Para Barbosa, STF quebrou longa tradição ao mandar políticos para a prisão

Apesar da mudança, ministro não acredita que punições podem desestimular crimes de ocupantes de cargos públicos

Fonte: O Globo

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Ao fazer um balanço das atividades do Supremo Tribunal Federal (STF) deste ano, o presidente, ministro Joaquim Barbosa, disse nesta quinta-feira que a Corte quebrou uma longa tradição ao mandar prender políticos importantes. Dos 25 condenados no processo do mensalão, 17 estão presos, três cumprem pena alternativa e um está foragido. Quatro condenados ainda não foram presos. Entre os presos, está o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, apontado como mentor do esquema, e Marcos Valério, o operador do mensalão.


- Eu acho que em democracia, desde que demonstrada a violação de normas penais, não há por que se criar exceções para A, B ou C em função dos cargos que exercem. Essa é a novidade deste ano, rompimento com uma tradição longa - analisou.


Entretanto, perguntado sobre se as prisões servem como recado para quem ainda insiste em cometer crimes na vida pública, ele foi pessimista:


- Não tenho ilusão quanto a isso não.


Barbosa afirmou que, nos próximos dias, vai decidir questões pendentes do processo do mensalão. Ele deve decidir, por exemplo, se manda o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), o delator do esquema, cumprir pena em prisão domiciliar ou em penitenciária. A situação ainda está indefinida por conta do problema de saúde do condenado.


- Nesses próximos dias, devo soltar algumas decisões que estavam pendentes por absoluta falta de tempo - disse.


O presidente do STF reclamou da falta de atenção que se deu a um evento “da maior seriedade”: as mortes em prisões no Maranhão, muitas por decapitação. Ele criticou o sistema penitenciário como um todo. E disse que as prisões estaduais estão piores do que as federais.


- A Corte Interamericana, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos vêm apontando para o Brasil e vai crescentemente apontar cada vez mais para esses problemas das penitenciárias do Brasil.


Barbosa ressaltou que o Poder Judiciário não tem como intervir na situação. A melhoria dependeria do Poder Executivo – que, para ele, não tem muito interesse em melhorar o quadro. Ele também cobrou uma atitude do Ministério Público no sentido de cobrar políticas efetivas dos governos estaduais.


- A grande dificuldade nessa área é que o Judiciário não tem poder de construir prisões, de melhorar prisões. Tudo isso é tarefa do Poder Executivo. O Poder Executivo, pelo visto, não tem interesse em nada disso. Eu não entendo porque o Ministério Público não propõe ações de ordem coletiva para forçar o Executivo a investir.


O ministro visitou presídios ao longo de 2013 com o Conselho Nacional Justiça (CNJ), órgão que também preside. Ele manifestou a intenção de continuar com o trabalho, mas disse que não tem visto muito resultado na atitude.


- Isso não basta. Quando vamos lá, eles maquiam. Eu saio de lá e nada mais acontece. É um problema não só político, mas social, porque ele reflete o olhar que a própria sociedade lança sobre essa questão. É a sociedade brasileira que não quer, acha que a pessoa presa não merece viver em instalações dignas. É nessa hora que deve entrar a visão de homens públicos, de quem ocupa certos cargos. De fazer uma ação nacional que tenha o poder de compelir porque não falta dinheiro para isso, não falta. É não empregado, simplesmente não é utilizado, isso não é prioridade - lamentou.


Ele lembrou que, em alguns estados dos Estados Unidos, o sistema penitenciário foi totalmente reformulado a partir de decisões judiciais. Existe hoje no STF um processo nesse sentido.


- É assim. Autoridades políticas em certas áreas, se não forem compelidas, não fazem nada - declarou.


Barbosa informou que 2014 começará no STF com o julgamento das correções dos planos econômicos das décadas de 1980 e 1990, interrompido em novembro. Ele também incluiu na lista de grandes julgamentos do próximo ano o financiamento de campanhas por parte de empresas, as biografias não autorizadas e os royalties do petróleo.

Palavras-chave: mensalão cargos públicos crimes

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2 Comentários

essio de moraes aposentado20/12/2013 14:13 Responder

Ainda existem muitos políticos para conhecerem o \\\"xilindró\\\", graças as muitas habilidades e falcatruas no poder político, muitos até agora escaparam, porém, vamos dar um voto de confiança ao STF!!!

roubrdario diniz valerio advogado20/12/2013 14:22 Responder

O STF quebrou varias tradições, principalmente o decoro quando ministros se encantaram com a mídia e a vaidade senil superou o principio de que juiz fala nos autos. Teorias foram torturadas para que \\\"confessassem \\\" e justificassem condenações com \\\"provas tênues\\\" e condenações na base de que \\\" a literatura me permite a condenação\\\" de Rosa Weber. Por fim nenhuma isonomia nas ordens de prisão: Condenados ao mesmo regime tem tratamento diverso ( Genoino e Roberto Jefferson). Abuso de poder quando o Juiz da execução foi trocado após pressão do Presidente da Corte que ao fim e ao cabo tem se comportado como verdadeiro \\\"Capitão do Mato\\\". Vejamos os desdobramentos e repercussão sobre casos a anos pendentes na Suprema Corte

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