Os cientistas sul-coreanos que primeiro produziram uma linhagem de ambicionadas células-tronco embrionárias retirando-as de um clone humano anunciaram nesta quinta-feira mais um passo histórico. Pouco mais de um ano após o anúncio do primeiro avanço, os pesquisadores da Universidade Nacional de Seul contam que já dispõem de 11 linhagens de células-tronco de nove pacientes. Mas, agora, recusam-se a chamar de embrião o produto primário da clonagem - numa clara tentativa de contornar a polêmica.

As células-tronco de embriões guardam a capacidade de dar origem a qualquer tipo de tecido - como ossos, pele, músculos.

O estudo foi divulgado no site "Science Express", que antecipa a divulgação de estudos considerados muito importantes e que estão na fila para publicação na revista "Science".

Hoje, por isso, cada um desses pacientes tem uma parte no primeiro estoque do mundo de células de reposição produzidas através de clonagem. São seis adultos e três crianças, portadores de uma série de doenças que aparecem na lista das que poderiam ser curadas com o uso de células-tronco.

- É um trabalho espetacular - disse ao site da revista "Nature" o cientista George Daley, pesquisador de células-tronco da Universidade de Harvard, que não está envolvido no estudo coreano. - Isso avança o campo de pesquisas são rapidamente... Realmente convence você de que isso é prático e possível.

A experiência comprova uma das premissas básicas da clonagem terapêutica - aquela em que interessam células-tronco embrionárias, e não o desenvolvimento de um bebê. Ficou claro que um pedaço simples de pele poder ser retirado de uma pessoa e usado para produção dessas células - e que a linhagem anunciada em fevereiro de 2004 não era fruto de acaso ou sorte.

Os cientistas coreanos produziram, por clonagem, conjuntos de células geneticamente idênticas a seus pacientes. Para isso, de cada um deles, transferiram material genético de uma célula comum para um óvulo, que foi estimulado para se comportar como se tivesse sido fertilizado. Os pesquisadores sustentaram a divisão celular até um estágio ideal - eles agora dizem que o resultado não chega a ser um embrião sequer, porque não houve fertilização de fato. Agora, eles chamam o resultado de "montagem de transferência nuclear".

Uma vez obtida a "montagem", eles aplicaram outra novidade: em vez de romper e destruir a massa células resultante - a blástula - para obter as células-tronco, eles apenas a colocaram num meio de cultura. Por fim o que se obtém não é mais que isso: uma massa de células - não um embrião necessariamente viável, muito menos um feto.

Pesquisadores acreditam que as células-tronco embrionárias podem um dia ser treinadas para fornecer células especializadas, tecido e órgãos compatíveis. Eles, por sua vez, seriam usados para curar a diabetes juvenil, o mal de Parkison, ou lesões da medula espinhal - entre uma série de outras promessas. As células-tronco de embriões são consideradas muito mais versáteis do que as células-tronco adultas, encontradas dispersas no organismo na idade adulta e na infância.

Woo Suk Hwang e seus colegas da Universidade Nacional de Seul contam que o processo que desenvolveram mostrou-se muito mais eficiente do que les imaginavam. As 11 linhagens pertencem a portadores de lesões da medula espinhal, diabetes juvenil e uma doença imunológica rara.

- Esse estudo mostra que as células-tronco embrionárias podem ser obtidas usando-se a transferência nuclear (técnica clonagem) a pacientes com doenças, a despeito de sexo ou idade - disse Hwang.

- Estou surpreso com o quanto eles conseguiram em apenas um ano e com a quantidade, a qualidade e o rigor de suas provas - disse Gerald Schatten, da Universidade de Pittsburgh, um especialista em células-tronco encarregado de rever o estudo.

Os pacientes não devem ser beneficiados no momento pela clonagem, mas os pesquisadores esperam usar as linhagens de células-tronco para, no mínimo, compreender melhor as doenças que os afligem.