Fascismo tupiniquim

Por Gisele Leite

Fonte: Gisele Leite

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A existência do fascismo tupiniquim não é novidade. Aliás, em 1932 sob o governo do lendário e suicida Getúlio Vargas, criou-se no país, o movimento fascista chamado de Ação Integralista Brasileira ou AIB soba liderança de Plínio Salgado que empunha como lema: “Deus, Pátria e Família”[1] e cujo objetivo era a formação do chamado "Estado Integral" de cunho autoritário, anticomunista e nacionalista orquestrado pelas elites esclarecidas.

O movimento integralista se norteava por pilares considerados reformistas, tal como: I. Suspensão definitiva do pagamento das dívidas imperialistas do Brasil; II. Nacionalização imediata de todas as empresas imperialistas; III. Proteção aos pequenos e médios proprietários e lavradores e entrega das terras dos grandes proprietários aos camponeses trabalhadores rurais que as cultivam; IV; Gozo das mais amplas liberdades populares; e V. Constituição de um governo popular.

Atualmente, com base nas imagens da revista ANAUÊ, de outubro de 1937, que era periódico de divulgação do fascismo brasileiro que denunciava a rotina organização dessa versão tupiniquim de matiz ideológico totalitário europeu. A horda tinha os camisas verdes que se diziam ser a “sentinela da Pátria”.

A propósito, Anauê é uma saudação brasileira de origem indígena, com uso documentado em 1911 entre os nhambiquaras no Mato Grosso. Foi extensivamente usada a partir de 1923 e até 1936 pelo movimento escotista do Brasil como saudação escotista, devido ao cariz indigenista desse movimento.

De modo semelhante às saudações dos fascistas europeus e à saudação nazista, por sua vez evoluídas da saudação romana. A apropriação da saudação pelos integralistas brasileiros veio a causar o seu abandono em 1936 pelo movimento escotista, de carácter apartidário, por forma a não ser confundido com o integralismo.

O termo foi documentado em dezembro de 1911 pelo Marechal Rondon na foz do Juina, no Mato Grosso, como saudação específica dos nhambiquaras, usada para se anunciarem a quem chega.

Segundo Gustavo Barroso, um dos líderes da Ação Integralista Brasileira, a saudação seria uma junção de diferentes cumprimentos existentes na língua tupi.

Para Luís da Câmara Cascudo, a palavra ter-se-ia originado da língua dos parecis, indígenas nuaruaques. Sendo um grito, significaria "unido-aos-outros-iguais”, de solidariedade, de reunião, de agrupamento, de toque-de-reunir. O emprego como aclamação seria uma aclimatação da voz militar nos cerimoniais civis.

Atualmente, com o bolsonarismo temos esse ressurgimento que se nutre da psicose de massas ou até de histeria coletiva que não esclarece a origem do problema que é compreender a razão pela qual essa fração de classe social que respalda o discurso fascista.

Os primeiros movimentos fascistas surgiram na Itália durante a I Guerra Mundial, tendo-se posteriormente expandido para outros países europeus.

Os fascistas viam a I Guerra Mundial como uma revolução que tinha trazido alterações massivas na natureza da guerra, da sociedade, do estado e da tecnologia. O fascismo é um termo que deriva do movimento fascista que surgiu na Itália, no final da década de 1910, e que ficou caracterizado pelo amplo controle do Estado e pelo autoritarismo.

A respeito das dificuldades de fazer uma definição do fascismo, é importante também atentar à afirmação do cientista político Chip Berlet: “O fascismo é uma corrente política complexa que parasita outras ideologias, possui muitas tensões internas e contradições e possui um aspecto camaleônico que se apropria de símbolos históricos, ícones, slogans, tradições, mitos e heróis da sociedade que deseja mobilizar”.

Vige consenso acadêmico entre historiadores e cientistas políticos afirma que o fascismo é uma ideologia política radical do espectro político da direita conservadora. Isso não significa apontar que toda prática da direita conservadora é radicalizada e, portanto, fascista. O mesmo vale para a esquerda, uma vez que nem toda política desse espectro político é radicalizada.

A retórica populista dos fascistas sempre se alimenta de momentos de crise econômica, social e política. O discurso retórico fascista apresenta soluções fáceis para problemas complexos. Quando alcança o poder, o fascismo assume uma postura autoritária, violenta, hierárquica e com foco nas elites.

Enfim, o populismo fascista defende mudanças radicais no status quo (expressão em latim para referir-se ao “estado atual das coisas”) quando se referem ao sistema político, mas nos privilégios de classe o discurso privilegia a manutenção desse status quo.

Enfim, o neofascista ataca os interesses coletivos e ainda reserva para seu clã riquezas. Lembremos que Wilhelm Reich[2] enfoca a expressão da psicologia de massas do fascismo em certa forma de família, tendo no centro a repressão à sexualidade e, no caráter da classe média baixa.

Para o pensador, a repressão à satisfação das necessidades materiais difere da repressão aos impulsos sexuais. E, a primeira leva à revolta, enquanto a segunda impede a rebelião. E, isso subtrai do domínio consciente, fixando-a como a defesa da moralidade.

Eis algumas características podem ser mencionadas em relação ao neofascismo, tais como: 1. Patriotismo exagerado que assume posturas xenófobas e violentas; 2. Desprezo pelos valores da democracia liberal, como as liberdades individuais; 3. Construção de retórica violenta contra supostos “inimigos internos” que contribuem para a “degradação moral” da nação.

Analisando a amostra de classe média (carioca, paulistana e brasiliense) não é composta dos únicos seres a viver esse processo conservador, mas vive de forma singular. E, imagina-se situar-se acima dos outros e acreditam representarem a nação. Praticam a defesa das barreiras sociais, que foram impostas como garantia de sobrevivência da autoestima.

Esses grupos temem a quebra da ordem, na qual se equilibram, de forma precária, e por isso, rogam pelo controle e repressão de pobres, negros e marginais e, ainda são desejosos de emergência social.

São alinhados à defesa militar[3] da nação, a chamada Pátria Amada e ainda adotam severo moralismo o que prega o preconceito, à misoginia, à homofobia, ao racismo e, etc. E, ainda arrematam seu discurso com a defesa da família e, o clamor da ordem e, ainda, de cunho religioso.

Aproximação de uma inclusão social ocorrida também em templos evangélicos, mesmo sob a cobrança de dízimos para obter essa sensação de reconhecimento individual. E, tal atitude implica na busca presencial de muita gente que seja parecida consigo e demonstram a posse de raras ideias inteligentes.

Quanto ao viés de representatividade ou não dessas manifestações de rua, é selecionar de forma aleatória, por meio de mera amostra probabilística. E, nesta, cada membro individual da população e tem chance conhecida e diferente de ser selecionado como parte desta.

Segundo o Datafolha, a faixa até dois salários mínimos é 51%, enquanto a preferência pelo PT é 27%. Isso representa 42,2 milhões de votos. Minha “tese”, hipótese defendida com dados, é a esperada vitória de Lula, apesar da melhora do rival, se dar basicamente por causa dos pobres simpatizantes do PT.

Nem todas as pesquisas eleitorais fazem amostra por partido de preferência. Um fator eleitoral decisivo é o PT ser o único partido com massa popular simpatizante. Esta é a verdadeira razão do “antipetismo”. Ressentimento puro.

Referências

DATAFOLHA Pesquisas.PT Tem mais simpatizantes, mas também é a sigla mais rejeitada. Disponível em: https://datafolha.folha.uol.com.br/opiniao-e-sociedade/2022/10/pt-tem-mais-simpatizantes-35-mas-tambem-e-sigla-mais-rejeitada-39.shtml Acesso em 28.2.2024.

ORWELL, George. O que é fascismo? E outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

REICH, W. Psicologia das Massas do Fascismo. Tradução de M.G.M. Macedo. São Paulo: Martins Fontes, 2019.

Notas:

[1] Esse o lema vem do pensamento de Giuseppe Mazzini, um dos responsáveis pela unificação italliana. Significa que só há um Deus, uma única pátria e um só tipo de família. Foi slogan mui usado por Mussolini durante vinte anos de fascismo. Para Wesley Espinosa Santana, por sua vez, que é historiador, sociólogo e professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, além do uso da tríade "Deus, pátria e família", é possível fazer ainda uma analogia com o uso do uniforme da seleção brasileira nas manifestações políticas de direita hoje com a farda verde dos integralistas de Plínio Salgado

[2] O psicólogo marxista Wilhelm Reich (1897-1957) escreveu o livro Psicologia de massas do fascismo em 1933 (o estudo estendeu-se de 1930 até 1933), no contexto da ascensão do nazismo na Alemanha. O autor refugiou-se em Viena, depois Copenhagen e Oslo, onde iniciou os seus estudos sobre as couraças e depois do que denominou de “energia vital”, levando-o a teoria do “orgon”. Desde 1926 acumulava divergências com Freud, com o qual trabalhou como assistente clínico, e em 1934 seria expulso da Sociedade Freudiana e da Associação Psicanalítica Internacional, sairia da Noruega em direção aos EUA, onde seria também perseguido com a acusação de “subversão”. Acabou preso em 1957 e morreu no mesmo ano na prisão. Toda sua obra, incluindo livros e material de pesquisa, foram queimados por ordem judicial nos EUA em 1960.


Gisele Leite

Gisele Leite

Professora Universitária. Pedagoga e advogada. Mestre em Direito. Mestre em Filosofia. Doutora em Direito. Conselheira do INPJ. Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Consultora Jurídica.


Palavras-chave: Fascismo Tupiniquim

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