Peste, a protagonista
O protagonismo da Peste faz emergir análises sobre as medidas como confinamento, quarentena, o contágio e as mortes diante da atual pandemia de Covid-19. E, corrobora ainda para a reflexão sobre o plano político, social e literário do contágio coletivo. Afinal, como afirmou Camus: “O ser humano começa a viver antes de começar a pensar”.
Introdução
A obra intitulada "A
Peste" de Albert Camus focaliza como a vida é impactada de forma abrupta
com o surgimento da peste, transmitida por grande número de ratos, e vai
aniquilando progressivamente a população. A narrativa representa uma alegoria
da morte em massa ocasionada pela Segunda Guerra Mundial.
Há um enlace memorável entre
história, literatura e ficção e, as múltiplas diferenciações e similitudes nos
permite traçar um panorama, mas a problematização é mesmo a análise do discurso
histórico e a confluência com o discurso literário.
Apesar do alerta de Karl Popper[1] onde é possível constatar
que a história não produz um conhecimento objetivo, pois é marcada tanto pela
emoção, como pela intuição, envolvendo convicções, juízos de valor, tendências
e interesses.
Segundo Afrânio Coutinho, a
literatura configura-se como a transfiguração do real, é a realidade recriada
através do espírito do artista ou escritor e, retransmitida através da língua
para as formas, que são gêneros e, com os quais toma corpo da nova realidade.
O argelino nascido em 1923,
Albert Camus foi autor de "O Estrangeiro" (1942), "O Mito do
Síssifo[2]" (1942) e "A
Peste" dentre outas produções, sendo um dos grandiosos escritores da
literatura e da filosofia francesa. Sua produção literária foi marcada por
temáticas concernentes às experiências humanas, sob o prisma multifacetado e
existencialista.
A obra, em comento, dispõe de
viés metaficcional, pois é composta por artifícios explicativos sobre o
processo de construção, além do caráter historiográfico. Retratou a opressão do regime nazista, ainda quem sem verbalizá-la
propriamente, ainda que de forma alegórica.
Relata a obra, a mudança de
vida na cidade argelina e, a aparência banal de Oran[3] que foi alterada pela
patologia epidêmica, que aniquilou a população. Há um caráter alegorizante de
Camus que reverbera pela voz do narrador-personagem, dando pista que a peste
não significa somente o que a ciência desejou definitivamente atribuir-lhe, mas
uma longa série de imagens inéditas e extraordinárias que não se harmonizavam
com essa cidade amarela e cinzenta. Tons que acenavam e simbolizavam o horror.
A palavra "peste"
acabava de ser pronunciada, pela primeira vez, e a narrativa justifica a
incerteza e o espanto dos médicos, ainda que admitisse algumas variações, sua
reação foi a redução em flagelos que se abatera sobre o local e os cidadãos. Já
existiram no mundo tantas pestes e guerras. E, sempre encontraram pessoas e
sociedades completamente desprevenidas.
Completando o cenário, a
invasão repentina do regime totalitário em Oran demonstra a arbitrariedade com
que as vítimas podem ser escolhidas e, para isso, foi decisivo que sejam,
objetivamente, inocentes, que sejam selecionadas sem que se atente para o que
possam ou não ter feito. O flagelo atingiu igualmente os homens, mulheres e
crianças, e o terror não escolhe sua predileção.
A peste interrompeu os
processos e procedimentos de rotina dos cidadãos argelinos e, os testemunhos dos
personagens, dão a materialidade capaz de dimensionar a catástrofe. A metahistória traz a imaginação do século
XIX e escreve sobre a tenuidade da relação entre o ofício do historiador e do
romancista.
Lembremos que a história
oficial sempre privilegia a posição dos vencedores e, questiona-se a
consagração do heroísmo de que estes, os gloriosos, dispõem e, também, a vileza
creditada, naturalmente, aos vencidos. Será tudo mesmo tão maniqueísta?
“A Peste” representa a
resistência ao regime totalitarista que realmente dizimou muitos durante a
Segunda Grande Guerra Mundial e, denuncia a dor, o medo, a incerteza do futuro,
a perda da esperança e grande solidão propiciada pelo flagelo. As narrativas da
obra cumprem o papel social e, traça também uma postura revisionista da
história[4] e, possibilita a supressão
de lacunas deixadas pela historiografia tradicional, conservadora e
preconceituosa, dando vez e voz a tudo que lhe fora negado, silenciado ou
perseguido pela história.
O sentimento de absurdo que
surge diante de traumas coletivos, quando a fé na condição humana é abalada, em
atribuir algum sentido à vida, é firmemente impactada e as convicções da razão
parecem, simplesmente, desmanchar-se no ar.
Enfim, a verdadeira peste que
nos acomete é, sobretudo, a do vírus do ódio e da indiferença diante das
desigualdades sociais. O flagelo que nos açoita, em verdade, é a morte como
projeto político, o caos e o obscurantismo que faz reinar e dominar o regime
político de terror.
O que representam mais de
seiscentos mil mortos num país como o nosso, ou, quando se faz uma guerra, o
que significa realmente um óbito ou muitos. Há mais de cem milhões de cadáveres
semeados ao longo da história da humanidade. Qual foi o aprendizado de tudo
isso?
A existência do ser humano é a
marca do livro "A Peste". Afinal, existimos ou vivemos para quê ou
para quem? A vida não passa de um sopro é o que exatamente cabe entre a primeira
aspiração e a derradeira expiração, é, o que importa. Para o autor, o ser
humano não passa de um joguete do destino.
Há, realmente, um sentimento
de exílio, esse vazio em nós, essa emoção milimétrica, e o desejo irracional de
retornar atrás, ou, pelo contrário de acelerar a marcha do tempo.
Enfim, reintegrávamo-nos, à
velha condição de prisioneiros, reduzidos ao passado e, ainda que alguém fosse tentado
a viver no futuro, logo renunciava, ao se deparar com as feridas que tanto nos
afligem.
A obra contempla a beleza do
otimismo do personagem Tarrou que, travando amizade com o desalentado Dr.
Rieux, coloca-se na dianteira do combate à peste, seja organizando comissões e
convocando os demais personagens, tal como o jornalista Rambert, a superarem seu
horizonte individualista e se integrarem na força do coletivo, enfim, para
galgar nova perspectiva para a própria vida.
A obra é, profundamente,
marcada pela ocupação nazista[5] à França, aliás, tem como
epígrafe uma frase sugestiva de Daniel Defoe (o escritor de Robinson Crusoé), in
litteris: "É tão válido representar um modo de aprisionamento por
outro quanto representar qualquer coisa que de fato existe por alguma coisa que
não existe".
Há o paralelo entre os
flagelos da doença e os da guerra, e o sentimento de exílio e aprisionamento dentro
do próprio país. O desfecho da obra está associado ao fim da quarentena coincidente
com a comemoração popular pela libertação de Paris[6], em 25 de agosto de 1944.
Desenvolvimento
As narrativas da obra se
ocupam em explicar a história dada como oficial sob muitos e múltiplos enfoques,
possibilitando sempre novas leituras e construções e pensamentos críticos em
relação àquilo que nos é imposto como verdadeiro.
Tal como Síssifo de Camus, o
ponto extremo da lucidez coincide com o ponto inicial da salvação (terrestre),
no momento em que esses homens reconhecem na Peste uma realidade tão dura que
qualquer álibi se torna impossível, eles percebem que sua sociabilidade é o
único bem humano que podem opor sem mentira à Peste, vitoriosamente ou não,
pouco importa.
A solidariedade é feita de
metal tão duro quanto o da Peste na ordem dos males. Para Sartre, o inferno são
os outros; para Camus, os outros talvez sejam o paraíso.
Exercer sua profissão,
aplicar-se conscienciosamente a fazer recuar um mal terrível e injusto, incompreensível, com as
armas do médico que são armas modestas, mas ao menos pacientes, objetivas e forjadas em comum e,
sobretudo, jamais mortíferas, eis então, a medida de uma felicidade que não
nasce da sublimação do sofrimento, mas da obstinação dos homens em mitigá-la, permanecendo lado a lado, sem
ilusão e sem desespero.
Curiosamente, a obra "A
Peste" de Albert Camus voltou ao topo da lista das mais vendidas no ano de
2020 durante a pandemia de Covid-19. Outra obra que tratara de epidemias como "Um
diário do ano da peste" de Daniel Defoe, romance publicado de 1722 que
relatou os fatos da peste que assolou Londres em 1665, e, em menor escala, os
livros de Tucídides[7],
de Giovanni Bocaccio, Antonin Artaud, os quais o autor pode e deve ter lido.
Há, igualmente, obras
brasileiras que se referiram à gripe espanhola que vitimou milhões de pessoas em
1918, "Chão de ferro" de Pedro Nava e "Água de barrela" de Eliana
Alves Cruz.
Já peste negra foi o contexto
da obra Decamerão de Giovanni Boccaccio, no momento em que chegava em Florença.
Antonin Artaud em seu artigo "Le théâtre et la peste",
ao se referir à peste de Marselha, afirmou que teria chegado no navio Le
Grand-Saint-Antoine de 1720, proveniente de Beirute, no Líbano. Até hoje,
no entanto, não sabe exatamente como a doença chegou nesses países, e
suspeita-se até mesmo que a bactéria tenha ficado adormecida em cantos ou
animais, conforme Camus relata no final de sua obra[8].
A Covid-19 surgiu na China[9], porém, não se trata que
seja um vírus chinês, conforme alardearam certos políticos. Os vírus sempre
foram transmitidos pelo contato com animais domésticos, tais como aves, porcos
e, outros. O que muda é os novos vírus vêm de animais silvestres, tais como os
morcegos, presumido como sendo o principal transmissor de coronavírus.
Basicamente, existem três
tipos de peste, em razão de infecção, a saber: a bubônica, a septicêmica e a
pneumônica.
A peste bubônica que é causada
pela bactéria Yersinia pestis e pode ser disseminada pelo contato
com pulgas e roedores infectados. Seus sintomas são inchaço de gânglios
linfáticos na virilha, na axila ou no pescoço. E, outros sinais como febre, calafrios,
cefaleia, fadiga e dores musculares. A Peste Negra[10] assolou a Europa no
século XIV e matou cerca de duzentas milhões de pessoas, atingindo a Eurásia.
A varíola atormentou a
humanidade por mais de três mil anos. Atingiu o faraó egípcio Ramsés II, a
Rainha Maria II da Inglaterra, e o Luís XV da França. O vírus responsável é Orthopoxvírus
variolae era transmitido de pessoa para pessoa, por meio das vias
respiratórias.
A cólera teve sua primeira
epidemia global, em 1817 e matou centena de milhares de pessoas, a bactéria
responsável é Vibrio cholerae que já sofreu diversas mutações e causou
novos ciclos epidêmicos, periodicamente.
A gripe espanhola matou cerca
de cinquenta milhões de pessoas em 1918 e foi causada por subtipo de vírus influenza.
Em nosso país, atingiu o então
Presidente da República Rodrigues Alves que morreu da referida doença em 1919.
Seus sintomas eram muitos similares com os do atual coronavírus Sars-CoV-2 e
não existia cura.
A gripe suína[11] (H1N1) é causada pelo
vírus H1N1 e, foi o primeiro a gerar uma pandemia no século XXI. Surgiu em
porcos no México, em 2009 e se disseminou pelo mundo, matando cerca de
dezesseis mil pessoas.
No Brasil, o primeiro caso foi
confirmado em maio daquele ano e, no fim de junho, 627 (seiscentos e vinte e
sete) pessoas estavam infectadas no
país, de acordo com o Ministério da Saúde.
O contágio acontece a partir
de gotículas respiratórias no ar ou em uma superfície contaminada. Seus sintomas são os mesmos de uma gripe
comum: febre, tosse, dor de garganta, calafrio e dor no corpo.
O romance “A Peste” está
dividido em cinco partes, que correspondem à evolução da epidemia e cujo
recorte corresponde às mudanças de estação: 1. Primavera: gênese; 2. Verão:
crescendo; 3. Verão: platô; 4. Outono: decrescendo; 5. Inverno:
desaparecimento.
Na primeira e última partes o
narrador tem um estilo mais pessoal ao descrever acidade de Oran, na costa da
Argélia, e os hábitos de seus personagens. A cidade é trivial, os habitantes
têm seus hábitos e não querem mudá-los. A declaração oficial do estado de
peste, que justifica o fechamento da cidade e o isolamento da população, marca
novo período.
A partir daí, nas segunda e
terceira partes, a cidade está cortada do resto do mundo, ninguém entra,
ninguém sai: o verão e a peste formam o inferno. O céu é o único espaço aberto,
mas só traz o sol inclemente.
Conclusão
São três os personagens
centrais de “A peste”: Rieux, médico-narrador que mora em Oran, Tarrou e
Rambert, homens de fora, que se encontram na cidade por razões desconhecidas.
Antes da peste, esses personagens são inconscientes e despreocupados,
desfrutando de seus pequenos prazeres. Tarrou, por exemplo, está hospedado num
hotel e passa o tempo na praia, nos bailes dos espanhóis e a observar e
conversar com as pessoas.
Anota em seus carnets
os hábitos bizarros do velho que cuspia nos gatos, o comportamento de Cottard,
um homem enigmático que depois se descobre ser um criminoso procurado pela
polícia, observa o comportamento da família do juiz Othon, hospedada no mesmo
hotel, enfim, são passatempos de um ocioso.
Já o jornalista Rambert, após
o fechamento da cidade, considera que os problemas da cidade não lhe dizem
respeito, quer voltar para a casa, para os braços de sua mulher.
Enfim, a estimativa de
infectados e mortos afeta diretamente os sistemas de saúde, especialmente a
exposição de populações e grupos vulneráveis, a sustentação econômica do
sistema financeira e da população.
Além da saúde mental das
pessoas submetidas ao confinamento e ao temor e risco de adoecimento e morte,
bem como dificulta o acesso aos bens essenciais tais como medicamentos,
alimentação, transporte, educação, entre outros[12].
O sucesso da vacinação em massa contra a Covid-19, a implementação de medidas preventivas como a vacinação, uso de máscaras faciais, assepsia com álcool em gel e, etc., torna possível responder parcialmente aos desafios propostos pela pandemia, bem como, enfatiza a necessidade de maiores investimentos na rede de pesquisadores, do pessoal da área de saúde[13], dos profissionais dos campos sociais, da educação e humanidades, visando a capacitação contínua para o enfrentamento da pandemia e a superação dos impactos sociais, econômicos, políticos, culturais e educacionais no país.
Referências:
ARTAUD, Antonin. Le
théâtre et son double. Paris: Gallimard, 1964.
BARTHES, Roland. Albert
Camus em português. Resenha do Livro “A Peste” de Albert Camus. Disponível
em: http://revistapandorabrasil.com/camus/resenhabarthes.htm
Acesso em 9.20.2022.
BOCCACCIO, Giovanni. Decamerão.
Tradução de Torrieri Guimarães. São Paulo: Abril Cultural, 1971.
CAMUS, Albert. A Peste.
25ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2019.
CARVALHO, K. da. S. A.; LOPES,
M. S. de O. A peste, de Albert Camus: uma leitura sob a ótica da metaficção
historiográfica. Macabéa – Revista Eletrônica do Netlli, Crato, v. 9, n. 4,
2020, p. 468-482.
COUTINHO, Afrânio. Notas de
teoria literária. 2ªed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
CRUZ, Eliana Alves. Água de
barrela. Rio de Janeiro: Malê, 2018.
DEFOE, Daniel. Um diário do
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Ofícios, 2014.
FIQUEIREDO, Eurídice. A
peste de Camus em diálogo: epidemias do passado, pandemia do presente.
Aletria, Belo Horizonte, v.31. n. 2. p. 183-201, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/aletria/article/download/26043/27562/101701
. Acesso em 08.10.2022.
Instituto Butantan. A
serviço da Vida. Como surgiu o novo coronavírus? Conheça as teorias mais
aceitas sobre sua origem. Disponível em: https://butantan.gov.br/covid/butantan-tira-duvida/tira-duvida-noticias/como-surgiu-o-novo-coronavirus-conheca-as-teorias-mais-aceitas-sobre-sua-origem
Acesso em 09.20.2022.
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em:https://www.researchgate.net/publication/350354636_Covid-19_o_fato_juridico Acesso
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Memória. São Paulo: Ateliê Editorial, Giordano, 2001.
NORDENFELT, Lennart. The
Varieties of Dignity. Disponível em: https://philpapers.org/rec/LENTVO
Acesso em 09.10.2022.
POPPER, Karl. Em busca de
um Mundo Melhor. Tradução de Milton Camargo Mota. São Paulo: Martins
Fontes, 2006.
RODRIGUES, Letícia. Conheça
as 5 maiores pandemias da história. Revista Galileu. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2020/03/conheca-5-maiores-pandemias-da-historia.html
Acesso em 09.20.2022.
Notas:
[1]
Entre os seus temas centrais estão o critério de demarcação, conjecturas e
refutações e o falsacionismo nas ciências. Buscar-se-á propor um breve resumo
sobre os principais conceitos em Popper, através dos itens abaixo: Uma teoria científica
somente pode ser refutada por meio da observação e da experimentação.
[2]
Na mitologia grega, Sísifo foi o mais astuto dos homens, mestre da malícia e da
felicidade punido pelos deuses a rolar uma pedra montanha acima diariamente, por toda a eternidade - foi uma
punição por ele tramar contra os deuses e uma maneira de envergonhá-lo, pois
não havia esperteza que fizesse a pedra
não rolar montanha abaixo a cada final do dia.
[3]
É uma cidade do litoral da Argélia, que vive um surto de peste bubônica em
pleno século XX. A história é centrada no médico Bernard Rieux, e em sua rotina
que varia entre visitas a doentes, atendimento no hospital e as relações com
sua mulher doente e sua mãe idosa. Mas algo estranho começa a acontecer: ratos
aparecem mortos em todos os cantos da cidade. Contudo, esse fato passa
despercebido pelos cidadãos.
[4]
"A Peste" inaugurou para seu autor uma carreira de solidão; a obra
que nascera de uma consciência da História não vai a ela em busca de
evidências, preferindo a lucidez no campo moral; é por via do mesmo movimento
que seu autor, testemunha de nossa História presente, acabou por preferir
recusar os compromissos -mas não a solidariedade- com seu combate.
[5]
Bem similar aos governos fascistas do passado, existe até mesmo atitude de
eugenia, porque, sendo grupo de risco os idosos, certas autoridades acreditam
que estes devem morrer, pois suas vidas não têm importância. Até do ponto de
vista da Previdência Social, quando menor número de benefícios e aposentadorias
e pensões a serem pagas. Também os pobres são vidas entendidas como
descartáveis, dotados de menor valor no que Achille Mbembe chamou de
necropolítica, praticada por governos de extrema-direita. O autor ainda explica
a intersecção do conceito de biopolítica, criado por Michel Foucault, que
apontou a relação entre a política e a vida biológica e, a necropolítica que
propõe que uma minoria rica prospere, sobretudo no momento de crise econômica.
[6]
Em 25 de agosto de 1944, após mais de quatro anos de ocupação nazista, Paris foi
libertada pela 2ª Divisão Blindada francesa e pela 4ª Divisão de Infantaria dos
Estados Unidos. +O general Leclerc
recebeu em Paris, diante da estação de trem de Montparnasse, a rendição das
tropas alemãs. Desembarcado na Normandia, no comando da 2ª Divisão Blindada,
dois meses antes, ele foi o primeiro francês da resistência a entrar na capital
pela Porta de Orléans. O general Von Choltitz, comandante das tropas alemãs,
havia empreendido duas semanas antes a evacuação da cidade na previsão da
chegada dos Aliados. No dia seguinte, o general De Gaulle se instalou no
Ministério da Guerra na qualidade de chefe do governo provisório.
[7]
A obra de Tucídides foi revalorizada no ocidente devido à tradução da História
da Guerra do Peloponeso para o inglês, por Thomas Hobbes. Tucídides também foi
um dos primeiros a notar que as pessoas que sobreviviam às epidemias de peste
em Atenas eram poupadas durante os
surtos posteriores da mesma doença, conhecimento importante que num futuro
remoto seria a base da vacinação. Portanto, considera-se que por conta de sua imparcialidade analítica
Tucídides foi um dos pais da ciência histórica. Sua imparcialidade o levou a
negar a influência de deuses em suas
análises, o que gerou seu exílio de Atenas. Pelo foco no problema da guerra e
devido à análise dos conflitos entre as Pólis da Grécia Antiga, a corrente de
pensamento teórico realista das Relações
Internacionais, no século XX, passou a considerar Tucídides como o
"avô" do próprio realismo.
[8]
Em "O homem revoltado", ao associar religião com os totalitarismos,
Camus faz um resumo de todas as imposições totalitárias. O diálogo à altura do
homem custa menos caro que o evangelho das religiões totalitárias, monologado e
ditado do alto de uma montanha solitária. Em nosso país, a associação crassa do
autoritarismo e religião quer impor uma única verdade, negando a diferença e a
alteridade. A pandemia tornou-se a inimiga, então a reação foi subestimá-la,
chamá-la de “gripezinha”, zombando até dos sintomas de pessoas infectadas, como
a apneia, zombando do uso de máscara facial, como se fossem bobos ao seguirem
as recomendações das autoridades sanitárias. Até o uso de fake news para
malbaratar o temor à pandemia e, a
necessidade dos cuidados sanitários.
[9]
No começo da pandemia do SARS-CoV-2, muito se discutiu sobre as possíveis
origens do vírus. Em maio de 2020, a Assembleia Mundial da Saúde, na resolução
WHA73.1, solicitou ao diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS),
Tedros Adhanom Ghebreyesus, que continuasse a trabalhar em colaboração com
outros órgãos para identificar a origem do novo coronavírus. A principal pergunta a ser respondida era
como ele foi introduzido na população humana, incluindo o possível papel de
hospedeiros intermediários. Também participaram do estudo a Rede Global de
Alerta e Resposta a Surtos e a Organização Mundial para Saúde Animal. De acordo
com a OMS, o objetivo da descoberta era prevenir a reinfecção com o vírus e o
estabelecimento de novos reservatórios zoonóticos (seres onde vive e se
multiplica um agente infeccioso, reproduzindo-se de maneira que possa ser
transmitido a um hospedeiro suscetível), reduzindo os riscos de surgimento e
transmissão de outras zoonoses. A
epidemia começou na cidade de Wuhan, na China, em dezembro de 2019, mas
rapidamente se espalhou para o mundo. As principais teorias levantadas incluíam
o contato entre um ser humano e um animal infectado e um acidente em um
laboratório na China. No final de março,
a OMS divulgou um relatório de 120 páginas, desenvolvido por cientistas da
China e de outras partes do mundo, que reforçou a origem natural da epidemia. A
tese mais aceita diz que o vírus passou do morcego para um mamífero
intermediário, e dele para o ser humano. A transmissão de um morcego diretamente
para um humano também foi apontada como uma hipótese possível e provável.
[10]
O período mais duro foi vivido entre os anos de 1347 e 1353, em pleno século
XIV, causando cerca de 75 milhões de mortos, sendo considerada a pandemia mais
mortal da história da humanidade. O termo “quarentena”, não surgiu até ao
aparecimento da Peste Negra. Segundo historiadores, foi em Veneza que o termo
começou a ser usado “oficialmente”, provindo do nome “quaranta giorni”.
O primeiro surto de Peste Negra que afetou a Europa durante a Idade Média
chegou ao continente em 1347. A doença surgiu antes na região da China, em
1333. Mas relatos bíblicos mostram que, desde a antiguidade, o Oriente Médio já
sofria com essa perturbação mortal. Um surto de Peste Negra que afetou Londres
na era medieval, de 1348 a 1350, dificultou o enterro de tantos corpos. Eles simplesmente
não cabiam nos cemitérios disponíveis na cidade.
[11]
O vírus influenza causa epidemias recorrentes de doença respiratória
febril a cada um de três anos há pelo menos 400 anos. Determinam também
pandemias associadas à emergência de um novo vírus ao qual a população em geral
não tem imunidade. Embora não seja possível predizer a ocorrência de uma nova
pandemia, desde o século XVI o mundo experimentou uma média de três pandemias
por século, ocorrendo em intervalos de 10 a 50 anos. A maior delas historicamente
registrada, conhecida como gripe espanhola e causada pelo vírus influenza
A H1N1, ocorreu em 1918-1919, determinando alta morbidade e mortalidade (mais
de 20 milhões de mortes em todo o mundo). Em 1977, um surto de infecção pelo
vírus A/H1N1 verificou-se nos EUA, atingindo principalmente pessoas jovens, com
significativa morbidade.2 Apesar de localizada, houve decisão de vacinação em
massa (40 milhões doses), ocasionando 532 casos da síndrome de Guillain-Barré e
32 mortes.
[12]
Concluiu-se que a Dignidade da Pessoa Humana é um princípio muito importante,
pois reconhece o valor intrínseco do homem, ou seja, como um fim em si mesmo,
possuindo direitos pelo mero fato de nascer humano. Concluiu-se que a Dignidade
da Pessoa Humana é um princípio muito importante, pois reconhece o valor
intrínseco do homem, ou seja, como um fim em si mesmo, possuindo direitos pelo
mero fato de nascer humano. Num primeiro grupo de espécies de dignidade, o
autor coloca aquelas que são distribuídas de modo desigual entre as pessoas, e
estão sujeitas a processos de aquisição e incremento por um lado; e decadência
e perda por outro. Ou seja, segundo esses tipos de dignidade, as pessoas podem
ser mais dignas ou menos dignas; e sua posição na “escala” de dignidade pode
variar no tempo.
Lennart Nordenfelt menciona
três dessas formas de dignidade: i) dignidade de mérito; ii) dignidade de
estatura moral; e, iii) dignidade de identidade.