Mil dias de Ana Bolena e seus derradeiros dias
Os mil dias da Ana Bolena resultaram muitas agruras e com sua decapitação por conta de imputado incesto, adultério e alta traição. O texto narra e descreve detalhes históricos que não confirmaram a culpa da condenação da então Rainha consorte e, de ainda cinco outros amigos. Tanto o romance como o desenlace propiciaram o surgimento da Igreja Anglicana e o rompimento da Inglaterra com a Igreja Católica.
Ana
Bolena (1501-1533) foi a segunda esposa do Rei Henrique VIII, da Inglaterra
permaneceu como rainha consorte por apenas três anos, quando foi decapitada,
acusada de incesto, traição e adultério. Sua filha Elizabeth[1]
tornou-se uma das mais relevantes rainhas da Inglaterra.
Ana
Bolena nasceu no palácio de Blickling, Norfolk, Inglaterra, por volta de 1501.
Filha de Sir Thomas Boleyn, diplomata do Rei Henrique VIII[2],
e posteriormente visconde de Rockford e conde de Wiltshire, e de Elizabeth
Howard, filha do conde de Norfolk. Pertencia a uma das famílias mais influentes
da nobreza inglesa.
No dia
25 de janeiro de 1533, realizou-se secretamente o casamento de Henrique VIII e
Ana Bolena, anunciado três meses depois pelo arcebispo de Canterbury, Thomas
Cranmer, que as pressões do rei o fizeram passar por cima da autoridade papal.
Em
abril, com a sanção da nova Igreja e do arcebispo, foi declarada a nulidade do
casamento de Catarina de Aragão com o rei. Porém, no dia 1 de junho desse mesmo
ano, Ana Bolena foi solenemente coroada na abadia de Westminster. No dia 7 de setembro a rainha deu à luz a uma
menina que se chamou Elizabeth (futura rainha Elizabeth I).
Nos
anos seguintes, o rei esperou por um filho, mas aos poucos perdia o interesse
por sua esposa. Ana Bolena com seu caráter caprichoso e arrogante, não teve o
apoio dos membros mais influentes da corte inglesa.
Ana
Bolena tentou separar Maria Tudor de seu pai e de seus parentes, inclusive de
sua mãe, Catarina de Aragão. Retirou o título de princesa e para humilhá-la a
nomeou dama de companhia de sua filha Elizabeth.
Em
1536, Anaa Bolena deu à luz a um menino que morreu poucas horas depois, o que
significou sua desgraça. Em maio desse mesmo ano, começou a correr os boatos de
que a rainha estava traindo o rei.
O
sobrenome Bolena foi escrito de diversas maneiras em documentos e artefatos
durante os reinados de Henrique VII e Henrique VIII: no funeral de Henrique
VII, Thomas é listado como “Bolan”. Em uma carta escrita em francês ao seu pai
em 1513, Ana assinou como “Anna de Boullan”.
Nos
registros dos preparativos para a coroação de Henrique VIII em 1509, existem
referências a “Thomas Boleyne” e “Elizabeth Bolen”. Em registros dos anos de
1509 e 1514 Thomas é listado como “Sir Boleyn”, “Sir Thos. Bulleyn” e
seu irmão como “James Bulleyn”. Margaret da Áustria se referiu a Thomas em 1512
como “Sieur de Boulan”.
Em uma
lista da Casa Real datada de dezembro de 1516, o irmão de Thomas Bolena, James,
é listado como “Sir Jas. Bullaygne” na lista de cavaleiros. O rei
Francisco I referiu-se a Ana Bolena como a filha de “Mr. Boullan” em uma carta
de 1522.
Em
1526, Ana Bolena assinou uma carta como “Anne Bulen”. Em 1528, foi
registado que “Geo. Bulleyn” foi feito escudeiro. George Wyatt, neto de Thomas
Wyatt, o poeta, escreveu o sobrenome de Ana como “Boleigne” em sua biografia de
Ana. Ainda, nos memoriais de bronze dos filhos de Thomas Bolena, Thomas e
Henry, ambos são referidos como filhos de “Sir Thomas Bullayen”. No entanto, no
túmulo de Thomas, seu sobrenome está escrito como “Bullen”.
Sem dúvida,
“Boleyn” era a forma mais comum de escrita, uma vez que foi referenciado com
maior número de vezes: em 1510, Thomas foi listado como “Sir Th.
Boleyn”; em uma carta ele é referido como “Sir Thomas Boleyn”; no
batismo da Princesa Maria, em fevereiro de 1516, ele foi listado como “Sir Thomas
Boleyn”; Ana foi reconhecida como filha de “Sir Thomas Boleyn” nas
negociações de casamento com James Butler e como “Mistress Anne Boleyn”
durante festividades do ano de 1522; em uma carta para o Cardeal Wolsey em junho de 1528 Ana assinou
como “Anne Boleyn”; George Bolena escreveu em 1526 seu nome como “George
Boleyn”; quando convocado para participar do Parlamento em 1533 George foi
referido como “Geo. Boleyn”.
Por
quase quinhentos anos Ana Bolena gozou má reputação, apesar de ter sido uma das
mulheres mais poderosas do século XVI. Muitas histórias populares representam
Bolena como tendo olhado para o Rei Henrique VIII apenas para perseguir o
poder, e o rei fazendo o derradeiro sacrifício por amor, rompeu com Roma para
finalmente poder casar-se com ela. Foram muitas cartas de amor escritas pelo
rei a ela. Mas, antes o Rei Henrique VIII tinha como amante Maria Bolena[3],
sua irmã mais velha.
Porém,
Hayley Nolan, historiador afirma que o rei já tinha realizado investigações em
segredo sobre se divorciar de Catarina de Aragão anos antes de Ana Bolena
apresentar-se ao cenário.
Em
verdade, Ana resistiu o quanto pode aos avanços do rei. A historiadora ainda
destaca que algumas histórias sobre as mulheres são muito mal contadas.
E, há
a suspeita que a controversa sobre o adultério fora fabricada por Thomas
Cronwell, um conselheiro do rei que travava luta pelo poder com a rainha, e
destacou ainda que a falta de privacidade da rainha bem como suas crenças
religiosas arraigadas tornariam muito difícil que fosse infiel, principalmente,
com múltiplos parceiros.
Um
fato chama a atenção é que dois meses anteriores a execução de Ana Bolena, a
rainha estava envolvida na aprovação de legislação intitulada “Lei Pobre” que
declarava que oficiais locais deveriam encontrar empregos para os
desempregados. E, pela nova lei teria que se criar um novo conselho de governo,
o que rivalizava diretamente com Cromwell.
Assim,
justificou-se a razão pela qual Cromwell se sentia imensamente ameaçado pela
rainha consorte. Afinal, ela não era uma valente cruel e nem insidiosa
sedutora, em verdade, morreu por empurrar ao parlamento inglês essa lei
anti-pobreza radical.
Enfim,
a tradicional interpretação histórica sobre Ana Bolena confiou em fontes
obscuras, como no caso do embaixador espanhol Eustace Chapuys, porém ele era um
leal apoiador de Catarina de Aragão.
Em
primeiro de maio de 1536, um tradicional torneio de justa[4]
quando era comemorado diante do rei e da rainha da Inglaterra. Inesperadamente,
o Rei Henrique VIII recebeu uma mensagem urgente e, em seguida, abandonou a
esposa no camarote real. E, nunca mais voltaria a se ver...
Logo
no dia seguinte, Ana Bolena[5]
fora aprisionada em Greenwich e levada diante aos comissários liderados por seu
tio, Duque de Norfolk, para ouvir as hediondas acusações que pesavam sobre ela.
Anteriormente,
num inquérito que se destinava a verificar se a rainha teria sido adúltera com
homens da câmara real, inclusive, incestuosos, com o próprio irmão George e,
ainda, acusada de conspirar para assassinar o Rei.
Pega
de surpresa e horrorizada com as acusações, Ana Bolena teve que seguir a
comitiva de comissários pelo Tâmisa até a Torre de Londres. Era uma travessia
de quase duas horas, num clima pesado, num clima paradoxalmente oposto quando
há três anos antes, a mesma rainha navegou pelo trajeto em ritual cerimonial de
sua coroação.
Ao
avistar os primeiros pináculos do edifício onde tantos tinham desaparecido ou,
simplesmente, enviados para a morte, Ana Bolena começou a ficar nervosa e se
queixou que da última vez que esteve ali, fora recebida com tanta pompa e
cerimônia...
Durante
muitos séculos, a Torre de Londres[6]
serviu como fortaleza onde eram guardadas as joias da Coroa Inglesa e onde os
monarcas passavam sua derradeira noite antes de serem coroados na Abadia de
Westminster. Porém, o mesmo edifício serviria como prisão para os acusados de
traição. Logo ao desembargar, Ana Bolena foi recebida pelo guardião
do
lugar, Sir William Kingston, conhecido por sua notável complacência. E,
tratou de consolá-la e informou que não seria encarcerada em masmorra e, sim,
nos mesmos aposentos que ocupara antes de sua coroação. Ana demonstrou alívio
e, com lágrimas afirmou que todos eram bons demais para mim. Logo depois, veio
uma gargalhada sinistra, que já demonstrava seu nervoso e desequilíbrio
emocional. Devemos a Kingston quase todos os registros do confinamento de Ana
Bolena até o dia de sua execução, que fora em 19 de maio.
Kingston
fora incumbido pelo secretário do Rei, Thomas Cromwell, de registrar qualquer
pronunciamento comprometedor ou desviante que pudesse ser usado no julgamento
da rainha, cujo julgamento fora marcado para dia 15 de maio. Muito
provavelmente, sequer sabia que os outros homens e seu irmão também estavam
presos ali.
O
julgamento da rainha Ana Bolena foi uma operação cínica com objetivo e ter
apenas um só resultado: a sua decapitação. Pois sua morte era necessária para
que o rei Henrique VIII pudesse realizar um terceiro casamento, tão impoluto
quanto a reputação de sua nova namorada.
E,
assim o julgamento foi diferente da provação sofrida pela rainha Catarina de
Aragão em 1529, pois naquela época, pelo menos, em Blackfriars, houver
autêntico espírito de inquérito, e assim, arquitetou-se certa confusão
autêntica a respeito da validade de seu casamento com o rei Henrique. Ninguém
tinha dúvida que o veredito dado seria o de culpada com condenação de Bolena e
seus supostos amantes.
Logo
ao cruzar as portas do pátio interno, Ana Bolena sentiu faltar forças nas
pernas tanto que tombou de joelhos. E, na presença de todos fez uma prece em
voz alta, pedindo a Deus que viesse em seu auxílio, pois não era culpada do que
a acusavam. Depois, dirigiu-se aos lordes de sua escolta, e implorando-lhes
para que relatassem ao rei em seu nome, rogando que fosse bom para ela. Finda a
cena, humilhada
Ana
foi instalada na ala interna ao sul da Torre branca, onde ficavam os aposentos
reais. Noite e dia, Ana era regiamente vigiada por quatro a cinco damas de
companhia, que deveriam relatar minuciosamente tudo a Sir William
Kingston todos seus movimentos e falas.
Enfim,
a rainha teria sucumbido por completo, pois alternava acessos de choro e riso,
como fizera na primeira recepção da Torre. E, dizia frases desconexas,
irrefletidas, mais parecendo delírios, do que a outrora elegante e inteligente
pessoa que outrora teria conquistado o rei.
É fato
que o constante de tensão durante semanas, fazia pressentir que o cerco se
apertava ao seu redor, e deu vazão a todos seus sentimentos reprimidos, ora
chorando, ora rindo e até debochando da situação.
Depois,
descobriu que seu irmão e que amigos como Sir Henry Norris, e até seu
tocador de alaúde, Mark Smeaton, estavam presos, quando ficara ainda mais
nervosa e quase histérica, quando passava a discursar de forma desconexa e
insana.
George
Bolena[7],
seu dileto irmão, foi decapitado por machado em 17 de maio de 1536, em Tower
Hill nos complexos da Torre de Londres junto com outros quatro homens, que
foram acusados de terem mantido relações sexuais com sua irmã (Mark Smeaton,
Henry Norris, William Brereton e Sir Francis Weston). Thomas Wyatt
informou que ele fez um discurso defendendo suas crenças religiosas e foi
enterrado na Capela de São Pedro ad Vincula, onde Ana juntar-se-ia a
ele, dois dias depois.
A
queda de Ana Bolena foi altíssima e fatal e mostrou-se devastadora ao ter
levado para o mesmo fim, não somente a segunda esposa do Rei Henrique VIII, mas
também, outros homens inocentes entre estes, seu irmão, George Bolena. Foi
decapitado por machado em 17 de maio de 1536 em Tower Hill dentro do complexo
da Torre de Londres, juntamente com outros quatro homens, como Mark Smeaton,
Henry Norris, William Brereton e Sir Francis Weston. Segundo Thomas
Wyatt narrou que realizou discurso defendendo suas crenças religiosas e foi
enterrado na Capela de São Pedro ad Vincula onde sua irmã, pouco depois,
juntar-se-ia a ele.
O
Embaixador Imperial Eustace Chapuys, entretanto, escreveu que: “A Concubina os
viu serem executados da Torre, para agravar a sua dor.” Tal revelação, implica
que alguém fez um cruel esforço para forçar Ana a assistir seu amado irmão
morrer, a fim de atormentar ainda mais a mulher condenada, mas é pouco provável
que isto tenha acontecido”.
Apesar
da recomendação do guardião da Torre que desencorajava que as damas de
companhia mantivessem diálogo com Ana Bolena, isso não impediu que a
prisioneira narrasse certos fatos envolvendo outras pessoas.
E, a
primeira deixa denotando o colapso nervoso da rainha foi a história de Henry
Norris. Afirmando que o dito cavaleiro frequentava seus aposentos para fazer a
corte à sua prima, Margaret Shelton.
Impaciente
com o atraso de Norris em fazer o pedido, Ana cometeu a imprudência de dizer:
“Você procura pelo rastro de um homem
morto; pois se algo além de bom acontecer ao rei, você procuraria me ter”.
Horrorizado diante de tal declaração, Norris disse que preferiria ter sua
cabeça decepada em vez de adotar uma conduta tão indigna”.
O conteúdo dessa conversa era explosivo não
por causa da resposta de Sir Henry, mas pela reação agressiva da rainha.
A frase de Ana, in litteris: “se algo
além de bom acontecer ao rei, você procuraria me ter”, foi interpretada por
seus algozes como indício de um desejo pessoal da soberana pelo pretendente de
sua prima.
A
situação ficou ainda pior quando ela mencionou o nome de Francis Weston, a quem
a rainha havia repreendido um ano antes por negligenciar sua própria esposa ao
flertar com Lady Shelton.
Afinal, como Sir Francis já era casado,
Ana queria que ele parasse imediatamente com aquele jogo de amor cortês e
deixasse o caminho livre para que Sir Henry Norris propusesse casamento
a Margaret. Weston, por sua vez, respondeu à rainha de que Norris vinha à sua
câmara mais para vê-la do que à noiva.
A
parte mais perigosa dessa conversa, porém, veio a seguir: “Francis declarou que
estava apaixonado por alguém no séquito da soberana que não era nem sua esposa,
ou Lady Shelton. “Quem é ela?”, perguntou Ana. “É você mesma”, ele respondeu.
O
conteúdo desse diálogo, que em outra ocasião poderia ser parte de um mero jogo
de amor cortês, foi evidência suficiente para que o secretário Cromwell
ordenasse a prisão de Sir Francis.
Outro
nobre encarcerado na Torre foi Sir William Brereton, um membro da câmara
privada do rei e que partilhava da intimidade do soberano.
Assim
como os outros, ela fazia parte da facção dos Bolena, que se tornou inimiga de
Thomas Cronwell. Com efeito, muitos historiadores atuais especulam se a prisão
e execução[8]
de Ana Bolena e dos cinco homens condenados de traição com ela, não teria sido
o resultado de uma disputa entre partidos rivais na corte. Um constantemente
trabalhando para derrubar o outro.
Todo
esse discurso feito por Ana Bolena em momentos de devaneio e delírio foi
anotado pelas suas carcereiras. E, uma destas, era sua tia a Lady Shelton, mãe
de Margaret.
Ao
lado desta estavam Lady Kingston, esposa do guardião da Torre, Margaret Coffin,
casada com o estribeiro-mor da rainha e, uma certa mulher conhecida como
Stoner.
Das
quatro damas, era Lady Coffin quem compartilhava o quarto de dormir com a
prisioneira, enquanto as outras a assistiam em suas tarefas diárias. E, assim,
alternava momentos de desvario e sanidade. Ana, em verdade, nem sabia do exato
conteúdo das acusações que lhes imputaram, e se preocupava com os homens que
haviam sido aprisionados por sua causa.
Novamente,
Antonia Fraser esclareceu in litteris:
“O que era muito amedrontador para a
rainha, conspirando, como a sua saúde e o choque de sua prisão, para produzir
desabafos desconexos, era a cabal intimidade dos cargos que aqueles que tinham
sido presos tinham na corte. Havia uma história constante de encontros
reservados com os quatro homens – Smeaton, Norris, Weston e Brereton, que foram
julgados primeiro. Como não poderia haver?”
E em
encontros reservados havia galanteria – o tipo de galanteria romântica, mas não
consumada a que o rei animadamente se permitia desde o início do seu casamento
e que, seguindo o exemplo dele, fazia parte do costume de uma corte da
Renascença.
“Num
certo sentido, tais envolvimentos eram uma forma tradicional de passar o tempo
durante as intermináveis festividades da corte, muito parecida com a justa – só
que, durante aqueles duelos, os homens enristavam cortesmente lanças contra as
mulheres, e vice-versa. A poesia, a música e a dança eram inseridas no tecido
de tais “torneios”, sequiosas declarações de amor, talvez juras, suspiros, mas
não sexo – e, é claro, nada tão especificamente perigoso como sexo com a mulher
do rei (FRASER, 2010, p. 331)”.
Segundo
Eric Ives atribuiu-se a esse jogo de amor cortês o papel principal na queda de
Ana Bolena. E, envolvendo declarações apaixonadas de um cavalheiro e a recusa
de uma dama fazia parte da tradição cortesã europeia no período do
Renascimento. Ana aprendeu ainda as táticas do amor cortês enquanto vivia na
corte de França quando serviu como dama de companhia da Rainha Claudia de
Valois[9].
E, ao
voltar a Inglaterra, quando flertava com poetas como Thomas Wyatt que também
foi preso na Torre, porém, não foi executado. Também foram aprisionados Henry
Percy, conde Northumberland...
Enfim,
uma mera brincadeira, que para muitos poderia ser vista como algo inocente, foi
a causa para que os agentes do Rei Henrique VIII formulassem a acusação de que
a rainha tivera mau procedimento com cinco homens, entre estes, o seu próprio
irmão.
De
todos os prisioneiros da ocasião, somente Mark Smeaton confessou ter mantido
relações carnais com Ana Bolena, acredita-se que mediante tortura. Kingston
reportou a Cronwell uma conversa entre Ana e seu tocador de alaúde, na qual ela
o reprimiu por ele se sentir preterido com relação aos outros cavalheiros do
séquito real:
“Você
não pode esperar que eu me dirija a você como se fosse um homem nobre, porque
você é uma pessoa inferior”. Não, não, madame”, respondeu Smeaton. “Um olhar já
é suficiente para mim, e assim lhe agrado”. A interpretação dessas frases, tal
como as citadas anteriormente, foi deturpada pelos advogados do rei para
fornecer evidência de que a rainha tinha uma relação com os membros masculinos
da corte que ia além do protocolo.
No dia
12 de maio de 1536, quatro dos cinco homens acusados de adultério com Ana
Bolena foram condenados. Sua sentença era um indicativo de que a rainha
dificilmente conseguiria se defender das injúrias envolvendo seu nome e que
causaram a morte das outras pessoas. Três dias depois, ela e seu irmão, George
Bolena, foram igualmente sentenciados.
Ana
Bolena deveria ser queimada ou decapitada, de acordo com a vontade do rei.
Em 17
de maio, os cinco prisioneiros foram executados, enquanto a rainha esperava sua
morte para o dia seguinte. Devido a um atraso do carrasco, ela foi remarcada
para o dia 19. Vivendo na expectativa de morrer a qualquer momento, Ana começou
a demonstrar um comportamento mais oscilante do que antes.
Em
certas horas ela podia estar “muito alegre” e comer “um lauto almoço” e no
momento seguinte se debulhar em lágrimas. Uma canção, cuja autoria é geralmente
atribuída à prisioneira durante seus dias de confinamento, nos dá uma ideia de
como seus pensamentos estavam assinalados pelo seu fim eminente:
“Oh Morte, embala-me o sono/ Traz-me o
repouso final/ Leva de mim o fantasma/ Que foi causa de meu mal/ Que o dobre do
sino triste/ Anuncie a minha morte/ Que outro consolo não há…/ O meu nome foi
manchado/ Com falsidade e rancor/ O conforto terminado/ Despedi-me do amor/ Que
o dobre do sino triste/ Anuncie a minha morte/ Que outro consolo não há…” (apud
WEIR, 2020, p. 272).
De
acordo com Kingston, em algumas vezes a rainha ficava ansiosa pela hora em que
o carrasco finalmente colocaria fim aos seus sofrimentos.
Mas,
“no momento seguinte ocorria o contrário” e ela falava abertamente sobre entrar
para um convento de freiras e “ter esperanças de viver”. No dia 17, ela recebeu
em seus aposentos a visita do Arcebispo de Canterbury, Thomas Cranmer, que
ouviu sua última confissão e lhe informou acerca do decreto de nulidade do
casamento real. “Jamais tive melhor opinião sobre uma mulher do que tive sobre
ela, o que me faz pensar que ela não deve ser culpada”, escreveu o arcebispo.
Na manhã marcada para a execução, dia 19 de maio, o arcebispo declarou que
dentro de instantes Ana se tornaria “uma rainha no céu”.
Quando,
finalmente, soube que o carrasco encarregado da tarefa era um espadachim vindo
de Calais, a vítima se permitiu um gracejo: “ouvira dizer sobre a bondade do
carrasco”, o que a agradava, uma vez que ela tinha “um pescoço fino”.
Segundo
Kingston, “na hora da morte”, a rainha podia “declara-se uma mulher boa para
todos os homens”, exceto para o rei. Foi assim, com um espírito “alegre, como
se não fosse morrer”, que Ana se dirigiu altivamente para o palco onde o último
ato de sua vida seria dramatizado.
Enfim,
Ana Bolena foi acusada de incesto, adultério e traição, o que levou a sua
execução em 19 de maio de 1536. O Rei Henrique VII ainda se casaria mais quatro
vezes[10],
mas apenas uma mulher lhe daria o filho tão cobiçado, Jane Seymour, a dama de
companhia de Ana Bolena.
Henrique
VIII[11]
teve outras quatro esposas: Joana Seymour (1536-1537) que morreu no parto do
futuro Eduardo VI. Ana de Cleves (1540) cujo casamento com Henrique VIII durou
apenas seis meses sendo anulado para que o rei se casasse com a jovem de 15
anos Catarina Howard. Catarina Howard (1540-1541) foi acusada de adultério e
executada na Torre de Londres em 13 de fevereiro de 1542, aos 19 anos. Catarina
Parr (1543-1547) que sobreviveu à morte de Henrique VIII ocorrida em 28 de
janeiro de 1547. Viúva, ela pode então se casar com seu antigo apaixonado,
Tomás Seymour, mas o casamento durou pouco: ela morreu no parto de sua primeira
filha que também não sobreviveu por muito tempo.
Com a
morte de Henrique VIII, ascendeu ao trono Eduardo VI, seu filho com Joana
Seymour com apenas 9 (nove) anos de idade e que reinou de 1547 a 1553.
A
morte prematura de Eduardo VI levou a um período de conflitos entre herdeiras
da coroa: Maria Tudor, Elizabeth e Joana ou Jane Grey[12],
esta última decapitada na Torre de Londres, em 1548, por ordem de Maria Tudor
que reinou por dois anos, de 1556 a 1558.
Em
1558, a filha de Ana Bolena e Henrique VIII assumiu o trono da Inglaterra vindo
a se tornar uma das grandes governantes de sua história sob o nome de Elizabeth
I (1558 a 1603).
Ana
Bolena seguiu altiva e bravamente rumo ao cadafalso, a fim de enfrentar sua
execução privada na Torre de Londres. Sua execução seria algo rápido, pois
levaria apenas um golpe da espada do carrasco para que seu delicado pescoço se
desligasse de seu corpo e, desprendesse sua alma. E sua cabeça caiu sobre o
chão forrado de palha tal como um sopro, e com seus ábios ainda em última e
incessante oração final.
Apesar
de sua meticulosa execução, não se preocupou de dar-lhe um enterro e funeral
apropriado, pois inexistia caixão para abrigar seu corpo após o encontro com o
carrasco. Depois de muito vasculhar na Torre de Londres, alguém encontro uma
velha caixa de arcos que serviria para acomodar seu cadáver.
Uma semana antes, ele havia enviado a St.
Omer, agentes a procura de um carrasco que pudesse cortar a cabeça com uma
espada ao invés de um machado, e nove dias após o início da procura, o homem
ideal foi encontrado. Tratava-se de um espadachim de Calais, com sua espada de
mesma proveniência.
Dizem
que então, conforme o costume, a rainha confessou-se, uma vez que morreria no
dia seguinte. Ela implorou para que fosse executada dentro da Torre e que
nenhum estrangeiro a visse em seus momentos finais.
Ana
então, proferiria seu famoso último discurso, in verbis:
” Bom povo cristão, vim aqui para morrer,
de acordo com a lei e segundo a lei julgou-me para morrer e, portanto, nada
direi sobre isto. Não vim aqui para acusar nenhum homem, nem para falar nada
sobre isto, de que sou acusada e condenada a morrer; apenas rezo a Deus para
que salve o Rei e que ele tenha um longo reinado sobre vós, pois nunca existira
príncipe mais misericordioso; e para mim foi sempre um bom e gentil senhor e
soberano. Se alguma pessoa se interessar em minha causa, peço-lhes que julguem
o melhor. E assim deixo este mundo e todos vocês e cordialmente peço que rezem
por mim. Ó senhor, tenha misericórdia de mim, a Deus, eu entrego minha alma…A
Jesus Cristo eu entrego minha alma; Senhor Jesus, receba minha alma.”
Margaret
Wyatt, a irmã de Sir Thomas Wyatt – o poeta, que foi um dos amigos
dedicados de Ana, estava a seu lado no cadafalso. Ela receberia seu último
presente, um pequeno livro de orações, trabalhado em esmalte preto e dourado.
Depois disto, seu manto foi retirado por suas damas e seus olhos vendados. Após
sussurrar algumas palavras, ela então, ajoelhar-se-ia.
Em
seguida ocorre algumas divergências de relatos. Segundo alguns registros, suas
damas retirariam de sua cabeça seu capelo inglês e colocariam uma touca onde
seu espesso cabelo negro seria acomodado.
No
entanto, nas crônicas de Hume, o relato difere um pouco. Segundo Hume: “O
carrasco, estando a sua frente, disse em francês,” minha senhora, não tenha
medo, eu vou esperar até que você me diga quando”. Então ela disse:” você vai
ter que retirar este capelo”, e ela apontou para ele com sua mão esquerda”.
Apenas
depois disto, seria colocando-lhe uma touca mais adequada para facilitar o
trabalho de seu executor. Era esperado que após isto, a vítima pagasse seu
carrasco com algumas moedas e o perdoasse pelo que ele teria de fazer.
Ana
repetidamente entoaria as seguintes palavras até seu último momento: - “Ó
Senhor, tenha misericórdia de mim, a Deus eu entrego minha alma. A Jesus Cristo
eu entrego minha alma; Senhor Jesus receba minha alma.”
Embora
Ana tenha sido executada às 9 horas da manhã, seu corpo não foi enterrado até a
tarde do mesmo dia. De acordo com Weir, é provável que o atraso tenha ocorrido
devido à espera de alguém para levantar as pesadas pedras do pavimento da
capela-mor e escavar uma cova rasa – afinal, nenhuma provisão havia igualmente
sido realizada para isto.
Seu corpo, sepultado sobre uma cova sem
marcação em frente ao altar da capela St. Peter ad Vincula, seria
esquecido pelos próximos 300 anos que se seguiram.
Não
seria até os reparos realizados na capela, em 1876, que Ana ressurgiria outra
vez. Seus restos mortais foram descobertos sob o altar durante as reformas do
local, em um rústico caixão de madeira.
Quando
a Torre deixou de ser uma residência do soberano ou prisão de estado, a capela
de St. Peter parece ter sido gradualmente considerada muito estimada para uma
mera e ordinária igreja paroquial, na qual o sepultamento, não só daqueles que
haviam vivido na Torre, como também dos moradores do bairro, era livremente permitido.
No
período vitoriano, a capela com tantas almas, havia caído em um triste estado
de negligência. A Rainha Victoria[13],
deu então permissão para que uma restauração fosse realizada e ordenou em uma
tentativa de identificá-los, que os túmulos abaixo do pavimento fossem
exumados.
Ao
remover as pedras do pavimento, foi encontrado o local de descanso daqueles que
foram sepultados sobre estas paredes da capela, durante o turbulento período
dos séculos XVI e XVII. Eles temiam que, os restos lá presentes, tivessem sido
repetidamente profanados.
O que
sentenciou Ana Bolena foi a frustração do Rei quando se passaram três longos
anos e nada da rainha dar um herdeiro varão ao trono. As muitas gestações
acabaram em abortos espontâneos e, em nascimento de natimorto[14]s.
E, em
7 de janeiro de 1536, Catarina de Aragão morreu de uma doença prolongada e,
teve Ana o mau gosto de celebrar o evento trajada de amarelo enquanto o resto
da corte, inclusive o rei, estavam de luto.
E, assim, começou a se afastar a mulher e, logo, encontrou outra amante,
Joan Seymour.
Conta-se
que Ana Bolena fez exigência pois não queria ser morta por carrasco inglês, que
utilizava o machado para a decapitação. Exigia um carrasco francês que usava
espada.
E,
justificou-se afirmando que uma rainha da Inglaterra não curva a cabeça para
ninguém e em nenhuma situação, as execuções com espada eram realizadas com a
vítima ajoelhada, mas com a cabeça erguida.
A
morte de Ana é tão familiar para nós, que se torna difícil compreender o quão
chocante isto deve ter sido na época: a rainha da Inglaterra executada sob a
acusação de incesto, adultério e por conspirar a morte do rei.
E, não
era qualquer Rainha: esta era a mulher por quem Henrique VIII havia abandonado
Catarina de Aragão, sua esposa por quase 24 anos, esperando sete longos anos
para contrair matrimônio e criando uma rede de intrigas e revoltas que
transcenderiam seu próprio reino.
No
entanto, apenas três anos após oficializar tal união, o corpo de Ana jazia frio
abaixo de um túmulo sem nome e o motivo de sua morte, permanece sendo um dos
grandes mistérios da história inglesa.
Vige
entre os historiadores grande discordância a respeito do real motivo pelo qual
a Rainha Ana Bolena teve que morrer.
Havia por acaso a relação conjugal de Henrique e Ana, entrado em franco
declínio terminal, o que levou o soberano a inventar acusações contra sua
esposa?
Teria
sido Thomas Cromwell o responsável por sua morte? Ou, será que a rainha, era
realmente culpada das imputações apresentadas contra ela? Infelizmente, existem
dados o suficiente para apoiar inúmeras conclusões diferentes.
Há uma
série de fatos incontestáveis relacionados à queda de Ana. No domingo, 30 de
abril de 1536, Mark Smeaton, um músico da casa da rainha, foi preso; Ele foi
então interrogado na casa de Cromwell, em Stepney. Na mesma noite o rei adiou
uma viagem com Ana para Calais, prevista para o dia 2 de maio.
No dia
seguinte, 01 de maio, Smeaton foi transferido para a Torre. Henrique participou
das justas de maio em Greenwich, mas saiu abruptamente a cavalo, seguido por um
grupo de pessoas íntimas.
Estes
incluíram Sir Henry Norris, servo pessoal e um de seus amigos mais
próximos, a quem ele interrogou durante toda a viagem. Na madrugada do dia
seguinte, Norris foi levado à Torre. Ana e seu irmão George, Lord Rochford,
também foram presos.
Nos
dias 4 e 5 de maio, mais cortesãos da câmara privada do Rei – William Brereton,
Richard Page, Francis Weston, Thomas Wyatt e Francis Bryan – foram presos. Este
último foi interrogado e liberado, mas os outros foram mantidos na Torre. Em 10
de maio, um grande júri indiciou todos os acusados, além de Page e Wyatt.
Em 12
de maio, Smeaton, Brereton, Weston e Norris foram julgados e condenados
culpados de cometer adultério com a rainha, e de conspirar a morte do rei. Em
15 de maio, Ana e Rochford foram julgados dentro da Torre por uma corte de 26
nobres presidida por seu tio, o Duque de Norfolk. Ambos foram considerados
culpados de alta traição.
Em 17
de maio o Arcebispo Thomas Cranmer declarou o casamento de Henrique e Ana nulo,
e até o dia 19 de maio, todos os seis condenados foram executados. Mais tarde
naquele dia, Cranmer emitiu uma dispensa permitindo que o monarca e Jane
Seymour contraíssem matrimônio; eles ficaram noivos em 20 de maio e 10 dias depois
se casaram.
A
primeira teoria, discutida por G. W. Bernard[15],
biografo e estudioso de Ana, é que ela simplesmente era culpada das acusações
feitas contra ela. No entanto, mesmo que ele estivesse equivocado, sugerindo o
veredicto legal escocês de “não provado” ele conclui que, embora a evidência
seja insuficiente para provar definitivamente que Ana e os acusados com ela
fossem culpados, tampouco prova sua inocência.
A
culpa de Ana foi, naturalmente, a linha oficial. Escrevendo para o bispo de
Winchester, Stephen Gardiner, Cromwell afirmou com certeza – antes do
julgamento de Ana – que “a vida incontinenti da rainha era tão
luxuriante e vulgar, que as damas de sua câmara privada não podiam escondê-la.”
A
peça-chave das provas[16]
foi, sem dúvida, a confissão fornecida pelo primeiro homem acusado, Smeaton, de
que havia mantido relações sexuais com a rainha por três vezes. Apesar de esta,
ter sido provavelmente obtida sob tortura (os registros variam), ele nunca
retirou sua confissão.
Embora
improvável de ser verdadeiro, isto catapultou o inquérito a um nível diferente
e muito mais grave. Todas as evidências subsequentes foram contaminadas com uma
presunção de culpa.
O
questionamento íntimo de Henrique VIII a Norris, seguido de sua promessa de
“perdão, caso ele proferisse a verdade”, deve ser compreendida sob esta luz: o
que quer que Norris disse, ou recusou-se a dizer, apenas reforçou a convicção
de sua culpa para Henrique.
Outra
evidência da culpa de Ana é incerta é o fato de que os documentos do julgamento
não sobreviveram. Sua acusação, no entanto, aponta que Ana” falsa e
traiçoeiramente buscou por conversas, beijos, toques, presentes e outras
infames incitações, dirigidas aos serventes diários e familiares do rei, para
ser sua adultera e concubina, de modo que vários renderam-se as suas vis
provocações.
Ela
inclusive (isso varia)” procurou e incitou seu próprio irmão natural a
violá-la, atraindo-o com sua língua na boca de George e a dela na sua’’. No
entanto, como outro biógrafo de Bolena, Eric Ives observou que, três quartos
das acusações específicas de ligações adúlteras realizadas nos autos, podem ser
desacreditadas mesmo hoje, 500 anos depois.
Ana
não foi a única em professar sua inocência. Como Sir Edward Baynton
mencionou: “Nenhum homem vai confessar qualquer coisa contra ela, a não ser
Mark.” E, mesmo Eustace Chapuys, Embaixador para o Imperador Carlos de V e
arqui-inimigo de Ana, concluiria que todos, inclusive Smeaton, foram:
“condenados mediante presunções e certas indicações, sem prova ou confissões
válidas”.
Outro
grupo de historiadores têm favorecido a explicação de que Ana foi vítima de uma
conspiração forjada por Thomas Cromwell e uma facção da Corte envolvendo os
Seymours. Esta teoria repousa na concepção de que Henrique era um monarca
flexível, cujo cortesãos poderiam inseri-lo em uma ação e colocá-lo em uma
crise a fim de rejeitar Ana.
Mas
por que Ana e Cromwell, antigos aliados de tendências reformistas, iriam ficar
um contra o outro? Muitos acreditam que as diferenças de opinião surgiram sobre
como os fundos resultantes da dissolução dos monastérios seriam geridos, bem
como assuntos de política externa – motivos aparentemente delicados para
destruir uma Rainha.
Tem sido sugerido que a facção de Cromwell na Corte, tinha como objetivo, substituí-la por Jane Seymour[17]. Chapuys mencionou Jane em uma carta de 10 de fevereiro de 1536, relatando que Henrique havia enviado a ela, uma bolsa cheia de presentes, acompanhada de uma carta. Ela não abriu a carta, e, segundo Ives especulou, que continha uma intimação para o leito real.
Em vez
disso, ela a beijou e devolveu, pedindo que o mensageiro dissesse ao Rei que
“não havia tesouro neste mundo que ela valorizava tanto quanto sua honra”, e
que caso o monarca a quisesse presentear, ela implorava poder ser em” um
momento em que Deus pudesse agraciá-la com algum vantajoso casamento’’.
Tal
resposta calculada é uma reminiscência de Ana Bolena durante os dias de seu
namoro com Henrique. Em resposta a timidez de Jane, foi dito que o amor de
Henrique por ela “aumentou maravilhosamente”.
No
entanto, ela foi descrita como uma dama a quem o Rei “serve” sendo um termo do”
amor cortês” que implica que ele a procurava como amante. Há pouca evidência de
que, antes de Ana ser acusada de adultério, Henrique tenha planejado tomá-la
como esposa. O casamento com Jane representou, provavelmente mais um sintoma e
produto da queda de Ana, e não sua causa.
A peça
central da evidência de uma conspiração, é uma observação feita por Cromwell a
Chapuys após a morte de Ana. Em uma carta a Carlos V, Chapuys escreveu que ele
havia lhe dito que “Ele pôs-se a conspirar e conceber o suposto affair’’,
o que sugere que Cromwell conspirou contra Ana.
Fundamentalmente,
no entanto, esta frase é frequentemente utilizada fora do contexto. A frase
anterior afirma que “ele próprio (Cromwell) havia sido autorizado e
comissionado pelo rei para prosseguir e finalizar o tribunal de sua senhora,
uma vez que ele já havia criado problemas consideráveis.’’ Se aceitarmos este
registro, é impossível retirar Henrique deste contexto, afinal, Cromwell alegou
não estar agindo sozinho.
Foi
proposto, portanto, que Henrique pediu a Cromwell para livrar-se de Ana. David
Starkey sugeriu que “o caráter orgulhoso e abrasivo de Ana, logo tornou-se
intolerável para seu marido”. JJ Scarisbrick, autor do competente volume” Henry
VIII”, concordou: “O que outrora havia sido uma paixão devastadora,
transformou-se em ódio sanguinário, por razões que nunca compreenderemos
completamente.”
Entre
tantas versões da biografia de Ana Bolena, as maiores polêmicas são seu papel
na corte e o fato de ter ou não traído Henrique VIII. "Ela é culpada
apenas de comportamento inadequado com os cortesãos", afirma o historiador
Peter James Marshall[18],
professor da Universidade de Warwick. Seu principal argumento é que a traição
não foi confessada pela rainha nem por quatro de seus cinco supostos amantes.
Vige
grande divergência entre os historiadores a respeito do verdadeiro motivo pelo
qual a Rainha teve que morrer. Afinal, a
relação conjugal havia entrada em declínio, o que levou o soberano a inventar
acusações contra sua esposa? Por que Cromwell fora o responsável por sua morte?
Ou a rainha consorte seria, de fato, culpada das acusações apresentadas contra
esta?
Num
domingo, em 30 de abril de 1536, Mark Smeaton, um músico da casa da rainha fora
preso e interrogado na casa de Cromwell, em Stepney. Já no dia seguinte,
Smeaton fora transferido para a Torre. Depois incluíram-se Sir Henry
Norris, servo pessoal e um de seus amigos mais próximos, a que ele interrogou
durante toda viagem. E, na madrugada do dia seguinte, Norris também fora levado
ao Torre, além de George Bolena e Lord Rochford.
E,
mais cortesãos da câmara privada do Rei, como William Brereton, Richard Page,
Francis Weston, Thomas Wyatt e Francis Bryan também foram presos. A peça-chave
das provas foi, sem dúvida, a confissão fornecida pelo primeiro homem acusado,
Smeaton, de que havia mantido relações sexuais com a rainha por três vezes. Apesar de esta, ter sido provavelmente obtida
sob tortura (os registros variam), ele nunca retirou sua confissão.
Embora
improvável de ser verdadeiro, isto catapultou o inquérito a um nível diferente
e muito mais grave. Todas as evidências
subsequentes foram contaminadas com uma presunção de culpa.
Outro
grupo de historiadores têm favorecido a explicação de que Ana foi vítima de uma
conspiração forjada por Thomas Cromwell e uma facção da Corte envolvendo os
Seymours. Esta teoria repousa na concepção de que Henrique era um monarca
flexível, cujo cortesãos poderiam inseri-lo em uma ação e colocá-lo em uma
crise a fim de rejeitar Ana.
Mas
por que Ana e Cromwell, antigos aliados de tendências reformistas, iriam ficar
um contra o outro? Muitos acreditam que as diferenças de opinião surgiram sobre
como os fundos resultantes da dissolução dos monastérios seriam geridos, bem
como assuntos de política externa – motivos aparentemente delicados para
destruir uma Rainha.
A peça
central da evidência de uma conspiração, é uma observação feita por Cromwell a
Chapuys após a morte de Ana. Em uma
carta a Carlos V, Chapuys escreveu que ele havia lhe dito que “Ele pôs-se a
conspirar e conceber o suposto affair’’, o que sugere que Cromwell conspirou
contra Ana.
Fundamentalmente,
no entanto, esta frase é frequentemente utilizada fora do contexto. A frase
anterior afirma que “ele próprio [Cromwell] havia sido autorizado e
comissionado pelo rei para prosseguir e finalizar o tribunal de sua senhora,
uma vez que ele já havia criado problemas consideráveis.’’ Se aceitarmos este
registro, é impossível retirar Henrique deste contexto e, Cromwell alegou não
estar agindo sozinho.
Outra
história, relatada em terceira mão por Chapuys, cita Henrique dizendo a um
cortesão não identificado, que havia casado-se com Ana “seduzido e forçado por
sortilégios”. Esta última palavra, pode ser traduzida como ‘bruxaria,
feitiçaria ou encantos’, e deu origem à sugestão de que Ana Bolena havia se
envolvido em bruxaria. Embora isto seja regularmente citado como um dos encargos
do qual ela foi considerada culpada, não é mencionado nos autos da acusação.
Outra
notícia é que Rei Henrique VIII havia sido seduzido por bruxaria, tornando-se
ligado a uma outra teoria, que sustenta que a verdadeira razão para a ruína de
Ana Bolena foi a de que o feto abortado em janeiro de 1536, era deformado. Era uma massa informe de carne o que fez o
rei acreditar que Ana Bolena fosse uma bruxa e adúltera promíscua.
É
preciso compreender a trajetória de Ana Bolena, de rainha protestante à bruxa[19]
incestuosa e usurpadora. O Malleus Maleficarum ou o Martelo das
Feiticeiras que foi publicado em 1487 por dois padres alemães, que representou
um manual oficial de caça e execução de bruxas por toda Europa e que vigeu por
cerca de quatrocentos anos. Assim, baseados em sinais que nada significavam, os
inquisidores levavam à forca e à fogueira mais de duzentas mil mulheres durante
muitos séculos.
Ana
Bolena teve acesso a uma educação mais abrangente do que as meninas inglesas de
sua época. Foi criada para ser ambiciosa, determinada e inteligente e, não para
ser bruxa. Porém, isso não deteve o Rei Henrique VIII de acusá-la de tê-lo
enfeitiçado quando não lhe deu o varão tão esperado, num episódio que marcou
fatalmente sua vida, ao sofrer um aborto espontâneo de um feto apresentando
deformações físicas.
A
acusação teve um especial peso pois afinal, o soberano absoluto era o
representante de Deus na Terra e uma acusação de bruxaria fora levada a sério.
Afinal afirmou que fora seduzido e forçado a um segundo casamento por meio de
sortilégios e feitiços.
A
bruxa era representada como a personificação das qualidades invertidas da
condição feminina, afinal, enquanto as mulheres comuns eram mais fracas que os
homens e submissas, as feiticeiras se apresentavam rígidas e firmes, dotadas de
acesso ao poder proibido, enquanto as mulheres eram passivas sexualmente, as
bruxas se mostravam vorazes em seus apetites, sendo consideradas até
depravadas.
Encarar
Ana Bolena como uma mulher maquiavélica conforme consta em alguns seriados é
prestar um desserviço histórico. E, ainda, a acusação de que Ana Bolena tinha
um sexto dedo que escondia bem como verrugas pelo corpo parece ter reforçado a
mentira de feitiçaria para arrancá-la como rainha consorte.
Apesar
de ser a acusação de bruxaria infundada, popularmente foi chamada de bruxa, no
sentido pejorativo de mulher má, que supostamente manipulou a corte inglesa
inteira. Mesmo depois de unanimemente condenada à decapitação fez uma
exigência, pois não queria um carrasco inglês, que utilizaria um machado para a
execução. Exigiu um carrasco francês que utilizava espada, pois uma Rainha da
Inglaterra não curva a cabeça para ninguém e nenhuma situação. Para as
execuções com a espada, a vítima era ajoelhada, mas com a cabeça erguida.
Com a
morte do Rei Henrique VIII, ascendeu ao trono Eduardo VI, seu filho com Jane
Seymour com apenas nove anos de idade e que reinou de 1547 a 1553. A morte
prematura de Eduardo acarretou um período de conflitos intenso entre as
herdeiras da coroa que eram: Maria Tudor, Elizabeth e Joana ou Jane Grey, esta
última decapitada na Torre de Londres em 1548, por ordem de Maria Tudor que
reinou apenas por dois anos, de 1556 a 1558.
Em 1558, a filha de Ana Bolena assumiu o trono da Inglaterra e veio a se tornar uma das grandes governantes da história, sob o nome e Elizabeth I (de 1558 a 1603). Enfim, é uma das maiores ironias da história, pois o Rei Henrique VII se casou com Ana Bolena na esperança de ter o varão coo herdeiro do trono, mas, ao final, foi sua filha que se mostrou uma sucessora à altura do pai.
Referências:
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para gerar um sucessor homem. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/acervo/educacao/audio/2018-05/na-trilha-da-historia-ana-bolena-rainha-que-henrique-viii-quis-para-gerar-um/
Acesso em 15.10.2021.
DOMINGUES,
Joelza Ester. Blog. Ensinar História. Execução de Ana Bolena. Disponível
em: https://ensinarhistoria.com.br/linha-do-tempo/execucao-de-ana-bolena-inglaterra/
Acesso em 23.10.2021.
FRASER,
Antonia. As seis mulheres de Henrique VIII. Tradução de Luiz Carlos do
Nascimento e Silva. 2ª ed. Rio de Janeiro: Best Bolso, 2010.
GEORGE,
Margaret. “A Autobiografia de Henrique VIII”. Rio de Janeiro: Nova
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GRUENINGER,
Natalie. The Mystery of Queen Anne Bolenyn's Second Pregnancy. Disponível
em: https://boullan.wordpress.com/2014/07/02/o-misterio-da-segunda-gravidez-da-rainha-ana-bolena/#more-11848
Acesso em 15.10.2021.
HAYNES,
Suyin. Ana Bolena teve uma má reputação por quase 500 anos. Agora como uma
historiadora quer mudar isso. Tradução de Luciana Cristina Ruy. Disponível
em: https://radiopeaobrasil.com.br/ana-bolena-teve-uma-ma-reputacao-por-quase-500-anos-agora-como-uma-historiadora-quer-mudar-isso/ Acesso em 15.10.2021.
HISTORY
EXTRA - The Official website for BBC History Magazine History Revealed.
Guilty or not guilty: why did Anne Bloeyn have to die? Disponível em: https://www.historyextra.com/period/tudor/why-did-anne-boleyn-have-to-die/
Acesso em 23.10.2021.
HUME,
Martin Andrew Sharp. Chronicle of King Henry VIII of England. Being a
Contemporary Record of Some of Principal Event. England: BiblioLife,
2009.
IVES,
Eric W. The life and death of Anne Boleyn: ‘the most happy’. United
Kingdom: Blackwell Publishing, 2010.
NORTON,
Elizabeth. The Anne Boleyn Papers. UK: Amberley, 2013.
WEIR,
Alison. The lady in the tower: the fall of Anne Boleyn. New York: Ballantine Books, 2010.
Notas:
[1]
Foi considerada filha ilegítima, devido à anulação do casamento dos pais e
execução de sua mãe, quando Elizabeth tinha apenas dois anos e meio.
Entretanto, com as reviravoltas políticas, consegue suceder a Rainha Maria e
faz um reinado com a ajuda de conselheiros, tendo o Barão Burghley como
principal influente. Seu modo de reinar era moderado, mas uma de suas maiores
conquistas foi a ter derrotada a Espanha em uma guerra em 1588. Durante o seu
reinado a Inglaterra viveu um período de efervescência cultural, sobretudo na
literatura. O momento foi chamado de Período Isabelino e teve como destaque os
escritores e dramaturgos William Shakespeare e Christopher Marlowe.
[2] Henrique VIII, que protagonizou o romance conflituoso com Ana Bolena, rompeu com o catolicismo e criou a Igreja Anglicana, foi um rei que governou de 1509 a 1547.Seu governo também foi marcado por batalhas contra a França. Henrique VIII teve ao todo seis esposas. Na juventude, diz-se que era culto e possuía temperamento carismático. Entretanto, ao final da vida, obeso e debilitado, é descrito como egoísta, ganancioso e inseguro.
[3]
Maria Bolena ou Mary Boleyn (1500-1543) foi dama da corte e filha do
Duque de Norfolk. Era a irmã mais velha de Ana Bolena e, foi amante do Rei
Henrique VIII e também, provavelmente do Rei Francisco I da França. Maria é
descrita como "uma jovem leviana, que desfrutava de todos os prazeres da
corte" na obra "As seis mulheres de Henrique VIII", de Antonia
Fraser. A reputação que adquiriu na França não era exatamente “honesta”. Talvez
por isso ela logo tenha chamado a atenção do rei Henrique VIII, que a tomou
como amante. Ao fim do romance, Maria foi imediatamente casada com um mercador
de nome William Carey.
[4]
Torneio medieval (ou Justas) é o nome popular dado às competições de cavalaria
ou pelejas por diversão da Idade Média e Renascimento (séculos XII ao XVI). O
nome deriva do francês antigo, torneiement, tornei e era muito popular.
Várias eram as modalidades disputadas, sendo a mais famosa, a Justa. Justa é um
desporto jogado por dois cavaleiros com armaduras montados em cavalos. Consiste
numa competição marcial entre dois cavaleiros montados, usando uma variedade de
armas, geralmente em grupos de três por arma (como a inclinação com um lança,
golpes com machados, ou golpes com a espada), entre outros, muitas vezes, como
parte de um torneio.
[5] Em
uma carta escrita em francês ao seu pai em 1513, Ana assinou como “Anna de
Boullan”. Nos registros dos preparativos para a coroação de Henrique VIII em
1509, existem referências a “Thomas Boleyne” e “Elizabeth Bolen”. Em registros
dos anos de 1509 e 1514 Thomas é listado como “Sir Boleyn”, “Sir Thos. Em uma
carta escrita em francês ao seu pai em 1513, Ana assinou como “Anna de
Boullan”. Nos registros dos preparativos para a coroação de Henrique VIII em
1509, existem referências a “Thomas Boleyne” e “Elizabeth Bolen”. Em registros
dos anos de 1509 e 1514 Thomas é listado como “Sir Boleyn”, “Sir Thos. O
sobrenome Bolena foi escrito de diversas maneiras em documentos e artefatos durante
os reinados de Henrique VII e Henrique VIII: no funeral de Henrique VII, Thomas
é listado como “Bolan”. Em uma carta escrita em francês ao seu pai em 1513, Ana
assinou como “Anna de Boullan”. Nos registros dos preparativos para a coroação
de Henrique VIII em 1509, existem referências a “Thomas Boleyne” e “Elizabeth
Bolen”. Em registros dos anos de 1509 e 1514 Thomas é listado como “Sir
Boleyn”, “Sir Thos. Bulleyn” e seu irmão como “James Bulleyn”. Margaret da
Áustria se referiu a Thomas em 1512 como “Sieur de Boulan”.
[6] É
um castelo histórico localizado na cidade de Londres, Inglaterra, Reino Unido,
na margem norte do rio Tâmisa. Foi fundado por volta do final do ano de 1066
depois da conquista normanda da Inglaterra. A Torre Branca em seu centro foi construída
pelo Rei Guilherme I em 1078, sendo considerada pelos habitantes da cidade como
um símbolo de opressão infligida pela nova elite governante. O castelo foi
utilizado como prisão de 1100 até 1952, apesar desta não ter sido sua função
principal. Ele inicialmente foi usado como residência real como um grande
palácio. Como um todo, o complexo da Torre de Londres é composto por vários
edifícios localizados dentro de dois anéis concêntricos de muralhas de defesa e
um fosso. Houve várias fases de expansão, principalmente sob os reis Ricardo I,
Henrique III e Eduardo I nos século XII e XIII.
O auge do castelo como prisão foi nos séculos XVI e XVII, quando muitas
figuras que haviam caído na desgraça eram aprisionadas dentro de suas muralhas.
Apesar de sua duradoura reputação como um lugar de tortura e morte,
popularizada no século XVI por propagandistas religiosos e no século XIX por
escritores, apenas sete pessoas foram executadas dentro da Torre antes das
grandes guerras do século XX. As
execuções costumavam ser realizadas principalmente no Morro da Torre ao norte
do castelo, com 112 tendo ocorrido em um período de mais de quatrocentos anos.
Várias instituições como a Casa da Moeda deixaram a Torre para outros lugares
na segunda metade do século XIX, deixando muitos de seus edifícios vazios. Os
arquitetos Anthony Salvin e John Taylor aproveitaram a oportunidade para
restaurar o castelo para aquilo que achavam que era sua aparência medieval,
limpando muitas das estruturas pós-medievais. A Torre foi novamente usada como
prisão durante a Primeira e Segunda Guerra Mundial, com doze homens sendo
executados por espionagem. Os danos causados pela Blitz foram reparados depois
dos conflitos e o castelo foi reaberto ao público. A Torre de Londres é
atualmente um dos pontos turísticos mais populares da Inglaterra. Apesar de
ainda estar aos cuidados cerimoniais do condestável, ela é mantida pela Historic
Royal Palaces e protegida como um Patrimônio Mundial.
[7]
Foi segundo visconde de Rochford, nascido como George Boleyn. Era irmão de Ana
Bolena e foi amante de Maria Bolena que foi amante do Rei Henrique VII antes do
casamento dele com sua irmã. Fora acusado de incesto e, com isso, provocar o
nascimento do natimorto da rainha. O voto de culpá-los foi unânime, incluindo-se
o voto de seu próprio tio. E, acredita-se que a queixa fora feita por sua
própria esposa, Joana Parker.
[8]
Uma inscrição secreta foi descoberta no livro de orações que Ana Bolena
costumava ler, antes de ser executada por ordens de Henrique VIII. Decapitada em
19 de maio de 1536, Ana se tornou a primeira rainha na história inglesa a
sofrer tal penalidade. Após ter sido condenada quadro dias antes por crimes
como traição, adultério e incesto, ela entregou “corajosamente” seu pescoço
para a espada do carrasco, conforme foi registrado pelas testemunhas presentes
na Torre de Londres naquele momento. Segundo se conta, antes de morrer a vítima
dividiu os poucos objetos que estavam em sua posse entre as dama que a
acompanharam nos dias de encarceramento. Em meio a esses itens, havia um livro
de orações em tamanho de bolso, que atualmente se encontra em exposição no
castelo de Hever, lar ancestral da família Bolena. Nas páginas ilustradas da
obra, uma inscrição escondida: “Lembre-se de mim quando estiver orando” e “que
a esperança o guie no dia a dia”.
[9]
Cláudia de Valois (1547-1575) foi uma filha da França e, por casamento, duquesa
da Lorena. Seus pais foram os Reis Henrique II de França e Catarina de Médici.
A relação entre Cláudia e Carlos III foi descrita como feliz. Cláudia era a
favorita de sua mãe, que ocasionalmente a visitava em Lorena, visitas descritas
como raras ocasiões de reuniões familiares particulares na vida de Catarina de
Médici, que gostava de ver seus netos por Cláudia e também gostava muitíssimo de
seu genro Carlos. Catarina de Médici esteve, por exemplo, presente em
Bar-le-Duc para o batismo do primogênito de Cláudia, Henrique.
[10]
Deixando de lado sua inclinação por se desfazer de esposas indesejáveis,
Henrique marcou sua biografia por ter criado a Igreja Anglicana, a segunda
maior fé protestante depois do Luteranismo, fundado por Martinho Lutero. Outro
ponto importante foi ter incorporado o País de Gales ao reino britânico e
dar-lhe representação no Parlamento inglês.
[11] Sabemos de pelo menos três ferimentos graves na cabeça na vida de Henrique. Pode ter tido dores de cabeça e mudanças mais subtis na sua personalidade após o primeiro ferimento na cabeça, mas há uma mudança marcante nele após 1536″, concluiu a equipa. “É inteiramente plausível, embora talvez não provável, que o cérebro traumático repetido lesão levou a mudanças na personalidade”.
[12] Joana Grey, em inglês Jane Grey (1536
ou 1537 1554) foi nobre inglesa declarada Rainha da Inglaterra e Irlanda em de
10 de julho a 19 de julho de 1553. Era bisneta de Henrique VII através da filha
mais jovem dele, Maria Tudor, e também prima em segundo grau de Eduardo V,
Casou-se em maio de 1553 com Lorde Guilford Dudley, filho mais novo de John
Dudley, o Primeiro Duque de Northumberland, regente de Eduardo. Nas vascas da morte o jovem rei nomeou Jane
como sua sucessora em seu testamento, ignorando as reivindicações de suas meias-irmãs
Maria e Isabel sob o Terceiro Ato de Sucessão. Jane acabou sendo aprisionada na
Torre de Londres em 19 de julho depois do Conselho Privado passar para o lado
de Maria. Foi condenada por alta traição em novembro, porém, sua vida fora
inicialmente poupada. Mas, uma rebelião ocorrida entre janeiro e fevereiro de
1554 contrariando os planos de Maria de se casar com Filipe II de Espanha,
levou ao cabo as execuções de Jane e de seu marido.
[13]
Rainha Victória (1819-1901) foi rainha da Inglaterra e Irlanda. Foi Imperatriz
da Índia, foi coroada aos dezoito anos e reinou por sessenta e três anos e sete
meses. Seu reinado ficou conhecido como Era Vitoriana. Os primeiros anos do
reinado da rainha Vitória estavam muito longe da sonhada prosperidade. As lutas
contra o exército napoleônico e o bloqueio continental, impediram por muito
tempo, a entrada de produtos ingleses na Europa. Seus primeiros-ministros,
Disraeli e Gadstone, fizeram grande parte da política de seu governo. A
participação da rainha na vida política era pequena. Limitava-se a presidir solenidades, como a
sessão no Parlamento ou o tradicional discurso do trono, em que expressava a
política do primeiro-ministro. Vitória aparece como uma espécie de árbitro
entre o governo e o povo. Durante o reinado da Rainha Vitória, o Reino Unido se
converteu na maior potência colonial do mundo, cujos domínios compreendiam a
Índia, o Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Sudão, Quênia, Nigéria, Rodésia e
várias ilhas estratégicas, como Malta.
[14]
Na maioria das biografias recentes, a segunda gravidez de Ana Bolena ocupa no
máximo alguns parágrafos. Eric Ives e Davis Loades concluem que terminou em um
aborto, Alison Weir afirma que ‘ou era natimorto ou morreu logo após o
nascimento’, Antonia Fraser sugere que ‘o fim mais provável foi um natimorto:
provavelmente um mês adiantado’, David Starkey resume afirmando que ‘terminou
em aborto ou nascimento prematuro’ e Paul Firedmann, escrevendo no final do
século XIX conclui que ‘Ana tinha se enganado sobre sua condição’ e que nunca
tinha estado grávida. Somente Retha Warnicke faz algumas tentativas de
desvendar os segredos que envolvem os eventos do verão do ano de 1534.
[15]
George W. Bernard é historiado britânico que se especializou no reinado do Rei
Henrique VIII, especificamente na reforma inglesa da década de 1530, tanto na
Inglaterra como no mundo. É o mais famoso7 por seus argumentos a favor da força
de Henrique VIII como governante não controlado por facção e por sua teoria de
que Ana Bolena era culpada de adultério, baseada em poema de Lancelot de
Carles. É justaposto a David Starkey e Eric Ives que apresentaram argumentos
opostos. A disposição de Bernard em defender posições impopulares foi notada
tanto por seus admiradores quanto por seus críticos.
[16] O
Rei Henrique VIII temeroso de haver uma guerra civil que voltasse a perturbar a
Inglaterra em face da ausência de um herdeiro varão, chegou à conclusão de que
precisa tirar Ana Bolena, sua segunda esposa do caminho, o quanto antes. E,
assim seu secretário Thomas Cromwell assediou todos os membros da casa da
rainha através de severo interrogatório, repleto de ameaças para levantar
provas contra ela. E, uma das primeiras acusadoras fora a Lady Worcester, nobre
que teria sido admoestada pelo irmão, Sir Anthony Browne, por tomar um amante no
início de 1536. Quando confrontada com essa acusação, Lady Worcester disse que
sua conduta não era pior do que a da própria rainha. Outra de suas damas, Lady
Rochford, esposa de George Bolena, disse que havia testemunhado um procedimento
incomum entre irmão e irmã e que eles constantemente zombavam das roupas do
rei, sugerido também que o monarca era impotente. Mais um depoimento surgiu de
uma fala de Lady Wingfield, falecida em 1534, mas que teria aparentemente
reprovado o relaxamento da moralidade da rainha em seu leito de morte.
[17]
Joana ou Jane Seymour (1508-1537) foi a terceira esposa do Rei Henrique VIII,
foi a rainha consorte do Reino da Inglaterra de 1536 até sua morte. Era filha
de John Seymour e Margaria Wentworth, tendo morrido pouco tempo depois de dar à
luz ao único filho homem ao Rei Henrique VIII. Foi aia das rainhas Catarina de
Aragão e Ana Bolena, e assim ascendeu ao sangue real. Segundo aponta a
historiadora Elizabeth Norton, em seu livro” Jane Seymour – Henry VIII’s
True Love”, conforme sua gravidez ia avançando, Jane descobriu que Henrique
tornou-se excepcionalmente solícito com ela.
Foi provavelmente no verão de 1537, que o monarca a presenteou com um
rico leito dourado. Henrique também foi menos incisivo sobre o envolvimento de
Jane em questões políticas, e em Junho, quando um novo Embaixador Imperial
chegou ao reino para negociar um casamento entre Maria e o irmão do Rei de
Portugal, Jane foi autorizada a reunir-se com ele, e discutir a proposta do
enlace. Tal aspecto pode ter sido fundamental para a confiança de Jane enquanto
rainha.
[18]
Peter James Marshall é historiador britânico notabilizado por seu trabalho
sobre o império britânico, particularmente, as atividades dos servos da
Companhia das Índias Orientais Britânicas na Bengala do século XVIII, e também
a história britânica na América do Norte durante o mesmo período.
[19] O termo “caça às bruxas” pode ser utilizado para designar
historicamente a perseguição ocorrida em qualquer era às mulheres que
supostamente possuíam poderes sobrenaturais, mas é usualmente mais usado para
se referir aos eventos ocorridos durante cerca de quatro séculos a partir do
século XV, quando a Igreja liderou uma grande investida contra mulheres que de
alguma forma haviam ferido as expectativas sociais, políticas ou religiosas,
normalmente de classe social mais humilde.
No século XIII, a Igreja criaria o Tribunal do Santo Ofício – melhor
conhecido como Santa Inquisição para impedir que pessoas desviadas dos
ensinamentos cristãos deixassem a instituição, utilizando-se para isso de
variados mecanismos de perseguição e punição. Neste sentido, costuma-se dividir
a ação da Inquisição em dois períodos: o medieval, do século XIII ao XIV, e o
moderno, do século XIV ao XIX. Em 1484, durante o papado de Inocêncio VIII, seria
emitida uma bula oficial com condenações à prática da feitiçaria: o Summis desiderantes affectibus, que
também apoiava as ações necessárias para livrar a cristandade dos praticantes
de bruxaria.