovação nas provas e em Cascavel, o índice de reprovação chegou a 97,6%. Os resultados foram piores até mesmo em comparação com a média de reprovação no Estado - de 91,1%.

Na região norte, a qualidade do ensino jurídico não é diferente da apresentada pelas instituições de ensino do resto do Brasil. No Pará, por exemplo, foi registrado no último exame um dos mais altos índices de reprovação de toda a sua história. Apenas 18,01% dos 663 inscritos conseguiram ser aprovados no exame, deixando à margem um percentual de 81,99% candidatos, que não alcançaram a pontuação mínima para a aprovação.

No Centro-Oeste, a qualidade dos cursos jurídicos é semelhante à do resto do País. Em Brasília, onde estão o Supremo Tribunal Federal, os Tribunais Superiores; a Advocacia-Geral da União e o Ministério Público Federal o índice de reprovação no Exame de Ordem tem sido vexatório. A última edição, por exemplo, apresentou um resultado pífio. Dos 1.184 inscritos inicialmente, 568 candidatos passaram para a segunda etapa. Destes, 306 conseguiram a média seis para obter a aprovação, ou seja, um total de 28,18%.

Para o presidente nacional da OAB, "o Exame de Ordem não pode se transformar em uma válvula de escape para a péssima qualidade do ensino jurídico no Brasil". Busato pregou a necessidade de manutenção do Exame de Ordem como ?instrumento de aferição? da qualidade do ensino jurídico e das condições em que os profissionais da advocacia são habilitados ao mercado. Segundo ele, as críticas ao alto índice de reprovação do exame partem principalmente das faculdades que visam meramente o lucro e fazem do ensino jurídico uma mercadoria.

Busato lembrou que o índice de reprovação cresceu na proporção do ?boom? do ensino jurídico, ocorrido na segunda metade do governo Fernando Henrique Cardoso, quando também a qualidade desse ensino piorou. ?O exame não se tornou mais rigoroso, a curva de reprovação cresceu no mesmo ritmo dos cursos caça-níqueis?.

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2 Comentários

WALDIR LEME SERVIDOR PÚBLICO26/05/2005 11:43 Responder

Apesar dos números apresentados não serem satisfatórios, há de se convir que muitos dos profissionais já habilitados no referido exame ou até mesmo os que foram habilitados sem esse,quando de sua implantação, acredito que todos os profissionais principalmente os já habilitados e em exercício deveriam passar por tal crivo periódicamente, inclusive os professores, para obtenção da real capacidade de todos os operadores de direito do país. A sugestão seria ao mesnos a cada (5) cinco anos, pois, muitos habilitados anteriormente podem não preencher a capacitação pretendida ou necessitarem de reciclagem. Tão importante é controlar o ingresso de profissionais nomercado, como, medir a capacidade dos em pleno exercício. " T O D O S "

WALDIR LEME SERVIDOR PÚBLICO26/05/2005 12:09 Responder

Os números expressam raciocínio lógico, assim, poderiamos imaginar quantos operadores de direito "habilitados mas inaptos" existem no país. Muitos desses profissionais, como nota-se dia-a-dia, poderiam não atender às exigências do momento, portanto, todos deveriam ser periódicamente reavaliados. "TODOS"

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