Ex-secretário nacional de Segurança diz que violência sempre fez parte da história do Brasil

Em evento, Luiz Eduardo Soares disse que a responsabilidade pelas mortes praticadas por policiais deve ser dividida entre a sociedade

Fonte: Agência Brasil

Comentários: (0)




A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, em audiência realizada nesta quinta-feira, discutiu as conexões entre violações de direitos humanos durante a época da ditadura militar e temas atuais ligados à segurança pública. O evento, que ocorreu na Assembleia Legislativa, tratou de temas como morte de negros e pobres em áreas de vulnerabilidade, em função de ações policiais, integração das polícias Civil e Militar e desmilitarização da polícia.


O ex-secretário nacional de Segurança Pública e professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Luiz Eduardo Soares, disse que a violência, inclusive a que parte da polícia, já era antes voltada contra negros e pobres.


“Não podemos atribuir à ditadura essa barbárie entre nós, isso faz parte da história do Brasil. Aliás, a ditadura não inventou a violência policial, nem do Exército ou das Forças Armadas. Há relatos, até de Graciliano Ramos [escritor brasileiro], de que as brutalidades eram corriqueiras. O que a ditadura fez foi deslocar o foco para a classe média, para os estudantes, para profissionais liberais, para nós, que éramos militantes da oposição”, ressaltou o ex-secretário.


Em sua visão, a responsabilidade pelas mortes praticadas por policiais na periferia precisa ser dividida entre os segmentos da sociedade. “Contingentes numerosos sentem-se autorizados a perpetrar essas brutalidades, autorizados não necessariamente pelos seus superiores, pelos seus chefes, mas pela sociedade, que aplaude e se omite diante desses fatos", afirmou Soares. Ele destacou que os governos, às vezes por omissão, acabam tolerando e tornando-se cúmplices da violência.


Na discussão sobre a permanência de instrumentos de tortura no ambiente policial, Soares recordou que a Polícia Civil do Rio de Janeiro aplicou aulas sobre como bater até 1996. Segundo ele, até 2006, o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) deu aulas de como torturar.


O ex-secretário considera baixo o volume de investigações no país, o que, em sua opinião, estimula a escalada da violência.“São 50 mil homicídios dolosos por ano no Brasil, isso é uma barbárie. Acredita-se que só 8% deles, em média, são investigados.” Mesmo assim, o país tem a quarta maior população carcerária do mundo, mas somente 12% dela cumpre pena por homicídio”, acrescentou.


Luiz Eduardo Soares acha difícil concretizar a integração das polícias Civil, que investiga, e Militar, que faz o trabalho preventivo e ostensivo. “Eu costumo brincar dizendo que é como se nós [várias pessoas diferentes] decidíssemos escrever um texto e alguns ficassem com a atribuição de escrever os adjetivos e substantivos, e outros os verbos, outros, os pronomes e as conjunções. É muito difícil.”


Além disso, explicou o ex-secretário, integrar é diferente de unificar. Para ele, a integração apenas corrigiria a fratura do ciclo, sem necessariamente unificar as duas policias.


Quanto à desmilitarização da polícia, Soares ressaltou que teria de ser baseada em trabalhos bem-sucedidos já realizados. Neles, o policial atua como um gestor local de segurança pública que, com sua formação multidisciplinar, tem grande capacidade de dialogar, ouvir e de não mostrar preconceito, tomando providências capazes de transformar a comunidade.

Palavras-chave: direitos humanos violência policial ditadura militar

Deixe o seu comentário. Participe!

noticias/ex-secretario-nacional-de-seguranca-diz-que-violencia-sempre-fez-parte-da-historia-do-brasil

0 Comentários

Conheça os produtos da Jurid