Gutiérrez ficará asilado em residência do Exército brasileiro

Fonte: Globo Online

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O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse nesta sexta-feira que o fato de o governo brasileiro conceder asilo político ao ex-presidente deposto do Equador, Lucio Gutiérrez, não significa "apoio" ou "simpatia" do Brasil em relação à crise que envolve ao governo equatoriano. Deposto na quarta-feira, Gutiérrez continua asilado na embaixada brasileira em Quito, onde aguarda que o novo governo equatoriano lhe conceda um salvo-conduto para deixar o país. Segundo o vice-presidente do Brasil e ministro da Defesa, José Alencar, o ex-presidente ficará asilado em Brasília, numa casa cedida pelo Exército.

Logo depois de uma palestra no Tribunal Regional Federal (TRF), em São Paulo, Amorim afirmou que o asilo não tem por objetivo "proteger uma pessoa", mas contribuir "para a paz social nesse país.

- O asilo político é uma instituição não só brasileira, mas latino-americana e não significa, de modo algum, uma simpatia, uma preferência um apoio em qualquer sentido. Ao contrário. O asilo tem por objetivo não só proteger uma pessoa que por motivos políticos se sente perseguido, mas contribuir ao meu ver para a paz social nesse país - disse Amorim, que explicou ainda sobre o envio de um avião brasileiro para buscar Gutierrez.

Perguntado se não houve trapalhada por parte do governo brasileiro, que enviou a aeronave antes da emissão de um salvo-conduto, Amorim foi enfático:

- Trapalhada não houve nenhuma. O que acontece é que essas situações são complexas. O que eles (autoridades equatorianas) têm dito é que o momento é muito difícil, tem muita comoção nas ruas e que talvez o salvo-conduto dado em um primeiro momento poderia provocar uma maior convulsão social. Claro que nós entendemos que a demora também tem um efeito negativo - disse Amorim.

Ainda sobre o envio da aeronave brasileira, Celso Amorim disse que pode ter havido uma reconsideração por parte do governo do Equador em relação á emissão do salvo-conduto:

- Foi pedida a permissão e havia a expectativa de que o avião pudesse ir para o Equador. E quando isso ficou claro, e que falou que o salvo-conduto seria dado, houve uma reconsideração do assunto, creio que em função de segurança do aeroporto.

Segundo Amorim, Gutierrez ocupará uma casa do governo brasileiro "durante um tempo razoável".

- Depois vamos ver o que fazer.

Amorim disse que vai para o Equador, mas ainda não tem data definida para a viagem.

O vice-presidente Alencar também considerou normal o governo brasileiro aceitar o pedido de asilo de Gutiérrez. Segundo ele, a atitude do presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz parte da vida democrática e não compromete as relações diplomáticas do Brasil com outros países.

Alencar lembrou que o Equador passa por um problema político que vai se ajustar, e a concessão de asilo ao ex-presidente não significa intervenção brasileira nas questões políticas daquele país.

- Respeitamos os princípios da não-intervenção e da autodeterminação dos povos, mas o asilo deve ser dado sempre que pedido, desde que não haja problema maior ligado a alguma coisa que impeça, como o tráfico de drogas, o que não é o caso - acrescentou Alencar.

PROTESTOS - Manifestantes equatorianos cercaram a embaixada brasileira e fizeram protestos pedindo que o governo não permita a saída de Gutiérrez do país. Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) aguarda na base aérea de Porto Velho, em Rondônia, a ordem de decolar para trazer Gutiérrez ao Brasil. Na manhã desta sexta-feira, o 'Bom Dia Brasil', da TV Globo, noticiou que o avião sobrevoou o Equador de madrugada, mas teve que retornar ao Brasil porque não obteve permissão para pousar.

A Aeronáutica negou esta versão e diz que a aeronave voou direto de Rio Branco, no Acre, onde estava na quinta-feira, para Porto Velho. Segundo a Aeronáutica, o deslocamento foi realizado porque a base de Porto Velho possui infra-estrutura mais adequada para a manutenção do avião e o alojamento da tripulação.

Gutiérrez está asilado na embaixada do Brasil em Quito desde quarta-feira, quando foi deposto pelo Congresso. Com ele, estão a ex-primeira-dama, Ximena, e as filhas Carina e Viviana, de 15 e 20 anos. Na quinta-feira, o novo chanceler do Equador, Antonio Parreira Gil, chegou a anunciar em entrevista coletiva que o Executivo equatoriano concederia o salvo-conduto a Gutiérrez.

Mais tarde, porém, ele disse que a situação devia ser estudada com muito cuidado, já que há uma ordem de detenção contra Gutiérrez, anunciada pela promotora geral do Equador.

Na quarta-feira, o ex-dirigente teve atendido seu pedido de asilo diplomático, o que lhe permitiu hospedar-se na embaixada brasileira. Na quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu asilo territorial a seu ex-colega equatoriano.

O Itamaraty informou que Lula conversou na quinta-feira por dez minutos com o embaixador brasileiro em Quito, Sérgio Florêncio. Lula também falou duas vezes, por telefone, com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

O ex-presidente não tem parentes no Brasil. Em 1980, Lucio, que é coronel da reserva, fez um curso de um ano na Escola de educação Física do Exército, no Rio de Janeiro.

O embaixador Sérgio Florencio disse ao Globo que o ex-presidente está bastante abalado. Ele estaria inconformado, por exemplo, com o fato de o Congresso de seu país ter decretado a vacância do cargo. Mas já foi devidamente orientado a não falar com a imprensa, uma das regras previstas no asilo diplomático.

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