Inspirando ou Chocando

Tem gente que a encontra na leitura. Outros nas artes. Alguns nas pessoas.

Fonte: Luciano Pires

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Onde você busca inspiração hoje em dia?

Tem gente que a encontra na leitura. Outros nas artes. Alguns nas pessoas.

Quando trabalhei como Diretor de Arte, nos anos 80, eu tinha uma espécie de exercício para estimular a inspiração. Abria dezenas de livros, com muitas ilustrações na minha frente e ficava lá, folheando, examinando. Aquele estímulo visual parece que me ajudava a encontrar idéias para os projetos nos quais estava empenhado.

Hoje me inspira ver obras que as pessoas fizeram. Pode ser um museu, uma galeria de arte ou uma loja cheia de objetos.

E, não raro, uso a Internet. Mas andei raciocinando sobre a razão de não ser a televisão minha principal fonte de inspiração. Afinal, lá temos de tudo a cada segundo. Imagens, idéias, sons, cores, movimento. Diante da tv permanecemos hipnotizados, com aquele bombardeio incessante de estímulos.

Mas fica claro que dali, pouco vem de inspiração.

O negócio da TV no Brasil não é inspirar. É chocar.

É a bomba que explode. Sangue. É o cara que acha que é Jesus. O sujeito que chora da origem pobre. Mas...pensando bem, o problema não é só da TV. Toda mídia parece estar hoje mais interessada em chocar que inspirar.

Imagens fortes, títulos bombásticos, textos calamitosos, perguntas agressivas, saias justas ocupando a maior parte do espaço e do tempo.

Lembro-me de minha filha, pequenina, com seus três, quatro ou cinco anos. Eu adorava chamá-la para ver um besouro, para ver o arco-íris, para ver uma ilustração num livro, para ver um cavalo pastando. Me amarrava naqueles dois olhinhos arregalados, na expressão de espanto, na exclamação de "nossa" diante de algo que, para mim, era trivial...

E ficava imaginando sobre o impacto que aquele momento teria em sua vida.

Estaria ela vendo um cavalo ou um imenso dragão? Um arco-íris ou a obra de um artista que pintara o céu?

Hoje, com quase 14 anos, besouros, cavalos, ilustrações ou o arco-íris não lhe causam mais espanto. Aqueles dois olhinhos só se arregalam diante daquilo que choca.

Na transição para adolescente, ela foi deixando de lado a inspiração...E quando chegar à maturidade terá perdido o pouco que resta.

Pois é assim nossa realidade. Se cavalo não chama mais atenção, mostre-o morto. Se besouro não chama mais a atenção, mostre-o venenoso. Se a ilustração não chama mais atenção, capriche na bunda. Se o arco-íris não chama mais a atenção, substitua-o por uma nuvem radioativa.

Não temos mais tempo para fantasias, para poesia, para reflexão.

A inspiração está morrendo. E eu estou chocado.

Luciano Pires é profissional de comunicação, jornalista, escritor, conferencista e cartunista, atualmente Diretor de Comunicação Corporativa da Dana. Visite o site www.omeueverest.com .

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