As novas configurações das relações humanas

O complexo tecido contemporâneo das relações humanas nos mostra zumbis (químicos e tecnológicos) que vagam pelo mundo virtual e hipnose química.

Fonte: Gisele Leite

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A cada época identifica-se um ícone[1], uma personalidade que bem a caracteriza. Por exemplo, a criatura do Frankenstein[2] que se apresentou como a demonstração de êxito e sucesso da ciência positivista ao criar uma pessoa. Apesar de que ainda sem controle do âmbito metafísico, sem responder à indagação sobre sua alma.


Embora a cultura popular associe o nome Frankenstein à criatura, esta não é nomeada por Mary Shelley. Ela é referida apenas como "criatura", "monstro", "demônio", "desgraçado" por seu criador.


E, após o lançamento do filme Frankenstein em 1933, o público passou a chamar assim a criatura.  Isso foi adotado mais tarde em outros filmes. Alguns argumentam que o monstro é de certa forma, um "filho" de Victor e, portanto, pode ser chamado pelo mesmo sobrenome. Frankenstein é o antigo nome de uma antiga cidade na Silésia[3], local de origem da família Frankenstein. Mary Shelley teria conhecido um membro desta família, o que possivelmente influenciou sua criação.


A dualidade ungida do médico e o monstro é bem representativa da modernidade, a denunciar a face oculta dos homens, repleta de pulsões[4], impulsos e emoções vergonhosas que transformava o educado cidadão inglês em um humanoide não civilizado.


Criaturas caricatas se encaixam no mundo caótico de uma cultura marcada de paradoxos e sínteses complexas. Os zumbis, o morto-vivo revela a configuração da sociedade atual. E, há basicamente duas modalidades de zumbis: os de casos reais e os fictícios.


Entre os casos reais de zumbis há uma publicação de 1985 do antropólogo Wade Davis[5], na obra intitulada “’The serpente and the rainbow”, onde descreveu a ação de feiticeiros haitianos ocorridos no ano de 1960, que através de substâncias químicas naturais que eram capazes de tornar em zumbis as pessoas. Que então passavam a ser obedientes ao seu comando.


Há um relato[6] mais antigo datado de 1931 relatado pela antropóloga Zora Neale Hurston[7]. Há ainda outras histórias que atestam a possibilidade real de seres humanos possam se comportar como zumbis fictícios.


Quanto aos zumbis fictícios, suas primeiras informações datam de 1968 com o filme intitulado “A noite dos mortos-vivos” que dirigido por George Andrew Romero[8], com no livro de Wade Davis[9].


Nesse filme, os zumbis são lentos e abobados. Mas, a partir do ano de 2000, os filmes passaram a mostrar zumbis ágeis, fortes, inteligentes que tanto fascinaram e assustaram os fãs do gênero.


Para a definição de zumbi é preciso compreender que é diferente dos monstros anteriores, sendo fruto de um fenômeno cultural, sem autor exclusivo, é preciso fazer uma descrição especulativa.


O zumbi é pessoa que, por algum motivo, deixa de agir de forma autônoma e racional; ele parece dirigido a um único objetivo, sem se importar com os obstáculos que se prostam à sua frente ou com suas próprias condições físicas para cumprir esse objetivo.


Tal objetivo não é buscado por determinação ou ideologia, mas por mero automatismo. O automatismo[10] traz em seu bojo o abandono do estado de liberdade de deliberação cega para entrar numa perseguição determinada a um objetivo ou objeto de cunho praticamente instintivos, ou seja, natural.


Na obra “A natureza de Merleau-Ponty[11] (2000) desenvolveu o dilema clássico natureza versus liberdade” [12]. E, nessa obra redimensional os conceitos tradicionais das escolas filosóficas predominantes.


Ao longo da obra, o filósofo francês demonstra que natureza e liberdade não são conceitos excludentes se forem pensados dentro de um ciclo: a natureza sustenta o corpo que nutre a consciência que se liberta ao se projetar no mundo.


O acaso da natureza está estreitamente ligado ao algoritmo da programação do universo, ou melhor, multiverso. O fenômeno chamado de zumbificação é a interrupção do ciclo, mantendo, de alguma forma, a pessoa presa aos processos automáticos[13] naturais.


A zumbificação[14] pode ser resultante da alienação e, nos remete a uma automação da sobrevivência monitorizada por ideologias, crenças e culturas.


Trazendo essa metáfora para nossa realidade social, há diferentes formas de zumbificação disponíveis. O zumbi reúne numa só criatura o melhor da vida e o melhor da morte. Em sua eternidade encarnada é capaz de vencer os limites normalmente intransponíveis e que desafiam a ciência.


Na contemporaneidade é possível identificar duas espécies de zumbis, a saber: o tecnólogo (pelos smartphones, tablets, notebooks, ipods e, etc.) e, ainda, os zumbis produzidos pelas drogas (principalmente o crack[15], cocaína, LSD e tantas outras substâncias psicotrópicas, lícitas ou não).


Ab initio, os caminhos da zumbilândia (em saga) são opostos, mas que parecem levar aos funcionamentos psicológicos semelhantes a uma mediação do contato de um mundo com o outro.


Novamente, Merleau-Ponty desenvolveu reflexões sobre a percepção e os significados apreendidos pela consciência. O filósofo afirmou que:


“O verdadeiro Cogito não define a existência do sujeito pelo pensamento de existir que ele tem, não converte a certeza do mundo em certeza do pensamento do mundo e, enfim, não substitui o próprio mundo pela significação mundo. Ele reconhece, ao contrário, meu próprio pensamento como um fato inalienável, e elimina qualquer espécie de idealismo revelando-me como "ser no mundo".”.


O cogito foi termo latino utilizado por Descartes em suas meditações e, normalmente, a tradução que usualmente se faz para o português é “penso”. O seu lema mais famoso é: “penso, logo existo” (ou penso e, portanto, existo). Ou simplesmente: cogito ergo sum[16].


E, através da afirmação cartesiana, Merleau-Ponty refere-se ao pensamento reflexivo que, ao trabalhar ativamente na ação de pensar filosoficamente, não deve confundir seu objeto de estudo.


Ele não pode saltar a realidade e, como se mostra para os significados surgidos diante da realidade. A compreensão sobre a principal característica dos zumbis pode ser percebida por meio da descrição realizada anteriormente, seja a sua capacidade de não se conectar a uma forma pessoal e atenta àquilo que surge na sua frente.


Ele não vê, por exemplo, uma pessoa com sua história de vida e subjetividade diante de si. Cada vez mais a visão enxerga apenas a significação que lhe interessa a respeito de quem o intercepta.


Afinal, não se trata do verdadeiro cogito conforme nomeia Merleau-Ponty. Refere-se, em verdade, apenas a um cogito parcial, cada vez mais tendencioso e interesseiro[17].


Os elementos contemporâneos nem sempre nos permite acessar a um cogito, mas de certo foco talvez, no princípio consciente, mas, posteriormente, atingindo um nível de funcionamento denominado pré-reflexivo.


A permanência intensa da consciência em nível pré-reflexivo, de modo que raramente se dispusesse ao reflexivo, começamos a perceber a fronteira o limiar entre a natureza e liberdade.


Portanto, aquilo que é automatizado, instintivo e pré-reflexivo nem sempre chega à escolha conscientemente deliberada. Intimamente podemos pensar no imenso arsenal de coisas e sentimentos que precisamos mudar, mas não o fazemos. Pois, se tudo dependesse exclusivamente de uma deliberação, a Psicologia e a Psicanálise seriam então projetos sem sucesso.


As mudanças ocorreriam apenas por uma sugestão clara e direta que seria atendida prontamente. O grande desafio é atingir as mudanças em nível pré-reflexivo, onde se dá o desenvolvimento de hábitos e pensamentos.


Ao eleger os caminhos tecnológicos, ou os caminhos químicos e tóxicos (e decadentes), o que representa uma nova representação com a configuração nas relações humanas e sociais.


De repente, a relação com as outras pessoas se transforma em uma significação pré-reflexiva que faz por meio da realidade, prendendo o sujeito em uma abertura enviesada para o mundo.


Não compete elaborar preconceitos contra a tecnologia ou mesmo contra ao uso de substâncias químicas alteradoras da psiquê[18]. O que se pretende é apontar que ocorre a mesma zumbificação do sujeito através dos caminhos apresentados.


Os zumbis tecnológicos se transportam para outra realidade, aquela que atendem aos estímulos visuais e auditivos. O mundo percebido onde este vive, torna-se não aquele que ali está, mas o outro mundo concretizado e estruturado pela tecnologia. O mundo virtual substitui o mundo real.


Os zumbis da tecnologia são transportados, para outra realidade, onde os sinais apitam, acendem e avisam em suas telas. O mundo é tocante ou mais propriamente tocável, no sentido literal da palavra, de ser sensível ao toque dos dedos. O maior problema para o zumbi tecnológico é que o mundo fisicamente próximo dela não deixa de existir.


Já em 2013 nos EUA registrou-se a majoração do número de quedas, acidentes e atropelamentos o que aumentou de forma drástica e proporcionalmente ao uso trivial de smatphones pelas ruas, conversando, recebendo e enviando mensagens. Sendo percebido tanto o uso pelos motoristas como por passageiros.


A zumbificação de pessoas ocorre por meio do uso do celular. E mesmo os que se encontram mais próximos e usando ou não o smartphone, no momento da contaminação, sofrem maiores sequelas. A todo instante, é raro encontrar, quem não esteja enfocando uma tela de celular, onde há um painel multi-informacional.


E, tudo que lá consta, parece ser mais real e acessível que o mundo o real e concreto, em sua volta. Por vezes, o mundo em sua volta pode tornar-se um obstáculo, por não ser tão acessível, dinâmico e prático como o mundo digital.


Assim, é muito comum que as pessoas estejam próximas com seus celulares, mas estejam interagindo fazendo uso de aplicativos enriquecidos de sons, cores e acontecimentos novos enquanto que ambiente analógico se mantém distantes de relações sociais e humanas concretas.


É possível ainda se reconhecer que esse entendimento promovido pelos smartphones esteja ainda mais integrado à realidade circundante. E, já existem as tecnologias vestíveis (wearable), com a oferta de relógios inteligentes, óculos, roupas e demais acessórios que garantem que a pessoa esteja sempre conectada ao telefone, a internet, as redes sociais e, demais aplicativos informacionais[19].


E, até mesmo os órgãos sexuais sintéticos podem ser integrados a todo esse funcionamento virtual das relações à distância. Tais recursos integram dois âmbitos de realidade, colocando no mundo concreto de hologramas, redes sociais, jogos e outros aplicativos que complementam o mundo.


Sobre os zumbis do crack, sua realidade se mostra bem mais cruel. A participação de uma química externa (assim como no caso dos zumbis haitianos) no processo de zumbificação provoca a presença de sequelas físicas, psicológicas, sociais, afetivas que tanto estimulam a escravidão na busca de maior substância na ilusão do prazer.


A cega e inopinada procura para manutenção do vício para continuar a manter o funcionamento do psicológico sob o efeito da droga, é comum que comece um processo de progressiva decadência degradante que tanto corrói saúde, laços familiares, emprego, bens materiais, paz e, tudo enfim.


Em diversos locais do mundo o surgimento das chamadas cracolândias[20], local onde há o deliberado uso e abuso dessas substâncias por várias pessoas, gera uma multidão de zumbis que se utilizam de diversas estratégias para conseguir recurso para manter a saciedade do vício.


É comum, inclusive que as pessoas contem histórias dramáticas narradas até a exaustão e, já nem sabem mais, para quem as contou, e tentam comover a todo custo o interlocutor para conseguir mais recursos e serem rapidamente investidos em novas doses de drogas.


O mundo do zumbi do crack está além da realidade que os circunda, mas isso não provoca um complemento divertido e interessante nem na seara acadêmica das ciências sociais e humanas e nem nas ciências da saúde.


A metáfora dos zumbis é tão particularmente expressiva que alguns apresentadores de TV que já usaram tal termo para designar essas pessoas que definham nas ruas dos grandes polos urbanos, o fazem com absoluta naturalidade e indiferença.


Há um grande perigo social que alerta ao identificar o zumbi como o mostro contemporâneo, encarnado sob a couraça de mortos-vivos. O uso político da expressão “zumbi” promove e acelera ainda mais severamente a desumanização das pessoas que chegam ao mais fundo da miséria em suas vidas, justificando qualquer violência que ocorra contra eles.


Afinal, quase toda literatura e até mesmo as produções cinematográficas sobre os zumbis apregoam que essas criaturas devem ser mortas sem hesitação ou piedade.


A jornada heroica forçosamente inclui o abandono da compaixão e a adoção da fria estratégia de aprender a matar sem pensar duas vezes, extirpando a vida de quem já está praticamente morto. Ou pelo menos, socialmente morto. Promovendo assim, talvez uma faxina eugênica[21].


O filósofo Giorgio Agamben bastante influente nos temas relacionados com o urbanismo e relações humanas contemporâneas trouxe ao nosso conhecimento o conceito de homo sacer.


O homo sacer é uma pessoa que perde seu status de cidadão e, não precisa ser respeitado como tal. Na Roma Antiga tais homo sacer poderiam ser assassinados, por qualquer um, a qualquer momento com a garantia de que o assassino sairia impune.


Porém, o homo sacer não poderia ser morto em rituais religiosos, pois não era digno de ser oferecido à divindade. Questionamos esse processo crescente de desumanização, lembremos-nos da trágica morte do índio Galdino[22] em Brasília e, tantos outros mendigos e moradores de rua[23] que são espancados, torturados e queimados e até mesmo flechados como se tal conduta fosse absurdamente normal.


Homo sacer é uma expressão em latim que significa literalmente homem sagrado. ou seja, homem a ser julgado pelos deuses.


É, de fato, uma figura obscura do direito romano arcaico, que se refere à condição de quem cometia um delito contra a divindade, colocando em risco a pax deorum[24], a amizade entre a coletividade e os deuses, que era uma garantia de paz e prosperidade da civitas.


Portanto, tal delito significava uma ameaça ao próprio Estado. De sorte, que o indivíduo era consagrado à divindade, entregue à mercê da vingança dos deuses, sendo expulso do grupo social, tendo excluídos todos seus direitos civis e, a sua vida passava a ser considerada sagrada no sentido negativo.


Podendo ser morto por qualquer um, porém não em rituais religiosos. A figura do homo sacer é similar a do personagem Caim[25], da mitologia judaico-cristã.


Tal conceito cunhado por Agamben, filósofo italiano, cuja produção se concentrou as relações contínuas entre filosofia, ética, estética, lógica, literatura, política e o meio jurídico.


O autor é importante intelectual na teorização do mundo contemporâneo e, vem sendo considerado como referencial teórico em diversas pesquisas. Retomando a figura do direito romano homo sacer para evidenciar o ponto entre o poder soberano e a biopolítica que é exercido pelo meio jurídico e que torna certas vidas descartáveis.


Agamben retomou a distinção feita por Aristóteles entre bios e zoé. Bios é o reino da ética e da moral onde se manifesta o juízo, representa o modo de viver dentro do grupo que depende da linguagem. Enquanto que zoé é a vida nua, natural e biológica, tão comum a todos os homens, ou seja, a mera existência.


Para o autor, o homo sacer demonstraria a inversão da tese de Walter Benjamin[26] de que a vida nua seria onde cessa o domínio do direito sobre o ser vivente.


Diferentemente, para o filósofo italiano, a vida nua é o campo em que se mantém o paradoxo, pois é o lugar em que vida foi excluída exatamente por sua inclusão, onde só o direito pode alcançar o vivente.


Assim, a vida torna-se limável pela ordem do poder soberano juridicamente construído, o poder jurídico torna o vivente excluído, aniquilado e descartável.


Assim como os zumbis do crack ou do smartphone possuem uma interpretação mediada nas relações, estaríamos nós, também aprendendo a tomar determinadas interpretações como conceitos culturais mais corretos que nossa forma própria e pessoal de perceber a realidade?


O que enxergamos na carcaça humana dos zumbis uma faceta obediente e passiva e, sua destruição e extermínio não chega configurar nem crime ou barbárie. A indiferença nos fazem assassinos mais cruéis que todas as bestas que já extintas sobre o planeta[27].


Quando será que entenderemos finalmente que confinar a realidade a nossa volta à indiferença e negligência, significa também atentar contra a nossa própria humanidade e, ao direito de sobreviver e, buscar caminhos de defender a igualdade, a dignidade e a compaixão?


Referências:


TORRES, André Roberto Ribeiro. Monstro do cotidiano. In: Revista Filosofia, Ciência e Vida n. 126. 2017.


MARTINS, Aline Souza. Homo sacer, sujeitos abandonados ao crime. Giorgio Agamben e Psicanálise. Disponível em: http://www.appoa.com.br/correio/edicao/240/homo_sacer_sujeitos_abandonados_ao_crime/158 Acesso em 31.08.2017.


TILBURI, Márcia. A zumbificação da política brasileira Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/marcia-tiburi-a-zumbificacao-da-politica-brasileira/ Acesso em 30.08.2017.


Notas


[1] Destaquem-se alguns sujeitos icônicos no período entre 1950 a 1960. Com o surgimento do rock, o estilo motoqueiro bad boy fez sucesso, encarnado em Marlon Brando no filme intitulado "O Selvagem" (1953), mais adiante, na década de 1960, o álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band marcou a importância do The Beatles. E, a partir de 1955, o ator James Dean passou a ser o modelo da juventude da época, e no seu filme “Juventude Transviada” (de Nicholas Ray). O rock como gênero musical se reinventava e foi ressurgindo cada vez mais barulhento então, foi à vez a voz e da presença, de Elvis Presley que foi o famoso Rei do Rock, influenciando toda uma geração na forma de dançar e se comportar. Já na literatura, temos Jack Kerouac e seu “On the road”, que iniciou uma autêntica revolução cultural de época, que ficou conhecida como Geração Beat. E, os chamados beatniks queriam uma consciência nova, livre de padrões, e, escolhiam a marginalidade. A obra de Kerouac evidenciava esse sentimento de busca pela liberdade e de novas experiências.


[2] Frankstein ou o moderno Prometeu mais conhecido simplesmente por Frankenstein é um romance de terror gótico com inspirações do movimento romântico de autoria de Mary Shelley, escritora inglesa. É considerada a primeira obra de ficção científica da história. O romance relata a história Victor Frankenstein, um estudante de ciências naturais que constrói um monstro em seu laboratório. Registre-se que Mary Shelley escreveu a história quando tinha apenas dezenove anos, entre 1816 e 1817 e, a obra foi primeiramente publicada em 1818, sem crédito para a autora na primeira edição. Costuma-se atualmente considerar a versão revisada da terceira edição do livro, publicada em 1831, como a versão definitiva.


O romance obteve expressivo sucesso e gerou um novo gênero de horror tendo grande influência na literatura e cultura popular ocidental. O autor Stephen King considerou a obra um dos três grandes clássicos do gênero, sendo os outros seriam: Drácula e Strange Case Dr. Jekyl and Mr. Hyde. A obra está em domínio público e está disponível gratuitamente na internet em língua inglesa (http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=5257 ).


[3] Silésia é uma região histórica dividida entre Polônia, a República Tcheca e a Alemanha. É importante zona industrial da Polônia e da República Tcheca. Mas, nos últimos anos depois das mudanças políticas ocorridas em 1989, a região sofreu enormes reestruturações econômicas que implicam no fechamento de dezenas de minas.


[4] O conceito de pulsão conforma designa a psicanálise corresponde ao impulso energético interno que direciona o comportamento do indivíduo. O comportamento gerado pelas pulsões diferencia-se daquele gerado por decisões, por ser aquele gerado por forças internas, inconscientes, alheias ao processo decisional. Lembremos que a pulsão distingue-se do instinto, por este ser ligado a determinadas categorias de comportamentos preestabelecidos e realizados de maneira estereotípica, enquanto aquela se refere a uma fonte de energia psíquica não específica, que pode conduzir a comportamentos diversos. O conceito de pulsão foi utilizado por diferentes teorias da motivação, sendo uma das mais importantes a de Sigmund Freud e a de Clark L. Hull.


[5] Wade Davis é antropólogo, etnobotanista, autor e fotógrafo canadense cujo trabalho se concentrou em culturas indígenas mundiais, especialmente na América do Norte e do Sul e particularmente envolvendo os usos e crenças tradicionais associadas com plantas psicoativas. Davis chegou à proeminência com seu livro best-seller de 1985 A serpente e o arco-íris sobre os zumbis do Haiti. Davis é professor de antropologia e cadeira de liderança de BC em Culturas e Ecossistemas em Risco na Universidade da Colúmbia Britânica. Davis publicou artigos em Outside, National Geographic, Fortune e Condé Nast Traveler.


[6] Em 1936, um corpo com andar cambaleante, vestido apenas com uma bata branca, surge no horizonte de uma estrada suja, perto da capital do Haiti, Porto Príncipe. Pessoas correram para ajudar e levaram a estranha mulher para o hospital. Constatou-se que ela era surda, cega e muda, mas reagia a estímulos e movimentava a cabeça freneticamente. Quem seria esta mulher? A identidade seria revelada quando seu marido e irmão a reconheceram. Era Felícia Felix-Mentor. Mas não podia ser! Ela estava morta e foi enterrada em 1907. A única explicação possível que o médico pode dar foi "zumbi". Este caso foi investigado e documentado pela escritora norte-americana Zora Neale Hurston, uma cética severa que encontrou e fotografou a garota "morta", e saiu convencida de ela ser uma vítima genuína dos Bokors, os feiticeiros vodus que praticam a magia negra.


[7] Zora Neale Hurston (1891-1960) foi folclorista, antropóloga e também escritora nascida em Notasulga, Alabama e educada na Universidade de Howard, Barnard College e Universidade de Columbia. Seus livros atualmente fazem muito sucesso. Zora escreveu sua própria biografia.


[8] George Andrew Romero (1940-2017) foi consagrado diretor e realizador de filmes de zumbis, considerados um gênero próprio pelos fãs nos EUA, com títulos como “A Noite dos Mortos- Vivos”, “Despertar dos Mortos e Dia dos Mortos” no seu currículo de escritor e realizador.


[9] Wade Davis é antropólogo e não gosta de ser chamado de zumbiólogo. O referido cientista canadense que hoje trabalha como explorador da National Geographic é um dos raros acadêmicos que se dedicou a entender o que há de verdade naquilo que conhecemos como zumbis. Davis afirma ter encontrado um veneno que faz alguém parecer que está morto, mesmo que esteja vivo. A poção é produzida por feiticeiros vodus a partir da toxina de um peixe nativo misturado as ervas alucinógenas e restos humanos como ossos e pele, que seria o elemento principal no processo de zumbificação, prática que iria bem além da simples magia negra, conforme defende o cientista, mas que funcionaria como punição social dentro da cultura e dos costumes da religião vodu.


[10] O automatismo e a ideia chamada de determinismo genético, a qual propugna que quando se conhecer exatamente a sequência de bases genéticas do DNA se saberá, por via de consequência, como os genes causam diversas doenças, o comportamento violento, a inteligência e, etc. O determinismo genético pode ter um impacto negativo sobre a compreensão das pessoas sobre saúde e doença.  Por exemplo, pode levar as pessoas a desvalorizarem o papel de fatores ambientais e experienciais em condições como doenças mentais, câncer, obesidade, diabetes, o que pode afetar negativamente sua prevenção, com impacto sobre a saúde pública.


[11] Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) foi um filósofo fenomenólogo francês. Suas primeiras obras procuraram dialogar com a psicologia La Structure du comportement (1942) e Phénoménologie de la perception (1945). Influenciado pela obra de Edmund Husserl, Merleau-Ponty procura dar carnalidade à consciência intencional de seu mestre e precursor, nesse sentido leva a filosofia de Husserl até as últimas consequências de sua encarnação no mundo da vida. Em Fenomenologia da percepção, Merleau-Ponty critica a existência do homem cartesiana pelo cogito. Para o fenomenólogo o homem se faz presente pelo seu corpo e este participa do processo cognitivo. Voltando sua atenção para questões sociais e políticas, Merleau-Ponty publicou em 1947 um conjunto de ensaios marxistas - Humanisme et terreur ("Humanismo e Terror"), a mais elaborada defesa do comunismo soviético do final dos anos 1940. Contrário ao julgamento do terrorismo soviético, atacou o que considerava "hipocrisia ocidental". Porém a guerra da Coreia desiludiu-o e fê-lo romper com Sartre, que apoiava os comunistas da Coreia do Norte. Em 1955, Merleau-Ponty publicou mais ensaios marxistas, Les Aventures de la dialectique ("As Aventuras da Dialética"). Essa coleção, no entanto, indicava sua mudança de posição: o marxismo não aparece mais como a última palavra na História, mas apenas como uma metodologia heurística.


[12] A consequência mais notável do embate “Natureza x Liberdade” é que ao mesmo tempo em que a natureza, desde longa data, caminha para a autonomia existencial, o anseio humano passa a buscar uma liberdade igualmente autônoma. Há um conceito de “Liberdade” que é concebido sem a redenção de Cristo (amplamente discutida na Reforma Protestante) implicando numa dita liberdade absoluta. Neste ponto, Rousseau luta por um ideal de liberdade absoluta com tamanho afinco que, em certos pontos, ele mesmo refuta a Ciência Naturalista, encarando esta como mais uma forma de “mecanizar” a existência humana.


[13] A ordem social, apesar de bastante diferente de uma ordem natural, como a dos órgãos no interior de determinado corpo, deve sua própria existência à peculiaridade da natureza humana. Essa peculiaridade consiste na mobilidade e maleabilidades especiais pelas quais o controle comportamental humano difere da dos animais.  E, graça a essas qualidades, aquilo que nos animas é basicamente uma parte herdada de sua natureza, um padrão fixo de controle comportamental em relação a outros seres e coisas, tem que ser produzido, em cada ser humano, na companhia de outras pessoas e através dela. E graças a essas qualidades entram em ação regularidades e processos automáticos que denominamos sociais, em contraste com as regularidades orgânicas e naturais.


[14] A zumbificação da política brasileira é um interessante artigo de Márcia Tilburi em que define a zumbificação do mundo. A verdade da zumbificação do mundo. Cada época tem os monstros que merece, digamos, assim. Toda imagem em cada época revela energias, psicológicas, morais e políticas que são sua verdade mais inerente. Ou seja, aquilo que aprece mesmo quando não devia aparecer, quando seria melhor que não aparecesse. Se nos séculos XIX e XX os vampiros fizeram sucesso, nos séculos XXI os zumbis tomaram a cena e os vampiros parecem cada vez mais antiquados. (In: TILBURI, Márcia. A zumbificação da política brasileira Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/marcia-tiburi-a-zumbificacao-da-politica-brasileira/ Acesso em 30.08.2017).


[15] O crack é a cocaína na forma de cristal. A cocaína geralmente é obtida na forma de pó. O crack é obtido em blocos sólidos ou cristais de cores diferentes como amarelo, rosa-claro ou branco. O crack é aquecido e fumado. Chama-se assim por causa do som de um pequeno estouro ou estalido quando é aquecido. O crack representa forma mais potente da cocaína, é também o mais arriscado e perigoso. É entre 75% e 100% puro, muito mais forte e mais potente que a cocaína comum.


[16] Em tradução literal "penso, logo sou". Essa frase é atribuída ao filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650) e na quarta parte da versão francesa de Discurso do Método (1637), essa sentença é formulada como je pense, donc je suis, neste sentido, cogito ergo sum, é a sua versão latina. Descartes alcança essa conclusão após duvidar da verdade de todas as coisas. Ainda que se duvidasse de tudo, não se poderia duvidar de que ele mesmo existe pelo menos enquanto coisa que pensa, res cogitans. No entanto, na meditação segunda de Meditações Metafísicas (1641), essa conclusão aparece como Eu sou, eu existo (Je suis, j'existe).


[17] Márcia Tilburi narra que o susto zumbi é rápido porque não há tempo há perder. Ele é instantâneo como os movimentos da câmera que nos mostra o mundo zumbi. De repente, é estranho, mas ninguém sente mais susto algum, ao ver um filme de terror tão intensamente pavoroso. O terror se tornou literal, vemos atores e espectadores anestesiados de tanto pavor. A coisa toda afinal ficou naturalizada.


[18] O mito da Psiquê é narrado por Apuleio que conta como uma bela mortal por quem Eros também conhecido como Cupido, o deus do amor, se apaixonou profundamente. Era tão bela que despertou a fúria de Afrodite, deusa da beleza, do amor e da sexualidade, a mãe de Eros, pois os homens deixavam de frequentar seus templos para adorar uma mera mortal.


Então, a deusa mandou seu filho atingir Psiquê com uma de suas flechas, fazendo-a se apaixonar pelo ser mais desprezível de todos os seres. E, ao revés do esperado, Eros acabou se apaixonando pela moça e se acredita que tenha sido espetado acidentalmente por uma de suas próprias flechas. Assim, como o próprio deus do amor estava apaixonada, não mais foram lançadas suas setas para  ninguém. E, o tempo passava, e Psiquê não gostara de ninguém e nenhum de seus admiradores se tornara um pretendente. O rei, pai de Psiquê, preocupado com o fato de já ter casado duas das três filhas que tinha, e que nem de longe eram belas tal como Psiquê, quis saber a razão pela qual esta não conseguia encontrar um noivo. Em consulta ao então oráculo de Apolo, que previu induzido por Eros, ser o destino de sua filha casar com uma entidade monstruosa. Após muito choro e tristeza, mas sem ousar contraria a vontade de Apolo, a bela e jovem Psiquê foi levada ao alto de um rochedo e, deixada à própria sorte, até adormecer e ser finalmente conduzida pelo vento Zéfiro a um palácio magnífico, que daquele dia em diante seria seu. A linda princesa não encontrou ninguém, e quando sentira fome, lhe fora servido um lauto banquete. E, à noite, uma voz maviosa e suave a chamava, e, levada por Eros, se entregou a ele e conheceu todas as delícias do Amor, nas mãos do próprio deus do Amor. Os dias se passavam, e ela não se entediava, tantos prazeres que tinha: acreditava estar casada com um monstro, pois Eros não lhe aparecia e, quando estavam juntos, ficava invisível. Ele não podia revelar sua identidade, pois, assim, sua mãe descobriria que não cumprira suas ordens - e apesar disto, Psiquê amava o esposo, que a fizera prometer-lhe jamais tentaria descobrir seu rosto. Passado um tempo, a bela jovem sentiu saudade de suas irmãs e, implorando ao marido que permitisse que elas fossem trazidas a seu encontro. Eros resistiu e, ante sua insistência, advertiu-a para a alma invejosa das mulheres. As duas irmãs foram, enfim, levadas. A princípio mostraram-se apiedadas do triste destino da sua irmã, mas vendo-a feliz, num palácio muito maior e mais luxuoso que o delas, foram sendo tomadas pela inveja.  Constataram, então, que a irmã nunca tinha visto a face do marido. Disseram ter ouvido falar que ela havia se casado com uma monstruosa serpente que a estava alimentando para depois devorá-la, então lhe sugeriram que, à noite, quando este adormecesse, tomasse de uma lâmpada e uma faca: com uma iluminaria o seu rosto; com a outra, se fosse mesmo um monstro, o mataria. Psiquê resistiu os conselhos das irmãs o quanto pôde, mas o efeito das palavras e a curiosidade da jovem tornaram-se fortes. Pôs em execução o plano que elas lhe haviam dito: Após perceber que seu marido entregara-se ao sono, levantou-se tomando uma lâmpada e uma faca, e dirigiu a luz ao rosto de seu esposo, com intenção de matá-lo. Quando ela vê o belo jovem de rosto corado e cabelos loiros, espantada e admirada, desastradamente deixa pingar uma gota de azeite quente sobre o ombro dele. Eros acorda - o lugar onde caiu o óleo fervente de imediato se transforma numa chaga: o Amor está ferido. Percebendo que fora traído, Eros enlouquece, e foge, gritando repetidamente: O amor não sobrevive sem confiança! Psiquê fica sozinha, e desesperada com seu erro, no imenso palácio. Precisa reconquistar o Amor perdido. Eros voa pela janela e Psiquê tenta segui-lo, cai da janela e fica desmaiada no chão. Então o castelo desaparece. Psiquê volta para a casa dos pais, onde reencontra as irmãs que fingem piedade para com a irmã.  Acreditam que o lindo Eros, solteiro, as aceitaria e seguem em direção ao belo palácio. Chamam por Zéfiro e, acreditando estar seguras pelo mordomo invisível, se jogam e caem no precipício. Psiquê caminha noite e dia, sem repouso nem alimentação. Avista um belo templo no cume de uma montanha e acreditando encontrar seu amor escalou a montanha.  Ao chegar ao topo, depara-se com montões de trigo, centeio, cevada e ferramentas, todas misturadas e, ela os separa e organiza.  O templo pertencia a deusa Deméter, grata pelo favor da bela moça lhe diz o que fazer para reconquistar o marido.  Primeiro ela precisaria conseguir o perdão da sogra.


[19] Pouco mais de um século, em 1910, o sociólogo alemão Max Weber propôs saber se o crescente capital fixo da imprensa significaria também um aumento do poder que permite moldar a opinião pública arbitrariamente. Afinal, informação é poder! Os meios de comunicação foram percebidos como fortes instrumentos de poder, na medida em que acumulavam capitais e dominavam áreas maiores do mercado. Aliás, Max Weber afirmava que a política não se restringe ao campo institucional estatal e explicita claramente que a política permeia outras atividades da vida cotidiana. Para Weber: "Poder é toda chance, seja ela qual for, de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra a relutância dos outros.".


[20] Aliás, recentemente o pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP, André Zanetic afirmou em entrevista à Agência Brasil, que a repressão não resolverá os problemas relacionados à região da Cracolândia, na capital paulista. Zanetic destacou que a atenção do Estado está voltada para a questão do tráfico e não para a recuperação e tratamento dos usuários de drogas que vivem na região. A solução dessa questão não é uma solução que pode se dar de uma forma imediata: vai lá a polícia, vai lá um grupo, mesmo uma ação social, e vai resolver. Não vai. Tem que se entender que é uma ação “de médio e longo prazo”,  disse sobre uma solução do ponto de vista da assistência social. O programa municipal De Braços Abertos, lançado durante a gestão  do ex-prefeito Fernando Haddad e que é baseado em redução de danos e integração de usuários em frentes de trabalho, foi a estratégia que teve mais êxito até o momento na região, na avaliação de Zanetic.


[21] A eugenia corresponde a um termo criado em 1883 por Francis Galton e significa literalmente em nascido. Galton definiu a eugenia como o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente.  O tema é bastante controvertido, especialmente após o surgimento da ideologia referente a eugenia nazista, que veio a ser parte fundamental da ideologia de pureza racial, a qual culminou no Holocausto. Mesmo com a cada vez maior utilização de técnicas de melhoramento genético, usadas atualmente em plantas e animais, mas ainda existem alguns sérios questionamentos éticos referentes ao seu uso em seres humanos, chegando-se até o ponto de alguns cientistas se declararem que é de fato impossível mudar a natureza humana. É verdade que o termo eugenia é anterior ao termo genética que for cunhado somente em 1908, pelo cientista William Batescon.


[22] Galdino Jesus dos Santos foi líder indígena (1952-1997) da etnia pataxó-hã-hã-hãe que foi queimado vivo enquanto dormia em um abrigo de um ponto de ônibus em Brasília, após participar de manifestações em homenagem ao Dia do Índio. O crime fora praticado por cinco jovens da alta classe, Max Rogério Alves, Antonio Novely Vilanova, Tomás de Oliveira de Almeida, Eron Chaves Oliveira e Gutenber Nader Almeida Junior (menor de idade) que atearam fogo em Galdino enquanto dormia. A vítima morrera horas depois em consequência das queimaduras. O local do crime foi rebatizado como Praça do Compromisso e, lá, foram colocadas duas esculturas relativas ao assassinato de Galdino: uma delas retrata uma pessoa em chamas e a outra representa uma pomba, o símbolo da paz. (Vide in: https://pt.wikipedia.org/wiki/Galdino_Jesus_dos_Santos ).


[23] Há outro episódio ocorrido em 2013 que um vereador do Rio de Janeiro sugeriu que os moradores de ruas e mendigos tivessem seu direito de voto restringido e transformados em ração de peixe.


[24] A paz dos deuses ou pax divom, ou seja, paz divina é correspondente a um conceito fundamental do sistema jurídico-religioso romano. Refere-se à concórdia entre os homens e os deuses equivalente a um pacto entre o divino e o humano, sendo indispensável à segurança do Estado. Trata-se de um conceito central para a compreensão das relações entre política e religião no interior do Estado romano, por um lado, e entre a religião romana e outras religiões, de outro. A antiguidade desse conceito é atestada, seja por sua presença, já em Plauto, seja por sua recorrente expressão nas fórmulas arcaicas de pax divom e pax deum que antecederam a forma clássica pax deorum.  Juntamente com sua antítese, ira deorum ("ira dos deuses"), a pax deorum liga-se à ideia arcaica de que entre homens e deuses existisse uma relação insondável, razão pela qual o homem poderia incorrer, não obstante a sua boa-fé, na ira das divindades, muitas vezes apenas em razão de imprecisões na execução dos ritos (religio).


[25] Caim foi o primogênito da união de Adão e Eva, seguindo de mais dois irmãos, Abel e Seth. Sendo, portanto um dos primeiros humanos nascidos de gravidez normal. Acredita-se, porém, que a real origem de Caim possa ter sido de uma relação sexual que Eva manteve com a Serpente (que possivelmente corresponde à personificação do demônio Samael) que até então, não tinha forma reptiliana, mas de um ser semi-humano. Desta forma, Eva teria deixado o Éden, já grávida da Serpente e, seu filho seria um híbrido, com sangue tanto humano quanto demoníaco. Em hebraico, o nome Caim, significa lança, sendo que a sua transliteração seria Qayin, tal nome ainda está associado à outra forma verbal, Qanah, que pode significar obter ou provocar ciúme.


[26] Walter Benedix Schönflies Benjamin (1892- 1940) foi ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo judeu e alemão. Foi associado à Escola de Frankfurt e à Teoria Crítica foi fortemente inspirado tanto por autores marxistas, como Bertolt Brecht, como pelo místico judaico Gershom Scholem.  Benjamin desenvolveu seu trabalho baseado na concepção kantiana de crítica como uma forma de reflexão, tanto estética como política.  E, vale ressaltar que esse ato de crítica valorizado por ele, incluía todo o sistema cultural e também sua base econômica.  Dentre suas criações intelectuais Benjamin articulou a teoria da história, da tradução, violência, tendências da recepção da obra de arte dentre outras questões.


[27] Poema de autoria de Brecht, intitulado de INTERTEXTO:


Primeiro levaram os negros

Mas não me importei com isso

Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários

Mas não me importei com isso

Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis

Mas não me importei com isso

Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados

Mas como tenho meu emprego

Também não me importei

Agora estão me levando

Mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém


Gisele Leite

Gisele Leite

Professora Universitária. Pedagoga e advogada. Mestre em Direito. Mestre em Filosofia. Doutora em Direito. Conselheira do INPJ. Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Consultora Jurídica.


Palavras-chave: Idade Contemporânea Homo Sacer Zumbis Agamben Benjamin Filosofia Sociologia

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