Congelamento de corpo vira briga de família

O Militar de 83 anos pediu para filha antes de morrer que seu cadáver fosse preservado por acreditar na descoberta da cura do seu mal no futuro

Fonte: O Globo

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Uma história inusitada tem tirado o sono da família do engenheiro civil da Força Aérea Brasileira L.F.D.A.M., que morreu em fevereiro, aos 83 anos. Como antecipou a coluna na quinta-feira, a Justiça, em primeira instância, deu ganho de causa a um desejo do militar que sofria de uma doença crônica e queria ser congelado, em vez de sepultado. Ele acreditava que, no futuro, a ciência poderia encontrar a cura para o seu mal. Como não deixou por escrito a decisão, o caso foi parar nos tribunais. Virou uma briga entre os vivos: não há consenso entre os familiares.


A filha do segundo casamento de L.F.D.A.M., L.M., que morava com ele no Rio, conta que estava disposta a fazer valer a última vontade do pai, manifestada antes de ele ter um acidente vascular cerebral. Mas, para isso, ela teria que autorizar o embarque do corpo para os EUA, onde seria congelado por uma empresa especializada em criogenia. Duas meias-irmãs, que moram no Rio Grande do Sul, são contrárias à ideia.


Filhas do 1º casamento querem sepultamento


Segundo o advogado Rodrigo Marinho Crespo, as filhas do primeiro casamento de L.F.D.A.M., que querem o sepultamento do pai no jazigo da família na cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul, tentam impedir o traslado do corpo para a empresa americana desde fevereiro. Na terça, no entanto, a 20ª Câmara Cível bateu o martelo em favor de L.M.. Crespo, no entanto, diz que vai recorrer da decisão.


"Eu sinto que são quatro meses de desrespeito. Ele era uma pessoa que prezava os rituais. Em momento algum, nos disse que gostaria de ser congelado. Acredito que uma palhaçada dessa natureza nunca sairia da cabeça dele — disse a professora C.T., de 51 anos, uma das filhas do primeiro casamento do engenheiro da FAB."


Enquanto o imbróglio não se resolve, o corpo de L.F.D.A.M. é conservado por uma funerária no Rio em caixão de zinco, resfriado por gelo-seco. Pelo serviço, L.M. tem desembolsado quase R$ 900 por dia, cerca de R$ 27 mil por mês.


Ela explica por que está brigando:


"O que eu tenho a perder? A única certeza que eu tenho é que, caso a ciência evolua, quem está enterrado não será ressuscitado. Mas, e quanto a quem é congelado? Não sabemos. Enquanto minhas irmãs querem um pedaço de mármore, eu quero realizar um sonho do meu pai", afirmou ela.


Custo para manter corpo resfriado é de R$ 900 diários


Segundo L.M., na tentativa de um acordo com as irmãs, ela falou que abriria mão da herança do pai, caso concordassem com o congelamento do corpo:


"Já gastei todo meu dinheiro. Recursos que usaria para comprar um apartamento e tirei da poupança. Estou devendo à funerária. Cheguei a oferecer duas passagens por ano para que minhas irmãs visitassem o corpo do meu pai nos EUA, mas elas não aceitaram. E ainda entraram com uma ação de danos morais por causa da situação. De qualquer maneira, tudo vale a pena. Quero honrar a vontade do meu pai, que acreditava muito na evolução da ciência. Tudo que tenho devo a ele."


Para o psicanalista Luiz Alberto Py, L.M. está sentindo a obrigação de fazer a vontade do pai.


"Se ele fez esse pedido, a filha acreditou e se sente na obrigação de cumprir a promessa. Mas pode existir, sim, uma fantasia de imortalidade", observou o psicanalista.

Palavras-chave: Congelamento; Cadáver; Doença crônica; Cura; Paternidade

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