A multiplicidade e o sujeito contemporâneo
Como entender a formação do sujeito contemporâneo afetado por uma enxurrada de transformações que ocorrem numa dinâmica irascível? Eis que a sociedade contemporânea nos premia com o mal-estar na civilização[1], e traz riscos de todos os tipos pessoal, coletivo, social, profissional e até familiar. O tempo inexorável e impiedoso que quando não nos envelhece, nos mata ou extirpar as dimensões antes conhecidas para nos arremessar no desafio diário e constante da sobrevivência com alguma dignidade.
Há uma
multiplicidade de fatores que permitiram a estruturação do sujeito
contemporâneo e sua realidade psíquica começa desde os primeiros balbuciar das
palavras, a necessidade de crença e variadas interações que são inseridas pela
cultura e pela vivência social, além de haver peso no aspecto biológico.
Afinal, o suporte corporal é que sofre as pulsões e perfaz da estória emocional
e psicológica.
Observa-se
que a cultura na qual a criança nasce, carrega toda uma história e desenha as
formas de pertencimento que se particularizam na família, trazendo traços
identificatórios, valores, normas que servem de balizas para a construção tanto
da subjetividade como da realidade psíquica.
É
verdade que a sociedade produz padrões que são aceitos e valorados e que restam
encarnados nas instituições tais como o Estado, a família e a escola. No século
XX, há inúmeras mudanças que acarretaram a desintegração, inicialmente lenta,
não apenas dos valores vigentes da família, da moral e da sociedade, mas também
ocorreu radical transformação nos meios de comunicação, sendo relevante
introdução na cultura de massa e globalização do mercado.
De fato,
o espaço do mundo sofreu um encolhimento proveniente da compressão do
espaço-tempo, ou seja, da aniquilação do espaço pelo tempo resultantes do
tremendo desenvolvimento das indústrias de transportes, comunicação e
informática.
A
história do capitalismo[2] tem sido caracterizada
pela frenética aceleração do ritmo de vida, ao mesmo tempo que por uma
superação de barreiras espaciais, de tal modo que o mundo parece mesmo estar
implodindo sobre nós.
Então,
os fatores velocidade e simultaneidade são as bases estruturais para a criação
do mundo contemporâneo pois ambos concorreram decisivamente para o seu
encolhimento e aumento da percepção fragmentada do mundo ao colocarem à
disposição do habitante da sociedade de massas[3] numa inusitada quantidade
de estímulos e informações.
Já os
aparelhos de simultaneidade, como o satélite, a televisão, o celular, o
computador e o faz contribuíram sobremaneira na criação de realidades que, não
sendo nossas, são vivenciadas como tais. E, na virtualidade se energiza a
mistura hipercomplexa de pessoas, capital e informações, provocando dessa
maneira uma profusão, uma exuberância, de informações que os habitantes da
nossa sociedade têm que processar.
Enfim,
para realmente decifrar tamanha quantidade de informações, o homem atual teve
que adotar uma linguagem única, globalizada, gerando como efeito uma perda de
sua identidade cultural, dos regionalismos, das particularidades que o
diferenciavam do outro. Há então, uma uniformização que leva a uma alienação
não apenas do discurso do sujeito, mas também uma desreificação da realidade.
De
forma que o virtual torna tudo possível, há o primado do imaginário onde quanto
mais o sujeito contempla, menos vive, e quanto mais aceita reconhecer-se nas
imagens dominantes da necessidade, menos se compreende sua própria existência e
seu próprio desejo.
Na
obra intitulada "A sociedade do espetáculo", Debord ilustrou a vida
das sociedades como simples condições de produção vigente, apresentando imensa
acumulação de espetáculo. O que era vivido diretamente, agora é considerado
como representação.
E, a
realidade é considerada parcialmente porque é tomada de imagens que se destacam
da vida e forma um pseudomundo à parte, objeto de contemplação. O espetáculo
não é um conjunto d imagens, mas uma relação social entre as pessoas, mediadas
por imagens, apresentando-se como sendo a própria sociedade, como instrumento
de unificação.
Há um weltanshauung,
ou seja, visão de mundo[4], que viabiliza desde o
projeto até a produção de mercadorias. Assim, o produto é criado mesmo antes de
sua necessidade, sua demanda é feita a posteriori, ao consumidor resta apenas
consumir.
Concluímos
que o espetáculo é resultante do projeto do modo de produção existente,
constituindo o âmago do irrealismo que vivemos. Assim, consumimos informação,
publicidade, educação e diversão.
Tal
modelo é dominante na vida atual de nossa sociedade, gerenciado pela economia
multinacionalizada, desmaterializado pelos meios de comunicação e que induz a
pessoa consumir muito mais do que necessita através do marketing que faz o
consumidor acreditar que certo produto é feito para ele e que irá minorar
qualquer desconforto ou sofrimento.
O
espetáculo, ao separar o mundo em representações, produz sua unificação através
das imagens que ele mesmo constrói, levando à alienação tal qual a pensamos em
psicanálise.
O
espetáculo seria como a produção da imagem narcísica na fase do espelho: ao
mesmo tempo que a criança se identifica com aquele que o nomeia, se aliena na
imagem do Outro e, por se alienar no Outro, ela cada vez mais se identifica. “O
que o espetáculo exige é a aceitação passiva, sem réplica por seu monopólio da
aparência.” (Debord,2000)
Aceitação
passiva, passividade frente a demanda do Outro, produz laço social, onde o
outro na posição de terceiro o reconhece como sujeito, mas não sujeito
dividido, pensante e falante; e sim sujeito narcísico, preso nas teias
mercadológicas onde ele se acha aonde não é, e se perde aonde poderia ser.
É
nessa brecha do engano ou logro que a publicidade se apoia, acenando com
objetos de satisfação e felicidade que completariam o sujeito e o realizariam.
A
dominação da economia sobre a vida social acarretou a degradação do ser para
ter e agora do ter para parecer. E, a consequência dessa degradação é a
prevalência da tendência em fazer ver o mundo, de forma que não podemos tocá-lo
diretamente, a visão é seu sentido privilegiado.
Segundo
o sociólogo Paulo Jorge dos Santos Fleury (graduado em História, doutorado em
Ciências Sociais e pós-graduado em Sociologia Política) essa dominação da
economia sobre a vida social pode ser repensada, talvez, a temática do
espetáculo esteja subsumindo às questões da economia. A própria estrutura produtiva e a organização
das finanças estão a depender cada vez mais da sociedade do espetáculo. Em
verdade, ela gera e é gerada por crenças e percepções. Citou o saudoso Delfim
Neto a economia traz questões relacionadas sobretudo com a confiança, ou seja,
fidúcia. E, confiança é crença. E, o espetáculo produz a crença, é a projeção
de si mesmo no outro. É a maneira pela qual se constrói e reconstrói a
subjetividade.
A
mídia, com ênfase na televisão (e, particularmente, as redes sociais) recria o
mundo por meio do simulacro que é a reprodução técnica da realidade,
distribuindo e vendendo ilusões e sentido à vida de milhares de
telespectadores, moldando assim, seus pensamentos e atos. As redes sociais na
dicção do sociólogo e doutor Fleury se apropriaram da televisão, e sua fluidez
e velocidade mal é acompanhada pela televisão... Portanto, a televisão, perdeu
seu protagonismo nessas derradeiras décadas.
O
sujeito cada vez mais perde sua singularidade (a referida singularidade tem
sido permanentemente reformatada na dicção do sociólogo e doutor Fleury) em
face de imagens e mensagens impostas por meios de comunicação. O que importa, não
é o que se pensa, acredita ou que se diz, mas sim, o que se pode consumir.
É
através do consumo, da imagem que se passa aos outros, que é reconhecido
enquanto homem. Sempre se faz necessário o olhar do outro, testemunha
silenciosa, para que haja a confirmação de que se é. A
singularidade coletiva contemporaneamente ganha significância em grupos.
O
sujeito vive, permanentemente, em um registro espetacular, imaginário, onde o
Outro não barrado é o próprio mercado, a sede da alienação. O mercado já se
mostra resultante dessa alienação que está no registro do que seja espetacular.
Nem sempre a questão seja ganhar dinheiro, mas sim, projeção através de
representações.
Só
existem as regras do mercado, por isso, o olhar do outro é importante para a
confirmação de sua existência. Daí a difusa proliferação de selfies.
Lembremos
que o espetáculo traduz o apagamento dos limites do eu e do mundo pelo
esmagamento do eu que a presença-ausência do mundo assedia, significa também a
supressão dos limites existentes do verdadeiro e do falso, diante da presença
real da falsidade garantida pela organização da aparência.
Quem
sofre passivo seu destino cotidiano é levado à loucura que reage de forma
ilusória, pelo recurso às técnicas de mágicas ou crenças redentoras.
O
espetáculo[5] suscita a questão da
angústia que mais parece ser a defesa em relação ao desamparo, numa tentativa
de recobrir para o sujeito a falta de objeto que causa o seu desejo, quando ele
se encontra no estado de esmagamento e, revive a posição de objeto diante do Outro.
Na opinião de Dr. Fleury, existe objeto que deixou de ser concreto e, passou a
ser fluído que é a fama, receber likes além do estímulo de produzir mais
conteúdos que chamem a atenção da grande gama de leitores e até seguidores.
A
alienação máxima[6]
ocorre quando o sujeito assim capturado transita entre o ser e o sentido. E,
então pode escolher entre uma identificação fixada por significante ou fixada
pelo sentido. Quando se tem um ele entre os significantes, tem-se o sentido.
Se os
laços afetivos precisam gerar o prazer pronto e imediato em face a demanda
incessante por felicidade aqui e agora, a lógica do gozo a qualquer preço.
Então, a felicidade torna-se euforia, excluindo os outros afetos humanos.
Não é
à toa que o uso de antidepressivos, ansiolíticos e hipnóticos[7] têm sido cada vez maiores
e utilizados em nossa sociedade. Tudo para conter e eliminar as angústias e
sofrimentos e, continuar a se exibir no belo mundo do espetáculo.
A
liberdade tida como cura universal para todos os males presentes e futuros
sendo vista como ideologia da elite global emergente. E, numa sociedade
consumista, a liberdade está relacionada à perfeição, que por sua vez, está
vinculada à uma qualidade coletiva da massa e a multiplicidade de objetos e
desejos.
Assim,
a sociedade de consumo[8] não é nada além de uma
sociedade de excesso e de fartura. Esse excesso gera o vazio existencial[9], aumenta as incertezas
pela liberdade de escolhas, e não reconhecemos nunca o excessivo.
A
globalização[10]
é um processo ainda em construção, com dimensões que se expandem muito além da
esfera econômica, e o mercado mundial é o meio básico onde nasce, desenvolve-se
e se reproduz o capitalismo.
O
interessante, segundo Dr. Fleury, o que define a produção é a lógica do
espetáculo e não mais o marketing. Primeiro, se constrói o desejo e, depois, é
pura reificação que não mais obedece a uma física estática e, sim, dinâmica. O
que de certa forma justifica a relevância assumida no mundo da ciência da
física quântica.
E, as
subjetividades humanas estão sendo construídas pela imprecisão quântica. O
próprio capitalismo contemporâneo vem se redefinindo em razão dessa imprecisão
e do espetáculo, que é capaz de cativar corações e mentes e, por sua vez,
reproduzem tais desejos.
Assim,
as novas formas do social produzidas pelo processo de globalização apresentam
múltiplas dimensões, as quais podem ser assim sintetizadas:
• Foram
geradas, além das classes sociais, outras direções na produção da organização
social;
• Multiplicaram-se
as formas de organização dos grupos sociais, para além dos interesses
socioprofissionais;
• Surgem
diferentes formas de representação e mediação política, aquém e além dos
partidos;
• O
Estado cede espaço à sociedade, tanto em nível macro – pelas formas
supraestatais – como em nível micro, pelo exercício de diversas redes de poder
entre os agentes sociais;
• A
crise do Estado[11]
desencadeia processos de formação e consolidação do tecido social, por grupos
que organizam, de maneira conflituosa, seus interesses particulares e se
articulam em variados contratos de sociabilidade.
Precisamos
construir o prazer sem as amarras sociais, longe das instabilidades dos humores
e nos outros, fugindo da compulsividade do consumo e da necessidade de agradar
aos outros para sermos finalmente aprovados. Não podemos pensar apenas como
produto de consumo. Precisamos recuperar as habilidades criativas e espontâneas
da humanidade e, reafirmar que o homem está no que faz e, não no que oculta.
A
relação entre o sujeito pós-moderno e a crescente demanda direcionada ao Poder
Judiciário, que surge de motivos, necessidades de tantos e tão diferentes
encaminhamentos desse sujeito à Justiça. Há a desconstrução das referências e
vige a premência de obtenção da mais plena satisfação, a constante evocação dos
chamados direitos individuais, dos direitos fundamentais e ainda
o
superficial conhecimento a respeito de como obtê-los, são os fatores que
propiciam a aprovação de novas leis e, ipso facto, das inúmeras demandas
dirigidas à Justiça.
Cogita-se
da pós-modernidade seja responsável pela constituição de um novo sujeito,
distinto daquele da modernidade, portanto, sofrendo o processo de
dessimbolização do mundo, o neoliberalismo que busca edificar a reestruturação
de mentes e a lógica das mercadorias.
Há,
outros estudiosos que preferem empregar termos distintos para definir esse
mesmo período histórico. Para Lipovetsy não vivemos tempos pós-modernos, mas
sim, hipermodernos, pois não se estaria em época que apenas sucede a
modernidade, mas, uma segunda modernidade, que deve ser compreendida em sa
complexidade e dotada de paradoxos que duelam diante de todos.
A
época atual, se valoriza o prefixo hiper, a saber: hipermercado,
hiperendividamento, hiperdesconto, hipercenter, hipersentido. Por outro viés,
outros estudos fazem referência a sujeito moderno, enquanto Giddens utiliza a
expressão modernidade tarde.
Inexoravelmente,
cada época cria seus objetos e, novamente nos remete a pertinência de uma
análise sócio-histórica e, as ciências humanas, as ciências sociais aplicadas
tais como o Direito, há uma grande ênfase, principalmente a partir dos anos
oitenta, para o exame de questões sociais e de ações governamentais, como por exemplo,
a população de rua, os meninos abandonados na miséria, invisíveis e que
continuam em penúria, e que já não causam comoção social.
No
âmbito das relações interpessoais, a chamada síndrome de alienação parental, a
violência contra crianças e adolescentes, o abandono afetivo, o bullying
e o assédio moral, dentre outras mazelas vem a integram o vasto rol de novas
demandas encaminhadas à Justiça. E, já são acompanhadas de argumentos e apontam
a necessidade de novos procedimentos jurídicos, novas soluções e celeridade tão
valorizados no contexto pós-modernos, ou ainda, na denominada modernidade
líquida como foi denominada por Zygmunt Bauman.
Ao
examinarmos as transformações sociais que se presencia na atualidade, além da
compulsão ao consumo, a regra passa ser a pressa, o imediatismo, o descarte e
inexistência de avaliação sobre a utilidade das coisas. E, esse consumismo
impacta o modo de agir e de pensar.
Dentro
do contexto contemporâneo há desdobramentos múltiplos da globalização sob a
influência da ideologia neoliberal e não afetam somente a dimensão econômica,
mas, estendem-se às dimensões culturais, psicológicas e subjetivas. De fato, o
capitalismo consumo não o homem, não apenas seus corpos, que, como objetos,
serão valorizados e usados, em suas mentes.
A
escassez de tempo nos afeta e, reduz-se, então a faculdade de julgar e a de
analisar. Sendo de extrema importância atribuída às mercadorias, que são mais
que seu valor financeiro, mas, evidenciam igualmente a mutação nos laços
sociais e o imperativo de uma felicidade pessoal.
Na
economia neoliberal há objetos que são tratados como descartáveis, dotados de
prazos de validade, e tal percepção que se estende às relações interpessoais,
como sustentou Bauman, há um amor líquido eivado de fragilidade e transitoriedade
dos afetos e relacionamentos contemporâneos.
Os
papéis sociais também sofrem constantes alterações quando as posições fixas e
estáveis passam a ser desprezadas, tendo-se como regra a descartabilidade. O
que novo, mutável, célere, recente, flexível e instantâneo passou a ter extremo
valor e o mercado também passa a influenciar também o sentido das palavras.
O
século XX assistiu há desconstrução maciça das tradições e valores e a grande
ascensão potencial do individualismo e, onde a autonomia tornou-se sinônimo de
autossatisfação em detrimento do outro, do próximo, da família e da sociedade,
o que contribui para que o sujeito clame progressivamente por seus direitos
individuais e por leis e decisões judicias que atendam aos seus anseios.
Hoje
não se cogitar mais de satisfação a ser obtida, mas de sua desmedida ou
exagero, ou excesso na dicção de Lipovetsy. A cultura líquida tão peculiar aos
presentes dias marca-se por sua extrema fluidez, a busca da satisfação desponta
como objetivo supremo a ser galgado, praticamente, uma obrigação do homem,
sendo que qualquer obstáculo é percebido como injustiça.
Enfim,
a regra de atrasar a satisfação não parece mais um conselho sensato tido pela
época por Max Weber. Para se atingir as metas, não se aceitam mais prorrogações
ou adiamentos, havendo quase uma tirania do imediato para se conseguir e, se
obter os objetos vistos como vantajosos e, pelos quais se anseia m contexto
onde a condição provisória de objetos e situações é uma realidade.
A
felicidade cresce na medida que aumenta o consumo, como, por vezes, a
propaganda faz crer. Desde o fim do século XX, a tão decantada felicidade
desponta como o alfa e o ômega da existência humana, o afã de consumir advém de
uma sensação de carência, de insatisfação com que se tem, quando comparado com
que se almeja atingir. O consumidor ideal é aquele que potencializa suas
compras em menor intervalo de tempo possível, gerando o chamado hiperconsumo.
A
mutação na condição humana faz com que se não houver contentamento, recorre-se
à Justiça, se houver algum dano ou frustração, recorre-se na busca de
ressarcimento. Todos aqueles que não
galgaram a suposta felicidade, passaram se sentirem como vítimas de injustiça
social.
Surgem
então, as soluções pragmáticas que atendem aos pequenos grupos, que ao invés de
privilegiar o debate sobre o bem como, apenas centra-se na satisfação
individual.
Enfim,
as relações fluídas e descartáveis e a incessante busca de satisfação
contribuem para a formação de novo modo de pensar, de julgar, de relacionar-se
com a família, com a pátria, com o trabalho e, assim, diante do desmonte
progressivo das referências que eram balizas para nortear as decisões dos
sujeitos, acentua-se em muito o apelo ao Judiciário.
Seguindo as águas da modernidade de Bauman, nossas subjetividades tão se tornaram fluídas e são remodeladas constantemente para que a adaptação os permita melhor sobrevivência.
Referências
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Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
_______________.
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__________
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2001.
__________
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Observação:
Meus sinceros agradecimentos ao Doutor Paulo Jorge dos Santos Fleury pela sua
atenção e seus esclarecimentos. (grifo meu)
Notas:
[1]
Assim, “O Mal-Estar na Civilização” explora a origem do sofrimento humano.
Freud acreditava que o mal-estar é resultado da repressão social. Isso pode ser
tanto social quanto ter origem familiar, por exemplo com um superego muito
rígido imposto pelos pais. Os mal-estares da modernidade provinham de uma
espécie de segurança que tolerava uma liberdade pequena demais na busca da
felicidade individual. Os mal-estares da pós-modernidade provêm de uma espécie
de liberdade de procura do prazer que tolera uma segurança individual pequena
demais.
[2]
A origem do capitalismo está atrelada à decadência do feudalismo e,
consequentemente, à ascensão de um modelo econômico baseado no acúmulo de
capital privado. Nesse contexto, tornou-se fundamental o surgimento da
burguesia, classe econômica formada por detentores de capital, como os
comerciantes. Pesquisas históricas apontam que o termo "capitalismo"
foi utilizado pela primeira vez por um escritor chamado William Makepeace
Thackeray, no trabalho denominado de The Newcomes, em 1845. Com base
nesse escritor, a palavra significa "ter a posse do capital". Karl
Marx, um dos filósofos mais críticos a esse sistema usou a palavra no trabalho
intitulado como "O manifesto comunista", em 1848. O capitalismo
possui características próprias. Uma que pode ser citada é a divisão de classe,
ou seja, o estabelecimento entre a elite que compõe a classe empregadora e os
trabalhadores que formam o setor operário. Outro aspecto desse sistema é o
trabalho assalariado, o qual diz respeito a força do trabalho em troca do pagamento
em dinheiro. Uma das características mais comuns do capitalismo está no acúmulo
de bens, pois o desejo de quem adere a esse modo econômico é obter maiores
riquezas possíveis. O capitalismo é estabelecido na história em três fases,
chamadas de comercial, industrial e financeiro. O capitalismo comercial é
também conhecido como pré-capitalismo ou de mercantilismo. Esse momento começou
após o sistema feudal chegar ao fim e compreende do século XVI ao XVIII. A
Expansão Marítima e a Expansão Comercial foram fatores nos quais contribuíram
para a transferência do feudalismo para o capitalismo. A Expansão Marítima, por exemplo, foi marcada
pelo descobrimento de novas rotas marítimas para oriente e também marcou a conquista
da América. Com isso, os burgueses expandiram o comércio do Mediterrâneo ao
Atlântico e os locais recém-encontrados foram explorados com finalidade
comercial. Nesses locais, as nações
como: França, Holanda, Inglaterra, Portugal e Espanha conseguiram lucros
através do comércio de metais preciosos, recursos agrícolas, comercialização de
escravos. Tudo isso, desencadeou o surgimento da primeira fase do
capitalismo. Capitalismo Industrial:
Depois da primeira fase do capitalismo sucede-se o segundo momento que foi
marcado pela Revolução Industrial. Esse período é caracterizado como a fase de
concretização do capitalismo. A
Revolução Industrial teve como principal característica a fase de transição da
produção manual para a industrial através do advento das máquinas. A
industrialização também teve como característica o advento da classe operária,
em que os trabalhadores recebiam dinheiro em troca dos serviços prestados. A
primeira fase da Revolução Industrial abrange o período de 1760 a 1860. A
Inglaterra foi a nação destaque dessa fase porque detinha propriedades as quais
a favoreceram, como: o crescimento populacional e o acúmulo de capitais. O Capitalismo Financeiro denominado também de
monopolista compreende a terceira fase desse sistema econômico. Esse momento
teve início no século XX e está fundamentado na ligação entre os bancos e o
setor industrial. Muitos acontecimentos históricos estão ligados a essa fase
econômica: Segunda Revolução Industrial, a Crise de 1929 e a criação da União
Soviética.
[3]
Trata-se de sociedades em que a grande maioria da população se encontra
inserida em um processo de produção e consumo em larga escala de bens de
consumo e serviços, além de estar em conformidade com determinado modelo de
comportamento generalizado. Uma das consequências da cultura de massa é a
homogeneização cultural, que considera estranha qualquer manifestação cultural
que não incentive o consumo exacerbado de bens e serviços. O próprio termo
sociedade de massa já faz referência a uma sociedade massificada, isto é, uma
sociedade em que os indivíduos agem de forma semelhante com gostos e interesses
praticamente padronizados. Hannah Arendt aponta que no século XX um novo tipo
de homem pode ser identificado: homens que são moldados ideologicamente para
agir de forma massificada, isto é, da forma como querem que aja.
[4]
O termo “visão de mundo” (Weltanschauung) tem sua origem no interior da
filosofia alemã, mais especificamente na Crítica da faculdade de julgar (1790)
de Kant (1724-1804), sendo decisivo para a consolidação do “idealismo alemão”.
Martin Heidegger (1889-1976) faz uma apropriação desse termo.
Tal apropriação, porém,
acontece mediante a refundação do sentido próprio de “visão de mundo”. Disso
decorre o seguinte: há, por um lado, uma continuidade terminológica – Heidegger
ainda utiliza o termo “visão de mundo” –, o que não acontece no modo de
proceder, ou seja, por outro lado, há uma mudança metodológica e esta é
decisiva para a apropriação do termo, bem como para a sua fundamentação e
significação. Esse movimento de apropriação pode ser visto a partir de três
preleções: A ideia da filosofia e o problema da visão de mundo (1919), os
problemas fundamentais da fenomenologia (1927) e Introdução à filosofia
(1928-1929). O objetivo do presente artigo, então: investigar algumas
indicações percebidas nos textos de Heidegger que conduzem esse movimento de
apropriação, de modo a elucidar qual seja o caráter peculiar de sua
apropriação. Realizando uma hermenêutica textual há de se perceber, por fim,
que Heidegger retorna à tradição filosófica – à metafísica – com o propósito de
dela se distanciar, mostrando que esse movimento de apropriação em relação ao
termo “visão de mundo” permite também a colocação pela pergunta do sentido de
ser.
[5]
A sociedade do espetáculo corresponde a uma fase específica da sociedade
capitalista, quando há uma interdependência entre o processo de acúmulo de
capital e o processo de acúmulo de imagens. O ponto central de sua teoria é que
a alienação é mais do que uma descrição de emoções ou um aspecto psicológico
individual. É a consequência do modo capitalista de organização social que
assume novas formas e conteúdo em seu processo dialética de separação e
reificação da vida humana. Para Debord (1997) vivemos em uma “sociedade do
espetáculo”, onde a mercadoria e a aparência se tornaram mais valorizadas no
contexto das relações sociais, tornando-se uma forma de relação social em que o
ter e o aparentar ser suprem momentaneamente o viver, objetificando e
artificializando as experiências, que deixam de ser vividas em sua essência. A
imagem que o indivíduo tenta transmitir de si mesmo ou do modo de vida que vive
ultrapassa a realidade e torna a imagem, a representação, uma nova realidade
ficcional, ou seja, uma realidade construída por ficções. Debord (1997, p. 8)
diz que “o espetáculo, compreendido na sua totalidade, é ao mesmo tempo o
resultado e o projeto do modo de produção existente”. O espetáculo não é apenas
um conjunto de imagens postadas ou compartilhadas nas plataformas de mídias
sociais, ele está inserido no contexto das relações sociais contemporâneas,
mediando as relações entre as pessoas por imagens, narrativas e enquadramentos.
E esse espetáculo, essa atuação social, contribui para a criação da realidade
coletiva nos dias atuais.
[6]
A partir das contribuições de Marx e outros autores, a alienação é compreendida
como sendo fundamentalmente uma relação social de heterogestão, ou seja, ela
remete a uma situação de controle por outro. A alienação, por sua vez, gera o
alheamento, que é a perda da posse ou propriedade, e o fetichismo (ou
estranhamento). O consumo alienado, dentro das sociedades capitalistas da
atualidade, os indivíduos são saturados por propagandas nos meios de
comunicação, onde a liberdade passa a ser determinada por padrões de consumo.
Assim, o indivíduo alienado relaciona sua essência com um padrão de consumo.
Marx definiu quatro formas de alienação do trabalhador na sociedade burguesa:
(1) pelo produto de seu trabalho, que se torna um objeto estranho que exerce
poder sobre ele; (2) em sua atividade de trabalho, que ele percebe como
dirigida contra si mesmo e como se não lhe pertencesse; (3) pela “essência
genérica” do homem ...
[7] Identificou-se que como esperado, houve o aumento do uso dos ansiolíticos e antidepressivos durante a pandemia da COVID-19, como também o aumento pela busca solitária do autodiagnóstico, o despreparo das equipes que atendem os pacientes em tratamentos de quadros ansiosos e depressivos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), e ainda ressalta a importância de se manter o acompanhamento médico tal como o acompanhamento psicológico dos sujeitos acometidos por esses transtornos e assim garantir que o uso de medicamentos controlados seja acompanhado mais de perto e que não ultrapasse o tempo extremamente necessário.
[8]
Sociedade de Consumo é um termo utilizado em economia e sociologia para
designar o tipo de sociedade que se encontra em uma avançada etapa de
desenvolvimento industrial capitalista e que se caracteriza pelo consumo
massivo de bens e serviços, disponíveis graças a elevada produção dos mesmos.
Entende-se por sociedade de consumo a era contemporânea do capitalismo em que o
crescimento econômico e a geração de lucro e riqueza encontram-se
predominantemente pautados no crescimento da atividade comercial e,
consequentemente, do consumo. O conceito de sociedade de consumo está ligado a
economia de mercado, a qual encontra o equilíbrio entre oferta e demanda,
através da livre circulação de capital, produtos e pessoas, sem intervenção
estatal. Também está fortemente ligado ao conceito de capitalismo. Do ponto de
vista antropológico, entende-se que esses exageros característicos das
sociedades de consumo são provenientes de fatores sociais e culturais. Contudo,
fatores históricos não podem ser descartados, uma vez que mudanças nos modos de
produção a partir de uma revolução industrial aumentaram os níveis de produção,
somando-se aos fatores sociais.
[9]
O vácuo ou vazio existencial se caracteriza pela ausência de consciência de um
sentido de vida, de um propósito ou ideal que valha a pena viver. Como diria
Nietzsche (2005), é a ausência de um “porquê” para viver. É nesse momento que
surge o vazio existencial, aquela sensação de que nada mais faz sentido e que
viver já não tem mais graça. Percebe o perigo desse tipo de pensamento? Quando
ele dura muito tempo, pode ser fator de desenvolvimento de vários outros
transtornos, como ansiedade e depressão. Os principais sinais do vazio
existencial são: Sentir-se só, mesmo quando está na presença de outras pessoas;
não encontrar motivos para comemorar nada; vivenciar uma intensa falta de
disposição, ânimo e automotivação; achar que tudo é trabalhoso demais; ver
apenas o lado negativo das coisas.
[10]
Globalização é o fenômeno de integração econômica, social e cultural do espaço
geográfico em escala mundial. É caracterizada pela intensificação dos fluxos de
capitais, mercadorias, pessoas e informações, proporcionada pelo avanço técnico
na comunicação e nos transportes. Globalização é um processo de integração
política, econômica e cultural mundial, marcado pelos avanços nos meios de
transporte e comunicação. O processo de globalização, em seus moldes atuais,
vem sendo duramente criticado por alguns intelectuais e grupos sociais
organizados. Quais são os 4 tipos de globalização? Quais os TIPOS de
Globalização? Tipos de Globalização:1 –
Globalização Econômica; 2 – Globalização Cultural; 3 – Globalização da
Informação; Vantagens da globalização: intercâmbio cultural; Desvantagens da
globalização: Desigualdade social.
[11]
As alterações de paradigmas provocadas pela globalização econômica, responsável
pela crise do Estado contemporâneo, e que guardam relação com o processo de
criação do Estado moderno ocidental. Para tanto, traçou-se um apanhado sobre a
origem e o desenvolvimento das formas estatais, a partir da modernidade,
seguidas da análise da função do Estado contemporâneo e dos desafios diante do
novo cenário mundial, que tornaram insuficientes, os modelos criados no passado
e que estão a exigir a construção de uma nova realidade política, social e
econômica capaz de democratizar o capitalismo e ajustá-lo a padrões mais
humanitários.
[12]
Bauman argumenta que os indivíduos, na sociedade líquida, tendem a considerar
que a atitude mais racional é a de não se comprometer com o que seja. Assim,
quando uma nova oportunidade ou ideia aparecem, este indivíduo se engaja sem
maiores dramas. A “Vida Líquida” é uma vida de consumo: o mundo e seus
fragmentos são tratados como objetos de consumo, que perdem a utilidade e o
valor quando são usados, e então, são simplesmente descartados. O conceito de
modernidade líquida foi desenvolvido pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman e
diz respeito a uma nova época em que as relações sociais, econômicas e de
produção são frágeis, fugazes e maleáveis, como os líquidos.