A morte da Rainha Elizabeth II
Além de ter seu reinado marcado pela longa duração, a Rainha Elizabeth II foi a última monarca do Império Britânico. Com mais de 33 milhões de km² em seu auge, o império britânico foi o maior da história, com colônias espalhadas no Caribe, África, Ásia e enclaves em pontos estratégicos para o comércio no mar Mediterrâneo. O império chegou, em 1913, a possuir territórios em todos os fuso-horários no mundo, dando origem à máxima “o sol nunca se põe no Império Britânico”.
A
Rainha Elizabeth II morre aos noventa e seis anos de idade, estava em sua
residência de férias, o Castelo Balmoral, na Escócia e, foi quem teve o mais
longo reinado da história do Reino Unido. Seus quatro filhos, Charles, Anne,
Andrew e Edward foram até a Escócia quando fora anunciado que a rainha se
encontrava sob supervisão médica. O seu reinado de setenta anos a torna a mais
longeva da história. Assume o trono do Reino Unido e de outros quatorze países,
o seu filho Charles.
Seu
nome completo era Elizabeth Alexandra Mary nasceu em 21 de abril de 1926, teve
uma única irmã, a Princesa Margaret, nascida em 1930 e, falecida em 2002. Teve
oito netos, William e Harry, filhos de Charles, e doze bisnetos, sendo a mais
nova, Sienna, filha da Princesa Beatrice.
Durante
seu reinado, Rainha Elizabeth II conheceu quinze primeiros-ministros e, Winston
Churchill[1] era premiê na ocasião em
que assumiu o trono e, visitou Downing Street, residência oficial de
Chefes de Governo, por diversas vezes. Oficialmente era Chefe de Estado, mas
seu papel era formal e cerimonial.
Apesar
de receber semanalmente o Primeiro-Ministro em audiência, permaneceu neutra nos
assuntos políticos e manifestou forte senso de responsabilidade civil e
religiosa, pois acumulava as funções de Chefe de Estado e da Igreja Anglicana.
Manifestou-se
ser favorável a tolerância religiosa, tendo se encontrado com quatro papas,
como João XXIII, João Paulo II, Bento XVI e Francisco, bem como líderes de
outras igrejas. Ainda idosa vivenciou período de forte tensão na Irlanda do
norte, a Guerra das Malvinas, as invasões do Iraque e do Afeganistão e, ainda,
a pandemia da Covid-19.
Apesar
de críticas à monarquia, manteve sua popularidade em alta. Assumiu o trono
inglês em 1952, logo após o óbito de seu pai, George VI. Durante sua infância,
não havia perspectiva que se tornaria rainha, na ocasião, seu avô era George V
e, seu tio Edward era considerado o primeiro na sucessão monárquica.
Com a
morte de George V[2],
Edward VIII assumiu o trono em 1936, abdicando[3] no mesmo ano[4]. Foi quando seu pai
assumiu e se tornou o rei George VI, e
ela se transformou na primeira na linha de sucessão da coroa, aos 10 (dez)
anos.
Três
anos depois, começou a Segunda Guerra Mundial, que durou até 1945. Foi em 1947
que a rainha ficou noiva e se casou com o Príncipe Phillip, seu primo em
segundo grau.
Conheceram-se
ainda na infância e, aos treze anos a então princesa confessou estar apaixonada
por seu futuro marido. Phillip, então príncipe da Grécia e da Dinamarca,
renunciou aos títulos nobiliárquicos e se tornou o Duque de Edimburgo no dia de
seu matrimônio.
Seu
casamento fora alvo de polêmica, afinal, Phillip não nasceu no Reino Unido e,
sim, na Grécia, apesar de ter servido ao Exército britânico e, suas irmãs era
casadas com alemães que mantinham ligações nazistas. Um ano depois, Elizabeth
dera à luz a seu primeiro rebento, Charles. E, depois a segunda filha, Anne,
que nasceu de 1950.
Em
1951, a saúde do rei George VI piorou e Elizabeth passou a participar de
diversos eventos em seu lugar. Em 1952,
a então princesa e seu marido estavam em uma viagem no Quênia quando foi anunciada a morte do rei.
No
mesmo momento, seu secretário particular perguntou qual nome a nova rainha
gostaria de utilizar, e ela decidiu permanecer como Elizabeth. Ela foi então proclamada rainha em 6 de fevereiro de 1952 e
voltou ao Reino Unido.
Um ano
depois, em 24 de março, sua avó, a rainha Mary, também morreu. Na época, os preparativos para a coroação estavam sendo
realizados e, a festa não foi realizada antes
devido ao luto oficial. A cerimônia aconteceu no dia 2 de junho de 1953, também na Abadia de Westminster. Pela primeira
vez na história, o evento fora televisionado para todo o mundo[5].
Um
desfile também marcou as comemorações dos 60 anos do reinado de Elizabeth II
com uma tradição marítima do Reino Unido.
Uma
procissão de mil barcos de todos os estilos, épocas e tamanhos percorreu 11
quilômetros do Rio Tâmisa. Eles vieram
de 53 países que fizeram parte do império britânico. No final, uma salva de
tiros na ponte da Torre de Londres marcou o espetáculo e o início da noite.
No ano
de 2012, a rainha participou pela primeira vez do conselho de ministros, uma
situação propiciada pela celebração de
seu jubileu de diamante. Historicamente, os monarcas presidiam o conselho de
ministros, mas a última a participar de
uma reunião foi a Rainha Victória[6], tataravó de Elizabeth II,
que reinou entre 1819 e sua morte, em 1901.
Desde
sua ascensão ao trono, com exceção de 1969, todo dia 25 de dezembro a soberana
se dirigiu ao Reino Unido e à Comunidade Britânica.
Logo
depois do jubileu, a Rainha Elizabeth II e o ex-dirigente do IRA[7] Martin McGuinness cumprimentaram-se
como histórico aperto de mãos no dia 27 de junho de 2012, em Belfast, ato
considerado como marco no processo de paz na Irlanda do Norte.
Quatorze
anos posteriores ao acordo de paz da Sexta-feira Santa, outro aperto de mãos
entre a soberana e o atual vice-ministro da Irlanda do norte se deu a portas
fechadas durante evento cultural em teatro lítico na capital da Irlanda, o que
pôs fim aos trinta anos de violência existente entre protestantes leais à Coroa
Inglesa e os católicos republicanos.
Recordemos
que em maio de 2011, a Rainha Elizabeth II realizou histórica visita de
reconciliação com a Irlanda, a primeira visita de monarca britânico desde a
independência da república em 1922.
Em
2013, a monarca deu consentimento real para projeto de lei aprovado pelo
parlamento consagrando o caminho para haver os primeiros casamentos entre
pessoas do mesmo sexo em 2014[8].
A data
marca a entrada em vigor de um dispositivo de uma lei aprovada no ano passado,
chamada de Marriage (Same Sex Couples) Act 2013.
Inicialmente, esta autorizou o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo.
Desde março de 2014, na Inglaterra, os homossexuais podem casar. Antes disso,
só era permitido a eles formar união estável.
Outra
mudança memorável foi o apoio ao término da prioridade dos homens na linha sucessória
do trino, doravante, a prioridade é do herdeiro mais velho, seja ele mulher ou homem.
E, também apoiou o fim da proibição do casamento de herdeiros da família real com
católicos.
Ainda
em 2015, consagrou-se com a monarca mais longeva da história britânica,
superando a marca anterior de sua tataravó, a Rainha Vitória, que permaneceu no
trono por sessenta e três anos e duzentos e dezesseis dias, entre 1837 até
1901. Também em 2016, se tornou a rainha viva por mais tempo no poder, com a
morte do rei tailandês Adlyahdej.
Em seu
tradicional discurso de Natal, em 2018, a rainha fez um pedido aos súditos, em meio às discussões que levaram o país ao
Brexit, o divórcio com a União Europeia[9], Elizabeth II pediu por "respeito e
entendimento".
Em
meio a pandemia de Covid-19, a monarca se isolou no Castelo de Windsor, perto
de Londres e, passou a fazer reuniões e eventos de forma remota. De fato, os
cuidados com a saúde da rainha foram redobrados e, somente voltou as aparições
públicas, após ter recebido sua vacinação completa contra o coronavírus.
Em 17
de abril de 2021 participou altiva do funeral do marido, Príncipe Phillip, na
Capela de São Jorge. Após o funeral, precisou reduzir por conta dos protocolos
sanitários e, a rainha foi avistada sentada, sozinha dentro da igreja para sua
despedida. Voltou comparecer publicamente em cerimônias online e, depois presencialmente,
quando da inauguração da linha de metrô de Londres que tem o seu nome.
Um
evento relevante foi sua participação do jubileu de platina, para comemorar os
setenta anos de reinado à frente da família real britânica.
Logo
em seus primeiros anos de reinado, um dos marcos das tarefas diplomáticas da
rainha fora a visita em 1965 à Alemanha Ocidental ou República Federal da
Alemanha, alinhada ao Ocidente, em oposição de Alemanha Oriental, na época,
aliada à URSS.
A
visita marcou 20 (vinte) anos do fim da Segunda Guerra e foi vista como um
reconhecimento da reconciliação entre britânicos
e alemães e da volta da Alemanha como potência europeia.
Enfim,
a monarca presenciou vários momentos históricos dos séculos XX e XXI, entre
eles a Segunda Guerra Mundial[10], a corrida espacial e a
chegada do homem à lua, a criação e a queda do muro de Berlim, invasão ao Iraque,
o então governado por Saddam Hussein e, a pandemia de Covid-19.
Não
teve medo de lidar com machistas no poder Quando assumiu a Coroa, aos 25 (vinte
e cinco) anos, Elizabeth II se viu rodeada de caras que duvidavam de sua
capacidade apenas por ela ser uma
mulher. Essa realidade não mudou com o tempo, mas jamais deixou-se abater,
tanto que se tornou a soberana mais longeva de toda a história.
Mostrou-se
mais forte e mais sábia que alguns primeiros-ministros. Já nos dez primeiros
anos de seu reinado, a Rainha viu três
homens pedirem para sair.
Como
líder nata, quebrou protocolos e chocou a elite racista em 1961, ao tentar acalmar
a tensão entre Inglaterra e Gana, a Rainha dançou com Kwane Nkrumah durante
evento no país africano. A imagem mostrou uma mulher branca e um homem negro
abraçados em um compromisso oficial, ato representativo e estampou nas capas
dos noticiários de todo mundo.
Novamente,
modificou as regras para prestar solidariedade à Jaqueline Kennedy cujo marido
fora assassinado, quando ordenou que os sinos da Abadia de Westminster fosse tocados. E, de acordo com a tradição, isso
acontece somente quando algum membro da família real falece.
Seu
reinado de setenta anos, sete meses e dois dias foi o mais longo da história do
país que veio a se tornar o Reino Unido. Durante esse tempo, ela deu seu
parecer favorável a mais de 4.000 (quatro mil) Atos do Parlamento.
Elizabeth
visitou mais de cem países durante seu reinado. Em 2016, o Palácio de
Buckingham disse que ela viajou pelo menos 1.661.668 km, para 117 (cento e
dezessete) nações. Ela foi a monarca que mais visitou o Canadá.
Ela
representa a última mulher no trono da monarquia britânica pois na sucessão, há
seu filho Charles, seu neto William e bisneto George, e todos são homens. Rei
Charles III é hoje o mais velho monarca a assumir a coroa britânica.
Notas:
[1]
Amplamente considerado como um dos homens mais significativos da História do
Reino Unido e uma das figuras mais importantes do século XX, Churchill continua
a ser popular no Reino Unido e no mundo ocidental, onde é visto como um líder
extremamente inteligente que levou a vitória do Reino Unido e dos países
aliados na Segunda Guerra Mundial e desempenhou um papel fundamental no combate
ao fascismo europeu. Por um lado, foi elogiado por seus diversos livros
escritos, sobretudo sobre as Memórias da Segunda Guerra Mundial, que o levou a
receber o Prêmio Nobel de Literatura. Por outro lado, também foi fortemente
criticado por seus opositores, devido aos seus comentários imperialistas sobre
raça, bem como a sua aprovação de violações de direitos humanos na supressão de
movimentos que procuravam se voltar contra o Reino Unido, como no caso da
independência da Índia. Em 2002, ele foi eleito pela BBC como o maior britânico
de todos os tempos.
[2] A Primeira Guerra Mundial teve um custo sobre a saúde de Jorge: ele ficou gravemente ferido em 28 de outubro de 1915, quando caiu de seu cavalo durante uma revista às tropas na França; e o tabagismo intenso agravou os recorrentes problemas respiratórios - ele sofria de doença pulmonar obstrutiva crônica e pleurisia. Em 1925, por indicação de seus médicos, ele embarcou relutantemente num cruzeiro privado de recuperação no Mediterrâneo - era sua terceira (e última) viagem ao exterior desde a guerra. Em novembro de 1928, ele ficou gravemente doente por uma septicemia e, nos dois anos seguintes, seu filho Eduardo assumiu muitas de suas funções. Em 1929, uma nova sugestão de repouso no exterior foi rejeitada pelo rei "em linguagem bastante forte". Em vez disso, ele retirou-se por três meses em Craigweil House, Aldwick, na estância balneária de Bognor, Sussex. Como resultado de sua estadia, a cidade adquiriu o sufixo Regis, que em latim significa "do rei". Mais tarde surgiria a lenda de que suas últimas palavras, ao ser informado de que logo estaria bem o suficiente para revisitar a cidade, foram "Foda-se Bognor!".
[3] O
rei Edward VIII, assumiu o trono, mas abdicou da função em menos de um ano,
para viver sua paixão por Wallis Simpson, uma americana divorciada, o que para a sociedade da época
foi um escândalo.
[4]
Após sua abdicação, foi-lhe concedido o título de Duque de Windsor. Casou-se
com Wallis Simpson na França, em 3 de junho de 1937, após a confirmação do segundo divórcio dela.
Nesse mesmo ano, o casal visitou a Alemanha. Durante a Segunda Guerra
Mundial, ele serviu inicialmente na
missão militar britânica na França, mas, após acusações de que nutria simpatias
pelo nazismo, foi designado governador
das Bahamas. Com o término da guerra, ele nunca mais desempenhou outra função
oficial, passando o resto de sua vida
retirado na França.
[5] Em 1981, Elizabeth II foi vítima de um atentado. O adolescente Marcus Sarjeant disparou seis tiros de festim contra ela durante um desfile em comemoração ao seu aniversário. Na ocasião, a rainha não se assustou e se deitou sobre o cavalo Brumese para acalmá-lo. Marcus foi preso em flagrante e condenada a passar três anos em uma instituição psiquiátrica.
[6]
Assumiu o trono em meio a pedidos para substituir a realeza por uma república.
Mas, a Rainha Vitória manteve o poder por meio de reformas ambiciosas e políticas imperialistas, e seu legado
perdura até hoje. No século XIX, a Rainha Vitória supervisionou a expansão do
Império Britânico — que viria a cobrir um quinto da superfície da Terra até o
final desse século — e fez reformas essenciais à monarquia. Seu legado foi tão
histórico que o período em que ela reinou é hoje conhecido como a Era
Vitoriana. A Rainha da Fome. A Viúva de Windsor. Avó da Europa. Rainha Vic. No
século XIX, a Rainha Vitória ganhou todos esses apelidos e mais — tributos da influência duradoura de seu reinado de 64 anos
(1837-1901) sobre o Reino Unido. Durante o período hoje conhecido como a Era
Vitoriana, ela supervisionou a expansão industrial, social e territorial de sua
nação e se tornou conhecida como uma criadora de tendências, que renovou as
posturas europeias em relação à monarquia. Estima-se que uma em cada quatro
pessoas na Terra eram súditas do Império
Britânico ao fim de seu governo. Quando Vitória assumiu o trono, entretanto, a
monarquia britânica era amplamente impopular.
[7] "O Exército Republicano Irlandês, popularmente conhecido como IRA (siglas para Irish Republican Army), foi um dos mais ativos grupos terroristas do século XX. Sua atuação ficou marcada pela formação de grupos paramilitares que arquitetavam diversos atentados terroristas contra seu maior alvo: a Inglaterra. A oposição à nação inglesa era prioritariamente motivada pelo interesse de tornar a Irlanda do Norte uma região politicamente independente da Inglaterra."
[8]
A Convenção Europeia de Direitos Humanos, da qual o Reino Unido é signatário,
proíbe que uma pessoa seja discriminada em razão do sexo. É com base nela que a
Corte Europeia de Direitos Humanos já disse que não pode ser negado aos gays o
direito de formar família. A mesma corte, no entanto, disse que o casamento
pode ser restrito ao relacionamento entre um homem e uma mulher, desde que o
Estado preveja alguma forma de reconhecimento das relações homossexuais. A
corte nunca teve de se posicionar sobre heterossexuais que se dizem
discriminados.
[9] "Brexit é uma abreviação das palavras inglesas britain (Bretanha) e exit (saída) que se popularizou com as campanhas pró e contra a saída do Reino Unido da União Europeia. A escolha pela saída foi determinada por meio de um referendo votado em 23 de junho de 2016 por 17,4 milhões de pessoas. Tal resultado acabou custando também a demissão do primeiro-ministro da Inglaterra, David Cameron, que advogava a favor da permanência na União Europeia." "David Cameron propôs um referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia caso vencesse as eleições gerais de 2015. O resultado final do referendo foi: Saída: 17.410.742, totalizando 51,9% dos votos válidos; Permanência: 16.141.241, totalizando 48,1% dos votos válidos. Com a derrota da “permanência”, o primeiro-ministro, David Cameron, renunciou ao cargo e foi sucedido por Theresa May, ex-ministra do Interior. Theresa May venceu a disputa interna no Partido Conservador e conseguiu ser nomeada primeira-ministra do Reino Unido."