Justiça ouve depoimento de delegada no julgamento de Bola

Ouvida em dois julgamentos anteriores, Ana Maria dos Santos prestou informações na condição de autoridade

Fonte: TJMG

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À tarde, foram lidas as declarações da delegada Ana Maria dos Santos Paes da Costa, que atualmente é chefe da delegacia regional em Contagem e, à época do assassinato de Eliza Samudio, atuou no inquérito policial. Ana Maria, que completará em maio 21 anos na Polícia Civil e oito como delegada, confirmou o conteúdo lido, retificando apenas que foi uma escrivã que lhe informou que Jorge Luiz não prosseguiria com o interrogatório.
 

A delegada Ana Maria respondeu à juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues que não estava presente durante a diligência que trouxe o então menor do Rio de Janeiro para Contagem, a pedido do juiz da Vara da Infância e Juventude de Contagem, Elias Charbil Abdou Obeid. Ela confirmou que Jorge Luiz foi apresentado ao Ministério Público da mesma vara, e foi ouvido por ela depois de ter falado com o promotor e o juiz. A policial declarou que a delegada Alessandra Wilke não participou de oitiva de Jorge Luiz em Belo Horizonte e acrescentou que ele Jorge Luiz não aparentava ter feito uso de entorpecente.


Perguntas da Promotoria
 

Ao promotor Henry Wagner Vasconcelos, a delegada esclareceu que começou a atuar no Caso Eliza em junho de 2010, poucos dias depois do início das investigações, como gestora da Delegacia de Homicídios de Contagem, mas que a responsável era Alessandra Wilke, sua subordinada. Quando a complexidade dos trabalhos e o interesse da imprensa se acentuaram, a equipe se viu obrigada a mudar de prédio, deslocando-se de Contagem para Belo Horizonte.
 

Ana Maria dos Santos disse que o chefe do departamento de investigações era o delegado Edson Moreira e entre eles havia mais um grau hierárquico, ocupado pelo delegado Wagner Pinto, chefe da divisão de homicídios. Ambos também se envolveram na apuração do caso, mas, desde o início, segundo a delegada, eles vinham sendo informados de tudo o que ocorria, porque eram seus superiores. A delegada acrescentou, ainda, que a participação deles dinamizou a investigação.
 

“Sem a divisão de tarefas, a eficácia do trabalho teria sido prejudicada, mesmo porque as informações obtidas por cada uma das autoridades era partilhada com todos os demais envolvidos. O relatório final foi elaborado em conjunto pelos delegados Edson Moreira, Wagner Pinto, Alessandra Wilke e eu. Nós nos reunimos, debatemos e redigimos o texto”, afirmou.
 

De acordo com Ana Maria dos Santos, Jorge, que por iniciativa própria admitiu a ela que estava arrependido e manifestou desejo de cooperar, levou policiais até a casa em que Eliza teria sido morta, mas não teve facilidade para identificar rapidamente o trajeto para o local do crime, o sítio que pertencia a Bola, e, segundo relatos de policiais, teve tanto medo que se urinou involuntariamente.
 

A delegada afirmou que Jorge se mostrou emocionalmente abalado e reconheceu ter mencionado no Rio de Janeiro características que não correspondiam à descrição do executor (“negro, alto e magro”) com a finalidade de “desbaratinar” as investigações, pois ele estava aterrorizado e se preocupava com a família, em especial a mãe. Ele teria sido chamado apenas para dar um susto na vítima, sem saber que Eliza seria assassinada.
 

A delegada Ana Maria reafirmou que o então adolescente, tranquilo e lúcido, foi detalhista no depoimento e lhe transmitiu sinceridade e credibilidade.
 

Perguntas da defesa
 

O advogado Ércio Quaresma solicitou a exibição de objetos apreendidos. Indagada por Quaresma, Ana Maria dos Santos contou que foi colega de faculdade da juíza Marixa Fabiane e do advogado Tiago Lenoir, que lhe fez o favor de conseguir cópias do procedimento administrativo ao qual ela teve responder na corregedoria da Polícia por supostamente ter ameaçado a ré Dayanne Rodrigues do Carmo Souza. A delegada esclareceu que cogitou contratar Lenoir como assistente de acusação no processo criminal movido pela promotoria, mas acabou não o fazendo. Ela lembrou-se de ter visto o colega depois, no julgamento, mas não tem certeza de quem era o cliente a quem ele assistia.
 

Ela negou que tenha havido esquecimento no fato de os policiais civis Gilson Costa e José Lauriano de Assis Filho, apelidado Zezé, não terem sido indiciados, explicando que na ocasião os delegados entenderam não haver elementos contra eles. A delegada afirmou que tinha conhecimento da existência da banda de pagode de Zezé, a qual Macarrão teria tido interesse em patrocinar, e confirmou que o sigilo telefônico dos acusados foi requerido na época do inquérito.
 

Ana Maria dos Santos declarou que as ligações entre o aposentado José Lauriano e o réu Luiz Henrique foram juntadas ao processo na fase final do inquérito, mas ressaltou que uma pessoa não é indiciada apenas por uma circunstância. O envolvimento do policial, segundo ela, foi detectado pelo promotor depois do encerramento das investigações, e não pela Polícia, mas ela negou qualquer negligência ou má-fé nos procedimentos, pois Zezé foi ouvido duas vezes. “A leitura do detalhamento telefônico, que é bem complexo, não foi feita por mim, mas isso é avaliado e utilizado em associação com o contexto probatório”, registrou, acrescentando que nada impede que, após o fim do inquérito, novas evidências sejam examinadas.
 

A delegada descreveu o policial aposentado como um homem negro, de estatura mediana, com compleição física robusta, usando cabelos crespos cortados curtos. Ela disse não ter levado o depoimento em que Eliza Samudio afirmava ter sido sequestrada por Bruno e Macarrão à Polícia do Rio de Janeiro ao interrogatório do primo do goleiro, Jorge Luiz.
 

Ana Maria dos Santos declarou que desconhece tanto que o Grupo de Respostas Especiais (GRE) seja subordinado ao departamento chefiado por Edson Moreira como o motivo da extinção do órgão. Ela negou ter ouvido que o advogado Ércio Quaresma subornou policiais no Rio na época dos fatos.
 

A delegada respondeu ao advogado Fernando Magalhães que não foram encontrados vestígios de Eliza Samudio na residência de Marcos Aparecido dos Santos e que foram feitas diligências no local com equipamentos da Universidade Federal de Minas gerais (UFMG). Ana Maria dos Santos declarou acreditar que a vítima possa ter sido executada e o corpo, esquartejado.
 

A delegada relatou que a vida pregressa de Bola foi investigada e que a polícia recebeu informações de vizinhos do ex-policial que noticiaram ser ele um homem violento, mas não se identificaram por medo de represálias. Ela esclareceu que o registro do celular pela estação rádio-base (ERB) é compatível com a presença de Marcos Aparecido em uma faculdade situada na região da Pampulha, mas também com o local em que a vítima teria sido entregue ao réu, levada pelo réu Macarrão.

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